Insurreio
Comunista de 1935
em
Natal e Rio Grande do Norte 1962
1935
Setenta anos depois
Isaura Amlia Rosado Maia
e Lalio Ferreira de Melo (Organizadores)
Nosso
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de Produo
Deixando
a metfora de lado
Roberto Monte
Homenageio, inicialmente, o nosso companheiro
Francisco Meneleu dos Santos e sua companheira,
dona Lourdes. Meneleu, um grande prazer
voc estar sempre conosco, aqui em Natal,
em eventos desta natureza, que alude a trajetria
de vida de todos ns. Temos voc,
como tantos outros companheiros, na verdade, como
uma memria viva, testemunha dos acontecimentos
de 1935.
O
Centro de Direitos Humanos e Memria Popular,
que represento, sempre trabalhou com o que ocorreu
em 1935 dentro de uma viso humanstica,
numa perspectiva de direitos humanos.
Quando
falamos de 1935, tambm falamos da Confederao
do Equador, falamos na Inconfidncia Mineira,
em Canudos, da Campanha do Petrleo
Nosso, da luta contra o nazi-fascismo, da Campanha
De P no Cho Tambm se Aprende
a Ler, a luta armada contra a ditadura militar,
a Campanha pela Anistia e a Campanha das Diretas.Essas
lutas continuam em vrios lugares, nas
comunidades, no campo e nas cidades.
Gostaria
de abordar rapidamente dois pontos: a questo
dos maniquesmos, e a questo das
vidas partidas. No ltimo domingo, abrindo
o jornal O Poti, vimos um general de pijama fascista,
Jos Carlos Leite, irador de Pinochet,
esbravejar dios, isso uma indstria.
Muita gente se deu bem. Muita gente que deu golpe,
at por que geralmente esses “milicos”
so de jurar muito a bandeira, mas eles
gostam muito dar um “golpezinho”.
Sempre
que falo com alguns oficiais amigos da polcia,
pergunto-lhes quando que eles vo
tirar aquele mausolu do quartel da polcia
militar, na Avenida Rodrigues Alves. Estou me
referindo ao mausolu construdo
em “homenagem” ao soldado Luiz Gonzaga,
o “Doidinho”.
Referi-me
a histria do general de pijama, por que
ainda existe toda essa cultura de criar esse tipo
de armao que o jornalista e pesquisador
Luiz Gonzaga Cortez enfatizou na sua fala neste
seminrio. Muitas vezes a prpria
polcia, os prprios oficiais da
polcia, o exrcito, s vezes
pressionam para que acontea aquele tipo
de pantomima que foi o assassinato de Luiz Gonzaga,
o “Doidinho.
curioso constatar que o movimento de 1935 foi
chamado de intentona. Essa expresso que,
segundo o Aurlio, significa intento louco;
plano insensato; conluio e/ou tentativa de motim
ou revolta, parece coisa de gente doida, de gente
perturbada que o caso de “Doidinho”,
que representa, no caso, os companheiros de 1935.
Representa tambm os golpes que as elites
dominantes do h quinhentos anos.
Vivenciei
alguma coisa e, muitas vezes, com o prprio
Cortez. Ns saamos a pesquisar,
amos a alguns lugares, pesquisvamos
e levantvamos algumas histrias.
Temos um acervo de muitas histrias nesse
meio tempo. Pesquisamos as vidas partidas, eu
diria, talvez, que a presena de Meneleu,
neste seminrio uma das excees
de quem sobreviveu. Apesar de tudo o que ele sofreu,
hoje um cidado que constituiu
uma famlia, tem uma esposa/companheira
ao seu lado, e tem ainda essa sade de
ferro setenta anos depois.
Recordando
aqui um outro golpe militar, o de 1964, denominado
de “Redentora”, digo que na dcada
de 1970 muitas pessoas foram destrudas,
inclusive psicologicamente, ou seja, geraes
inteiras foram detonadas. Destruio
de sonhos, pessoas, famlias, o mesmo que
ocorreu em 1935. Vou dar rapidamente um exemplo:
Trabalhei muitos anos na Cohab, a minha chefe
chamava-se Isabel Barros Cavalcanti, casada com
Lcio Jos Cavalcanti. Fiquei sabendo
que Lcio era, na verdade, Lcio
Lago, filho de Lauro Lago, ministro do Interior
do Governo Revolucionrio de 1935. Quando
houve a rebordosa de 1935 e todo mundo teve que
fugir, o que aconteceu com Lcio? Foi criado
por Jos Ivo Cavalcanti e por sua mulher,
Josefina Cavalcanti, ou seja, o marido de Isabel
deixou de ser Lago e virou Lcio Jos
Cavalcanti.
Estou
tentando mostrar o drama familiar que ocorre numa
situao como essa de 1935, seja
naquela poca, seja nas dcadas
1960/1970. Momentos de violncia. A verso
que coloca 1935 como coisa de gente maluca, esquece
o sonho, a utopia, a questo da democracia.
Quando falamos de democracia, estamos falando
de 1935. Quando examinamos o programa da Aliana
Libertadora Nacional (ALN), estamos falando de
uma frente de democratas. No
s de 1935 que falo, refiro-me tambm
s torturas que o exrcito e a aeronutica
praticaram nos anos 1950, aqui em Natal, reporto-me
a Vulpiano Cavalcanti e seus companheiros, aludo
s torturas que o jornalista Rubens Lemos
foi submetido nos anos 1970.
O
Centro de Direitos Humanos e Memria Popular
possui uma gravao com Rubens Lemos
em S-VHS e vamos divulgar quem entregou e torturou
Rubens Lemos. Vamos divulgar os nomes das pessoas
que ajudaram a fazer todo esse tipo de vileza
nos anos 1960. Falaremos tambm de Emmanuel
Bezerra dos Santos, o estudante torturado e assassinado
por um oficial do exrcito chamado de Crcio
Neto. Emmanuel Bezerra dos Santos foi morto a
tesouradas; essa uma histria
que precisa ser contada.
Entender
1935 importante para no repetirmos
os erros cometidos novamente em 1964. Episdios
que mudaram a nossa sociedade e que continuam
no nosso cotidiano, nas pginas de jornais,
nas telas de TV ou trancafiados, com a conivncia
dos poderes institudos.
Vocs
acham que no existe conexo entre
o capito do mato e os chefes dos grupos
de extermnio, como os “Meninos de
ouro”? necessria uma reconstituio
histrica da memria potiguar, para
podermos ampliar no s o nosso
conhecimento, mas tambm edificarmos uma
maior organizao e participao
popular na defesa dos direitos humanos.
O
Centro de Direitos Humanos e Memria Popular
empenha-se tambm em fazer sua parte. Vou
aproveitar a ocasio e dizer: ns
gravamos um vdeo com Meneleu, mostrando
como e o que foi a construo do
jornal A Liberdade. Pretendemos juntar a gravao
de Meneleu com a vida do poeta Othoniel Menezes
(fundador do jornal) e veicular em CD a edio
de A Liberdade, que consta, inclusive, a letra
do hino da Aliana Nacional Libertadora.
Finalizando,
peo desculpas se em alguns momentos fui
enftico. Esse o meu jeito de
falar, alm do que eu acho que, s
vezes, falar de histria inclui falar de
canalhas e canalhices. Sou de opinio que
temos que deixar a metfora de lado, e
de alguma maneira, botar tudo na mesa. Obrigado.
Roberto
Monte
Educador;
Coordenador do Centro de Direitos Humanos e Memria
Popular
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