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Giocondo Dias, a Vida de um Revolucionrio

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Giocondo Dias,
a Vida de um Revolucionrio

Joo Falco, Agir 1993

Infncia e Mocidade | Filiao ANL e ao PCB | Vspera da Revoluo | A Rebelio de Natal | Junta Governativa | Trs dias de governo | Jornal da Revoluo | A Derrocada | A Fuga | Refgio de comunistas

Infncia e mocidade

Giocondo Gerbasi Alves Dias era baiano de Salvador, nascido a 18 de novembro de 1913, na rua dos Ossos, bairro de Santo Antnio Alm do Carmo. Era o primognito de uma famlia modesta: seus pais, o comercirio Antnio Alves Dias, baiano, e D. Ana Maria Frederico Gerbasi Alves Dias, italiana, alm de quatro irmos: Maria, Gilberto, Gerson e Antnio. Seus avs paternos foram Mathias Alves Dias e Arminda Cunha Alves Dias, baianos; e avs maternos, Jacob Gerbasi e Maria Philomena Frederico Gerbasi, italianos.

rfo de pai aos sete anos de idade, trabalhou inicialmente num armazm de secos e molhados, e depois como coroinha1 no convento de So Francisco e na Igreja de Santana. Filho de catlica fervorosa, o fato de ganhar 10 mil ris por ms teria tambm contribudo para sua inclinao religiosa. Essa quantia representava providencial ajuda s despesas da casa de uma viva pobre. Nessa funo entrou em choque com o padre, porquanto costumava oferecer-se para batizar, em caso de emergncia, crianas sem recursos. Com isso, a criana no morria pag, mas o proco deixava de receber a esprtula doada pelo padrinho. Sem condies financeiras para assumir esse papel, Giocondo foi proibido de arranjar novos afilhados.

No pde fazer o curso ginasial. O primrio completou-o na cidade de Feira de Santana. Aos treze anos foi trabalhar num escritrio onde conheceu o datilgrafo Alberto Campos, sergipano que, vindo do Rio de Janeiro, ou a morar em Salvador para tratar-se de tuberculose. Alberto Campos era correspondente do jornal A Nao, editado no Rio de Janeiro e dirigido por Lenidas de Rezende, ligado ao PCB. Os exemplares eram trazidos por marinheiros do Lloyd Brasileiro e pelos navios Ita, da Cia. Comrcio e Navegao, chegando com pouco atraso.

Dias ia vend-los, a seu pedido, no Charriot, como era chamado naquela poca o Plano Inclinado Gonalves, que liga a cidade alta cidade baixa, local muito movimentado. Como os compradores eram poucos, tinha autorizao para entreg-los gratuitamente, de maneira a forar sua divulgao. A quantia apurada na vendagem seria sua. Mas a maioria dos transeuntes no queria o jornal, ainda que de graa, por medo.

Campos candidatou-se a deputado federal pelo BOC (Bloco Operrio e Campons), legenda que o Partido Comunista encontrara, em 1927, para concorrer s eleies. Os pequenos comcios que fazia tinham como assistente assduo o jovem Giocondo, encantado com a oratria do seu colega de trabalho e j se considerando comunista, embora sem o mais longnquo contato com a organizao partidria, ento clandestina. De Alberto Campos recebeu as primeiras noes, ainda bem vagas, sobre comunismo. No seu esprito ficou o grmen desse ideal.

Dias gostava de praticar esportes como futebol, basquete, natao, vlei e salto em altura, tornando-se um atleta forte e saudvel. Torcia pelo time mais tradicional da capital baiana, o Ipiranga.

A Aliana Liberal, partido que lanara a candidatura oposicionista de Getlio Vargas Presidncia da Repblica contra o candidato Jlio Prestes, apoiado pelo governo Artur Bernardes, empolgava o pas. No dia 4 de outubro de 1930, em Salvador, um ruidoso movimento popular fez incendiar mais de cem bondes da Cia. Linha Circular. E Giocondo participando, no meio da massa! O vermelho da bandeira da Aliana Liberal o atraa. Essa agitao propagou-se por todo o Brasil, principalmente pelo Nordeste, de onde partiu a Revoluo de 1930, movimento vitorioso que colocou Getlio Vargas no poder, em 30 de outubro daquele ano.

Em 1931 fechou-se o escritrio onde ele e Campos trabalhavam, conseqncia direta do crack norte-americano de 1929 na economia brasileira.

Restavam-lhe ento poucas alternativas. Engajar-se no Exrcito era uma delas. Apresentou-se como voluntrio para servir em Recife. Pretendia ir para a Escola de Sargentos, onde em seis meses estaria ganhando 390 mil ris. Mas engajou-se como soldado em 2 de abril de 1932, tomando o nmero 633. No demorou a entrar em ao: a 9 de julho daquele ano eclodiu a Revoluo Constitucionalista de So Paulo, e o 21 Batalho de Caadores de Recife foi enviado a Uberaba no dia 12, para ajudar no combate aos paulistas.

Essa revoluo, falsamente apresentada como um movimento separatista, sublevou-se contra o governo ditatorial de Getlio Vargas para exigir nova Constituio e tentar restaurar a Repblica Velha, desbancada pela Revoluo de 1930.

Em seguida, Dias enfrentou muitas surpresas, peripcias e incertezas vividas pelo batalho:

– Ns fomos tomar parte no combate aos paulistas. E, quando amos voltar para o Recife, o interventor Carlos de Lima Cavalcanti vetou. Ora, este Batalho no tinha nada a ver com o antigo 21 BC, mas mesmo assim ele vetou. E o que aconteceu? Depois de termos feito toda a campanha em So Paulo, nos mandaram para Recife – amos l oito dias – e fomos enviados para a fronteira da Colmbia. Isto criou no batalho um estado de nimo muito srio...

O batalho foi para Tonantins, na foz do I, no Amazonas, por ocasio do conflito que houve entre a Colmbia e o Peru. Eu, por exemplo, fiquei l no Rio I, l em Porto Ipiranga, por 120 dias. Era um contingente de cerca de 120 homens, que, em quatro meses, ficou reduzido a seis. Adoeceram todos de beribri, maleita e uma srie de outras doenas. Eu sobrevivi porque era atleta, jovem e forte e no me socorria da cachaa como os outros.

Bem, mas isso secundrio: o fato que este batalho foi retirado da fronteira e o Carlos de Lima Cavalcanti persistiu na posio de que ele no devia voltar para Pernambuco. Fizeram, ento, o seguinte: o 29 BC de Natal foi mandado para o Recife e o 21 para Natal. Veja bem, um batalho escaldado por uma participao na luta paulista de 32, sobrevivente da selva amaznica... Ns ramos elementos efetivamente dispostos a qualquer ao que se voltasse contra o status quo. Em Manaus, chegamos a nos reunir e conspirar para no saltar em Natal. Quando o navio chegasse ao porto ns nos levantaramos, jogaramos a oficialidade ao mar... Mas na hora "H", foi dada a ltima forma e ns desembarcamos.2

Tanto em So Paulo como em Mato Grosso do Sul, Giocondo teve uma atuao militar destacada, marcada at mesmo por atos de herosmo. Assim, de certa feita, o comandante do Batalho precisou de cinco homens para uma misso de altssimo risco, ou seja, um levantamento topogrfico at 20 metros de distncia dos canhes Krupp utilizados pelos paulistas. Ele foi o primeiro a se apresentar, e sua atitude permitiu a constituio imediata do grupo de voluntrios.3

Nesse perodo, Dias teve uma atuao excepcional no Exrcito: foi promovido a 1 cabo, foi aprovado no curso para sargento e quatorze vezes elogiado em boletim, tendo sempre ressaltada a disciplina, a abnegao, a dedicao ao trabalho, o amor instruo, e os relevantes servios prestados ao Batalho. Quando regressou da misso fronteira da Colmbia, o comandante do destacamento de I, capito Djalma Bayma, mandou publicar no boletim de 5 de junho de 1933 extraordinrio elogio:

- Louvo-o pelo belssimo exemplo de sacrifcio pessoal no cumprimento do dever, com prejuzo da prpria sade, por ter voluntariamente e resignadamente enfrentado e vencido a toda sorte de obstculos, sem meios de defesa, em uma regio insalubre, quase impossvel mesmo de se permanecer, como a que esteve destacado por longo tempo, tal a falta absoluta de conforto e quantidade enorme de mosquitos que no davam um segundo de trgua, ferroavam seus infelizes habitantes, castigando-os ainda com a transmisso de molstias, no lhes dando um momento de sossego durante todo o dia. , pois, digno dos maiores elogios pela noo exata do cumprimento do dever, esprito de sacrifcio, disciplina, amor ao corpo a que pertence, patriotismo, enfim, pelos inestimveis servios que desassombradamente prestou ptria, no desempenho da misso rdua e espinhosa, porm muito honrada que lhe foi confiada. Extremamente envaidecido por comand-Io, sinto-me orgulhoso de to disciplinado praa, cujo herosmo, abnegao, dedicao e fora de vontade o tomaram digno de minha estima pessoal e da irao de todos os seus companheiros.4

Em Natal, a partir de 1933, Giocondo ou a ter uma vida normal, sem os perigos e o desconforto sofridos desde que se engajara no Exrcito. Com excepcional capacidade de liderana, e ocupando a funo de instrutor de educao fsica, a cada dia alcanava maior prestgio junto tropa, onde a quebra de hierarquia e o desprestgio da oficialidade contriburam para uma indisciplina generalizada. Giocondo, chefe e conselheiro dos homens sob seu comando, protegia-os sempre que podia. Para citar um exemplo, aps uma arruaa promovida num bonde pelo cabo Estevam Guerra e mais alguns soldados, o comandante colocou o batalho em forma para que o cabo explicasse a sua mo machucada. Giocondo imediatamente respondeu pelo cabo Estevam, afirmando que este a machucara fazendo exerccio. Evitou, desta forma, que mentindo ou confessando o soldado fosse conseqentemente punido.5

Aos 21 anos, tocado pelo amor. Conhece uma jovem potiguar, 18 anos, estudante secundarista, morena do tipo ndio, que costumava ar em frente ao quartel na ida escola: Lourdes Tavares, filha de um funcionrio pblico oriundo de numerosa famlia de classe mdia. Apaixonam-se e, aps trs meses de arrebatado namoro, casam-se na Igreja de So Pedra, no bairro do Alecrim, a 18 de abril de 1934 - no se casaram no civil por no permiti-Ia o regulamento do Exrcito. Vo morar com os pais dela. Giocondo dedica-se ao novo lar, sua jovem mulher e ao trabalho no quartel. Cuida de um stio herdado pelo sogro, nos arredores da cidade, cultivando uma horta, atividade que sempre o atrara.

Foram muito felizes nos poucos meses de convvio e romance, abruptamente interrompidos por uma revolta no 21 BC.

Notas:

1 - Nome dado ao menino sacristo que ajuda o padre na celebrao de missas e ladainhas.

2 - Giocondo Dias. Os Objetivos dos Comunistas – Artigos, Entrevistas e um Depoimento Poltico. So Paulo, Edies Novos Rumos, 1983, p. 146 e 147.

3 - Ivan Alves Filho. Giocondo Dias – Um Ensaio Biogrfico. Rio de Janeiro, Edio do autor, 1991, p. 16.

4 - Certido do currculo de Giocondo Dias, dada pelo Arquivo Histrico do Exrcito, em 23 de abril de 1993, a pedido de Antnio Eduardo Alves Dias.

5 - Estevam Juvenal Guerra, 20 anos, foi um dos participantes do levante de 1935. Grande e leal amigo de Giocondo, com o qual conviveu por mais de dez anos, em Salvador, para onde fugiram em 1937. Foi por ele indicado para compor o Comit Estadual do PCB, em 1945.

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