Tecido
Social
Correio Eletrnico da Rede Estadual de Direitos Humanos
- RN
N.
015 – 08/12/03 6z35c
Depoimentos de mulheres
vtimas de violncia recolhidos na Delegacia Especializada de
Atendimento Mulher (DEAM) da Ribeira, Natal (RN)
S.
M. S., 40 anos, empregada domstica, moradora do bairro Me
Luza
O
ms ado fui estuprada pelo meu ex marido mas fiquei com
pena dele e tirei a queixa da delegacia, ento ele voltou a
praticar outros crimes comigo. Colocou gua, gelo e acar numa
camisinha cheia de esperma dele e me obrigou a tomar. Depois
de eu vir de novo dar parte na delegacia, veio para mim chorando,
pedindo que tirasse a queixa. Ele no de Natal, de Alagoas
e est sozinho aqui, alm do mais tem um bom emprego e tudo
isso me deixou mais uma vez com pena dele, no queria prejudic-lo
nem sujar seu nome. Assim retirei a queixa outra vez e desisti
de process-lo. Ento no domingo ado ele entrou na minha
casa botando a porta para dentro, me agrediu, ainda estou com
o corpo todo arranhado. Chegou a dizer que tinha falado aos
amigos dele que no ia me matar mas ia trazer para eles uma
orelha minha. Me atirou encima da cama, cuspiu na minha cara
e disse que do jeito que fez comigo fazia na cara da delegada.
Depois pegou um espeto de churrasco para me ferir, lutei com
ele e ele furou minha mo, ainda tenho as marcas. Agora eu pretendo
levar adiante o processo sem pena, sem dor nem nada, porque
ele no tem pena de mim.
M.
G. B., 26 anos, empregada domstica, moradora do bairro Cidade
Nova
Trabalhava
na casa de um empresrio desta cidade h sete anos. Um dia a
esposa dele chegou em casa e ou direto para o quarto deles,
ao qual s tm o eles dois, pois fica tudo trancado. Eram
as 4:00 da tarde, s 4:30 ela tinha mdica, foi para a consulta
levando consigo a bolsa, trancou o quarto e saiu. No dia seguinte,
quando cheguei ao trabalho s 6:00 da manh, fui acusada de
ter roubado dinheiro da bolsa dela, da qual estavam faltando
3.100 reais. Ela veio me fazer a acusao e em seguida voltou
para o quarto. Poucos minutos depois chegou o esposo perguntando
pelo dinheiro, eu respondi que no sabia nada e comeou a me
bater com tapas no rosto para me forar a assumir o furto. Como
eu continuava a dizer que no tinha feito nada, colocou uma
sacola na minha cabea tentando me asfixiar. Depois tirou esta
sacola da minha cabea e saiu dizendo que ia buscar a polcia.
Eu voltei ao meu trabalho e pouco tempo depois ele chegou com
trs amigos. Me obrigaram a entrar no carro dele e me trouxeram
at a minha casa. Quando chegaram, meu esposo estava tomando
banho. Eles empurraram a porta para dentro e meu marido chegou
correndo para perguntar o que estava acontecendo. Disseram que
eram da polcia, ento meu esposo perguntou um mandato de busca
para entrar na nossa residncia e um deles sacou um revlver,
o apontou contra o peito dele e disse que seu mandato de busca
era aquele. Ento comearam a revirar tudo procurando o dinheiro:
guarda-roupa, bolsas, gavetas, tudo o que tinha l em casa...
Colocaram de novo uma sacola na minha cabea e comearam a bater
no meu rosto e me dar chutes. Jogaram meu esposo encima do sof,
apontaram a arma na sua cabea e disseram que se o dinheiro
no aparecesse atiravam nele. Me amarraram com fio de luz, com
as mos para atrs, e algemaram meu marido com algema de dedo.
Ento quebraram todos os cofrezinhos de gesso que tinha l em
casa, tiraram todo o dinheiro (2.725 reais, as nossas economias),
levaram as nossas duas televises, o som, o som do carro do
meu esposo e ainda nos levaram - eu amarrada com fio de luz
e meu marido com os dedos algemados - para o estacionamento
do condomnio dele. Ai disse que se a gente no entregasse o
dinheiro ia nos matar. Depois de nos ameaar a agredir muito
verbalmente, nos levaram de volta para casa e tiraram dai tudo
o que ficava, todos os pertences que a gente tinha. Ainda por
cima, foi delegacia denunciar a gente de furto, mas a gente
veio aqui dar entrada por danos morais.
Nota
da redao: O autor dos abusos cometidos contra M. G. B. e o esposo
dela dono dos motis Bahamas e Cassino, em Natal
(RN).
Veja
tambm:
- ENTREVISTA. Joo
Alfredo (Deputado Federal do PT e fundador do Observatrio
do Judicirio do Cear). "O Poder Judicirio
tambm tem que responder perante a sociedade"
- VIOLNCIA CONTRA
A MULHER. A Delegacia da Mulher de Natal: como funciona e as
dificuldades que enfrenta
- Comisso do Conselho
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) sobre o caso
Jorge Abafador mal recebida pelo Judicirio
de Natal
- Campanha pelo respeito dos Direitos
Humanos durante a Festa da Excluso
- ENTREVISTA. Rogrio
Tadeu Romano (Procurador da Repblica do Rio Grande do
Norte). "Hoje o compromisso do Ministrio Pblico
no com as elites, mas com a sociedade"
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