Tecido
Social
Correio Eletrnico da Rede Estadual de Direitos Humanos
- RN
N.
004 – 27/10/03 682p2a
ENTREVISTA
ISIDORO REVERS
"O debate sobre os transgnicos est conscientizando a
sociedade"
Durante
o II Frum Social Potiguar que teve lugar em Natal (RN) nos
primeiros dias de outubro, mais de 250 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST) procedentes de acampamentos e assentamentos de todo o
Rio Grande do Norte estiveram acampados por quatro dias no Ginsio
do Colgio Atheneu, no bairro de Petrpolis. O coordenador nacional
da Comisso Pastoral
da Terra, Isidoro Revers, conhecido pelo apelido de "O
Galego", apresentou s trabalhadoras e os trabalhadores
acampados a histria da Va
Campesina (movimento de carter internacional que promove
a luta pelos direitos das comunidades rurais e indgenas) e
coordenou a discusso pela organizao e articulao do movimento
no Estado. Antes da discusso, Revers concedeu esta entrevista
a Tecido Social.
Por
Antonino Condorelli
Houve
mudanas estruturais nas polticas agrrias do governo Lula
com respeito s do governo de Fernando Henrique Cardoso?
S
o fato de Lula - um nordestino, retirante, sem terra - ter sido
eleito como Presidente da Repblica uma mudana... uma mudana
grande na cultura deste pas, onde sempre se achou que s est
preparado para assumir o governo quem procede das elites. Agora,
como ns estamos dentro de um processo de disputa (inclusive
dentro deste governo, pelas alianas que foram feitas durante
o processo eleitoral e pela composio do executivo), como movimento
social ainda precisamos lutar para que o governo assuma polticas
estruturais de Reforma Agrria e de implantao da agricultura
familiar. No caso especfico da agricultura familiar, os recursos
que foram destinados pelo PRONAF so muito mais dos que estavam
previstos no governo anterior e isso um grande avano. O que
temos que fazer trabalhar para organizar a produo e a comercializao.
A CONAB vai comprar toda a alimentao dos pequenos produtores
para direcion-la para o Fome Zero. Ela tambm vai garantir
o preo mnimo para os agricultores familiares, coisa que nem
os fazendeiros nem as multinacionais nunca fizeram. So todos
elementos importantes: voc v que tem uma preocupao por parte
do governo para que estes setores se incorporem na economia
nacional.
A
Medida Provisria sobre a liberalizao da soja transgnica
pode representar a porta de entrada dos transgnicos no Brasil?
A
questo dos transgnicos foi introduzida de uma forma ilegal
no governo anterior, o governo atual se encontrou ento em uma
situao difcil: a de ter que decidir sobre um assunto que
foi implantado de maneira ilegal no governo ado. Portanto
a sua atitude no pode ser julgada de maneira drstica, at
porque ele dilacerado sobre este tema, vive um dilema interior.
Porm, todo o processo de discusso e de reflexo que est sendo
feito no Brasil sobre a questo dos transgnicos permitiu, ainda
que minimamente, que a sociedade tomasse conhecimento e se posicionasse
sobre o uso de sementes transgnicas na produo e da presena
de organismos geneticamente modificados na prpria alimentao.
Neste aspecto, o debate que est sendo gerado sobre a transgenia
fundamental. Ns esperamos que com isso o governo tenha condies
polticas de - dentro de um curto espao de tempo - no permitir
o plantio de transgnicos enquanto no houver pesquisas seguras
que digam se eles interferem ou no no meio ambiente e na sade
humana.
Sobre
o tema da violncia no campo e dos assassinatos de trabalhadores
rurais, o que os movimentos podem fazer para promover o respeito
dos direitos humanos no meio rural?
As
organizaes de trabalhadores j fizeram vrias denncias ao
governo pedindo que este usasse a Polcia Federal para dimunir
as reaes e aes violentas dos latifundirios. Ns temos a
expectativa de que a situao atual mude. J mudou muito na
perseguio do trabalho escravo, por exemplo o ano ado a
T denunciou 5.000 casos de trabalhadores submetidos a regime
de escravido e uma das primeiras medidas do governo Lula quando
se implantou foi a criao de uma Comisso Supra-Ministerial
para poder atuar na represso do trabalho escravo. Tambm temos
uma forte expectativa com relao Reforma Agrria. Hoje tem
setores dos latifundirios que se organizam e se armam contra
os trabalhadores, ns esperamos que o governo desencadeie uma
poltica de transformao estrutural que minimize esta violncia.
O
que o MST e os outros movimentos sociais que lutam pela Reforma
Agrria e um modelo de desenvolvimento diferente podem fazer
para mudar a imagem deles que a mdia criou na populao?
A
mdia desenvolveu uma ao sistemtica para isolar os movimentos
que lutam pela Reforma Agrria do governo e da sociedade. Nos
ltimos anos ela pautou isso sistematicamente, mas no o conseguiu
completamente justamente porque os trabalhadores tm a sua organizao.
Os movimentos podem vencer esta luta com a organizao, mostrando
a populao com os fatos o que eles realmente querem e fazem.
Claro que no uma luta fcil, porque a mdia tem um poder
de persuaso, um poder de convencimento, um poder de plantar
mentiras (principalmente sobre as organizaes de trabalhadores)
muito grande. Mas ns acreditamos que conseguiremos superar
isso graas nossa organizao, a nossa luta, s aes concretas
que realizarmos.
Veja
tambm:
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de morte contra advogada que denuncia crimes policiais na periferia
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por ela
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