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Insurreio Comunista de 1935 em Natal e Rio Grande do Norte 1962

Giocondo Dias, a Vida de um Revolucionrio

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Giocondo Dias,
a Vida de um Revolucionrio

Joo Falco, Agir 1993

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A fuga

Antes da debandada, a reserva de dinheiro ainda existente foi dividida por Praxedes entre os principais dirigentes do movimento. Ele mesmo relata:

- A, eu e Santa percebemos que no havia mesmo mais nada a fazer. Era s fugir. Antes, tnhamos que resolver o problema do dinheiro. Levar todo o dinheiro no seria possvel por causa do volume das caixas que iria atrapalhar nossos movimentos. Pensei, ento, comigo mesmo, em incendiar o Palcio, com dinheiro e tudo l dentro. Mas achei melhor no fazer isso. Poderia ser pior ainda. Iriam nos chamar de incendirios. Achei, ento, que a melhor soluo seria distribuir o dinheiro entre o nosso pessoal. Propus ao Santa e ele concordou. Colocamos os homens em forma, em fila por dois, pegamos as caixas de dinheiro e fomos distribuindo pro pessoal, sempre dizendo que aquele dinheiro era do Partido, que eles deveriam usar apenas o indispensvel e guardar o resto porque o Partido poderia precisar do dinheiro. No perdemos nada, vamos continuar. Vamos nos preparar para o futuro, ia dizendo para o pessoal e distribuindo os maos de dinheiro. Quando acabou a distribuio, peguei uma parte e o Santa ficou com a outra. Eram mais ou menos quatro horas da manh do dia 27. Nos despedimos e fomos cada um para um canto.1

Quanto ao restante que ficou em seu poder, ele conta que em maio de 1936, no lugar onde estava escondido, foi procurado por um camarada apelidado Gaguinho (Manoel Severiano Cavalcante), enviado pela direo do Partido de Recife. "Ele me perguntou pelo dinheiro e eu disse que havamos distribudo entre o nosso pessoal. Mandei ele procurar a Virgnia, minha mulher, que ela poderia lhe dar uma parte do dinheiro e lhe dizer com quem havia mais. Mais tarde, o Comit Central me confirmou que o Gaguinho trouxera o dinheiro que estava com minha mulher, com a mulher do motorista Epiphnio Guilhermino e com outras pessoas."

Na verdade, apenas uma pequena parte do dinheiro recolhido pelos rebeldes foi efetivamente recuperada pelas autoridades, cerca de 992 contos de ris. O restante, ou foi resgatado pelo Partido, ou ficou em poder dos policiais encarregados da represso, aps a Insurreio: "- O dinheiro serviu para corromper a polcia. Teve muita gente que escapou da cadeia dando dinheiro aos policiais..."2

Lauro Cortez Lago, Jos Macedo e Joo Baptista Galvo, trajando palet, gravata e chapu, fugiram num automvel dirigido por seu proprietrio, o chofer Manoel Justino. Foram para a cidade de Canguaretama, homiziando-se na casa do Dr. Nizrio Gurgel. Dias depois caram prisioneiros do major Elias Fernandes, comandante do destacamento da Fora Pblica da Paraba, enviado para combater revolucionrios do Rio Grande do Norte. Em poder de Jos Macedo foi apreendida a importncia de Rs. 210:180$100,00 (duzentos e dez contos e cento e oitenta mil e cem ris). Os trs foram condenados pelo TSN a penas de dez anos de recluso.

O sargento Clementino de Barros fugiu para a cidade de Baixa Verde, hoje Joo Cmara, tendo sido preso no mesmo dia, 27 de novembro. Em seu poder foi encontrada a quantia de oito contos de ris, entregue depois ao deputado estadual Joo Cmara. Foi condenado pelo TSN a 14 anos de recluso.

Ouvido em inqurito Policial Militar, apontou, em seu depoimento, os nomes dos principais chefes do movimento. Entre os civis: Lauro Lago, Joo Baptista Galvo, Jos Macedo e Jos Praxedes. Quanto aos militares, ele prprio depoente "a quem avisaram no dia 25 que se ocuparia da Secretaria da Defesa" - e aqueles com os quais mantinha relaes mais prximas: os sargentos Eliziel Diniz Henriques, Sebastio dos Santos, Julio Thomaz de Aquino e Amaro Pereira da Silva; os cabos Giocondo Alves Dias, Antnio Baptista da Costa, Gilberto de Oliveira, Estevo Juvenal Guerra, Adalberto Jos da Cunha e Joo Wanderley, entre outros. Como soldado cita o nome de Valdemar Ferreira Coelho.3

No inqurito, Quintino omitiu - provavelmente para ocult-Ios - os nomes de dois civis que tiveram destacada atuao naquele movimento: Joo Lopes, o Santa, e Horcio Valladares, assessores do Comit Central do PCB. Ambos conseguiram escapar, e contra eles no foi aberto nenhum processo no Rio Grande do Norte.

Dentre os civis, atuaram ainda com destaque: Raimundo Reginaldo da Rocha, professor; Jos Aguinaldo de Barros e Joo Fagundes, comerciantes; Epiphnio Guilhermino Maia, chofer; Joo Francisco Gregrio, estivador, presidente do sindicato da categoria; Benildes Dantas, estudante; e de outras profisses, Jaime de Brito, Manoel Justino, Francisco Braz Leopoldo, Domcio Fernandes Lima e Carlos Vander Linder.4

Entre as mulheres destacaram-se: Leonila Felix (mulher de Epiphnio), Amlia Reginaldo, Francisca Alves de Souza, Virgnia Pereira da Silva (mulher de Praxedes). Todas se fardaram e atuaram na rea militar. Chica da Gaveta ou Chica Pinote prestou servios domsticos na Villa Cincinato.

Jos Praxedes de Andrade, quinto membro da Junta, fugiu para Pajuara, no interior potiguar, permanecendo escondido no mato durante seis meses. Da, andando sempre noite, alcanou Nova Cruz, na fronteira da Paraba, onde conseguiu tomar um trem que o levou a Joo Pessoa. Depois, chegou de nibus a Recife, deslocou-se para Macei e terminou sua via crucis em Salvador. Condenado revelia, impam-lhe oito anos de recluso, pena que jamais cumpriu.

Joo Lopes, o Santa, assessor do Comit Central, conta que antes de fugir foi procurar o Valladares, "que era o nosso chefe de polcia e era quem dava aporte para quem quisesse ir embora; e ele tinha sumido. A eu disse: fracassamos. s cinco da manh fui-me embora. Samos em dois automveis do governo. Num o chofer era Lauro, e iam dois primos seus. No outro, o chofer era Z Pretinho, e fomos eu, minha mulher e um garoto de Pernambuco. Eu e ela levamos quinze dias no mato. Largamos o automvel, seguimos a p, e eu mandava ela pedir comida."5

Finalmente, Joo Lopes foi preso em Pernambuco e levado para a cadeia de Recife; a ficou mais de um ano. Solto com a Macedada, em sete de junho de 1937, viajou logo depois para o Rio, onde novamente se ligou ao Partido. Nunca voltou a ser preso.

Horcio Valladares, outro assessor do Comit Central, fugiu sem deixar qualquer pista. No foi processado.

Aps deixar a salvo os oficiais presos e ordenar a debandada no quartel, Giocondo deu incio a uma fuga rocambolesca. Primeiramente homiziou-se na casa de um tio de Lourdes, Antnio Tavares de Souza, que residia Rua Marechal Floriano, no bairro de Petrpolis, defronte da cadeia pblica. Ali permaneceu uma semana. Depois, D. Alzira Floriano, viva, ex-prefeita de Lages – a primeira mulher no Rio Grande do Norte a assumir esse cargo levou-o para a Vila Jardim do Angico, situada naquele municpio. Fazendo uma mudana arriscada – escondendo-o na carga de um caminho –, D. Alzira deixou-o na fazenda Primavera, de propriedade do advogado Paulo Teixeira, seu irmo.

Nesse refgio, Dias permaneceu mais de quatro meses, ficando a salvo das autoridades policiais, apesar da caa inclemente feita aos comunistas e implicados no levante de novembro. Lourdes foi visit-Io mais de uma vez.

Entretanto, um surpreendente e sinistro acontecimento veio abalar sua tranqilidade naquele esconderijo: uma intriga de carter amoroso envolveu-o com a mulher do seu anfitrio, que reagiu ional e violentamente, mandando trs capangas ving-Io. Apunhalado muitas vezes, Dias escapou por milagre, graas interveno do comerciante Gensio Cabral de Macedo. Mas, denunciado, foi preso pelo delegado, capito Joo Pedro, e levado - quase morto - para a Casa de Deteno. Era abril de 1936.

Os cuidados e a dedicao de sua mulher Lourdes, de sua sogra, D. Maria Emlia Tavares, e da viva, que lhe proporcionaram assistncia mdica e boa alimentao, foram providenciais para a rpida recuperao de Giocondo. Ajudaram-no tambm sua compleio atltica e sua juventude.

Permaneceu no presdio pouco mais de um ano. A recebeu, em outubro, a notcia do nascimento de sua filha, que s veio a conhecer seis meses depois. Chamava-se Ana Maria, o mesmo nome da av paterna. Lourdes sabia quanto essa homenagem lhe agradaria, principalmente nas circunstncias em que ele se encontrava.

Enquanto corriam centenas de processos, com as cadeias repletas, e as autoridades procuravam recuperar o dinheiro distribudo pela Junta, fato que suscitava as mais variadas especulaes, Giocondo cuidava de sua sade e elaborava um plano para sair da priso. Nesse nterim as condies polticas do pas foram se modificando com a perspectiva das eleies, marcadas para janeiro de 1938. A campanha pela anistia, a reorganizao dos partidos e a propaganda eleitoral para os candidatos Presidncia da Repblica, Jos Amrico de Almeida e Armando de Sales Oliveira, agitavam o pas. O novo ministro da Justia, Jos Carlos de Macedo Soares, considerando a incompatibilidade de uma campanha eleitoral com a existncia de milhares de presos polticos sem processo formado, decidiu libert-Ios. Este gesto configurou uma alvorada que fez exultar a todo o Brasil, ficando conhecida como a Macedada, anistia provisria decretada a 27 de junho de 1937. As prises abriram-se e Giocondo foi posto em liberdade.

Ele previa, entretanto, que esta no duraria muito. Estava sendo processado pelo Tribunal de Segurana Nacional, tribunal de exceo recm-criado para julgar os implicados no movimento de 1935. Estava livre, mas, para onde ir? Giocondo no teve dvida: Salvador, para perto de sua famlia.

Com a ajuda da sogra, que lhe comprou roupas e uma agem, embarcou no porto de Natal. Ainda muito fraco, contou com a solidariedade e a dedicao de um leal companheiro, o cabo Valverde, que o acompanhou e cercou de cuidados durante a viagem.

Sob o risco de ser preso pela temvel polcia poltica pernambucana, Valverde saltou no porto de Recife para comprar leite, alimento necessrio a Giocondo e que no existia a bordo.

Notas:

1 - Moacyr de Oliveira Filho. Ob. cit., p. 77.

2 - Id., ibid.

3 - Joo Medeiros Filho. Ob. cit., p. 23.

4 - Moacyr de Oliveira Filho. Ob. cit., p. 77.

5 - Giocondo Dias. Ob. cit., p. 156.

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