Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
Sociedade Civil
Midia
Conselhos de Direitos
Executivo
Legislativo
Judicirio
Ministrio Pblico
Educao EDH
Arte e Cultura
Memria Histrica
Central de Denncias
Rede Lusfona
Rede Cabo Verde
Rede Guin-Bissau
Rede Moambique
Direitos Humanos
Desejos Humanos
Educao EDH
Cibercidadania
Memria Histrica
Arte e Cultura
Central de Denncias
Executivo

AP 183u42

SUSP Sistema nico de Segurana Pblica Estados

Arquitetura institucional do SUSP

CAPTULO 7

Preveno do Crime e da Violncia e Promoo da Segurana Pblica no Brasil

1. Apresentao

No ano 2000, 45.919 pessoas morreram vtimas de homicdio doloso no Brasil o que representa uma taxa de 27 mortes por homicdio para cada 100 mil habitantes (Waiselfisz 2002). Segundo dados da Organizao Mundial da Sade, para um conjunto de 74 pases, o Brasil o pas que registra a terceira maior taxa de mortalidade por homicdio. Apenas a Colmbia (61,6/100.000) e El Salvador (55,6/100.000) tm taxas superiores taxa do Brasil (Krug et al 2002).

So 125 mortes decorrentes de homicdio por dia, que representam apenas a ponta mais visvel e mais dramtica de um problema grave na rea da segurana pblica que afeta a vida de milhes de indivduos e milhares de comunidades em todo o Brasil. Crianas so vtimas da violncia de seus pais. Idosos so vtimas da violncia de seus filhos. Parceiros ntimos so vtimas da violncia de seus companheiros. Homens e mulheres so vtimas da violncia de seus amigos, colegas ou conhecidos. Jovens e adultos so vtimas de crimes comuns e de crimes praticadas por pistoleiros, justiceiros, membros de gangues, e de grupos ou organizaes criminosas, freqentemente envolvendo agentes pblicos.

Nos grandes centros urbanos, o problema agravado pela presena do crime organizado, trfico de drogas e comrcio ilegal de armas, fazendo com que o nmero de mortes por homicdio por 100 mil habitantes chegasse, no ano 2000, a 56,5 na Cidade do Rio de Janeiro, 64,8 na Cidade de So Paulo e 95,8 em Recife (Waiselfisz 2002). Alm do problema humano e social, o crime e a violncia representam um grave problema econmico. O custo do crime e da violncia, incluindo, entre outras, despesas com sade, segurana e justia, perdas patrimoniais e perdas intangveis, estimado em 10,5% do produto interno bruto (Londoo e Guerrero 1999; Ayres 1998). Com o aumento da insegurana e do medo do crime e da violncia nas dcadas de 1980 e 1990, cresceram as demandas por penas mais duras, mais prises, mais policiais, mais poderes, mais armas e mais equipamentos para as polcias. medida que investimentos nesta direo no produziram os efeitos esperados na reduo do crime e da violncia e na melhoria da segurana pblica, cresceram, a cada tragdia divulgada pela mdia, as demandas pela pena de morte, priso perptua e reduo da maioridade penal, medidas que, alm de ineficazes, contrariam a Constituio Federal e tratados internacionais assinados pelo Brasil. Cresceu tambm a demanda por servios de segurana privada, que beneficiam principalmente a minoria da populao que pode pagar por estes servios e que, ao invs de complementar ou suplementar a atuao dos servios de segurana pblica, freqentemente crescem empregando ilegalmente policiais e guardas municipais e contribuem assim para enfraquecer os servios de segurana pblica e agravar o problema da insegurana, do crime e da violncia.

Na dcada de 1990, comeou tambm a crescer a demanda por polticas e programas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica. As instituies atuantes na rea da segurana pblica, da justia criminal e da istrao penitenciria tm um papel fundamental na preveno do crime e da violncia. Mas esta preveno exige que se reoriente a atuao destas instituies, a fim de melhor compatibilizar o objetivo de identificar, prender, processar, julgar e punir os responsveis pela prtica de crimes e violncias e o objetivo de reduzir a incidncia e o impacto de crimes e violncias na sociedade.

Exige ainda a articulao destas instituies s organizaes do governo e da sociedade atuando na rea econmica, social e cultural, inclusive com as organizaes que atuam na rea da segurana privada, visando formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia.

Objetivos

O Relatrio sobre Preveno do Crime e da Violncia e Promoo da Segurana Pblica atende a uma solicitao da Secretaria Nacional de Segurana Pblica, no mbito do projeto Arquitetura Institucional do Sistema nico de Segurana Pblica, desenvolvido com apoio do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e da Federao das Indstrias do Rio de Janeiro (Firjan).

Em 2003, o Governo Federal adotou o Projeto Segurana Pblica para o Brasil, elaborado originalmente pelo Instituto da Cidadania, como Plano Nacional de Segurana Pblica. Inspirado na experincia do Sistema nico de Sade (SUS), o Projeto Segurana Pblica para o Brasil prev com a promoo do Ministrio da Justia, atravs da Secretaria Nacional de Segurana Pblica a construo do Sistema nico de Segurana Pblica (Susp), a partir da integrao das aes federais, estaduais e municipais na rea da segurana pblica, da constituio de gabinetes integrados de gesto da segurana pblica nos estados e do desenvolvimento de planos estaduais e municipais de segurana pblica. Visando a definir princpios, diretrizes e prioridades para a construo do Sistema nico de Segurana Pblica, a Secretaria Nacional de Segurana Pblica lanou o Projeto Arquitetura Institucional do Sistema nico de Segurana Pblica e constituiu grupos de trabalho para apresentar propostas de ao em nove reas estratgicas:

Modernizao da gesto das instituies de justia criminal;

Capacitao em gesto integrada da segurana pblica;

Bases nacionais de informao de Justia Criminal;

Gesto da preveno em segurana pblica;

Controle e participao social na gesto das polcias;

Aprimoramento dos servios de polcia tcnica;

Controle de arma de fogo;

Gesto municipal da segurana pblica;

Gesto do sistema penitencirio.

O grupo de trabalho de gesto da preveno em segurana pbica um grupo multidisciplinar, formado por profissionais com especializao em Cincias Sociais, Direito e Sade Pblica, atuando em centros de pesquisa e organizaes da sociedade civil, visando a orientar, integrar e fortalecer as aes do governo e da sociedade na rea da preveno do crime e da violncia e da melhoria da segurana pblica.

O principal objetivo do grupo de trabalho de gesto da preveno em segurana pblica foi definir princpios, diretrizes e prioridades para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia no mbito do Sistema nico de Segurana Pblica (Susp), visando a orientar, integrar e fortalecer as aes federais, estaduais e municipais nesta rea crucial para a estruturao do Susp: a reduo do crime e da violncia e a melhoria da segurana pblica no pas.

No se trata de aprofundar o estudo dos diversos tipos de crime e violncia, de suas manifestaes, causas e impactos, em diferentes regies e estados do pas. Os membros da equipe de trabalho consideram que estudos e pesquisas deste tipo precisam ser realizados regularmente, por acadmicos e profissionais, atuando em organizaes governamentais e no governamentais, sempre que possvel com o apoio da universidade e do governo.

Devem, no entanto, subsidiar e orientar o desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, na esfera federal, estadual e municipal. Entretanto, neste relatrio, o grupo de trabalho procurou focalizar as polticas e programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no Brasil e no Exterior.

Nesse sentido, o relatrio procura identificar os princpios, diretrizes e prioridades que, de maneira geral, tm influenciado o desenvolvimento destas polticas e programas, particularmente aqueles capazes de demonstrar resultados, bem como estratgias para sua promoo, consolidao e aperfeioamento no Brasil.

importante ressaltar, desde o comeo, que o grupo de trabalho procurou apresentar no relatrio os resultados de avaliaes dos programas de preveno, quando disponveis, sem, no entanto, julg-los. No caso de programas desenvolvidos em outros pases, o grupo no examinou a possibilidade e a convenincia de seu desenvolvimento no Brasil. As recomendaes contidas no relatrio dizem respeito, portanto, aos princpios, diretrizes e prioridades que devem orientar o desenvolvimento de polticas e programas e no a tipos especficos de polticas e programas de preveno do crime e da violncia.

Metodologia

O relatrio foi elaborado a partir de levantamento da bibliografia nacional e internacional sobre a preveno do crime e da violncia, e levantamento de informaes sobre programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos no Brasil. Os principais livros, artigos e relatrios consultados, bem como os principais websites utilizados no levantamento da bibliografia, so apresentados nas sees 8-9. Entre os estudos consultados, destacam-se, pela sua abrangncia e qualidade: a) Sherman, Lawrence W., et al, Preventing Crime: what works, what doesnt, whats promising (Washington, DC: National Institute of Justice, 1998); b) Nuttall, C., Goldblatt, P. e Lewis, C., Reducing Offending: an assessment of research on ways of dealing with offending behavior (London: Home Office, 1998); c) Krug, Etienne G. et al., World Report on Violence and Health Geneve: World Health Organization, 2002).

Entre os documentos produzidos no Brasil, destacam-se, pela sua importncia no desenvolvimento de uma poltica nacional de preveno do crime e da violncia:

a) Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, Plano Nacional de Segurana Pblica (Braslia, DF: Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, 2001);

b) Ministrio da Sade, Poltica Nacional de Reduo da Morbimortalidade por Acidentes e Violncias (Braslia, DF: Ministrio da Sade, 2001); e c) Instituto da Cidadania, Projeto Segurana Pblica para o Brasil (So Paulo: Instituto da Cidadania, 2002).

Informaes bsicas sobre um conjunto de programas de preveno da violncia e do crime em desenvolvimento no Brasil foram sintetizadas em fichas tcnicas de cada programa e apresentadas na seo 7. As fichas tcnicas contm informaes bsicas de 109 programas, desenvolvidos em 15 estados e no Distrito Federal, com aes nas reas da famlia, educao, trabalho, mdia, comunidade, polcia, justia e sade.

O conjunto de programas apresentados no relatrio inclui aqueles sob a responsabilidade de organizaes governamentais e programas sob a responsabilidade de organizaes da sociedade civil. A maioria dos programas resultado de parcerias entre governo e sociedade civil. Alguns so desenvolvidos exclusivamente em uma localidade, enquanto outros em diversos locais, segundo um modelo ou padro adaptado s condies de cada localidade. Da mesma forma, existem programas centrados em um nico tipo de ao, direcionada a um nico tipo de fator de risco ou de proteo que afeta a incidncia e o impacto do crime e da violncia. Outros programas so compreensivos, integrando diversos tipos de aes direcionadas a diversos fatores de risco e de proteo. Alguns programas tm a preveno do crime e da violncia como objetivo. Outros atuam sobre fatores de risco e de proteo que afetam a incidncia e o impacto do crime e da violncia. No uma amostra representativa dos programas em desenvolvimento no pas, nem uma amostra de programas bem-sucedidos. Um dos principais problemas constatados na maioria dos programas apresentados justamente a ausncia de indicadores de resultados e de instrumentos de monitoramento e avaliao dos resultados obtidos. O conjunto de programas apresentados uma amostra preliminar de programas em desenvolvimento no pas, possvel de ser identificada no curto espao de tempo disponvel para realizao do relatrio, que serve de base para uma anlise/diagnstico preliminar da situao da preveno do crime e da violncia no Brasil e que pode servir de base para pesquisas mais aprofundadas sobre o assunto.

Para o levantamento de informaes sobre os programas de preveno do crime e da violncia, foi realizado um mapeamento de programas em funcionamento no pas nos ltimos trs anos. A base inicial para esse mapeamento foram programas conhecidos dos integrantes do grupo de trabalho, como o banco de projetos de preveno da violncia do Frum Metropolitano de Segurana Pblica na Regio Metropolitana de So Paulo, os bancos de dados do Programa Gesto Pblica e Cidadania da Fundao Getulio Vargas e do Prmio Socioeducando, e a pesquisa Cultivando Vida, Desarmando Violncias realizada em 2001pela Unesco no Brasil.

O grupo de trabalho solicitou a colaborao dos responsveis por aproximadamente cento e cinqenta programas. Desse contingente, por volta de noventa programas puderam colaborar. Para o levantamento das informaes, foi elaborado um questionrio semiaberto,apresentado na seo 7, com base em dois questionrios preparados pela Organizao Mundial da Sade para a documentao de programas de preveno da violncia interpessoal. Parte dos questionrios foi respondida diretamente pelos responsveis pelos prprios programas e enviada por e-mail para o grupo de trabalho. A outra parte foi respondida por meio de entrevistas presenciais. Um pequeno nmero de programas foi visitado por integrantes do grupo de trabalho.

As informaes levantadas nos questionrios, complementadas com informaes disponveis em documentos sobre os programas, serviram de base para elaborao de fichas tcnicas, segundo modelo desenvolvido pelo grupo de trabalho, apresentando as informaes bsicas sobre os programas pesquisados. Parte das fichas tcnicas foi elaborada pelo grupo de trabalho, apenas com base em informaes disponveis em documentos sobre o programa.

Nos primeiros itens da ficha tcnica, alm do nome do programa e das localidades em que foi implementado, destaca-se a data em que se iniciou sua implementao oficialmente e, conforme o caso, a data de trmino de sua execuo. No primeiro tpico (Problema), esto descritos os fatores ou as situaes que motivaram o desenvolvimento do projeto. No segundo (Objetivos), descreve-se o objetivo geral e, eventualmente, os objetivos especficos visados. No tpico Aes Estratgicas, descrevem-se em linhas gerais quais seriam as principais atividades desenvolvidas para a realizao da proposta. No quarto tpico (Coordenadores e Parceiros), destacam-se as instituies envolvidas diretamente em sua execuo. No quinto (Oramento/Recursos), detalha-se o custo para sua implementao e a fonte desses recursos. Em Resultados e Indicadores so descritas informaes sobre o nmero de beneficirios e sobre os resultados destacados pelas equipes que responderam aos questionrios. Finalmente, em Contato, indica-se o nome de um integrante da equipe responsvel pelo programa alm de seu endereo e telefone.

Estrutura do Relatrio

A partir do levantamento da bibliografia nacional e internacional e de informaes sobre programas de preveno do crime e da violncia no Brasil, o grupo apresenta uma anlise/diagnstico da situao do crime e da violncia no pas, focalizando principalmente o caso dos homicdios, das respostas do governo e da sociedade ao problema, e as iniciativas, programas e aes na rea da preveno do crime e da violncia. Este diagnstico apresentado na seo 2.

Na seo 3, o relatrio apresenta um panorama da preveno do crime e da violncia na sociedade contempornea, que embasa o desenvolvimento de polticas de preveno na rea da sade e da segurana pblica em diversos pases e que poderia servir de base para o desenvolvimento de polticas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica no mbito do Sistema nico de Segurana Pblica.

Na seo 4, o relatrio analisa as caractersticas bsicas de programas e aes de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no pas e no exterior, em oito reas: famlia; escola; trabalho; mdia; comunidade; polcia; justia; e sade.

Na seo 5, o relatrio identifica prticas que, de acordo com estudos e pesquisas existentes, contribuem para o sucesso de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, enfatizando a importncia de um processo contnuo, aberto, transparente e participativo, de formulao, implementao, monitoramento e avaliao destas polticas e programas.

Na seo 6, o relatrio apresenta propostas para o desenvolvimento de polticas de preveno do crime e da violncia e de promoo da segurana pblica, nos mbitos federal, estadual e municipal. O relatrio focaliza e procura definir o papel da Unio, dos Estados e dos Municpios na rea da preveno do crime e da violncia, focalizando estratgias de apoio poltico, econmico e tcnico para incentivar programas e aes de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica.

Na seo 7, o relatrio apresenta fichas tcnicas com informaes resumidas sobre programas de preveno do crime e da violncia no Brasil. Apresenta tambm o questionrio para levantamento de informaes sobre programas de preveno, que serviram de base para elaborao das fichas tcnicas. Nas sees 8-9, o relatrio apresenta referncias bibliogrficas e web-sites com informaes sobre a preveno do crime e da violncia. O principal objetivo da apresentao de fichas tcnicas de programas de preveno, referncias bibliogrficas e web-sites oferecer fontes de informaes para pesquisadores e profissionais interessados no tema da preveno do crime e da violncia. A seo 10 traz um glossrio, apresentando os principais conceitos utilizados no relatrio.

Originalmente previsto para ser elaborado no perodo de quatro meses, o relatrio foi elaborado em seis meses, sendo parcialmente interrompido no perodo de mudana na direo da Secretaria Nacional da Segurana Pblica, entre o final de 2003 e o incio de 2004. Apesar de todas as limitaes inerentes a um trabalho desta magnitude realizado em perodo de tempo to curto, os membros do grupo de trabalho esperam que organizaes governamentais e da sociedade civil possam usar o relatrio para promover aes federais, estaduais e municipais visando a desenvolver polticas e programas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica no Brasil.

Sntese das Concluses e Propostas

H diversas iniciativas, programas e aes de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento, em muitos estados brasileiros, mas estas iniciativas tm alcance e impacto limitado e, at o momento, no foram capazes de conter e reverter a tendncia de aumento do crime e da violncia no pas.2 Em parte, as limitaes destas iniciativas devem-se ao fato da ausncia ou fragilidade de polticas de preveno do crime e da violncia, incapazes de integrar e sustentar programas e aes em diferentes esferas e reas do governo e da sociedade, direcionados a diversos fatores de risco e de proteo que afetam a incidncia e o impacto do crime e da violncia.

As limitaes dos programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no Brasil devem-se tambm presena de problemas de concepo e de gesto dos prprios programas. So problemas relacionados, em primeiro lugar, falta de integrao de aes em diversas esferas do governo e da sociedade. E, em segundo lugar, falta de informaes e dados sobre a incidncia de crimes e violncias, e sobre os fatores de risco e de proteo que afetam a incidncia de crimes e violncias, bem como falta de instrumentos adequados para monitorar e avaliar a implementao e os resultados dos programas de preveno. O desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia no pas dificultado pela predominncia de uma concepo de preveno na rea da segurana pblica segundo a qual a preveno seria uma responsabilidade das organizaes atuando na rea econmica, social e cultural. No seria uma responsabilidade das organizaes atuando nas reas da segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria, s quais caberia principalmente a aplicao da lei, mais especificamente a identificao, deteno, persecuo, julgamento e punio dos responsveis pela prtica de crimes.

Esta concepo est apoiada na idia de que as aes de preveno se caracterizariam principalmente pela natureza da ao e, mais especificamente, pela ausncia de punio ou ameaa de punio. Ou seja, pela reduo da incidncia e do impacto do crime e da violncia na sociedade, e no tanto pelo resultado ou conseqncia da ao.

Uma concepo alternativa de preveno do crime e da violncia est apoiada na idia de que as aes de preveno se caracterizam principalmente pelo resultado ou conseqncia da ao, ou seja, a reduo da incidncia e do impacto do crime e da violncia na sociedade.3 Esta concepo alternativa permitiria a melhor compreenso do fato de que tanto aes punitivas (especialmente, mas no apenas na rea da segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria) quanto aes no-punitivas (especialmente, mas no apenas nas reas econmica, social e cultural) podem ser preventivas, na medida em que contribuem para reduzir a incidncia e o impacto de crimes e violncia, ou, alternativamente, podem ser crimingenas, na medida em que contribuem para aumentar a incidncia e o impacto de crimes e violncias. Esta concepo da preveno do crime e da violncia, centrada nos resultados e no na natureza das aes desenvolvidas, permitiria a melhor integrao de programas e aes em diversas esferas e reas do governo e da sociedade civil, direcionando-os ao objetivo comum de reduzir a incidncia e o impacto de crimes e violncias na sociedade. Alm disso, permitiria o desenvolvimento de polticas de preveno do crime e da violncia que integrassem programas e aes de diversos tipos, em diversas reas, ampliando assim o alcance e o impacto destes programas e aes. Permitiria, enfim, a superao de uma dicotomia ainda existente no pas entre polticas e programas de segurana pblica e polticas e programas de preveno, que limita o alcance e o impacto de ambos os programas.4 Alm disso, uma concepo da preveno do crime e da violncia centrada nos resultados e no na natureza das aes desenvolvidas chamaria a ateno para a necessidade de monitorar e avaliar o impacto sobre o crime e violncia de diversos tipos de polticas, programas e aes, a fim de que se possa identificar, em todas as reas, aqueles que efetivamente contribuem e aqueles que no contribuem para a preveno do crime e da violncia e para a melhoria da segurana pblica.5

Polticas de preveno do crime e da violncia e de melhoria da segurana pblica adquirem maior legitimidade e eficcia quando so embasadas na Constituio Federal e nos Tratados Internacionais ratificados pelo Brasil, e devem ser orientadas pelos seguintes princpios: promoo da democracia e dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentvel, e da cooperao internacional; responsabilidade do estado; participao da sociedade; universalidade; equidade; integralidade; descentralizao.6 Polticas e programas de preveno do crime e da violncia so mais eficazes quando, alm de centrados nos resultados e no na natureza das aes desenvolvidas, tm objetivos definidos de forma clara e precisa, so projetados levando em considerao as caractersticas especficas dos crimes e violncias que se pretende evitar e das comunidades em que estes crimes e violncias acontecem, e atuam sobre os fatores de risco e os fatores de proteo que afetam a incidncia e o impacto de crimes e violncias sejam estes fatores relacionados s atitudes e comportamentos dos agressores e das vtimas, ou s situaes ou contextos em que os crimes e violncias acontecem.

A criminalidade e a violncia so fenmenos complexos, que se manifestam de forma diferente, tm causas diferentes, e exigem solues diferentes em estados, cidades e bairros diferentes. No Brasil, a criminalidade e a violncia urbana so problemas particularmente graves. As grandes cidades e regies metropolitanas registram taxas de homicdios extremamente elevadas em comparao com as registradas em outros pases da regio e do mundo. O problema da criminalidade e da violncia urbana deve estar no centro das atenes no desenvolvimento de polticas e programas de preveno. A violncia familiar e domstica, a violncia de gnero freqentemente entre parceiros ntimos , a violncia contra membros de grupos minoritrios e a violncia envolvendo jovens so problemas graves que contribuem de maneira significativa para o aumento do crime na sociedade brasileira. Estes problemas devem ser considerados prioritrios no desenvolvimento de polticas e programas de preveno, particularmente nas esferas estadual e municipal.

O crime organizado, a corrupo e a violncia praticada por agentes pblicos trabalhando nas polcias, nos sistemas penitencirios e nas unidades de internao de adolescentes so problemas que no apenas contribuem para o aumento do crime e da violncia na sociedade, mas ainda minam a capacidade das organizaes governamentais e no governamentais de desenvolver polticas e programas de preveno. Estes problemas tambm devem ser considerados prioritrios no desenvolvimento de polticas e programas de preveno, particularmente nas esferas federal e estadual.

Na sociedade brasileira, a desigualdade, a discriminao e a falta de oportunidades, particularmente na rea da educao e do trabalho, a desigualdade no o aos sistemas de segurana e justia, alm do estresse e da instabilidade no ambiente familiar e comunitrio, so fatores que aumentam o risco e agravam o impacto de muitos tipos de crimes e violncias. Estes fatores devem ser levados em considerao no desenvolvimento de polticas e programas de preveno. Polticas e programas de preveno so mais eficazes se forem compreensivos e levarem em considerao o conjunto de fatores de risco e fatores de proteo cuja interao determina a vulnerabilidade ou resilincia dos indivduos, famlias, grupos e comunidades diante do crime e da violncia. Neste sentido, polticas e programas de preveno devem ser multidisciplinares e multi-setoriais, incorporando assim a contribuio de profissionais especializados em diversas disciplinas e de grupos e organizaes atuando em diversas reas do governo e da sociedade. A interao e a colaborao de parceiros de disciplinas e setores diferentes mais efetiva quando acontece desde o incio da fase de planejamento das polticas e programas, continuando nas fases de implementao, monitoramento e avaliao.7

Polticas e programas de preveno so mais eficazes, do ponto de vista da reduo do crime e da violncia na sociedade, se forem direcionados para as reas e grupos onde h maior concentrao de fatores de risco de crimes e violncias e menor concentrao de fatores de proteo diante de crimes e violncia. A exceo a esta regra geral seriam os programas de preveno centrados na rea da famlia, cuja aceitao pblica, apoio poltico e econmico, e resultados comprovados em programas avaliados indicam a necessidade de sua universalizao, ainda que a implementao deva levar em considerao as diferenas entre reas e grupos em relao aos fatores de risco e aos fatores de proteo. Polticas e programas de preveno so mais eficazes se o seu desenvolvimento estiver baseado em informaes e dados no apenas sobre o tipo de crime e de violncia que se pretende evitar, mas tambm sobre a implementao e os resultados de polticas e programas de preveno semelhantes desenvolvidos anteriormente.

No Brasil, com poucas excees, h carncia de informaes e dados sobre o crime e a violncia, e falta transparncia s instituies da rea da segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria. Duas condies so fundamentais para o desen-volvimento e aperfeioamento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, nas esferas federal, estadual e municipal: a) a constituio de uma base de informaes e dados sobre o crime e a violncia e sobre polticas e programas de preveno do crime e da violncia, integrando informaes e dados do governo e da sociedade, e que seja vel aos governos e sociedade; 8 b) a formao de profissionais, nas diversas reas do governo, capazes de produzir, analisar e utilizar estas informaes e dados, para planejar, implementar, monitorar e avaliar polticas e programas de preveno.9

Para o desenvolvimento e aperfeioamento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, indispensvel tambm a constituio de unidades gestoras, responsveis pela coordenao do processo de formulao, implementao, monitoramento e avaliao destas polticas e programas. No desejvel estabelecer um modelo nico de unidade gestora, necessariamente adaptada s condies e necessidades do governo federal e dos governos estaduais e municipais. Mas indispensvel que as unidades gestoras disponham de condies institucionais e de recursos humanos e materiais para realizar seu trabalho. indispensvel tambm que sejam articuladas com conselhos consultivos, paritrios, com representantes do governo e da sociedade civil, responsveis pela promoo da participao social e do controle externo no desenvolvimento de polticas de preveno.

Tambm no desejvel estabelecer um modelo nico de metodologia de desenvolvimento de polticas e programas. Mas indispensvel que as metodologias utilizadas contenham requisitos mnimos, entre os quais se destacam: o diagnstico dos problemas a serem enfrentados e suas causas; a identificao de um conjunto de aes que sejam capazes de solucionar os problemas e sejam sustentveis do ponto de vista poltico, econmico e social, e instrumentos de monitoramento e avaliao dos resultados.10 Por fim, fundamental mobilizao de recursos para a formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, tambm nas esferas federal, estadual e municipal. A constituio de fundos de segurana pblica um procedimento que permite mobilizar recursos pblicos (federais, estaduais e municipais) e privados e direcion-los para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica.

Poltica Nacional de Preveno

O Governo Federal ou a dispor de um novo instrumento para apoiar o desenvolvimento de polticas e programas na rea da segurana pblica, inclusive polticas e programas de preveno do crime e da violncia, com a criao do Fundo Nacional de Segurana Pblica em junho do ano 2000, atravs da medida provisria 2.029/00, posteriormente institudo pela lei federal 10.201/01, de 14 de fevereiro de 2001. Com a reestruturao do Fundo Nacional de Segurana Pblica, atravs da lei federal 10.746/03, de 10 de outubro de 2003, o Governo Federal procurou criar condies mais favorveis para o desenvolvimento de polticas de preveno do crime e da violncia por parte dos estados, integrando programas na rea da segurana pblica e programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos em outras reas, alm da participao dos municpios na preveno do crime e da violncia e na melhoria da segurana pblica.

Alm da ampliao dos recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica, fundamental a definio de uma poltica nacional de segurana pblica, articulada a polticas estaduais e municipais, na qual a preveno do crime e da violncia seja um objetivo central, e no apenas marginal, para orientar a aplicao dos recursos do Fundo. Somente assim ser possvel promover a efetiva integrao entre os programas federais, estaduais e municipais desenvolvidos na rea da segurana pblica, da justia criminal e da istra-o penitenciria, e os programas desenvolvidos nas reas da sade, educao, trabalho, pro-moo social, comunicao social, desenvolvimento urbano, direitos humanos, entre outras, que so relevantes para a preveno do crime e da violncia e a melhoria da segurana pblica. Nesse sentido, o governo federal, atravs do Ministrio da Justia, deve desenvolver uma poltica nacional de preveno do crime e da violncia e promoo da seguranapblica, que orientaria a aplicao de recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica e a aplicao de recursos de rgos federais em polticas e programas federais, estaduais e municipais de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica.

Os governos estaduais que se integrarem ao Sistema nico de Segurana Pblica devem desenvolver uma poltica estadual de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica alinhada poltica nacional. Da mesma forma, os municpios que se integrarem ao Sistema nico de Segurana Pblica devem desenvolver polticas municipais de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica alinhada s polticas nacional e estadual. Na esfera da Unio, o Governo Federal poderia criar, junto ao Ministrio da Justia, uma comisso executiva ou gabinete de gesto integrada, responsvel pelo desenvolvimento da poltica nacional de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica.

A comisso executiva poderia ser presidida pelo Ministro da Justia, coordenada pelo Secretrio Nacional de Segurana Pblica, contando com a participao de representantes dos diversos rgos do Ministrio da Justia, representantes de outros ministrios e secretarias do Governo Federal, e ainda representantes dos governos estaduais e dos governos municipais. Esta comisso executiva poderia estar articulada a um conselho consultivo, responsvel pela promoo da participao social e controle externo no desenvolvimento da poltica nacional de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica. Este conselho seria paritrio, com representantes do governo e da sociedade, e deveria contar com a participao de especialistas e representantes de organizaes governamentais e da sociedade civil, atuando na esfera federal, estadual e municipal, nas reas da segurana pblica, justia criminal, istrao penitenciria, sade, educao, trabalho, promoo social, comunicao social, desenvolvimento urbano, direitos humanos e outras reas relevantes para a preveno do crime e da violncia. Em longo prazo, o Governo Federal poderia criar um Conselho Nacional de Preveno do Crime e da Violncia e Promoo da Segurana Pblica, junto ao Ministrio da Justia, a partir da fuso do Conselho Nacional de Segurana Pblica e do Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria.

Em curto prazo, o Governo Federal poderia criar um Conselho Nacional de Preveno do Crime e da Violncia e Promoo da Segurana Pblica, junto Secretaria Nacional de Segurana Pblica, a partir da reestruturao do Conselho Nacional de Segurana Pblica. Esta reestruturao teria por objetivo ampliar a representatividade do conselho, atravs da incluso de representantes de organizaes governamentais (federais, estaduais e municipais), organizaes da sociedade civil e da universidade, atuando em reas relevantes para a preveno do crime e da violncia e a promoo da segurana pblica.

Para promover a participao e integrao de organizaes federais ao Sistema nico de Segurana Pblica, seria importante a participao de representantes da Polcia Federal, do Ministrio Pblico Federal, do Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria, Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criana e do Adolescente, Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Conselho Nacional de Promoo da Igualdade Racial, Conselho Nacional de Educao, Conselho Nacional de Sade, Conselho Nacional de Assistncia Social, e Conselho Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social. Para promover a participao e integrao de organizaes estaduais ao Sistema nico de Segurana Pblica, seria importante a incluso de representantes das secretarias de estado da segurana, da justia e da istrao penitenciria, de entidades da polcia civil, da polcia militar, da polcia tcnico-cientfica, do Ministrio Pblico Estadual, de conselhos estaduais da rea da segurana pblica, justia e istrao penitenciria. Para promover a participao e integrao dos municpios ao Sistema nico de Segurana Pblica, seria importante a participao de representantes de entidades nacionais dos municpios, entidades nacionais das guardas municipais, e conselhos municipais da rea da segurana urbana. O Governo Federal deve ainda constituir um sistema nacional de informaes sobre segurana pblica e justia criminal, definir e promover a implantao de regras mnimas para formao e aperfeioamento de profissionais de segurana pblica, e identificar e promover inovaes e boas prticas nos estados e municpios da federao. O Governo Federal deve, atravs do Ministrio da Justia, assumir a responsabilidade pela poltica de preveno do crime organizado inter-estadual e internacional, contando sempre com a colaborao de outros ministrios e secretarias de estado do Governo Federal, e ainda dos estados e dos municpios, atravs de convnios ou protocolos estabelecidos entre as partes.

Polticas Estaduais e Municipais de Preveno

O Governo Federal deve promover o desenvolvimento de polticas e programas estaduais e municipais de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, e a integrao dos estados e municpios ao Sistema nico de Segurana Pblica, atravs de apoio econmico, contando para isso com recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica e de outras fontes disponveis, apoio tcnico, apoio poltico, e da definio de regras mnimas para orientar o desenvolvimento de polticas estaduais e municipais articuladas com a poltica nacional.

O Governo Federal deve condicionar os investimentos dos recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica apresentao pelos estados e municpios de informaes e dados sobre o crime e a violncia e sobre a implementao e o resultado de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, bem como observncia pelos estados e municpios das regras mnimas estabelecidas na poltica nacional, entre as quais se destacam:

A constituio de unidades integradas de gesto da segurana pblica responsveis pelo desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, com representao de diferentes setores do governo;

A constituio de conselhos consultivos para promover a participao social e o controle externo no desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, com representao de diferentes setores do governo, da sociedade e da universidade;

A elaborao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, integrando aes de diferentes setores do governo e da sociedade civil;

O desenvolvimento de bases de informao para subsidiar a formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica;

A formao e qualificao de profissionais para formular, implementar, monitorar e avaliar polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica.

A constituio de fundos e a destinao de recursos pblicos e privados para formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica. O Governo Federal deve reservar uma parcela dos recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica para promover o desenvolvimento de polticas e programas municipais de preveno do crime e da violncia, e a integrao dos municpios ao Sistema nico de Segurana Pblica. Na aplicao da parcela dos recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica destinada aos municpios, o Governo Federal deve priorizar os municpios que so capitais de estados, pertencem a regies metropolitanas, so plos regionais, tm alta concentrao populacional e alta taxa de homicdio, alm de municpios com experincias inovadoras na rea da preveno do crime e da violncia.

Os estados devem assumir a responsabilidade pela poltica de preveno do crime e da violncia no seu territrio, especialmente a preveno do crime organizado intermunicipal, a preveno dos crimes e violncias de maior gravidade, alm da preveno do crime e da violncia nos municpios que no se integrarem ao Sistema nico de Segurana Pblica, contando sempre com a colaborao da Unio e dos Municpios, atravs de convnios ou protocolos estabelecidos entre as partes. Os municpios que se integrarem ao Sistema nico de Segurana Publica devem compartilhar com o Estado e a Unio a responsabilidade pela poltica de preveno do crime e da violncia no seu territrio, especialmente no desenvolvimento de programas de preveno primria e na preveno dos crimes e violncias de menor gravidade, da violncia domstica e de gnero, violncia contra minorias e violncia envolvendo jovens, da desordem urbana e dos conflitos interpessoais e sociais. Devem contar sempre com a colaborao do Estado e da Unio, atravs de convnios ou protocolos estabelecidos entre as partes.

Programas de Preveno

De um modo geral, h pouco acompanhamento e monitoramento dos resultados de programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos no Brasil. Os indicadores mais freqentes so os nmeros de participantes e beneficirios, sendo que h poucos registros sobre a evoluo do trabalho realizado e sobre o reflexo desses programas na preveno do crime e da violncia. Partindo do pressuposto de que a preveno do crime e da violncia exige polticas e programas que levem em considerao as caractersticas especficas dos crimes e violncias que se pretende evitar, bem como das comunidades e locais em que estes crimes e violncias acontecem, e que h poucos estudos e pesquisas avaliando o resultados de programas de preveno no Brasil, no possvel nem desejvel definir uma relao de programas a serem promovidos pelo Governo Federal e desenvolvidos pelo estados e municpios.

Entretanto, com base na experincia nacional e internacional, possvel apontar tipos de programas que poderiam ser alvo da ateno dos gestores federais, estaduais e municipais, no desenvolvimento de polticas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica. Poderiam ser tambm foco de estudos e pesquisas, para que estes programas possam ser mais conhecidos e que seus resultados possam ser efetivamente avaliados.

Famlia

A avaliao de programas internacionais e nacionais revela que programas centrados na famlia, demonstrando bons resultados para a preveno de crimes e violncias, so geralmente compreensivos e continuados, com enfoque sobre vrios fatores de risco que fragilizam as famlias. Estes tendem a apresentar resultados positivos em prazo mais longo. Programas de preveno efetuados sobre famlias na fase de pr-natal, ps-natal e primeira infncia dos filhos mostram os melhores resultados no que se refere reduo de envolvimento com o crime na juventude e tambm obteno de melhor rendimento escolar e maiores oportunidades de emprego no futuro. Efeitos mais imediatos surgem sobre a reduo do comportamento anti-social e desordens de conduta e melhoria da qualidade de cuidado dos pais com os filhos. Programas que fazem visitas domiciliares desde os primeiros anos de vida da criana, associados a programas de educao prescolar, tambm oferecem resultados muito promissores. Outro tipo de interveno recomendada a terapia familiar para adolescentes em situao de risco ou envolvidos com o crime e a violncia.

Em relao violncia familiar envolvendo adultos, h evidncias favorveis a abrigos para atendimento, assistncia e apoio a mulheres vtimas de violncia. Visitas domiciliares realizadas por policiais aps incidentes de violncia domstica so consideradas ineficazes. H que se ressaltar que os especialistas concordam com o fato de que nenhuma medida isoladamente poder reduzir definitivamente a violncia familiar. Apresenta-se no relatrio um total de 109 programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no Brasil (ver seo 7), 15 deles com aes centradas na esfera da famlia. Outros 20 programas, apesar de estarem centrados em outras reas, especialmente nas reas da sade, da justia e da comunidade, tambm desenvolvem aes no mbito familiar, procurando integrar aes de preveno em vrias esferas. A maioria desses programas trabalha diretamente com o atendimento a vtimas da violncia domstica, particularmente crianas, adolescentes e mulheres. H, contudo, os que trabalham principalmente sobre os fatores de risco, atravs da capacitao de profissionais de diferentes reas para identificar e lidar com problemas de violncia familiar, e do treinamento dos pais para educao dos filhos.

Programas voltados para a unidade familiar, procurando englobar o maior nmero de familiares (e no apenas a dade me-filho), como estratgia fundamental para a preveno de crimes e violncias;

Programas que respeitem a cultura na qual a famlia est inserida; que estabeleam, juntamente com a famlia, as metas a serem alcanadas; permitam a integrao social da famlia com a comunidade e tratem de forma respeitosa as prticas das famlias sobre as quais atuam. Enfim, programas que promovam a idia de empoderamento da famlia como espao privilegiado para a promoo de valores para a paz;

Programas de melhoria do relacionamento familiar, que oferecem orientaes sobre o desenvolvimento de crianas e adolescentes, prticas de educao dos filhos e prticas de comunicao e resoluo de conflitos de forma no violenta, e que estabelecem ou reforam crenas e atitudes favorveis no-violncia;

Programas de visitas domiciliares continuadas, que levem os servios disponveis na comunidade at as famlias, incluindo acompanhamento pr-natal, sade maternoinfantil, sade mental, educao e emprego para os pais, especialmente a famlias com o primeiro filho, com crianas pequenas e em situao de risco social, por serem as que mais se beneficiam desse tipo de programa;

Programas voltados para famlias de um nico parente, com poucos recursos econmicos e poucos vnculos com a rea/comunidade de residncia;

Programas voltados para famlias de jovens em situao de risco social, a exemplo dos adolescentes em conflito com a lei e usurios de drogas;

Programas de acolhimento a famlias de vtimas de violncia, oferecendo apoio,m orientao e oportunidade para nova vinculao social;

Programas de comunicao e informao que ampliem o o de membros da famlia a apoio mdico, psicolgico, jurdico e social para viabilizar o rompimento da situao de violncia em que se encontram.

Escola

Na escola, os programas de preveno que mostram bons resultados em avaliaes so aqueles baseados no enfoque educativo com adolescentes, demonstrando resultados para a preveno de agresses e brigas entre jovens, para a reduo da violncia juvenil, e para o desestmulo ao uso de substncias psico-ativas. Trs tipos de programas se mostram relevantes:

a) aqueles direcionados a aumentar a capacidade da comunidade escolar de iniciar e sustentar transformaes, especialmente mudana do processo de tomada de decises;

b) aqueles voltados para a delimitao de normas e reforo de comportamentos apropriados ao espao escolar e estmulo comunicao na comunidade escolar, especialmente atravs de campanhas contra a agressividade entre escolares (bullying), produo de textos, cartazes ou cerimnias com o tema da reduo da violncia na escola; c) programas educacionais compreensivos atuando sobre o estudante, com nfase no aumento da competncia e das habilidades sociais, o desenvolvimento de autocontrole e dos mecanismos para lidar com estresse, a responsabilidade na tomada de decises, a resoluo de problemas sociais e as habilidades de comunicao interpessoal.

Dos programas de preveno de violncia escolar que se mostraram ineficientes esto:

a) aconselhamento realizado por pares;

b) programas que apenas oferecem atividades alternativas para jovens (lazer, por exemplo), sem a presena de um programa de preveno mais efetivo;

c) programas instrucionais que focalizam apenas a disseminao de informao, o crescimento do medo e o apelo moral.

Programas voltados apenas para a reduo do consumo de substncia tm piores resultados que os que associam o tema da reduo do consumo de substncias ao desenvolvimento de habilidades individuais e relacionais. Dentre os 109 programas de preveno em desenvolvimento no Brasil apresentados neste relatrio, treze esto centrados na escola. Dezoito programas, apesar de estarem centrados em outras reas (especialmente na comunidade), tambm desenvolvem intervenes relacionadas ao espao escolar, de forma integrada, visando preveno do crime e da violncia na sociedade, especialmente entre os jovens. Cerca de metade dos programas direcionados para as escolas trabalha com o oferecimento de atividades extracurriculares.

Alguns trabalham com a democratizao do espao escolar e o estmulo ao protagonismo juvenil. Alm disso, h tambm exemplos de programas de conscientizao sobre as drogas, de capacitao de professores, de estmulo educao artstica e de incluso dos portadores de necessidades especiais na comunidade escolar. A maioria dos programas investigados teve incio nos ltimos trs anos.

Programas direcionados a aumentar a capacidade da escola de se abrir sociedade, iniciar e sustentar transformaes na escola e na comunidade em que a escola est inserida. Escolas inovadoras, flexveis e comprometidas com uma gesto participativa so cruciais no apenas para a reduo da violncia escolar, mas tambm para o bom rendimento acadmico e crescimento moral dos adolescentes;

Programas que envolvam a famlia e a comunidade de forma participativa na gesto escolar;

Programas direcionados melhoria de relacionamento entre alunos, tendo como base a tica e a cidadania, fundamentados em aprendizado de limites, resoluo de conflitos, aumento da competncia escolar e social e modificao de comportamentos;

Programas que valorizem e capacitem os educadores para a preveno da violncia na escola;

Programas de apoio educao pr-escolar.

Trabalho

H diversos estudos e pesquisas sobre as relaes entre oportunidades de trabalho/ emprego e o crime e a violncia que deixam claro que no h uma relao direta e automtica entre eles. A falta de oportunidades de emprego/trabalho aumenta o risco de envolvimento dos indivduos em crimes e violncias e o risco de crimes e violncias na comunidade. Mas isso no significa que a ausncia de oportunidades de trabalho/emprego implique necessariamente o envolvimento na prtica de crimes ou o aumento da criminalidade e da violncia na comunidade.

Programas de preveno do crime e da violncia atravs do trabalho adotam dois

tipos de aes principais:

a) aumentar a qualificao e a insero profissional das pessoas atravs de educao ou capacitao profissional;

b) programas que visam a aumentar as oportunidades de emprego/trabalho na comunidade.

Aes para aumentar a qualificao e a insero profissional so direcionadas a grupos em situao de risco de desemprego, particularmente os jovens, os adultos que j receberam penas, e os adolescentes que j receberam medidas scio-educativas pela prtica de atos infracionais. Aes para aumentar as oportunidades de emprego/trabalho na comunidade so direcionadas a comunidades com poucas oportunidades de emprego/trabalho. A coordenao dos dois tipos de ao um fator importante para aumentar a eficcia das aes de preveno centradas no trabalho.

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos no Brasil apresentados neste relatrio (ver seo 7), dezesseis esto centrados na rea do trabalho e renda. Outros quinze programas, apesar de estarem mais diretamente voltados para outras reas (especialmente justia e comunidade), tambm desenvolvem aes na esfera do trabalho. Muitos programas voltados para adolescentes em cumprimento da medida socioeducativa e mulheres vtimas de violncia desenvolvem atividades de capacitao e insero profissional, visando a ampliar as oportunidades de trabalho e renda destes grupos. Cerca de metade dos programas direcionados para trabalho e renda voltada para os jovens.

Programas voltados para ampliao da qualificao profissional e do o a oportunidades de emprego, direcionados particularmente para membros de grupos em situao de risco de desemprego:

. Inclui programas de estgio, primeiro emprego, mudana de emprego, cursos de curta e longa durao;

. Inclui programas direcionados para jovens, adolescentes em medida scioeducativa, e para adultos cumprindo pena.

Programas voltados para ampliao das oportunidades de emprego e trabalho, direcionados particularmente para comunidades e grupos com poucas oportunidades de emprego e trabalho.

. Inclui programas de incentivo ao desenvolvimento econmico, desenvolvimento de pequenas e mdias empresas e cooperativas, e contratao de profissionais.

Programas que integrem os dois tipos de programas mencionados acima, a fim de aproximar as oportunidades de emprego e trabalho e as pessoas e grupos que necessitam de emprego e trabalho.

Mdia

H poucos estudos e pesquisas avaliando o impacto de programas de preveno do crime e da violncia centrados na mdia. Todavia, h uma rica produo terica com claras indicaes de aes que merecem ser analisadas e implementadas. Grande parte das propostas est voltada para a produo miditica oferecida s crianas e adolescentes, atravs de regulamentao da programao, da auto-regulamentao dos meios de comunicao e da advertncia s imagens de violncia, ou ainda atravs da orientao dos pais para monitorar o o s mdias por seus filhos, educar pais e crianas sobre os potenciais riscos da violncia na mdia, e estimular o dilogo sobre o contedo assistido, tentando reduzir a possibilidade delas imitarem o que vem na mdia. O incentivo a que as instituies que produzem a informao se comprometam com uma comunicao tica e respeitadora dos direitos humanos tambm consenso entre estudiosos. Outros pontos que constam dos debates so a restrio de horrio e forma de apresentao dos crimes e violncias nas mdias, a disseminao de experincias bem sucedidas na reduo do problema e a nfase da divulgao de mensagens preventivas.

O relatrio no traz exemplos de programas de preveno a crime e violncia centrados na mdia. No entanto, em programas levantados nas esferas da comunidade e da escola, h aes diretamente relacionadas comunicao, como a produo de jornais e revistas comunitrios por jovens envolvidos com projetos nas suas comunidades, e a implantao de rdios comunitrias em escolas, envolvendo alunos e professores na utilizao de novas tecnologias para promover formas de comunicao alternativas. Esses programas no tm uma relao direta com o contedo divulgado pela mdia escrita e televisiva, mas conscientizam sobre a importncia da comunicao, alm de capacitar jovens e adultos para atos de comunicao.

Programas voltados para divulgao de leis e polticas de proteo e promoo dos direitos humanos, e o monitoramento do cumprimento dessas leis e polticas pelos meios de comunicao, em parceria com outros setores da sociedade.

Programas voltados para ampliao da discusso das causas da criminalidade e da violncia, fatores de risco e de proteo na esfera individual, dos grupos mais prximos, da comunidade e da sociedade, e das polticas, programas e aes de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no pas.

. Inclui programas voltados para ampliao da discusso sobre o papel das armas de fogo no aumento da incidncia e impacto de crimes e violncias, e das medidas necessrias para limitar e controlar o porte e a comercializao de armas de fogo.

Programas voltados para ampliao do intercmbio de informaes entre profissionais de diversas disciplinas e reas de atuao, de forma a ampliar a compreenso da natureza, das causas e das solues para o problema da criminalidade e da violncia no pas.

Programas voltados para ampliao do conhecimento sobre as vtimas de crimes e violncia, os diferentes tipos de vtimas e vitimizao, bem como sobre os direitos das vtimas, os servios disponveis e as possibilidades de ao para as vtimas de crimes e violncia.

Programas voltados para a discusso da condio da juventude brasileira, considerando que:

a) hoje, no pas, as principais causas de morte na faixa etria jovem so os homicdios e os acidentes de trnsito;

b) existe uma desproporcional representao da violncia praticada por jovens.

Programas voltados para divulgao de projetos de preveno que obtm resultados positivos em termos de reduo do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica.

Comunidade

Dois tipos principais de programas e aes de preveno do crime e da violncia tm sido desenvolvidos na esfera da comunidade. Por um lado, h programas de preveno social, voltados para a reduo dos fatores de risco e aumento dos fatores de proteo, de natureza econmica, social, cultural, ambiental e poltica-istrativa que afetam a incidncia e o impacto de crimes e violncias na comunidade. Por outro lado, h programas de preveno situacional, voltados para a reduo das oportunidades da prtica de crimes e violncia na comunidade.

Programas de preveno social focalizando mltiplos fatores de risco e de proteo, envolvendo mltiplas aes estabelecidas por mltiplas agncias esto sendo desenvolvidos em diversos pases, com a participao de governos municipais ou locais e de organizaes da comunidade. Entretanto, estes programas ainda so relativamente recentes e no foram suficientemente avaliados. Programas que envolvem a organizao e a mobilizao da comunidade podem adotar estratgias horizontais e verticais de organizao e mobilizao.

Programas que adotam estratgias verticais e procuram organizar e mobilizar a comunidade para influenciar a ao das organizaes pblicas e privadas capazes de, efetivamente, resolver os problemas da comunidade so apontados como mais eficazes do que programas que adotam estratgias horizontais e atribuem prpria comunidade a responsabilidade pela resoluo dos seus problemas. Programas compreensivos, multi-setoriais e continuados tendem a produzir melhores resultados, embora no imediatos. Programas de preveno situacional podem produzir resultados imediatos, reduzindo a incidncia de determinados tipos de crimes e violncias, em determinadas situaes, locais, e horrios. Entretanto, o impacto deste tipo de programa sobre a criminalidade e a violncia na comunidade ainda no foi suficientemente avaliado, havendo estudos que apontam o efeito da migrao dos criminosos para outros tipos de crimes e para situaes, locais e horrios em que os programas no so implementados.

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos no Brasil apresentados neste relatrio, 34 so centrados na comunidade e cerca de 40 so centrados em outras reas, apesar de realizarem aes na rea da comunidade. A maioria dos programas de preveno do crime e da violncia na esfera da comunidade comeou a ser implementada na dcada de 1990, mas trata-se de um leque bastante heterogneo de iniciativas. Existem, tambm, programas iniciados na dcada de 1980. Os programas focalizados na comunidade so de dois tipos: h os que trabalham a incluso social de uma forma mais completa, implementando diferentes programas sociais (sade, renda, trabalho, moradia, cidadania) e revitalizando o espao urbano em determinados bairros e/ou favelas das cidades; e h os que trabalham atravs da implementao de programas sociais especficos ou do incentivo organizao e mobilizao da comunidade para melhoria no ambiente comunitrio.

Programas voltados para organizao e mobilizao da comunidade para participao nas decises sobre interesses da comunidade, especificamente no desenvolvimento de polticas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica;

Programas voltados para evitar e para reduzir o envolvimento de grupos da comunidade com o crime e a violncia;

Programas voltados para evitar a vitimizao e/ou reduzir seu impacto sobre as famlias, os grupos e a comunidade;

Programas de preveno social do crime e da violncia, visando a reduzir os fatores de risco e ampliar os fatores de proteo que afetam a incidncia e o impacto do crime e da violncia na comunidade, especialmente nas seguintes reas:

. Infra-estrutura urbana e habitao;

. Sade, educao, emprego, promoo social;

. Cultura, esporte e lazer;

. Segurana e justia;

Programas de preveno situacional, visando a reduzir as oportunidades para prtica de crimes e violncias nas reas de risco (hot-spots).

Polcia

Nas dcadas de 1970 e 1980, uma srie de pesquisas mostrou as limitaes, do ponto de vista da preveno do crime, das estratgias tradicionais de policiamento centradas no aumento da presena policial, das operaes de patrulhamento, do nmero de prises, e da rapidez no atendimento de ocorrncias. Estes estudos contriburam para o desenvolvimento de uma srie de inovaes na rea da polcia, particularmente o policiamento comunitrio, o policiamento orientado para a resoluo de problemas, o policiamento orientado para a manuteno da ordem e da melhoria da qualidade de vida, e o policiamentodirecionado para hot-spots (locais e horrios de alto risco de crime e violncia).

O policiamento orientado para a resoluo de problemas e o policiamento comunitrio, principalmente quando se aproxima do policiamento orientado para resoluo de problemas, tm sido considerados como estratgias de policiamento eficazes para a preveno do crime e da violncia. A legitimidade da polcia e a existncia de prticas de responsabilizao da mesma, capazes de assegurar esta legitimidade, so fatores cruciais para o sucesso da polcia na preveno do crime e da violncia. Estudos e pesquisas mostram que a legitimidade da polcia, particularmente a decorrente do tratamento dispensado aos cidados, um fator que contribui para a preveno do crime e da violncia e, no caso dos cidados j envolvidos com a prtica de crimes e violncias, contribui para a preveno da reincidncia.

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos no Brasil apresentados neste relatrio, seis esto centrados na polcia e onze incluem aes nesta esfera, apesar de estarem centrados em outras reas, particularmente escola, comunidade e sade. De um modo geral, os programas de preveno do crime e da violncia na esfera da polcia so recentes, ganhando importncia a partir do final da dcada de 1990, particularmente atravs de programas de polcia comunitria e de atendimento especializado a mulheres e a crianas e adolescentes vtimas de crimes e violncias. Dentre os programas levantados, boa parte deles desenvolve atividades de policiamento comunitrio, incluindo a construo e implantao de bases comunitrias em locais especficos, a aproximao com a comunidade por meio de reunies comunitrias, a realizao de diagnstico local sobre a situao da criminalidade e violncia, e a interao com organizaes comunitrias locais que prestam atendimentos a vtimas e agressores.

Programas de apoio ao policiamento orientado para a resoluo de problemas.

Programas de apoio ao policiamento comunitrio, quando:

. A comunidade efetivamente participa das decises sobre as prioridades na preveno do crime e da violncia;

. A polcia e a comunidade priorizam a responsabilizao e a legitimidade da polcia.

Programas de apoio ao policiamento orientado para a manuteno da ordem e da qualidade de vida, quando:

. possvel resolver o problema de responsabilizao e legitimidade da polcia.

Programas de apoio ao policiamento orientado para reas e horrios de maior risco de crimes (hot-spots).

Programas de apoio ao policiamento orientado para controle do comrcio e porte de armas de fogo e para apreenso de armas de fogo ilegais, especialmente programas direcionados a:

. reas de risco de crimes praticados com arma de fogo;

. Rastreamento da propriedade de armas de fogo;

. Imposio de controles exigidos pela lei para venda de armas;

. Imposio de controles exigidos pela lei para compra, registro e porte de arma.

Programas de apoio ao policiamento direcionado para preveno da direo de veculo sob efeito de lcool.

Programas de apoio investigao criminal e percia tcnica voltados para os casos de crimes mais graves, de criminosos com crimes mais graves e mais freqentes, e de vtimas de crimes mais graves e mais freqentes;

Programas de apoio investigao criminal e percia tcnica voltados para os casos de violncia familiar ou domstica e violncia sexual;

Programas de reduo da lentido na tramitao dos inquritos policiais;

Programas de reduo do nmero de pessoas presas em delegacias de polcias, aguardando julgamento e especialmente cumprindo pena;

Programas voltados para a limitao e controle do uso da fora em aes policiais;

Programas de apoio ao registro, compartilhamento, anlise e uso de informaes sobre a incidncia do crime e a estrutura e funcionamento do sistema de segurana pblica, voltados para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno;

Programas de apoio ao estudo e pesquisa sobre a estrutura e funcionamento do sistema de segurana pblica, e sua relao com a preveno do crime.

Justia

Estudos e pesquisas internacionais indicam que a forma pela qual o sistema de justia criminal aplica e executa as punies e trata os autores de crimes tem um impacto significativo sobre a reincidncia criminal e a incidncia de crimes e violncias na sociedade. So fatores importantes o respeito lei e aos direitos dos agressores, bem como a consistncia na aplicao e execuo das punies. H pouca evidncia, entretanto, de que o aumento das punies, especificamente o aumento da utilizao da pena de priso, contribua para a preveno criminal.

Estudos internacionais tambm do muito destaque s aes de preveno do crime e da violncia realizadas pelas organizaes que atendem aos jovens infratores. Dois tipos de programas mostram bons resultados: aqueles com enfoque na reabilitao (em detrimento dos que possuem enfoque punitivo) e os com superviso comunitria. Inmeras avaliaes mostraram a no eficincia dos programas que incutem o medo e a punio, aqueles de abordagem militar e os que priorizam apenas o aconselhamento individual ou coletivo dos jovens. Entretanto, os programas com base na reabilitao recebem dos avaliadores internacionais a mesma crtica feita no Brasil: embora a reabilitao seja o objeto principal das aes, na prtica, so muito pobremente implementados, devido a fatores financeiros, gerenciais e relacionais.

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no Brasil apresentados neste relatrio, cerca de 19 so centrados na rea da Justia e outros 16 tm um componente na rea da Justia, apesar de estarem centrados em outras reas, como famlia, trabalho, comunidade e sade. Muitos programas de preveno do crime e da violncia na esfera da Justia comearam a ser implementados a partir da dcada de 1990. Alm dos programas destinados populao presa, h diversos programas voltados para os adolescentes em conflito com a lei, para as vtimas de crimes e violncias, para a descentralizao da justia e aproximao de justia e da comunidade.

Programas de reduo da lentido na tramitao dos processos judiciais;

Programas de reduo da desigualdade no o ao sistema de justia e da desigualdade no tratamento das pessoas e das comunidades pelos profissionais e organizaes do sistema de justia;

Programas de apoio resoluo extrajudicial e comunitria de conflitos;

Programas de reduo do nmero de pessoas presas preventivamente aguardando julgamento;

Programas de reabilitao e reinsero familiar, profissional e social, dirigidos a adultos cumprindo pena pela prtica de crime e para adolescentes em medida socioedu cativa pela prtica de ato infracional, com as seguintes caractersticas:

. Estruturados e direcionados para as caractersticas e as necessidades dos participantes;

. Centrados no desenvolvimento de habilidades acadmicas, profissionais e sociais dos participantes;

. Centrados nos incentivos para mudanas de comportamento;

. Implementados de forma adequada, pelo tempo necessrio;

. Integridade nas relaes entre agentes responsveis pela implementao e participantes.

Programas de apoio aplicao e execuo de penas alternativas e medidas scioeducativas em meio aberto, direcionados para:

. Crimes e infraes menos graves;

. Adultos e adolescentes com baixa reincidncia;

. Casos em que penas alternativas possuam maior eficcia e/ou melhor relao custo-benefcio.

Programas de limitao da aplicao e execuo da pena de priso e medidas de internao aos crimes e infraes mais graves e aos adultos e adolescentes com alta reincidncia;

Programas de apoio famlia de adultos cumprindo pena pela prtica de crime e de adolescentes em medida scio-educativa pela prtica de ato infracional, especialmente nos casos de pena de priso e medida de internao;

Programas de apoio expanso e aperfeioamento do papel da comunidade na reabilitao, tratamento e reinsero familiar, profissional e social dos adultos cumprindo pena pela prtica de crimes e adolescentes em medida scio-educativa pela prtica de ato infracional;

Programas de apoio ao registro, compartilhamento, anlise e uso de informaes sobre o processo judicial e a execuo penal, bem como sobre a estrutura e funcionamento dos sistemas de justia criminal e istrao penitenciria, voltados para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno;

Programas de apoio ao estudo e pesquisa sobre a estrutura e funcionamento do sistema de justia criminal e istrao penitenciria, e sua relao com a preveno do crime.

Sade

Na rea da sade, no Brasil e no Exterior, predominava inicialmente uma abordagem reativa e teraputica ao problema da violncia, centrada no atendimento e tratamento das vtimas. Posteriormente, principalmente no setor da sade pblica, os profissionais da sade aram a adotar uma abordagem mais pr-ativa e preventiva, procurando identificar a natureza e controlar a extenso do problema da violncia na sociedade, identificar suas causas e possveis solues, e aplicar amplamente as medidas adequadas para solucionar o problema. No Brasil, o Programa Sade da Famlia um amplo programa de preveno na rea da sade, de abrangncia nacional, direcionado famlia e comunidade, que focaliza o problema da violncia.

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no Brasil apresentados neste relatrio, seis esto centrados na rea da sade. Outros 21 programas, apesar de estarem centrados em outras reas, tambm desenvolvem aes na sade. Programas centrados na famlia que atendem mulheres ou crianas e adolescentes vtimas de violncia familiar, e programas centrados na comunidade que atendem a vtimas e familiares de crimes violentos freqentemente contam com a participao de profissionais da rea da sade, tais como atendimento mdico e psicolgico. A maioria dos programas tem como preocupao central a sade das vtimas de violncia. H tambm aqueles voltados para a sade de crianas e adolescentes em situao de risco. E existem programas direcionados para o problema das drogas.

Programas de preveno e tratamento de problemas relacionados ao consumo de lcool e drogas;

Programas de preveno e tratamento de problemas psico-sociais e biolgicos que aumentam o risco de comportamentos violentos;

Programas de apoio ao registro, compartilhamento, anlise e uso de informaes sobre a incidncia e o impacto da violncia na sociedade, voltados para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno;

Programas de apoio ao estudo e pesquisa sobre violncia e preveno da violncia.

2. A Situao Atual: O Crescimento do Crime e da Violncia e as Respostas do

Governo e da Sociedade no Brasil

No Brasil, a reduo do crime e da violncia e o aumento da segurana dos cidados so hoje um desafio do governo e da sociedade. O crime e a violncia atingem pessoas de todos os grupos e classes sociais. Alm das perdas sofridas pelas vtimas, inclusive da prpria vida, o crescimento do crime e da violncia contribui para a desintegrao de famlias e comunidades, para a deteriorao de centros urbanos e abandono de reas pblicas, alm de dificultar o processo de desenvolvimento econmico e social e de consolidao da democracia em todos os estados do pas.

Na dcada de 1990, o crescimento do crime e da violncia fez com que o nmero de mortes resultantes de homicdios aumentasse 50,23%, ando de 30.566 em 1991 para 45.919 no ano 2000 (Waiselfisz 2002). A taxa de mortes resultantes de homicdio aumentou 29,19%, ando de 20,9 mortes por 100 mil habitantes em 1991 para 27,0 mortes por 100 mil habitantes no ano 2000 (Waiselfisz 2002).

O crescimento do crime e da violncia no um problema recente. Tem origens na dcada de sessenta e principalmente setenta, quando o pas atravessou um processo acelerado de urbanizao e de crescimento de grandes centros urbanos e regies metropolitanas, sob um regime autoritrio e excludente. A transio para a democracia, na dcada de oitenta, no resultou em mudanas imediatas na situao de desigualdade e excluso social e de prticas autoritrias por parte de agentes pblicos e privados (Pinheiro 1998). Persistiu um quadro marcado por graves violaes de direitos humanos, incluindo execues extrajudiciais, torturas e prises arbitrrias, agravadas pelo crescimento do crime organizado (Pinheiro e Mesquita Neto 1999; Mesquita Neto e Affonso 2003). Antes de saltar de 20,9 em 1991 para 27,0 no ano 2000, a taxa de homicdio por 100 mil habitantes havia crescido de 7,9 em 1977 (Mello Jorge 1997) para 11,5 em 1980 (Yunes and Zubarew 1999). Apesar de no ser um fenmeno recente, o crescimento do crime e da violncia ainda no se constitui um fenmeno generalizado. O crime e a violncia esto distribudos desigualmente no pas, e atingem de forma particularmente grave a populao jovem, do sexo masculino, nas cidades grandes e regies metropolitanas, em reas caracterizadas por carncias econmicas, sociais, culturais e ambientais, por graves violaes de direitos humanos e, freqentemente, pela presena do crime organizado, do trfico de drogas e do comrcio e porte ilegal de armas (Campos et al 2003; Cardia, Adorno e Poleto 2003; Pochmann e Amorim 2003; Minayo e Souza 2003; Cardia e Schiffer 2002).

Em todas as regies e estados do pas, o crime e a violncia esto concentrados nas grandes cidades e, principalmente, reas metropolitanas (Waiselfisz 2002). Na dcada de 1990, o nmero de mortes por homicdios nas capitais aumentou 58,85%, ando de 12.023 em 1991 para 19.099 em 2000. A taxa de mortes por homicdios nas capitais aumentou 38,4%, ando de 34,1 mortes por 100 mil habitantes em 1991 para 47,2 mortes por 100 mil habitantes no ano 2000 74,8% superior taxa brasileira. As capitais que registraram as maiores taxas foram Recife, Vitria, Cuiab, So Paulo, Rio de Janeiro e Porto Velho.

A violncia tambm atinge de forma mais intensa os homens, os jovens e os moradores de comunidades carentes (Waiselfisz 2002). Das 45.919 mortes por homicdio registradas no pas no ano 2000, 41.927 foram de homens (91,7%) e 3.791 de mulheres (8,3%). A taxa de mortes por homicdio entre os homens chegou a 50,2 mortes por 100 mil habitantes no ano 2000 11,4 vezes superior taxa entre as mulheres, de 4,4 mortes por 100 mil habitantes, e 85,9% superior taxa brasileira.

Na dcada de 1990, o nmero de mortes por homicdio entre os jovens de 15 a 24 anos aumentou 77%, ando de 10.036 em 1991 para 17.762 em 2000. A taxa de mortes por homicdios aumentou 48%, ando de 35,2 mortes por 100 mil habitantes em 1991 para 52,1 mortes por 100 mil habitantes no ano 2000 92,9% superior taxa brasileira.

Comparando o aumento das taxas de mortes por homicdios na populao de 15 a 24 anos e na populao da demais faixas etrias, verifica-se que o crescimento deste tipo de violncia nos ltimos vinte anos no Brasil vitimou principalmente a populao jovem. A taxa de vitimizao na faixa de 14 a 25 anos aumentou de 30 mortes por 100 mil habitantes em 1980 para 52,1 mortes por 100 mil habitantes em 2000 (+73,7%). No mesmo perodo, a taxa de vitimizao nas demais faixas etrias caiu de 21,3 mortes por 100 mil habitantes para 20,8 mortes por 100 mil habitantes (-2,35%). Nas capitais, a taxa de mortes por agresses na faixa etria de 15 a 24 anos chegou a 98,8 mortes por 100.000 habitantes no ano 2000 109,3% superior taxa da populao total das capitais e 265,9% superior taxa brasileira. As taxas mais altas de mortes por agresses entre os jovens foram registradas em Recife, Vitria, So Paulo, Rio de Janeiro e Cuiab.

Levando em considerao apenas a populao masculina, de 15 a 24 anos, nas capitais, a taxa de mortes por agresses ou homicdios chega a 181,8 mortes por 100 mil habitantes 424,5 em Recife, 309,0 em Vitria, 269,4 em So Paulo, 264,9 em Cuiab e 252,3 no Rio de Janeiro. Mapas de risco da violncia mostram que as maiores taxas de homicdio so registradas na periferia das grandes cidades, onde h maior pobreza, desemprego e falta de servios bsicos, como sade, educao, esporte, cultura e lazer, transporte, comunicaes, segurana e justia (Campos et al. 2003; Cardia, Adorno e Poleto 2003; Cardia e Schiffer 2002; Cano 2001; Akerman e Bousquat 1999; Cedec 1996a, 1996b, 1997a, 1997b). tambm nessas reas que costumam ocorrer graves violaes de direitos humanos, como execues sumrias, tortura e detenes arbitrrias. Na cidade de So Paulo, por exemplo, a taxa de homicdio por 100 mil habitantes chega a ser 28 vezes maior em um bairro pobre de periferia, como o Jardim ngela (116,23 homicdios por 100 mil), do que em um bairro rico na regio central, como Moema (4,11 homicdios por 100 mil habitantes).

As Respostas do Governo e da Sociedade

O crescimento do crime e da violncia e o aumento da organizao e mobilizao da sociedade civil, que acompanharam o processo de transio para democracia, contriburam para estimular os estudos e pesquisas sobre o crime e a violncia, particularmente na rea da sade pblica (Minayo e Souza 2003a; Minayo, Souza e Njaine 1999) e das cincias sociais (Lima et al 2000; Zaluar 1999; Adorno 1993). Em vrios estados, professores e pesquisadores construram centros para desenvolver estudos e pesquisas sobre o tema. Lideranas da sociedade civil criaram organizaes no-governamentais, freqentemente associadas a centros de estudos e pesquisas, para promover o debate e desenvolver aes na rea de segurana pblica. Vrios destes centros de estudos e pesquisas e organizaes no governamentais tm web-sites, cujos endereos so apresentados na seo 9 do relatrio.

O Brasil tem um sistema poltico federal, integrado pela Unio, composto por 26 estados, o distrito federal e 5.561 municpios. As principais agncias policiais so as polcias estaduais, a polcia militar, a polcia civil e a polcia tcnico-cientfica, na sua maioria sob o controle de Secretarias de Estado da Segurana Pblica. A polcia militar, fora de reserva e auxiliar do Exrcito, responsvel pelo policiamento ostensivo e preventivo e manuteno da ordem pblica. A polcia civil responsvel pela investigao criminal. A polcia tcnicocientfica responsvel pela realizao de percias e elaborao de laudos nas reas de identificao, criminalstica e medicina legal. Apesar de haver um movimento favorvel autonomia institucional da polcia tcnico-cientfica, na maioria dos estados a polciatcnico cientfica parte integrante da polcia civil.

A Unio tem uma polcia federal e uma polcia rodoviria federal, sob o controle do Ministrio da Justia. A polcia federal responsvel pelo controle de fronteiras e investigao de crimes federais. A polcia rodoviria federal responsvel pelo patrulhamento das rodovias federais. O Exrcito, sob o controle do Ministrio da Defesa, responsvel pela defesa externa, mas tambm pela manuteno da lei e da ordem.

Os municpios podem manter guardas municipais. Ainda que no tenham o poder de polcia, na prtica as guardas realizam atividades de policiamento. Dos 5.561 municpios do pas, 1.045 tm guardas municipais, dos quais 248 esto situados no Estado da Bahia e 176 no Estado de So Paulo. Das 1.045 guardas municipais, 911 esto em cidades com menos de 100 mil habitantes e 134 em cidades com mais de 100 mil habitantes. Durante a dcada de 1980 e parte da dcada de 1990, a principal resposta ao crescimento do crime e da violncia foi o aumento do efetivo das polcias, guardas municipais e das empresas e servios privados de segurana. De 1985 para 1995, o nmero de policiais e guardas municipais no pas, na sua maioria policiais militares e civis, cresceu de 339.900 para 494.162 (+45,4%). O nmero de pessoas empregadas na segurana privada cresceu de 640.500 em 1985 para 1 milho em 1995, sem incluir os policiais e outras pessoas que trabalham ilegalmente na segurana privada.

Este fortalecimento das polcias contribuiu para a intensificao das aes policiais e para o aumento do nmero de pessoas presas, aguardando julgamento ou condenadas pela justia, de 88 mil em 1988 para 126 mil em 1993, 170 mil em 1997 e 285 mil em junho de 2003. Na segunda metade da dcada de noventa, comeou a perceber-se que o aumento do efetivo policial e das prises no era suficiente para reduzir o crime e a violncia, e particularmente o nmero de homicdios no pas. Ficou evidente, tambm, que os sistemas de segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria no tinham estrutura adequada para solucionar os problemas de segurana pblica. Processos de reforma institucional nestes sistemas no foram suficientes para transformar prticas e superar deficincias herdadas do regime autoritrio, consolidar prticas democrticas, e promover a integrao das organizaes destes sistemas com outras organizaes governamentais, da sociedade civil e do setor privado.

No governo e na sociedade, surgiram diversas propostas de reforma das organizaes dos sistemas de segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria, e da sua integrao com outras organizaes governamentais, organizaes da sociedade civil e do setor privado, visando ao desenvolvimento e aperfeioamento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica. Cresceu a convico de que a preveno do crime e da violncia e a melhoria da segurana pblica no so responsabilidade apenas dos estados e das organizaes da segurana pblica, da justia criminal e da istrao penitenciria, mas que o governo federal, os governos municipais e a sociedade civil tm um papel fundamental a desempenhar nesta rea.

A Preveno do Crime e da Violncia

A partir da segunda metade da dcada de 1990, nas reas da segurana pblica, da justia criminal e istrao penitenciria, dos direitos humanos, da sade pblica e do desenvolvimento urbano, entre outras, comeou a haver uma crescente mobilizao a favor do desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica. O Governo Federal criou a Secretaria Nacional de Segurana Pblica (Senasp) em 1997, no mbito do Ministrio da Justia, reestruturando e fortalecendo a Secretaria de Planejamento das Aes Nacionais de Segurana Pblica (Seplanseg), criada em 1995. A estrutura da Senasp ou por vrias modificaes e sua competncia atual definida no artigo 14 do decreto 4.991, de 18 de fevereiro de 2004, incluindo o assessoramento ao Ministro da Justia na definio, implementao e acompanhamento da Poltica Nacional de Segurana Pblica e dos Programas Federais de Preveno Social e Controle da Violncia e Criminalidade:

Art. 14. Secretaria Nacional de Segurana Pblica compete:

I - assessorar o Ministro da Justia na definio, implementao e acompanhamento da Poltica Nacional de Segurana Pblica e dos Programas

Federais de Preveno Social e Controle da Violncia e Criminalidade;

II - planejar, acompanhar e avaliar a implementao de programas do Governo federal para a rea de segurana pblica;

III - elaborar propostas de legislao e regulamentao em assuntos de segurana pblica, referentes ao setor pblico e ao setor privado;

IV - promover a integrao dos rgos de segurana pblica;

V - estimular a modernizao e o reaparelhamento dos rgos de segurana pblica;

VI - promover a interface de aes com organismos governamentais e no governamentais, de mbito nacional e internacional;

VII - realizar e fomentar estudos e pesquisas voltados para a reduo da criminalidade e da violncia;

VIII - estimular e propor aos rgos estaduais e municipais a elaborao de planos e programas integrados de segurana pblica objetivando controlar aes de organizaes criminosas ou fatores especficos que gerem ndices de criminalidade e violncia, bem como estimular aes sociais de preveno da violncia e criminalidade;

IX - exercer, por seu titular, as funes de Ouvidor-Geral das Polcias Federais;

X - implementar, manter e modernizar o Sistema Nacional de Informaes de Justia e Segurana Pblica - INFOSEG;

XI - promover e coordenar as reunies do Conselho Nacional de Segurana Pblica - CONASP; e

XII - incentivar e acompanhar a atuao dos Conselhos Regionais de Segurana Pblica.

O decreto 4.991/04 tambm define, nos artigos 36 e 37, a competncia do Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria (criado em 1980, institudo pela lei federal 7.210 de 1984) e do Conselho Nacional de Segurana Pblica (criado em 1997), ambos no mbito do Ministrio da Justia, atribuindo ao primeiro a formulao da poltica criminal, incluindo a preveno do crime, e ao segundo a formulao da poltica de segurana pblica:

Art. 36. Ao Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria compete:

I - propor diretrizes da poltica criminal quanto preveno do delito, istrao da Justia Criminal e execuo das penas e das medidas de segurana;

II - contribuir na elaborao de planos nacionais de desenvolvimento, sugerindo as metas e prioridades da poltica criminal e penitenciria;

III - promover a avaliao peridica do sistema criminal para a sua adequao s necessidades do Pas;

IV - estimular e promover a pesquisa criminologia;

V - elaborar programa nacional penitencirio de formao e aperfeioamento do servidor;

VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e construo de estabelecimentos penais e casas de albergados;

VII - estabelecer os critrios para a elaborao da estatstica criminal;

VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem assim informarse, mediante relatrios do Conselho Penitencirio, requisies, visitas ou outros meios, acerca do desenvolvimento da execuo penal nos Estados e Distrito Federal, propondo s autoridades dela incumbida as medidas necessrias ao seu aprimoramento;

IX - representar ao Juiz da Execuo ou autoridade istrativa para instaurao de sindicncia ou procedimento istrativo, em caso de violao das normas referentes execuo penal; e

X - representar autoridade competente para a interdio, no todo ou em parte, de estabelecimento penal.

Art. 37. Ao Conselho Nacional de Segurana Pblica - CONASP compete:

I - formular a Poltica Nacional de Segurana Pblica;

II - estabelecer diretrizes, elaborar normas e articular a coordenao da Poltica Nacional de Segurana Pblica;

III - estimular a modernizao de estruturas organizacionais das polcias civil e militar dos Estados e do Distrito Federal;

IV - desenvolver estudos e aes visando a aumentar a eficincia dos servios policiais, promovendo o intercmbio de experincias; e

V - estudar, analisar e sugerir alteraes na legislao pertinente.

No ano 2000, o Governo Federal lanou o Plano Nacional de Segurana Pblica (Brasil, Ministrio da Justia 2001) visando a promover e integrar aes de organizaes federais, estaduais, municipais, de entidades da sociedade civil e do setor privado, para controlar e prevenir o crime e a violncia. Entre as medidas no mbito da cooperao entre o Governo Federal e os governos estaduais, o Plano Nacional de Segurana Pblica incluiu a intensificao das aes do Programa Nacional de Direitos Humanos, lanado em 1996 e atualizado em 2003, direcionadas para preveno do crime e da violncia. Entre as medidas de natureza institucional, o Plano Nacional de Segurana Pblica incluiu a criao de um comit de acompanhamento e integrao de programas sociais, que deu origem ao Plano Integrado de Acompanhamento de Programas Sociais (Piaps), na esfera do Gabinete da Segurana Institucional da Presidncia da Repblica.

Tambm no ano 2000, o Governo Federal criou o Fundo Nacional de Segurana Pblica (medida provisria 2.029/00; lei federal 10.201/01), visando a apoiar o desenvolvimento de projetos estaduais municipais na rea da segurana pblica e projetos da preveno do crime e da violncia enquadrados no Plano Nacional de Segurana Pblica. Em 2002, o Ministrio da Justia constituiu um grupo de trabalho formado por representantes da Secretaria Nacional de Segurana Pblica, Secretaria Nacional de Justia e Secretaria de Estado dos Direitos Humanos para propor medidas visando integrao das aes federais, estaduais e municipais na rea da segurana pblica e a reduo do crime e da violncia no pas. O relatrio final do grupo de trabalho apresentou a proposta de constituio do Programa Nacional de Apoio istrao da Segurana Pblica nos Estados e Municpios (Penaspem), com o objetivo de integrar aes federais nas reas da segurana pblica, istrao da justia criminal, istrao penitenciria e direitos humanos, bem com aes federais, estaduais e municipais, enfatizando a importncia das aes de preveno e visando reduo do crime e da violncia no pas no perodo 2002-2006.

Em 2003, entretanto, aps a mudana na direo do Governo Federal, o Ministrio da Justia adotou o Projeto Segurana Pblica para o Brasil, elaborado originalmente pelo Instituto da Cidadania, como Plano Nacional de Segurana Pblica. Inspirado na experincia do Sistema nico de Sade (SUS), o Projeto Segurana Pblica para o Brasil prev e o Ministrio da Justia promove, atravs da Secretaria Nacional de Segurana Pblica, a construo do Sistema nico de Segurana Pblica (Susp), a partir da integrao das aes federais, estaduais e municipais na rea da segurana pblica, da constituio de gabinetes integrados de gesto da segurana pblica nos estados e do desenvolvimento de planos estaduais e municipais de segurana pblica.

Tambm em 2003, o Governo Federal reestruturou o Fundo Nacional de Segurana Pblica, atravs da lei federal 10.746/03, procurando criar condies mais favorveis para utilizao dos recursos no desenvolvimento de programas estaduais e municipais de prevenodo crime e da violncia, na integrao dos programas na rea da segurana pblica e nos programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos em outras reas. Ainda em 2003, o Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria aprovou a Resoluo 16, de 17 de dezembro de 2003, que dispe sobre as diretrizes bsicas de poltica criminal quanto preveno do delito, istrao da justia criminal e execuo da penas e medidas de segurana. A Resoluo 16 atualiza a Resoluo 5, de 19 de julho de 1999, reforando a importncia da preveno do crime no contexto da poltica criminal e penitenciria.

Na rea da sade, o Governo Federal lanou a Poltica Nacional de Reduo da Morbimortalidade por Acidentes e Violncias em 2001 (Brasil. Ministrio da Sade 2002). Assim como o Plano Nacional de Segurana Pblica, a Poltica Nacional de Reduo da Morbimortalidade por Acidentes de Veculos e Violncia enfatiza a importncia de aes integradas, intersetoriais, comunitrias e preventivas para a reduo da violncia. Antes disso, em 1992, o Ministrio da Sade havia apresentado uma proposta de linhas de ao para preveno da violncia domstica (Brasil, Ministrio da Sade, 1993).

Na rea do desenvolvimento urbano, a Cmara dos Deputados, atravs da Comisso de Desenvolvimento Urbano e Interior, com apoio da Comisso de Direitos Humanos e do Conselho Nacional de Sade, organizou o Seminrio Nacional sobre Violncia Urbana e Segurana Pblica em 2001. Com apoio do Conselho Nacional de Sade, organizou seminrios regionais sobre Violncia Urbana e Sade Pblica em 2002, nas cidades de Belo Horizonte, Recife, Curitiba e Belm. Ainda em 2002, organizou a IV Conferncia das Cidades em 2002, sobre o tema Cidade Cidad: as diversas formas de superao da violncia.

A IV Conferncia das Cidades sistematizou e consolidou as propostas de a apresentadas nos encontros anteriores, e enfatizou a necessidade de aes de natureza integradas, intersetoriais, comunitrias e preventivas para reduo da criminalidade e da violncia urbana, incluindo aes nas reas do desenvolvimento urbano, educao, sade, segurana, justia, e comunicao social (Brasil, Cmara dos Deputados, Comisso de Desenvolvimento Urbano e Interior, 2002). Em junho de 2003, o Frum Nacional da Reforma Urbana realizou encontro nacional e aprovou uma Plataforma para uma Nova Poltica de Desenvolvimento Urbano que inclui uma seo dedicada a diretrizes gerais para a poltica de segurana pblica e promoo da paz nas cidades (Frum Nacional da Reforma Urbana 2003).

Na Subchefia de Assuntos Federativos, da Casa Civil da Presidncia da Repblica, o Comit de Articulao Federativa constituiu um grupo de trabalho sobre segurana pblica, com o objetivo de produzir um texto de referncia para discusso do papel dos municpios na rea da segurana pblica. O grupo de trabalho foi constitudo por representantes da Frente Nacional de Prefeitos, Confederao Nacional de Municpios, Associao Brasileira de Municpios, Conselho Nacional das Guardas Municipais, Casa Civil/Subchefia de Assuntos Federativos, Ministrio da Justia/Secretaria Nacional de Segurana Pblica e Ministrio das Cidades. Sob a coordenao da Secretaria Nacional de Segurana Pblica, o grupo de trabalho produziu o relatrio O Papel dos Municpios no Sistema nico de Segurana Pblica (Brasil, Ministrio da Justia 2003), que atribui aos municpios um papel central na rea da segurana pblica, especificamente no desenvolvimento de programas e aes preveno do crime e da violncia, e prope a articulao de programas e aes municipais atravs de planos municipais e metropolitanos de segurana urbana e preveno violncia criminal.

Sistema Internacional

Iniciativas internacionais incentivam e fortalecem iniciativas nacionais na rea da preveno do crime e da violncia. Em 1995, o Conselho Econmico e Social da Organizao das Naes Unidas adotou resoluo definindo Diretrizes para Cooperao e Assistncia Tcnica no Campo da Preveno da Criminalidade Urbana (Organizao das Naes Unidas, Conselho Econmico e Social, Resoluo 1995/9). Em 2002, o Conselho Econmico e Social da Organizao das Naes Unidas adotou resoluo para promoo da preveno criminal, que define um conjunto de diretrizes para preveno do crime (Organizao das Naes Unidas, Conselho Econmico e Social, 13 Agosto 2002, E/2002/INF/2Add.2). A Organizao Mundial da Sade publicou o Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade (OMS 2002). Tanto o Conselho Econmico e Social da ONU quanto a Organizao Mundial da Sade ressaltam a importncia de estratgias de preveno para a reduo do crime e da violncia, recomendam a governos de todos os pases o desenvolvimento e o fortalecimento de polticas de preveno do crime e da violncia, e a organizaes internacionais o apoio a polticas nacionais de preveno do crime e da violncia.

Programas de Preveno do Crime e da Violncia

Desde a dcada de 1990, governos estaduais, prefeituras municipais e organizaes da sociedade civil aram a desenvolver programas e aes de preveno do crime e da violncia, em vrias reas, incluindo no apenas na segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria, mas tambm nas reas da sade, educao, trabalho, promoo social, comunicao social e direitos humanos (Brasil, Ministrio da Justia 1997). Mais recentemente, algumas prefeituras aram a desenvolver programas municipais de segurana pblica e preveno do crime e da violncia, como aconteceu com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre (RS), So Paulo (SP), Diadema (SP) e Resende (RJ). Em algumas regies metropolitanas, as prefeituras comearam a se articular em fruns regionais para debater e promover programas e aes municipais na rea da segurana pblica, particularmente na preveno do crime e da violncia. Em So Paulo, os prefeitos da Regio Metropolitana de So Paulo, com apoio do Instituto So Paulo Contra a Violncia, do Ncleo de Estudos da Violncia e da Rede Globo de Televiso, criaram o Frum Metropolitano de Segurana Pblica, em maro de 2001, para promover programas e aes municipais na rea da segurana pblica, particularmente de natureza preventiva, em parceria com o governo federal, o governo do estado e a sociedade civil. A partir de 2003, diversas prefeituras estabeleceram convnios com o governo do estado, atravs dos quais o governo do estado ou a disponibilizar mapas de ocorrncias criminais no territrio do municpio para o desenvolvimento de programas municipais de preveno do crime e da violncia.

Em Pernambuco, os prefeitos da Regio Metropolitana de Recife, juntamente com o Governo do Estado e o Governo Federal, decidiram criar uma Cmara de Defesa Social no Conselho de Desenvolvimento da Regio Metropolitana de Recife e desenvolver um Programa Metropolitano de Segurana Urbana e Preveno da Violncia e da Criminalidade em 2003.

Levantamento preliminar realizado pelo grupo de trabalho sobre gesto da preveno em segurana pblica, responsvel pela elaborao deste relatrio, identificou 109 programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento em 15 estados e no Distrito Federal, com aes nas reas da famlia, educao, trabalho, comunidade, polcia, justia e sade. Fichas tcnicas com informaes bsicas sobre estes programas so apresentadas na seo 7 deste relatrio.

O conjunto de programas apresentados no relatrio inclui aqueles sob a responsabilidade de organizaes governamentais e programas sob a responsabilidade de organizaes da sociedade civil. A maioria deles resultado de parcerias entre governo e sociedade civil. Alguns so desenvolvidos exclusivamente em uma localidade, enquanto outros em diversos locais, segundo um modelo ou padro adaptado s condies de cada localidade. Da mesma forma, existem programas centrados em um nico tipo de ao, direcionada a um nico tipo de fator de risco ou de proteo que afeta a incidncia e o impacto do crime e da violncia. Outros programas so compreensivos, integrando diversos tipos de aes direcionadas a diversos fatores de risco e de proteo. Alguns programas tm a preveno do crime e da violncia como objetivo. Outros atuam sobre fatores de risco e de proteo que afetam a incidncia e o impacto do crime e da violncia. De maneira geral, o levantamento mostra a disseminao de iniciativas, programas e aes na rea da preveno do crime e da violncia. Mas mostra tambm que, de maneira geral, estas iniciativas so recentes, tm durao limitada, alcance e impacto limitado, no esto integradas entre si, e no encontram sustentao em polticas municipais e estaduais de preveno do crime e da violncia e de melhoria da segurana pblica. Na maioria dos casos, os programas de preveno do crime e da violncia no so dotados de instrumentos de monitoramento e avaliao e no so capazes de demonstrar os resultados alcanados.

Desafios na Preveno do Crime e da Violncia

Apesar do crescente interesse no desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, e do empenho do Ministrio da Justia e da Secretaria Nacional de Segurana Pblica neste sentido, o governo e a sociedade enfrentam enormes desafios no desenvolvimento destas polticas e programas. Ainda prevalece no pas uma concepo tradicional da preveno do crime e da violncia, como se a preveno constitusse uma rea dissociada, complementar ou suplementar s reas da segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria. Na esfera federal, a dissociao entre a preveno do crime e da violncia e a segurana pblica fica particularmente evidente na estrutura do Ministrio da Justia, onde at hoje existe um Conselho Nacional de Segurana Pblica com competncia para assuntos de segurana pblica e um Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria com competncia para assuntos de preveno do crime, istrao da justia criminal e execuo das penas e medidas de segurana.

Esta concepo tradicional da preveno do crime e da violncia, que associa a preveno a aes na rea econmica, social e cultural, dificulta a realizao de mudanas na estrutura e funcionamento de organizaes governamentais, a integrao de aes em diversas esferas do governo, e o desenvolvimento de polticas e programas integrados, voltados para a preveno do crime e da violncia e a melhoria da segurana pblica.

Alm disso, os governos e a sociedade civil freqentemente deixam de dar ateno ao desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, assumindo que polticas e programas econmicos, sociais e culturais, particularmente aqueles capazes de reduzir a desigualdade e a excluso social, independentemente de aes direcionadas especificamente reduo do crime e da violncia, possam resolver os problemas de segurana pblica.

A carncia e a baixa qualidade das informaes e dados sobre o crime e a violncia e sobre a atuao das agncias dos sistemas de segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria tambm dificultam se no inviabilizam o planejamento, o monitoramento e a avaliao adequada de polticas e programas de preveno do crime e da violncia.

Na rea da segurana pblica, ainda no h um sistema nacional de registro de ocorrncias criminais, apesar da realizao de estudos para criao deste sistema. Cada estado tem seu prprio sistema. A metodologia e a qualidade do registro de ocorrncias criminais varia de estado para estado e mesmo de um governo para outro. As informaes dos estados no so imediatamente comparveis. Pesquisas de vitimizao so realizadas nas capitais, mas no regularmente, de forma a permitir um monitoramento adequado das tendncias da criminalidade nos estados ou mesmo nas capitais. Na rea da sade, h um sistema nacional de registro de mortes violentas, que produz dados nacionais sobre o nmero de mortes resultantes de agresses, de acidentes, de suicdio, e de arma de fogo. Os dados de morte por agresses, da rea da sade, entretanto, no so diretamente comparveis com os dados de ocorrncias de homicdio, da rea da segurana pblica. O setor da sade registra informaes e dados sobre o nmero de mortes violentas, a causa da morte e as caractersticas da vtima, com destaque para o local de residncia. O setor de segurana pblica registra informaes e dados sobre o nmero de ocorrncias criminais, as circunstncias da ocorrncia, com destaque para o local da ocorrncia, e as caractersticas dos autores, vtimas e testemunhas dos crimes. Freqentemente, h discrepncias e conflitos entre os dados da sade e da segurana pblica.

Alm da falta de informaes e dados, h tambm uma carncia de profissionais qualificados para fazer a anlise das tendncias e das causas do crime e da violncia, e formular, implementar, monitorar e avaliar polticas e programas de preveno do crime e da violncia. O problema grave, inclusive na rea da segurana pblica, na medida em que as organizaes policiais esto voltadas principalmente para o atendimento a ocorrncias, a investigao criminal e a priso dos responsveis por crimes e violncias, e do pouca ateno ao desenvolvimento de programas de preveno do crime e da violncia.

3. Proposta de Mudana: Uma Viso da Prevena do Crime e da Violncia no

Sistema nico de Segurana Pblica.

O conceito de preveno ganhou importncia inicialmente na rea da sade, na dcada de 1950, a partir da pressuposio de que possvel antecipar, preceder ou tornar impossvel por meio de uma providncia precoce o desenvolvimento de doenas e agravos sade. Leavell & Clarck (1976) defenderam que os objetivos finais de toda atividade de sade eram a promoo da sade, a preveno das doenas e o prolongamento da vida. Responsveis pela disseminao do conceito de preveno, idealizaram estratgias de preveno primria, secundria e terciria das doenas, definidas principalmente pelo aspecto temporal.

As aes de preveno secundria e terciria tm sido mais implementadas, mas recentemente tem crescido a importncia das aes de preveno primria e de promoo da sade e da qualidade de vida (Krug et al 2002).

A preveno primria se dirige a prevenir a violncia antes que ela surja, atuando sobre os fatores contribuintes e os agentes da violncia. Foi denominada por Leavell & Clarck como fase pr-patognica, em analogia ao modelo mdico etiolgico de enfermidades. Engloba atividades de promoo da sade e medidas de proteo especficas (por exemplo, imunizao contra doenas). Com o ar dos anos, a importncia dessa forma de preveno tem ocupado maior destaque na rea da sade, embora seja mais utilizada quando existem medidas de proteo mais objetivamente percebidas, que mostrem um custo-benefcio razovel (vacinas, medicamentos). ainda pouco utilizada quando requer medidas ampliadas e que demandam investimento em mudana de comportamento (estratgias educativas, de apoio melhoria de qualidade de vida, entre outros). uma meta de mais difcil execuo, pois requer a participao de todos os setores da sociedade, muitas vezes contrariando interesses polticos e comportamentos habituais. Busca motivar mudanas no nvel educacional, legal e social, tendo impacto importante na sade e bem estar da populao.

A preveno secundria se caracteriza pelas respostas mais imediatas violncia, enfocando a capacidade de diagnstico, tratamento precoce e limitao do dano. Nesse nvel de atuao, os sistemas assistenciais e as redes de apoio social e comunitrio so extremamente relevantes, pois permitem a identificao de casos e populaes sob risco. Escolas, creches, lideranas comunitrias, servios de segurana e de sade, especialmente ambulatoriais e de emergncia, representam instituies sociais cruciais para a preveno neste segundo nvel. A preveno terciria compe-se de respostas de mais longo prazo, destinadas ao processo de reabilitao das vtimas. Embora devesse ser utilizada apenas nos casos em que as medidas anteriores no tivessem surtido efeito, costuma ser ainda estratgia muito utilizada. Visa a intervir, controlar e tratar os casos reconhecidos, buscando reduzir os efeitos, seqelas e traumas, evitar que a violncia se torne crnica e promover a reintegrao dos indivduos. No Brasil, o conceito de preveno ganhou maior importncia na rea da sade com o Movimento da Reforma Sanitria, a Constituio Federal de 1988 e a estruturao do Sistema nico de Sade, a partir da promulgao das Leis Orgnicas da Sade (Lei 8.080/90 e 8.142/ 90), com o objetivo de garantir o direito sade mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e outros agravos e assegurem o o universal igualitrio a aes e servios de promoo, proteo e recuperao da sade (CF 1988, art. 196).

H hoje uma ampla literatura sobre a preveno de doenas e agravos sade, incluindo estudos e pesquisas sobre a preveno da violncia que, devido ao elevado nmero de mortes violentas registrados no pas, particularmente entre os jovens, ou cada vez mais a ser considerada um problema de sade pblica (Minayo e Souza 2003; Minayo, Souza e Njaine 1999). Em 2001, o Ministrio da Sade lanou a Poltica Nacional de Reduo da Morbimortalidade por Acidentes e Violncias (Ministrio da Sade 2001).

A Preveno na Segurana Pblica

A difuso do conceito de preveno na rea da segurana pblica realizou-se nas sociedades industriais avanadas na dcada de 1970 e 1980. Diante do crescimento da criminalidade, e de estudos e pesquisas mostrando os limites das respostas repressivas (isto , da punio e/ou ameaa de punio), principalmente atravs das organizaes policiaise dos sistemas de justia criminal e istrao penitenciria, para reduzir a incidncia e o impacto de crimes na sociedade, houve um importante movimento no sentido de desenvolver teorias e prticas sobre a preveno do crime (Bennet 1998; Pease 1997).

O desenvolvimento de teorias e prticas sobre a preveno do crime na rea da segurana pblica foi paralelo ao desenvolvimento de teorias e prticas sobre preveno da violncia na rea da sade pblica (Minayo e Souza 2003; Krug et al 2002). Na rea da segurana pblica, entretanto, o desenvolvimento de teorias e prticas sobre a preveno foi prejudicado pela incompreenso e pelo debate em torno do conceito de preveno. Na rea da segurana pblica, a preveno freqentemente apresentada e percebida como um tipo especfico de ao visando reduo da criminalidade, alternativa a aes repressivas, centradas na punio ou ameaa de punio dos autores de crimes, estas ltimas sob responsabilidade das organizaes policiais e do sistema de justia criminal e de istrao penitenciria. Deste ponto de vista, as organizaes policiais e do sistema de justia criminal e istrao penitenciria no teriam atuao na rea da preveno. A preveno diria respeito apenas ou principalmente a aes econmicas, sociais, culturais e ambientais ou urbansticas, fora da rea de atuao das organizaes policiais e do sistema de justia criminal e istrao penitenciria.

Segundo outro enfoque, entretanto, a preveno entendida como um resultado de aes visando reduo da criminalidade, que pode ser alcanado atravs de diferentes tipos de aes, incluindo a punio ou ameaa de punio dos autores de crimes, mas tambm aes econmicas, sociais, culturais e ambientais ou urbansticas. Deste ponto de vista, a preveno diz respeito apenas ou principalmente a aes capazes de produzir um resultado especfico: a no-ocorrncia de um ou mais crimes que teriam ocorrido na ausncia da ao preventiva (Bennet 1998, Sherman 1997).

Este segundo entendimento do conceito de preveno tem trs vantagens sobre o primeiro: a) chama ateno para a importncia do monitoramento e avaliao dos resultados de diferentes tipos de aes visando reduo da criminalidade; b) chama a ateno para a possibilidade de reduo da criminalidade atravs de diferentes tipos de aes, tanto aes punitivas, sob responsabilidade das organizaes policiais e do sistema de justia criminal e istrao penitenciria, quanto atravs de aes econmicas, sociais, culturais e ambientais ou urbansticas, sob responsabilidade de outras organizaes; e c) chama a ateno para as similaridades e no para as diferenas, conseqentemente promovendo a cooperao e no o conflito entre as organizaes policiais e do sistema de justia criminal e istrao penitenciria e outras organizaes governamentais e no-governamentais visando reduo do crime e da violncia na sociedade.

A fim de identificar e planejar corretamente as aes preventivas, entretanto, importante ressaltar que preveno do crime no implica necessariamente reduo da criminalidade. Num contexto de queda da criminalidade, aes preventivas bem sucedidas contribuem para acentuar a reduo da criminalidade. Mas, num contexto de crescimento da criminalidade, aes preventivas podem contribuir para a reverso da tendncia e reduo da criminalidade ou, alternativamente, podem contribuir apenas para a conteno do crescimento da criminalidade (Bennet 1998). Polticas e programas de preveno, portanto, devem levar em considerao o contexto, a fim de definir seus objetivos e adequar objetivos, aes e recursos.

Tipos de Preveno

Na rea da segurana pblica, como na rea da sade pblica, as aes preventivas so freqentemente classificadas como aes de preveno primria, secundria e terciria. Mas o critrio de classificao no temporal. principalmente o objeto ou o foco da ao. A preveno primria diz respeito a aes dirigidas ao meio ambiente fsico e/ou social, mais especificamente aos fatores ambientais que aumentam o risco de crimes (fatores de risco) e/ou aos fatores ambientais que diminuem o risco de crimes (fatores de proteo), visando a evitar incidncia e/ou limitar e controlar as conseqncias negativas de crimes e violncias. A preveno primria pode incluir aes que implicam mudanas mais abrangentes, na estrutura da sociedade ou comunidade, visando a reduzir a pr-disposio para a prtica de crimes e violncias na sociedade (preveno social). Ou, alternativamente, pode incluir aes que implicam mudanas mais restritas, nas reas ou situaes em que ocorrem os crimes e violncias, visando a reduzir as oportunidades para a prtica de crimes e violncias na sociedade (preveno situacional).

Ampliao dos servios de sade direcionados a famlias com filhos recm-nascidos, ampliao das oportunidades de educao e trabalho na comunidade, por exemplo, so aes tpicas de preveno social. Limitao e controle do uso de armas, modificao de horrios e locais de atividades econmicas, sociais e culturais, aumento da vigilncia atravs da presena de policiais, guardas municipais, seguranas privados ou circuitos de televiso, so aes tpicas de preveno situacional.

O fato de exigir recursos menores uma vantagem que tem facilitado o desenvolvimento da preveno situacional, particularmente no setor da segurana privada, mas tambm no setor da segurana pblica. A maior desvantagem da preveno situacional, particularmente do ponto de vista da segurana pblica, o risco de deslocamento dos agressores para outras reas ou situaes ou para outros tipos de crimes. Assim, ao invs de contribuir para a reduo da criminalidade na sociedade, a preveno situacional poderia contribuir apenas para a reduo da criminalidade em reas ou situaes especficas ou para a reduo de tipos especficos de crimes. Defensores da preveno situacional, entretanto, argumentam que o deslocamento nem sempre acontece e nem sempre uma desvantagem, e que a preveno situacional pode contribuir efetivamente para a reduo da criminalidade na sociedade.

A preveno secundria diz respeito a aes dirigidas a pessoas e grupos mais suscetveis de praticar crimes e violncias e aos fatores que contribuem para a vulnerabilidade e/ou resilincia destas pessoas e grupos, visando a evitar o seu envolvimento com o crime e a violncia ou ainda limitar os danos causados pelo seu envolvimento com o crime e a violncia. Diz respeito tambm a pessoas e grupos mais suscetveis de serem vtimas de crimes e violncias, visando a evitar ou a limitar os danos causados pela sua vitimizao. Aes de preveno secundria so freqentemente dirigidas aos jovens e adolescentes, e a membros de grupos vulnerveis e/ou em situao de risco, inclusive crianas, mulheres e idosos em casos de violncia domstica ou intrafamiliar, mulheres em casos de violncia de gnero, e negros em casos de violncia contra minorias. O que diferencia a preveno secundria da preveno primria principalmente o fato de que a secundria est mais direcionada a pessoas e grupos, enquanto que a primria est mais direcionada ao meio-ambiente, reas ou situaes. Freqentemente, polticas e programas de preveno combinam aes de preveno primria e secundria. o caso, por exemplo, de uma poltica de limitao e controle do uso de armas de fogo, ou de ampliao das oportunidades de trabalho, direcionada especificamente a adolescentes e jovens.

A preveno terciria diz respeito a aes dirigidas a pessoas que j praticaram crimes e violncias, visando a evitar a reincidncia e a promover o seu tratamento, reabilitao e reintegrao familiar, profissional e social, bem como a pessoas que j foram vtimas de crimes e violncias, visando a evitar a repetio da vitimizao e a promover o seu tratamento, reabilitao e reintegrao familiar. No Brasil, assim como em outros pases, o principal foco das aes de preveno terciria so os adultos que praticaram crimes e os adolescentes que praticaram infraes. Mas, cada vez mais, programas e aes de preveno so direcionados s vtimas de crimes e violncias. Tradicionalmente, o governo e a sociedade tm adotado uma postura reativa diante dos problemas de segurana pblica, privilegiando as aes de preveno terciria, geralmente sob responsabilidade do sistema de justia criminal e de istrao penitenciria, comparativamente a aes de preveno primria e secundria. Cada vez mais, entretanto, diante do agravamento dos problemas de segurana pblica, a sociedade e o governo procuram adotar uma postura mais pr-ativa e procuram desenvolver tambm aes de preveno secundria e primria, selecionando estratgias ou combinaes de estratgias em funo da natureza do problema.

Alm disso, tradicionalmente, a sociedade e o governo tm privilegiado aes preventivas direcionadas para os fatores de risco, privilegiando a estratgia de reduzir ou enfraquecer os fatores de risco como forma de reduzir a vulnerabilidade de indivduos, famlias e comunidades diante de crimes e violncias. Cada vez mais, entretanto, refletindo e reforando a tendncia adoo de posturas mais pr-ativas, d-se crescente ateno estratgia de aumentar ou fortalecer os fatores de proteo como forma de aumentar a resilincia de indivduos, famlias e comunidades diante de crimes e violncias. Valoriza-se, assim, a promoo da segurana pblica e o desenvolvimento de aes de preveno antes mesmo do aumento dos fatores de risco e da vulnerabilidade de indivduos, famlias e comunidades diante de crimes e violncias.

Ao mesmo tempo em que so valorizadas as estratgias de preveno primria e secundria e as estratgias direcionadas para os fatores de proteo, so valorizadas tambm as estratgias desenvolvidas atravs de parcerias entre organizaes governamentais e organizaes da sociedade civil atuando em diversas reas, incluindo rea econmica, social, cultural, segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria.

Contextos da Preveno

Aes de preveno primria, secundria e terciria so cada vez mais desenvolvidas simultaneamente, de forma mais ou menos integrada, em diversas reas ou contextos institucionais. Torna-se, assim, freqente a utilizao de outra forma de classificao das aes preventivas, centrada no contexto institucional nos quais as aes se desenvolvem, com destaque para os seguintes contextos: famlia, escola, trabalho, mdia, comunidade, polcia, justia e sade.

Tradicionalmente, na esfera das organizaes policiais e organizaes do sistema de justia criminal e de istrao penitenciria, a preveno do crime e da violncia tem sido entendida simplesmente como resultado de aes punitivas e/ou de ameaas de aes punitivas, particularmente atravs da pena de priso. Estudos e pesquisas recentes, entretanto, indicam que a punio ou a ameaa de punio tem um impacto limitado na preveno do crime e da violncia, e podem eventualmente contribuir para o aumento do crime e da violncia na sociedade, particularmente quando aplicadas em desacordo com as exigncias da lei e as expectativas da comunidade (Sherman 1997). O que contribui efetivamente para a preveno do crime e da violncia a forma como as organizaes policiais e do sistema de justia criminal lidam com os agressores, vtimas e testemunhas, e ainda a natureza das relaes destas organizaes com organizaes atuando em outros contextos da sociedade, na famlia, escola, trabalho, comunidade, mdia, sade (Sherman 1997, Nuttal 1998). Exemplos de aes preventivas nestas reas incluem o policiamento orientado para a comunidade, para a resoluo de problemas e para situaes de risco, assim como programas de tratamento, reabilitao e re-insero social para adultos e tambm jovens e adolescentes envolvidos com o crime e a violncia.

Estudos e pesquisas recentes indicam tambm que aes na esfera da famlia, escola, trabalho, comunidade, em situaes de risco, mdia e da sade podem contribuir de maneira significativa para a preveno do crime e da violncia na sociedade (Sherman 1997, Nuttal 1998). Ainda h menos programas de preveno do crime e da violncia, e menos estudos e pesquisas sobre preveno do crime e da violncia nestas reas do que na rea da polcia e do sistema de justia criminal. Entretanto, algumas aes nestas reas tm sido consideradas eficazes do ponto de vista da preveno do crime e da violncia, particularmente em relao aos crimes e violncias intrafamiliares e praticados por jovens e adolescentes, claramente associados aos crimes e violncias praticados na sociedade. So recentes os estudos e pesquisas sobre a eficcia e eficincia de diferentes tipos de preveno do crime e da violncia, bem como de aes preventivas em diferentes contextos institucionais. H poucas concluses definitivas nesta rea. Mas h um amplo consenso em relao importncia de integrar aes de governo, da sociedade civil e do setor privado, aes de preveno primria, secundria e terciria, aes direcionadas a fatores de risco e a fatores de proteo, aes em diferentes contextos institucionais, bem como de direcionar aes de preveno para reas e situaes de risco e para grupos vulnerveis, e adequar as aes de preveno s condies da sociedade e s necessidades, interesses e expectativas de seus membros.

4. Programas de Preveno do Crime e da Violncia: O Que Fazer para Preveno do Crime e da Violncia?

Este captulo apresenta e analisa as concluses de estudos e pesquisas sobre a eficcia e as condies para o sucesso de programas de preveno do crime e da violncia, realizados principalmente na Amrica do Norte e na Europa Ocidental, particularmente nos Estados Unidos e Inglaterra.11 Muitos programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos na Amrica do Norte e na Europa Ocidental comeam a ser adotados no Brasil, conforme mostra o levantamento de programas em desenvolvimento no Brasil apresentado na seo 7 deste relatrio. Entretanto, no Brasil, estes programas ainda tm alcance limitado e so desenvolvidos sem o esforo de monitoramento e avaliao existente nos Estados Unidos e, em menor escala, na Inglaterra. Como no possvel ter certeza de que programas eficazes na Amrica do Norte e na Europa Ocidental so tambm eficazes no Brasil, importante monitorar e avaliar os programas desenvolvidos neste pas, e promover a pesquisa e desenvolvimento de programas de preveno do crime e da violncia adequados s necessidades e especificidades do Brasil.

Apesar dos avanos realizados pelos estudiosos e pesquisadores nos ltimos anos, ainda h pouco conhecimento acumulado sobre as causas do crime e da violncia e sobre a eficcia, o custo-benefcio e as condies necessrias para o desenvolvimento de programas de preveno do crime e da violncia. Neste sentido, uma das principais contribuies que os governos podem dar para a preveno do crime e da violncia incentivar o monitoramento e a avaliao dos programas de preveno do crime e da violncia a fim de identificar os programas mais eficazes e que tm a melhor relao custo-benefcio, bem como as condies necessrias para o desenvolvimento destes programas.

Estudos e pesquisas desenvolvidos na Amrica do Norte e Europa Ocidental mostram que aumentos e redues da criminalidade so resultados da influncia de mltiplos fatores, incluindo fatores contextuais, ligados s caractersticas da sociedade, da comunidade, do grupo e da famlia na qual os indivduos se inserem, e fatores associados s polticas e programas governamentais, no havendo um fator determinante nem uma explicao simples para o aumento ou a reduo do crime e da violncia. Separar e diferenciar as influncias de mltiplos fatores um desafio permanente dos pesquisadores e estudiosos (Reiss e Roth 1993; Sherman et al 1997; Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998; Krug et al 2002). Os estudos e pesquisas disponveis mostram que a eficcia de polticas e programas de preveno do crime depende do contexto econmico, social e cultural em que so desenvolvidos e da integrao das polticas e programas desenvolvidos em diferentes contextos institucionais, mais especificamente, na rea da famlia, da escola, do trabalho, da comunidade, da polcia, da justia e da sade (Sherman et al. 1997; Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998; Krug et al 2002). A eficcia e a relao custo-benefcio de polticas e programas de preveno do crime tambm dependem da sua abrangncia. Programas desenvolvidos com sucesso em reas de alto risco de crime e violncia freqentemente no podem ser implementados em toda a sociedade devido ao alto custo da expanso, ou podem ser implementados em reas maiores, mas com maior custo e/ou menores benefcios (Sherman et al 1997; Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998). H fatores contextuais e mais especificamente prticas sociais que contribuem para o aumento e para a reduo do crime independentemente de polticas e programas governamentais. Neste sentido, possvel falar em fatores de risco, quando estes fatores aumentam o risco de crimes e violncias, e fatores de proteo, quando estes fatores diminuem o risco de crimes e violncias.

Polticas e programas de preveno podem reduzir ou limitar a ao dos fatores de risco e/ou aumentar ou ampliar a ao dos fatores de proteo, contribuindo assim para reduo do crime e da violncia, principalmente quando so direcionados para problemas especficos, reas de risco e grupos vulnerveis, quando tm a participao de ao de organizaes do sistema de justia criminal e organizaes da sociedade, e quando so apoiados em estudos e pesquisas slidas. Programas compreensivos e intersetoriais, que focalizam mltiplos fatores de risco e fatores de proteo, em diversos contextos institucionais, implementados consistentemente ao longo do tempo, tm mais chance de produzir resultados positivos do que programas que focalizam apenas um fator de risco ou proteo, em apenas um contexto institucional, de forma espordica e descontnua. O problema do crime e da violncia nas grandes cidades, objeto da ateno das polcias e demais organizaes do sistema de justia criminal, est associado a problemas na esfera da famlia, da escola, do trabalho e da comunidade, que atingem crianas, adolescentes e jovens adultos, aumentando as chances da sua exposio ao crime e violncia, e do seu envolvimento com o crime e a violncia. Conseqentemente, polticas e programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos na esfera da polcia e da justia tm alcance limitado e dificilmente produzem resultados duradouros se no estiveram associados a polticas e programas desenvolvidos na esfera da famlia, da escola, do trabalho e da comunidade. Da mesma forma, polticas e programas de preveno do crime e da violncia destinados aos adultos tm alcance limitado e dificilmente produzem resultados duradouros se no estiverem associados a polticas e programas destinados aos jovens adultos, adolescentes e crianas.

Em vrios pases do mundo, h uma tendncia a valorizar e incentivar estudos e pesquisas sobre polticas e programas de preveno primria, desenvolvidos na esfera da famlia, da escola, do trabalho e da comunidade, e polticas e programas destinados aos jovens (Krug et al 2002; US Department of Health and Human Services 2001; Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998; Sherman et al 1997). H tambm uma tendncia de valorizar polticas e programas que focalizam no apenas os fatores de risco, mas tambm fatores de proteo, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade e tambm aumentar a resilincia de indivduos, famlias, grupos sociais e comunidades diante do crime e da violncia (Travis e Waul 2002; Hampton, Jenkins and Gullota 1996).

Nas prximas sees so apresentados diversos tipos de programas de preveno do crime e da violncia na esfera da famlia, da escola, do trabalho, da mdia, da comunidade, da polcia, da justia e da sade. H programas nas diversas esferas que tm por objetivo principal ou secundrio a preveno do crime e da violncia. H programas que contribuem para a preveno do crime e da violncia, mas so desenvolvidos com outros objetivos, sem uma preocupao explcita com a reduo do crime e da violncia. H tambm programas que no contribuem diretamente para a reduo do crime e da violncia, mas contribuem para diminuir os fatores de risco e aumentar os fatores de proteo associados incidncia de crimes e violncias.

Freqentemente, programas de preveno do crime e da violncia esto centrados em uma rea, por exemplo a famlia, mas incluem aes em diversas reas, por exemplo sade, justia, trabalho e comunidade. Neste relatrio, os programas so apresentados na rea em que esto centrados, ainda que seja s vezes difcil determinar a principal rea de atuao do programa. O Programa da Sade da Famlia, por exemplo, apresentado na seo dedicada sade, ainda que tenha muitas aes na esfera da famlia e da comunidade. Programas de policiamento comunitrio so apresentados na rea da polcia, ainda que tenham aes na esfera da comunidade. Programas de delegacias especializadas no atendimento de mulheres e de crianas e adolescentes so apresentados na rea da polcia, ainda que tenham aes na rea da justia, da sade e da famlia. Programas de aplicao e execuo de penas alternativas e de medidas scio-educativas a adolescentes em conflito com a lei so apresentados na rea da Justia, ainda que tenham muitas aes na esfera da famlia, escola, trabalho e comunidade.

4.1. A Preveno na Famlia

A conexo entre violncia na famlia e a ocorrncia de violncias e crimes na sociedade est claramente estabelecida por estudos cientficos nacionais e internacionais. De um lado, a violncia familiar ou domstica na maioria das vezes contra mulheres, crianas, adolescentes e idosos contribui para aumentar a incidncia e o impacto de violncias e crimes na sociedade. Por outro lado, a exposio violncia na famlia um fator que aumenta o risco de envolvimento de crianas e adolescentes em outros tipos de violncia e crimes quando eles crescem. Embora exista clareza terica sobre a importncia das aes de preveno de crimes e violncias centradas na famlia, tendo como objetivo reduzir a incidncia da violncia familiar e a exposio de crianas e adolescentes violncia familiar, no campo das prticas polticas e sociais essas aes ainda tm muito espao para se consolidarem efetivamente. Tomar as aes na esfera da famlia como parte importante para a preveno dos crimes e violncias no significa definir os problemas das famlias como causa da violncia social, pois esta tem causas muito mais complexas e intrincadas, na esfera da escola, do trabalho, da comunidade, da polcia, da justia e da sade, como assinalado nas prximas sees deste captulo. Significa, sim, o reconhecimento de que a violncia social potencializada pela violncia familiar, especialmente pelo fato da famlia produzir e reproduzir cultura e mentalidade, atitudes e comportamentos, sendo a responsvel pelo crescimento e desenvolvimento das crianas, adolescentes e jovens, que podem vir a se envolver com o crime e a violncia. Alm disso, a famlia a unidade bsica de pertencimento dos indivduos, acolhendo-os e possibilitando a integrao com a sociedade que a cerca.

Estudos com adolescentes e jovens envolvidos em infraes e violncias mostram que esses jovens comumente provm de famlias com problemas de violncia familiar, em que esto presentes vrios fatores de risco, especialmente relacionados a: a) estresse - intensos conflitos familiares, pobreza, criminalidade de familiares, psicopatologia de familiares, entre outros; b) profunda instabilidade mudanas constantes, limites muito rgidos ou inconsistentes, punies excessivas ou inconsistentes, superviso familiar precria, apoio familiar, escolar e comunitrio precrios (Sherman et al 1997; Schoemaker 1996; Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998; Negreiros 2001; Thornton et al 2002; Krug et al 2002).

As pesquisas tambm mostram que, medida que se reduzem os fatores de risco para violncia familiar, obtm-se efeito substancial na reduo de crimes e violncias na sociedade. Entretanto, h mais pesquisas realizadas e mais conhecimento acumulado sobre a reduo da violncia familiar envolvendo crianas e adolescentes do que sobre reduo da violncia familiar envolvendo adultos (Sherman et al 1997). No Brasil, a maioria dos autores confirma a existncia de freqentes violncias nas famlias submetidas a vrias situaes de risco, tais como pobreza, envolvimento familiar com a criminalidade, mortes na famlia, desigualdade e excluso social e violncia na comunidade, decorrentes das aes do narcotrfico, das gangues e da polcia (Silva 1997; Rizzini et al 2000; Assis 1999; Assis e Constantino 2001). A idia de ciclo da violncia tambm faz parte da preocupao dos autores nacionais e internacionais. A existncia da relao entre sofrer violncia na famlia e praticar ou continuar a sofrer violncia na vida adulta tem sido reiteradamente apontada, embora no seja uma relao de causa e efeito. Essa relao mediada por vrios atributos, tais como caractersticas bio-psicolgicas da vtima, existncia de outras formas de e familiar, escolar ou comunitrio, grupo de pares e apoio escolar vivenciado. Em concordncia com a bibliografia internacional, um estudo realizado com 1.685 adolescentes de escolas pblicas e particulares de So Gonalo, municpio da regio metropolitana do Rio de Janeiro, comprovou que os alunos que sofrem violncia nas suas famlias so trs vezes mais vtimas de violncia na escola e quase quatro vezes mais vtimas de violncia na comunidade em que vivem. Tambm so trs vezes mais transgressores das normas sociais (Assis & Avanci 2003).

Estudos longitudinais vm comprovando que programas de preveno efetuados sobre famlias na fase de pr-natal, ps-natal e primeira infncia dos filhos mostram os melhores resultados no que se refere reduo de envolvimento com o crime na juventude e tambm obteno de melhor rendimento escolar e maiores oportunidades de emprego no futuro. Efeitos mais imediatos surgem sobre a reduo do comportamento anti-social e desordens de conduta e melhoria da qualidade de cuidado dos pais com os filhos (Sherman et al 1997; Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998). Os programas de preveno do crime e da violncia centrados na famlia estratgia que se prope compreensiva e continuada tendem a mostrar resultados positivos em longo prazo. Embora mudanas de comportamento e relacionamento na famlia sejam visveis em prazo mais curto, o objetivo final de reduo dos crimes e violncias na sociedade pode ser evidenciado at duas dcadas depois que as aes de preveno tenham sido realizadas (Sherman et al 1997).

Uma avaliao das intervenes preventivas realizadas nas ltimas dcadas nos EUA, patrocinada pelo governo federal, indicou que os programas mais bem sucedidos na reduo de crimes so programas compreensivos e continuados, que atuam sobre mais fatores de risco que fragilizam as famlias e sobre crianas desde os primeiros anos de vida. Programas que fazem visitas domiciliares desde os primeiros anos de vida do primeiro filho, associados a programas de educao pr-escolar, oferecem resultados muito promissores, reduzindo violncias contra crianas e envolvimento em crimes e violncia na adolescncia e juventude (Sherman et al 1997). Outro tipo de interveno recomendada a terapia familiar para adolescentes em situao de risco ou envolvidos com o crime e a violncia (Sherman et al 1997). Essas evidncias so reafirmadas por pesquisas inglesas, que afirmam que para se promover uma sociedade com menos crimes necessrio prevenir o envolvimento de jovens com a criminalidade e violncia, atravs de intervenes intensivas sobre crianas e famlias em situao de risco e do aumento da coeso das famlias e comunidades (Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998).

Em relao violncia familiar envolvendo adultos, h evidncias favorveis a abrigos para atendimento, assistncia e apoio a mulheres vtimas de violncia (Sherman et al 1997). Visitas domiciliares realizadas por policiais aps incidentes de violncia domstica so consideradas ineficazes (Sherman et al 1997). H que se ressaltar que os especialistas concordam com o fato de que nenhuma medida isoladamente poder reduzir definitivamente a violncia familiar. Recomendam um pacote de melhores prticas aquelas cujos resultados sejam evidentes e comprovados atravs de avaliaes a serem desenvolvidas e integradas consistentemente ao longo do tempo (Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998).

So vrias as iniciativas nacionais e internacionais de preveno do crime e da violncia que tm a preocupao de incluir a famlia. Contudo, cada sociedade possui um sistema prprio de defesa e promoo de direitos, que reflexo e que se reflete na forma como concebe as aes de preveno dos crimes e violncias, incluindo-se as abordagens direcionadas s famlias. Os programas de preveno da violncia familiar podem ser classificados em dois tipos principais, classificao que se aplica tambm programas de preveno em outras reas (Sherman et al 1997; Krug et al 2002): a) universais, direcionados a todas as famlias; b) localizados, que podem ser dirigidas a famlias em situao de risco (escolhidos) ou famlias que j manifestaram problemas de crime e violncia (indicados). Segundo Sherman (Sherman et al 1997), programas de preveno do crime e da violncia centrados na famlia so uma exceo regra geral, vlida para as outras reas de preveno, e que programas localizados, isto , direcionados para grupos em situao de risco, so mais efetivos do que programas universais. Programas localizados fazem uso mais eficaz e eficiente de recursos disponveis, normalmente limitados. Mas programas universais so poltica e socialmente mais atraentes e podem receber mais recursos por famlia do que programas focalizados. Devido freqente oposio a aes governamentais na esfera da famlia, identificada como a esfera da vida privada, a adoo de programas universais pode ser uma necessidade para torn-los poltica e socialmente aceitveis e para viabilizar investimentos pblicos nesta rea. Uma forma de compatibilizar as vantagens de programas universais e focalizados seria a adoo de programas universais, capazes de direcionar mais recursos por famlia em mdia, levando em considerao as necessidades de cada famlia na alocao dos recursos destes programas como acontece, por exemplo, no Programa Sade da Famlia, no Brasil (ver seo sobre preveno na rea da sade).

Quanto implementao das aes e alocao de recursos financeiros para a preveno da violncia familiar, h que se reconhecer que as aes precisam ser implementadas e os recursos precisam ser alocados de forma multidisciplinar e multi-setorial, atravs de programas que podem ser implementados na residncia da famlia, na pr-escola e na escola freqentada pelas crianas e adolescentes, em unidades de sade freqentadas pela famlia, em entidades comunitrias, rgos de assistncia social, unidades policiais ou do sistema de justia a que se dirigem membros da famlia enfrentando diferentes tipos deproblemas e conflitos familiares (Sherman et al 1997). Em relao preveno da violncia na famlia, os EUA registram esforos desde a dcada de 70, momento em que foram priorizadas as aes de preveno centradas em visitas domiciliares a famlias sob risco, educao parental e grupos de pais, voltadas para os momentos de crise familiar. Essa viso de preveno, centrada nas relaes pais-filhos, recebeu crticas nos anos seguintes, recolocando as relaes comunitrias e as relaes sociais mais amplas como fatores que podem influenciar tanto a origem quanto a possibilidade de resoluo dos problemas familiares (Daro & Donnely, 2002). Durante a dcada de 80 houve uma multiplicao e diversidade de servios comunitrios para dar e s famlias norte-americanas, prevenir a violncia familiar e proteger as crianas/adolescentes. Os anos 90 se caracterizaram pela consolidao do sistema de e s famlias e preveno violncia, que se inicia na gravidez e que acompanha o indivduo em toda a sua formao. As visitas domiciliares so o cerne das medidas preventivas, pois oferecem servios mais diretos e personalizados para as famlias com problemas (especialmente para aquelas incapazes de chegarem aos servios de ateno). Tambm se aproxima mais dos valores culturais e necessidades de cada ncleo familiar (Daro & Donnely, 2002).

Vrias experincias internacionais ocorridas na ltima dcada, especialmente na Europa e EUA, destacam a importncia do atendimento famlia promover o seu empoderamento (empowerment intervention). O empoderamento da famlia em seu ambiente natural busca estimular as capacidades existentes, assumindo que os pais tm capacidade para identificar o que melhor para a famlia, respeitando e apoiando os valores do sistema familiar, promovendo a auto-estima da famlia e o resgate, ou mesmo a construo do seu papel protetor e cuidador. Essa tendncia tem sido incorporada por vrios servios nacionais (Deslandes e Assis, 2003).

Sherman (Sherman et al 1997), comparou 18 programas norte-americanos com esse enfoque. Variam quanto freqncia, contedo, habilidades desenvolvidas na famlia e contexto sociocultural-familiar. A qualidade das visitas domiciliares aspecto importante no sucesso da interveno: quando constantes e feitas por pessoas bem treinadas e supervisionadas, constata-se maior reduo da violncia na famlia, interaes mais positivas entre pais e filhos, alm de maior probabilidade da famlia se aproximar de outras instituies, reduzindo o seu isolamento (Daro & Donnely, 2002). A formao dos visitadores variada: enfermeiras, assistentes sociais, professores pr-escolares, psiclogas ou para-profissionais. O papel do visitador cuidar do desenvolvimento da criana atravs do contato com os pais e a criana. Podem apenas dar informaes, e emocional, ensinar ativamente ou apenas acompanhar a famlia e ouvir as dificuldades. Os visitadores podem ser treinados em prticas de sade, desenvolvimento humano e instrues sobre habilidades cognitivas e sociais. Contudo, o trabalho essencial prover uma ponte entre os pais (especialmente a me) e a criana.

Uma outra forma de aplicao de visitas domiciliares focaliza famlias de jovens infratores da Flrida/EUA, com resultados bem sucedidos (Cervenka et al 1996; Dembo et al 1999). uma interveno intensiva baseada na linha sistmica, efetuada sobre a famlia e sobre o domiclio dos jovens. Um consultor se encontra com a famlia por uma hora, no mnimo, trs vezes por semana, durante aproximadamente dez semanas. Todos os membros da famlia participam dos encontros. Aps esse perodo de contato intensivo, permanece a comunicao telefnica com os pais, durante quatro anos, visando a monitorar o funcionamento familiar e o nvel de estresse. Toda a interveno baseada na retaguarda de servios de apoio, que so ados de acordo com a necessidade de cada famlia. Um ponto importante abordado por alguns servios o relacionamento da famlia com o sistema jurdico, enfocando o fato de que os pais se sentem sem poder quando no so informados das decises, de atrasos ou do no andamento dos processos (Grosz et al 2000). Na experincia internacional, a preveno da violncia realizada no espao domstico bem freqente e criativa. Os profissionais que visitam as famlias compartilham momentos, procuram a melhor forma de tratar um problema sem agredir a cultura familiar, desenvolvem a habilidade de resoluo de problemas, utilizando como ponto de transformao a observao das atitudes inadequadas. Para tanto, precisam ter um respeito profundo pelos membros da famlia e a capacidade/conhecimento que cada um dos membros possui. Nota-se um cuidado muito grande com a postura do profissional na residncia, para que ele no reproduza, com suas aes, a postura autoritria com que a sociedade costuma tratar as famlias por ela rotuladas como problemticas (Deslandes e Assis 2003).

Outro modelo de ao preventiva o de centros comunitrios. As estratgias empregadas so grupos de auto-ajuda (composto por pais), grupos teraputicos (de pais, de crianas/adolescentes) e terapia domiciliar (Pillai et al, 1982). A participao nestes grupos permite romper com o isolamento, sentir-se apoiado, ter um espao para conversar com pessoas que am por situaes semelhantes. Um exemplo de um servio centrado na famlia que faz articulao entre o sistema de justia e sade o FAMILY VIOLENCE PREVENTION SERVICES (http://www.serve.com/fvps/), localizado na Carolina do Norte/EUA. Promove tratamento e preveno para famlias que vivenciam situao de agresso ou violncia. Faz acompanhamento de grupos separados de homens, mulheres e crianas/adolescentes durante 21 semanas. A interveno enfatiza o poder de escolha, as conseqncias e a responsabilidade. uma alternativa efetiva de programa para evitar que a famlia cumpra sentena judicial. A cada ano, menos de 5% de clientes que receberam penas nas cortes e que completaram o programa retornam Corte que lida com a violncia familiar. O programa tambm tem ajudado a reduzir a superlotao nas prises e a manter homens e mulheres nos lares, no trabalho e no grupo familiar enquanto recebem a ajuda que necessitam. Fazem interveno junto vtima; comunicao corte de justia; terapia em grupo para homens e para mulheres; terapia em grupo para crianas/adolescentes; terapia para casais; projetos de preveno violncia nas escolas; servios de informao e referncia por telefone; informao e educao para comunidades.

Nos Estados Unidos, existem cerca de 1.800 programas que abrigam mulheres agredidas e seus filhos, cuja principal finalidade prover um local durante um perodo de risco existente aps as agresses familiares (Sherman et al 1997). Problemas decorrentes de superlotao so relatados como crticos. Dentre os poucos destes servios que foram avaliados, um deles informa que para aquelas mulheres que deram os no sentido de buscar ajuda junto a outras pessoas ou instituies houve reduo do cometimento de novas agresses durante seis semanas. Para aquelas que apenas viram a permanncia temporria no abrigo como a forma de resoluo do conflito, a reincidncia foi elevada.

A anlise da atuao dos servios internacionais de ateno s famlias envolvidas com a violncia traz importantes reflexes para a realidade nacional. Neles, a abordagem de toda famlia com histrias de violncia a marca principal, com atividade paralela e intensiva com os diferentes personagens da trama violenta. A concepo de atendimento familiar se cristaliza e a meta de preveno secundria e terciria efetivamente aplicada. H servios que incorporam tambm os irmos, concebendo que eles tambm so elos importantes a serem trabalhados e modificados pela atuao, alm de fontes potenciais para a transformao familiar. Em boa parte desses servios, os pais agressores so tambm atendidos, um deles utilizando, inclusive, a ateno oferecida como alternativa ao aprisionamento (Deslandes e Assis, 2003).

Brasil

No Brasil, a histria da preveno do crime e da violncia atravs de aes centradas na famlia mais recente e aes que ocorreram seqencialmente nos Estados Unidos ocorrem tambm no Brasil. A fase do estabelecimento do conceito de violncia familiar e

da importncia da violncia familiar no contexto da violncia social j teve incio, mas ainda se faz necessria, face dimenso continental e diversidade de conhecimentos nos diferentes grupos culturais. A proliferao dos servios e programas j se iniciou, em diversas reas, particularmente nas reas da sade, da justia e da comunidade, mas ainda h muitssimo a ser realizado, especialmente no que se refere integrao dos mesmos, configurando uma rede social forte e atuante. A priorizao de um contato mais aproximado da famlia ainda um ideal, reconhecido pelos servios e demandado pela populao, embora alguns os j comecem a ser dados (Deslandes e Assis 2003). H no pas, hoje, a presena de muitos tipos de programas e aes desenvolvidas h dcadas nos pases com maior grau de desenvolvimento econmico e social. Contudo, o escopo de atuao ainda est localizado em cidades de maior grau de desenvolvimento, a abrangncia ainda restrita e voltada para pequena parcela da populao de menor poder aquisitivo, o grau de amadurecimento ainda muito preliminar, a avaliao dos programas praticamente inexistente, e a conscincia social sobre a importncia da preveno da violncia na esfera da famlia ainda insipiente. Diversos servios pblicos de atendimento populao em situao de elevado risco social e s vtimas de violncia utilizam o recurso das visitas domiciliares. Entretanto, muitas vezes, essas visitas so mais um artifcio de coleta/troca de informaes do que parte de um programa efetivamente voltado para mudana de hbitos e comportamentos familiares e a preveno da violncia. Estudo que investigou as formas de atendimento empregadas por dez servios brasileiros de ateno a famlias em situao de violncia (hospitalares, ambulatoriais e organizaes no-governamentais) notou que as estratgias do atendimento domiciliar e comunitrio ainda so abordagem incipiente no pas, apesar das vantagens que oferecem, pois permitem envolver um maior nmero de familiares e conhecer o cotidiano da famlia, provendo uma interveno mais sistmica (Deslandes e Assis, 2003). Este estudo mostrou que, na prtica, a famlia includa a partir da participao de poucos membros, via de regra, a criana e sua me, geralmente na prpria instituio. Esse atendimento costuma ser feito por assistente social, acompanhado ou no de uma entrevista de psicloga. As visitas domiciliares so pontuais. H uma insuficincia marcante do atendimento ao familiar identificado como agressor. Apesar de sete entre os dez servios estudados afirmarem atend-los, na maioria das vezes, esses atendimentos no se realizam (Deslandes e Assis, 2003).

Um modelo de atendimento preventivo sobre a famlia em situao de violncia o Instituto Sedes Sapientiae (Ferrari & Veccini, 2002), localizado na cidade de So Paulo. Alm dos atendimentos em grupo/individuais que oferece s crianas/adolescentes, os pais tambm participam de encontros personalizados. Acolhe tambm os familiares agressores. Efetua ainda visitas domiciliares, alm de desenvolver oficinas de preveno violncia em comunidades do Estado. Atua ainda na rea de capacitao de profissionais para trabalharem com violncia familiar. O servio faz um trabalho de preveno e integrao com a comunidade, de atendimento aos agressores e articulado ao Sistema de Garantias do seu municpio.

Poucas instituies no pas oferecem atendimento jurdico s famlias em situao de violncia. comum, especialmente nas unidades de sade, o encaminhamento para rgos pblicos como Promotorias Pblicas, Delegacias Especializadas, Varas da Justia, Conselhos Tutelares ou instituies que prestam servio jurdico. A despeito dos vrios servios encaminharem as famlias para receberem esse atendimento jurdico em outras instituies, constata-se a desarticulao do fluxo entre as dimenses de atendimento, responsabilizao e defesa de direitos (Deslandes & Assis, 2003). Uma experincia de atendimento famlia vem sendo oferecida por algumas Varas da Infncia e Juventude, com projetos denominados Escola de Pais. Esses programas tm finalidade educativa, alm de proporcionar apoio social a famlias em situao de risco social. H tambm iniciativas voltadas complementao do cuidado dispensado por famlias com filhos em situao de vulnerabilidade social. As crianas/adolescentes ficam na instituio no horrio que no vo para a aula. Destacam-se projetos que visam a diminuir a agressividade das crianas e adolescentes e a melhorar o seu desempenho na escola e o seu relacionamento com a famlia. Freqentemente so associadas aes voltadas para a profissionalizao e resgate da auto-estima familiar.

Um exemplo de programa que acolhe a famlia como mecanismo de preveno de problemas de socializao e envolvimento com violncia a Casa da rvore, que atua em cinco diferentes comunidades de baixo poder aquisitivo do Rio de Janeiro. Embasada no pensamento de Franoise Dolto, a Casa da rvore aplica metodologia preconizada inicialmente na Frana, adaptando-a realidade nacional. um projeto do Instituto de Psicologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Acolhe crianas pequenas acompanhadas de pelo menos um dos pais, que ficam na unidade pelo tempo que desejarem. Promovem a integrao social, auxiliam os pais a assumirem responsabilidades e a expressarem seus problemas, permitem criana uma aprendizagem adequada da vida social. Facilita tambm a troca de experincia entre mes, atravs de identificaes, solidariedade e construo de novos espaos sociais. Tem ntima relao com a comunidade. H ainda iniciativas originadas por Varas da Infncia e Juventude voltadas para a adoo de crianas que vivem em abrigos. Uma outra iniciativa mais recente a de programas que promovem a insero das crianas em famlias acolhedoras/guardis. Em geral, esses programas visam a: implementar aes de orientao e interveno tcnica junto famlia de origem da criana/adolescente; desenvolver com a famlia substituta/acolhedora o acompanhamento tcnico durante o processo de acolhimento temporrio; reintegrar as crianas/adolescentes s famlias de origem.

Nesses modelos, as crianas costumam ser acompanhadas na prpria famlia oucolocadas em famlia acolhedora, dependendo da necessidade. Quando necessrio, oferecem apoio financeiro atravs de bolsa alimentao e/ou dinheiro. So propostas visitas domiciliares, reunies socioeducativas com famlias, grupos temticos com famlias de origem e acolhedora, oficinas e cursos profissionalizantes. A equipe composta por psiclogos e assistentes sociais e recebe casos dos Conselhos Tutelares. A rede de atuao tambm inclui o Ministrio Pblico (Deslandes e Assis, 2003). Um outro modelo de servio de atendimento envolvido em aes preventivas o deabrigos para mulheres e crianas envolvidas em situao de violncia. Um exemplo o Projeto Rio Mulher do Centro de Artes Calouste Gulbenkian, sob responsabilidade da Obra Social da Cidade do Rio de Janeiro/Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social.Hospeda, durante quatro meses, mulheres e seus filhos vtimas de violncia domstica, oferecendo assistncia mdica, psicolgica, jurdica, alm de acompanhamento escolar para as crianas e capacitao profissional para as mulheres, preparando-as para o mercado de trabalho. Muitos exemplos de abrigos com essa finalidade comeam a surgir no pas nos ltimos anos, alguns deles ligados a Prefeituras Municipais como a de Guarulhos, que implantou a Casa das Rosas Margaridas e Beths. Por fim, aponta-se a importncia de programas sociais governamentais que buscam dar e financeiro s famlias, melhorando as condies de existncia e a inseroescolar e profissional dos integrantes do ncleo familiar (Renda Mnima; Bolsa Escola, Primeiro Emprego, entre outros...).

As informaes apresentadas neste captulo apontam para o elevado nmero de desafios e dificuldades que os profissionais que atendem famlias com dinmicas de violncia enfrentam, tanto no pas como no exterior. Dificuldades pessoais das equipes e das famlias, dos servios de ateno, da rede social de apoio e da estrutura social do pas interferem na qualidade do atendimento. No obstante as dificuldades, a evoluo do atendimento no pas flagrante, embora o caminho a percorrer ainda seja longo. O conhecimento produzido no Brasil dever refletir cada vez mais o amadurecimento terico, a disseminao dos profissionais e servios pelas diferentes regies do pas e a construo de uma conscincia coletiva mais cidad, respeitosa e ciente dos direitos da famlia envolvida em situaes de violncia. Torna-se cada vez mais necessrio o compromisso dos setores pblicos de reconhecer a importncia de programas com estrutura para promover, a mdio e longo prazo, o acompanhamento scio-familiar integral (Deslandes e Assis, 2003). Apenas dessa forma se poder pensar em preveno dos crimes e da violncia e promoo de segurana para a populao brasileira.

Programas Centrados na Famlia

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no Brasil apresentados neste relatrio (ver seo 7), 15 realizam aes centradas na esfera da famlia. Outros 20 programas, apesar de estarem centrados em outras reas, especialmente nas reas da sade, da justia e da comunidade, tambm desenvolvem aes na esfera da famlia, procurando integrar aes de preveno em vrias esferas. A maioria desses programas trabalha diretamente com o atendimento a vtimas da violncia domstica, particularmente as crianas e adolescentes e as mulheres, mas h tambm os que trabalham principalmente sobre os fatores de risco atravs da capacitao de profissionais de diferentes reas para identificar e lidar com problemas de violncia familiar, especialmente violncia contra crianas e adolescentes, e do treinamento dos pais para educao dos filhos. De um modo geral, iniciaram-se nos ltimos anos, mas alguns j existem desde os anos 80 e incio dos anos 90, como o Centro de Ateno aos Maus Tratos na Infncia no ABCD (CRAMI) e a Associao Brasileira Multiprofissional de Proteo Infncia e Adolescncia no Rio de Janeiro (ABRAPIA).

Os programas que trabalham com a violncia praticada contra a criana e o adolescente procuram realizar um trabalho com as vtimas e com a famlia, mais especificamente com os pais, que habitualmente so os prprios agressores. Nesse sentido, todos oferecem atendimento multidisciplinar para as vtimas, e alguns para os agressores. Alguns programas realizam visitas domiciliares. Um deles oferece abrigo para crianas e adolescentes em situao de risco social e outro oferece acolhimento temporrio em outra famlia. H os programas que se voltam diretamente para o problema da violncia sexual e os que trabalham com a violncia de uma forma geral. Por fim, pode-se dizer que a maioria realiza capacitao profissional e algum tipo de trabalho de preveno primria (campanhas, participao na elaborao de polticas sociais, desenvolvimento de trabalhos de divulgao e sensibilizao etc.). Todos os programas que trabalham com a violncia contra a mulher realizam atendimento da vtima e alguns deles atendem tambm os filhos, mas apenas um dos programas que constam do levantamento atende tambm o agressor. O atendimento multidisciplinar (social, psicolgico, mdico e jurdico), s vezes individual e s vezes em grupo. Alguns programas oferecem tambm capacitao profissional para as mulheres vtimas e casa abrigos para os casos em que necessrio o afastamento do lar. Apenas alguns deles realizam aes de preveno primria. Poucos programas no pas se dedicam a prestar atendimento ao familiar agressor. Um exemplo o do Ncleo de Ateno Violncia, situado na cidade do Rio de Janeiro. Realiza atendimento psicanaltico individual para crianas/adolescentes, para mes e para os autores da agresso. Na maioria das vezes o familiar-agressor chega encaminhado pela Justia, mas o atendimento s ocorre quando h adeso voluntria do sujeito. A necessidade deste tipo deatendimento reconhecida, especialmente nos casos de famlias que no conhecem outras formas de educar crianas e se relacionar seno atravs de agresses, mas esse tipo de atendimento ainda pouco estudado e avaliado, mesmo em pases com mais tradio no atendimento violncia. O abandono, nesses tipos de programa, entretanto, costuma ser elevado. De um modo geral, h pouco acompanhamento e monitoramento dos resultados do trabalho realizado. O indicador mais freqente o nmero de atendimentos realizados (por ms ou por ano) e o nmero de profissionais capacitados, sendo que h poucos registros concernentes evoluo do trabalho realizado e ao cumprimento dos objetivos pretendidos.

Recomendaes

Entre as vrias tendncias de polticas e programas de preveno ao crime e violncia centrados na famlia, algumas merecem ser priorizadas, em funo da importncia das aes desenvolvidas e dos resultados obtidos, mensurados atravs de avaliaes:

. Programas voltados realmente para a unidade familiar, procurando englobar o maior nmero de familiares (e no apenas a dade me-filho), como estratgia fundamental para a preveno de crimes e violncias;

. Programas que respeitem a cultura na qual a famlia est inserida, que dialoguem e negociem com a famlia as metas a serem alcanadas, que permitam a integrao social da famlia com a comunidade e que tratem de forma respeitosa as prticas das famlias sobre as quais atuam; enfim, que promovam a idia de empoderamento da famlia como espao privilegiado para a promoo de valores para a paz;

. Programas voltados para a melhoria do relacionamento familiar, que oferecem orientaes sobre o desenvolvimento de crianas e adolescentes, prticas de educao dos filhos e prticas de comunicao e resoluo de conflitos de forma no violenta, e que estabelecem ou reforam crenas e atitudes favorveis no-violncia;

. Programas de visitas domiciliares continuadas, que levem os servios disponveis na comunidade at as famlia, incluindo acompanhamento pr-natal, sade maternoinfantil, sade mental, educao e emprego para os pais, especialmente a famlias com o primeiro filho, com crianas pequenas e em situao de risco social, por serem as que mais se beneficiam desse tipo de programa;

. Programas voltados para famlias de um nico parente, com poucos recursos econmicos e poucos vnculos com a rea/comunidade de residncia;

. Programas voltados para famlias de jovens em situao de risco social, a exemplo dos adolescentes em conflito com a lei e usurios de drogas;

. Programas de acolhimento a famlias em situao de violncia, oferecendo apoio, orientao e oportunidade para nova vinculao social;

. Programas de comunicao e informao que ampliem o o de membros da famlia a apoio mdico, psicolgico, jurdico e social para viabilizar o rompimento da situao de violncia em que se encontram.

4.2. Preveno na Escola

A violncia que ocorre no mbito da escola tem repercusso direta na socializao de crianas e adolescentes, uma vez que essa instituio , junto com a famlia, diretamente responsvel por esse processo, e reconhecida como espao de defesa de direitos desse grupo. Neste sentido, considera-se a escola como um dos lugares privilegiados para a reflexo das questes que envolvem crianas e adolescentes, pais e filhos, educadores e educandos e as relaes que se do na sociedade. Esse espao, portanto, alm de proporcionar a integrao social desse grupo, importante para discutir a questo da violncia e atuar na sua preveno. No entanto, a escola tem servido como palco de violncias contra crianas e adolescentes e tambm como espao para a prtica de atos infracionais cometidos por membros deste grupo etrio. A violncia na escola ocorre tanto em pases perifricos quanto nos considerados ricos. Na Frana, o problema da violncia na escola discutido por pedagogos e psiclogos desde a dcada de 1970, mas ganhou importncia na dcada de 1990, quando ou a ser tema de debate envolvendo governo, sociedade e mdia (Derbarbieux 1997). A violncia nas escolas sas concebida como uma forma de delinqncia e percebida principalmente como uma ameaa que vem de fora (por exemplo, como resultado da concentrao de imigrantes africanos na rea da escola). As principais estratgias adotadas para solucionaro problema foi o redirecionamento das polticas pblicas sas, com intervenes diretasdo Estado, tais como: colocao de professores experientes em reas consideradas difceis; formao contnua; recompensas salariais; formao de equipes de interveno. Outras medidas tomadas buscavam mapear os territrios de maior ocorrncia de conflitos, instalando observatrios, estabelecendo uma comunicao com outros servios, em especial, a polcia e a justia, acionando mecanismos de represso e segurana. H pouca participao de pais e comunidade na preveno da violncia na escola (Derbarbieux 2001).

Os Estados Unidos adotaram um caminho diferenciado na preveno de violncia nas escolas, promovendo, alm das medidas de represso e segurana, programas comunitrios de preveno, especialmente nos bairros com histrias de desigualdade social e violncia. A participao dos pais na escola tambm tem sido relevante nessas experincias. As tcnicas de mediao de conflitos so estratgias de preveno cruciais nos Estados Unidos. Visam a ajudar os estudantes a lidar construtivamente com os conflitos interpessoais e a diferena cultural (Crawford e Bodine 1996). Programas de preveno norte-americanos, baseados no enfoque educativo com adolescentes, tm mostrado bons resultados para preveno de agresses e brigas entre jovens na escola, para a reduo da violncia juvenil, e para o desestmulo ao uso de substncias psico-ativas (Sherman et al 1997). Os que se mostraram mais efetivos so:

. Programas direcionados a aumentar a capacidade da escola de iniciar e sustentar transformaes, especialmente mudana do processo de tomada de decises. As intervenes envolvem educadores, pais, estudantes e membros da comunidade, engajados em planejar e desenvolver as atividades para melhorar o ambiente escolar. Esses programas possuem como etapas o diagnstico dos problemas, a formulao de metas e objetivos, a definio das possveis solues, o monitoramento dos progressos e a avaliao dos resultados. Tambm esto includas atividades direcionadas a aumentar a capacidade istrativa da escola em estimular a comunicao e a cooperao entre os membros da comunidade escolar. Embora esses programas no estejam entre os mais freqentemente implementados, mostram um dos melhores resultados para reduo da violncia escolar e do consumo de substncia por estudantes;

. Programas direcionados a: mudanas de normas e reforo de comportamentos apropriados ao espao escolar; estabelecimento e divulgao de regras escolares; estmulo comunicao na comunidade escolar, especialmente atravs de campanhas contra a agressividade entre escolares (bullying), produo de textos, cartazes ou cerimnias com o tema da reduo da violncia na escola;

. Programas educacionais compreensivos: tipo de intervenes que focalizam o aumento da competncia e das habilidades sociais, o desenvolvimento de autocontrole e dos mecanismos para lidar com estresse, a responsabilidade na tomada de decises, a resoluo de problemas sociais e as habilidades de comunicao interpessoal. um dos programas mais freqentemente implementado, com bons resultados na reduo da violncia escolar. Necessitam de um tempo mais longo para que produzam resultados, perando vrias sries escolares. Alguns desses programas tm como foco paralelo a resistncia ao uso de drogas ou ao convvio com gangues juvenis.

Um dos programas educacionais compreensivos mais disseminados e avaliados nos= EUA o Life Skill Training, voltado para incrementar habilidades sociais e diminuir o consumo de drogas entre os jovens. Esse tipo de programa tem material instrucional que acompanha a seriao escolar, um perodo inicial mais intensivo e depois encontros ao longo dos anos escolares posteriores. Trabalha com questes como competncia emocional e social, desenvolvimento de habilidades, autocontrole, relacionamento interpessoal, resoluo de conflitos (em sala de aula, com colegas, pais), alm de treinamento de pais. Em relao especificamente preveno do uso de substncias, um outro tipo de estratgia mostrou resultado efetivo: so os programas destinados modificao de comportamentos e a ensinar a refletir. Direcionados para jovens de elevado risco social, so limitados no tempo, apregoando metas e utilizando reforos negativos ou positivos para mudar comportamentos.

Outro tipo de programa no mostrou resultados estatsticos na reduo da violncia juvenil e do uso de substncias, embora tenha mostrado resultados muito promissores. So programas que agrupam jovens em pequenas unidades escolares (escolas dentro das escolas), propiciando mais interaes e e, bem como flexibilidade na instruo. Entre os programas de preveno de violncia escolar que se mostraram ineficientes esto:

a) aconselhamento realizado por pares;

b) programas que apenas oferecem atividades alternativas para jovens (lazer, por exemplo), sem a presena de um programa de preveno

mais efetivo;

c) programas instrucionais que focalizam apenas a disseminao de informao, o crescimento do medo e o apelo moral.

Programas voltados apenas para a reduo do consumo de substncia tm piores resultados que os que associam o tema da reduo ao consumo de substncias ao desenvolvimento de habilidades individuais e relacionais (Sherman et al 1997).

Brasil

No Brasil, o tema da violncia na escola eclodiu no incio dos anos 80, num quadro de demanda de segurana por parte de moradores das periferias dos centros urbanos, que atingiu o sistema pblico de ensino no Brasil. A mdia abriu espao para denncias sobre os acontecimentos violentos nas escolas situadas nas periferias urbanas (Sposito 2001). Segundo Sposito (2001), no incio de 1980, diante do problema da violncia na escola, professores, alunos e pais buscavam melhores condies de funcionamento nas escolas. As respostas a essas reivindicaes, em geral foram: policiamento nas reas externas, zeladorias, muros, iluminao nas reas externas e ptios internos, grades nas janelas, portes altos. No se questionavam as formas de gesto da escola e as relaes entre os integrantes da comunidade escolar, porm algumas iniciativas de carter educativo tentavam modificar a cultura escolar para que atendesse mais s demandas dos alunos. Na dcada de 90, o problema da violncia agravado com o clima de insegurana promovido pelo crescimento da ao do crime organizado e do trfico de drogas. O tema da segurana pblica e da segurana nas escolas ganha importncia no debate pblico no pas, ao mesmo tempo em que arrefece a discusso sobre mudanas na forma de gesto das escolas.

Vrios autores nacionais se dedicaram ao estudo problema, apontando a articulao entre a violncia vivida e testemunhada no cotidiano dos jovens com a violncia na escola e com o baixo desempenho escolar e relacional entre os diversos atores da comunidade educacional. So discutidas a relaes entre violncia na famlia, no bairro e aumento da probabilidade de fracasso escolar e de violncia praticada por jovens, bem como a relao entre o aumento da criminalidade e o crescimento das taxas de violncia na escola e de fracasso escolar. H afirmaes de que as razes da violncia na escola encontram-se na violncia no bairro, na famlia e em condies estruturais como a pobreza e privao (Cardia, 1997; Cardia, 1999; Candau et al 1999; Guimares, 1996; Njaine e Minayo, 2003). Cardia (1999), a partir da opinio de moradores de dez capitais brasileiras, destaca que a violncia nas escolas brasileiras tem as mesmas causas que a violncia fora da escola: o uso e o trfico de drogas, formao de gangues, porte de armas. Esses fatores tambm foram identificados na pesquisa de Njaine e Minayo (2003) acrescidos de uma viso mais crtica sobre as relaes sociais na escola, na famlia e da influncia da mdia. Nessa pesquisa, alunos e professores apontaram como causas da violncia nas escolas: (a) a agressividade dos prprios alunos que afeta a luta pela afirmao de sua identidade, e que no reconhecida pelos educadores; (b) o descaso da escola, e a violncia, sobretudo verbal, dos professores e funcionrios contra os jovens; (c) a influncia da mdia; e (d) a negligncia da famlia.

Um estudo realizado sobre condies de trabalho com 51 mil professores da rede pblica do Brasil, abordando o tema da violncia e segurana na escola, coordenado pelo Laboratrio de Psicologia do Trabalho da UnB (Codo 1999) identificou trs situaes mais freqentes: depredaes; furtos e roubos do patrimnio; agresses fsicas entre os alunos e agresses de alunos contra os professores. Esse estudo mostrou que estabelecimentos com mais de 2.200 alunos so os mais suscetveis a essas violncias, principalmente os que se encontram nas capitais. As escolas que adotaram medidas de segurana ostensiva no tiveram ocorrncias de roubo e/ou vandalismos alteradas significativamente. Os maiores ndices de agresses a alunos dentro da escola foram encontrados em Braslia (58,6%) e os mais baixos no Estado de Gois (8,5%) As difceis e por vezes tensas relaes entre os adolescentes so fonte de preocupao, explicitadas nas humilhaes, ameaas e brincadeiras fsicas que podem levar a agresses mais graves. Muitos aspectos negativos nas relaes entre os educandos e desses com os professores tambm so evidentes. No se consegue demarcar os limites de manifestao para essas agresses que podem envolver meninos, meninas, professores, pais e mesmo galeras, com todas as possveis combinaes entre esses atores (Njaine e Minayo 2003). A presena de armas de fogo e armas brancas nas escolas tambm tem ocupado a pauta de investigao. O o e a disponibilidade de armas na populao so citados por vrios autores e pelos prprios alunos, revelando uma intricada rede de violncia invadindo o cotidiano dos jovens, inclusive no espao escolar. No ano de 2002, campanhas contra armas de fogo foram veiculadas na televiso. A atuao da mdia e de movimentos sociais como Viva Rio propiciou a intensificao de mensagens que apregoavam o perigo das armas de fogo em casa e na escola, alm da discusso sobre o Estatuto para limitar a venda de armas de fogo, ampliando o debate pblico sobre o assunto.

Recentemente, inmeras atividades ou programas de preveno violncia juvenil tm surgido no pas, preocupadas em reduzir a violncia nas escolas. Ganharam fora aes pblicas iniciadas timidamente nas dcadas de 1980 e 1990, oscilando entre medidas de carter educativo e medidas relacionadas rea de segurana, provenientes, sobretudo, das esferas estaduais e municipais. So iniciativas ainda fragmentadas e descontnuas (Gonalves e Sposito 2002). Na esfera do Governo Federal, a iniciativa de elaborao de polticas pblicas para a reduo da violncia escolar no partiu do Ministrio da Educao, mas do Ministrio da Justia, que incentivou uma srie de aes que foram sendo implementadas nos estados e municpios. O Ministrio da Justia criou, em junho de 1999, uma comisso de especialistas para elaborar diretrizes para o enfrentamento da violncia na escola, com a parceria de alguns institutos de pesquisas e organizaes no governamentais. Os primeiros resultados so sintetizados no Programa Paz nas Escolas, desenvolvido em conjunto com o Ministrio da Educao, a partir de 2000, em 14 estados brasileiros. A execuo nos estados segue as prioridades de cada realidade. As principais atividades desse programa so:

(a) campanhas visando ao desarmamento da populao;

(b) apoio na formao e treinamento integrando jovens e policiais no ensino das tcnicas de mediao de conflitos;

(c) aes de capacitao de educadores e policiais em direitos humanos e tica. Gonalves e Sposito (2002) ressaltam que essas iniciativas so muito recentes e que demandam uma avaliao que possa aferir seu grau de impacto e sua interveno na vida escolar, considerando a magnitude do pas e de sua rede pblica. Uma anlise das experincias de programas de reduo da violncia na escola nas cidades de So Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte, constatou que: (a) as aes centradas somente no policiamento das escolas no so suficientes;

(d) as medidas de controle e vigilncia, como detectores de metais na porta das escolas, cmaras instaladas no interior da escola e exames para identificar o uso de drogas possuem um carter restritivo;

(e) a intensificao do medo pela mdia contribui para a construo de uma imagem estigmatizada de crianas e jovens que moram em bairros perifricos e freqentam escolas pblicas;

(f) a abertura da escola comunidade no garante uma mudana dos padres de relao no ambiente escolar, pois depende da mobilizao das unidades escolares, embora alguns casos demonstrem o potencial dessa ao;

(g) as aes de preveno pautadas na concepo do jovem como problema social que deve ser afastado do crime e da delinqncia, podem ocultar o autoritarismo vigente nas instituies escolares e a pouca capacidade de lidar com os conflitos que se apresentam nesse meio (Gonalves e Sposito 2002).

No caso das cidades de So Paulo e Belo Horizonte, as medidas de abrir a escola comunidade ajudaram na reduo da violncia escolar. Contudo, os autores do estudo concluem que manter os portes abertos comunidade no significa, necessariamente, alteraes nos padres de relacionamento escolar. O sucesso das iniciativas baseadas na proposta de uma gesto democrtica, envolvendo pais, alunos e moradores, depende da escola j estar mobilizada em torno de projetos similares. O principal benefcio para os grupos envolvidos nesses programas permitir a organizao e desenvolvimento de habilidades como msica, grafite e teatro. Gonalves e Sposito (2002) mostram que muitos educadores tm mobilizado seus alunos para participar de projetos de reduo da violncia, sensibilizados com a situao de vida de muitos desses jovens e com as dificuldades que enfrentam no seu cotidiano. Entretanto, os autores ressaltam que os educadores podem ser influenciados por uma idia bastante recorrente no debate pblico, que v os jovens como um problema social e, como tal, devem ser alvos de aes reparadoras por parte do mundo adulto. Dizem que no quadro mais comum dessas percepes pode estar se buscando prticas preventivas que supostamente colaborariam para afastar esses jovens da infrao.

O Programa da Unesco Escolas de Paz um dos exemplos recentemente implementados. Atua na preveno primria, oferecendo a jovens de escolas situadas em regies de elevada vulnerabilidade social, em vrios estados do pas, oportunidades de o cultura, esporte, arte e lazer, utilizando como estratgia a abertura de escolas nos finais de semana, buscando congregar escola, comunidade e famlia, e estimular uma cultura de paz (Abramovay 2001). Trabalho da Unesco com escolas brasileiras inovadoras em vrios estados mostrou como importante: o bom clima na escola, enfatizando uma boa capacidade relacional entre os componentes da comunidade escolar; uma gesto inovadora, aberta e flexvel a mudanas; a valorizao de todos os componentes da comunidade escolar; o exerccio do dilogo; o trabalho coletivo; a participao da famlia e da comunidade nas atividades escolares; a ressignificao do espao fsico da escola; o incremento da sociabilidade e a construo do sentido de pertencimento (Abramovay 2003).,

Entre as vrias tendncias de polticas e programas de preveno ao crime e violncia centrados na escola, algumas merecem ser priorizadas, em funo da importncia das aes desenvolvidas e dos resultados obtidos, especialmente daqueles mensurados atravs de avaliaes.

. Programas direcionados a aumentar a capacidade da escola de se abrir sociedade, iniciar e sustentar transformaes na escola e na comunidade em que a escola est inserida. Escolas inovadoras, flexveis e comprometidas com uma gesto participativa so cruciais no apenas para a reduo da violncia escolar, mas tambm para o bom rendimento acadmico e crescimento moral dos adolescentes;

. Programas que envolvam a famlia e a comunidade de forma participativa na gesto escolar;

. Programas direcionados melhoria de relacionamento entre alunos tendo como base a tica e a cidadania, fundamentados em aprendizado de limites, resoluo de conflitos, aumento da competncia escolar e social e modificao de comportamentos;

. Programas que valorizem e capacitem os educadores para a preveno da violncia na escola;

. Programas de apoio educao pr-escolar.

Programas centrados na Escola

Dos 109 programas de preveno em desenvolvimento no Brasil apresentados neste relatrio (ver seo 7), treze esto centrados na escola. Outros dezoito programas, apesar de estarem centrados em outras reas (especialmente na comunidade), tambm desenvolvem intervenes relacionadas com o espao escolar, de forma integrada, visando preveno do crime e da violncia na sociedade, especialmente entre os jovens.

Cerca de metade dos programas direcionados para as escolas trabalham com o oferecimento de atividades extracurriculares. Alguns trabalham com a democratizao do espao escolar e o estmulo ao protagonismo juvenil. Alm disso, h tambm exemplos de programas de conscientizao sobre as drogas, de capacitao de professores, de estmulo educao artstica e de incluso dos portadores de necessidades especiais na comunidade escolar. Com exceo do programa Iniciao Artstica em Linguagem Cnica, que vem sendo implementado desde janeiro de 1991, em Belm do Par, todos os outros programas se iniciaram recentemente, sendo a maioria datada dos ltimos trs anos.

Os programas que trabalham o oferecimento de atividades extracurriculares aos jovens tm como preocupao central a ausncia de atividades disponveis nos perodos no escolares e a falta de abertura e de identificao das escolas com as comunidades. Os programas variam em relao poca dessa abertura: alguns funcionam nos perodos de frias escolares, outros nos horrios vagos dos perodos de aula e outros ainda nos fins de semana. Oferecem aos jovens possibilidades de o a diferentes atividades: recreativas, esportivas, artsticas, culturais, escolares, profissionalizantes etc. Alguns programas funcionam no somente para os jovens, mas para toda a comunidade, especialmente aqueles que propem a abertura do espao escolar nos fins de semana.

So diversos os tipos de programas voltados para a democratizao do espao escolar e o estmulo ao protagonismo juvenil. Entre eles, podemos identificar, por exemplo, o programa Paz nas Escolas (implementado em 2002 e 2003 em So Bernardo do Campo SP), que se desenvolveu no espao escolar e trabalhou com a comunidade local a reflexo, criao e execuo de projetos de interveno visando promoo da paz e preveno da violncia. H tambm programas de estmulo criao de grmios escolares e programas de formao de rdios comunitrias.

De um modo geral, h pouco acompanhamento e monitoramento dos resultados do trabalho realizado. Os indicadores mais freqentes so o nmero de participantes e de escolas que desenvolvem os programas, sendo que h poucos registros sobre a evoluo do trabalho realizado e o reflexo desses programas na preveno da violncia.

4.3. A Preveno no Trabalho

H diversos estudos e pesquisas sobre as relaes entre oportunidades de trabalho/ emprego e o crime e a violncia, que deixam claro que no h uma relao direta e automtica entre eles (Sherman et al 1997). Estudos e pesquisas nos Estados Unidos no tm mostrado uma relao forte entre oportunidades de emprego/trabalho e o crime e a violncia em nvel nacional. Mas tm mostrado a existncia desta relao no nvel de estados, cidades, bairros e indivduos. Segundo diversos estudos, a falta de oportunidades de emprego/trabalho aumenta o risco de envolvimento dos indivduos em crimes e violncias e o risco de crimes e violncias na comunidade. Mas isso no significa que a ausncia de oportunidades de trabalho/emprego implique necessariamente o envolvimento na prtica de crimes ou o aumento da, criminalidade e da violncia na comunidade. Bushway and Reuter (1997) resumem quatro teorias principais sobre estas relaes:

a) teoria da escolha racional, segundo a qual os indivduos escolhem entre meios legais/ legtimos e ilegais/ilegtimos de trabalho dependendo do custo-benefcio das duas opes, e a ausncia de oportunidades de emprego/trabalho e/ou de qualificaes para os empregos/trabalhos legais/legtimos aumenta as chances da opo por trabalhos ile-gais/ ilegtimos;

b) teoria do controle social, segundo a qual a falta de emprego/trabalho diminui os vnculos dos indivduos com a famlia e a comunidade e aumenta o risco de envolvimento em crimes e violncias;

c) teoria da anomia, segundo a qual a falta de emprego/trabalho gera desigualdade e outros problemas que aumentam o sentimento de frustrao, de privao, de injustia, e o risco de envolvimento em crimes e violncias; e

d) teoria da rotulagem, segundo a qual a rotulagem ou estigmatizao de comunidade, por qualquer motivo, mas particularmente por ter alta incidncia de crimes e violncias, diminui os investimentos e as oportunidades de emprego/trabalho e aumenta o risco de envolvimento dos membros da comunidade com o crime e a violncia.

Estas teorias motivaram o desenvolvimento de dois tipos de programas de preveno do crime e da violncia atravs do trabalho (Bushway and Reuter, 1997):

a) programas que visam a aumentar a qualificao profissional das pessoas atravs de educao ou capacitao profissional, direcionados principalmente a grupos em situao de risco de desemprego, particularmente os jovens, os adultos que j receberam penas, e os adolescentes que j receberam medidas scio-educativas pela prtica de atos infracionais;

b) programas que visam a aumentar as oportunidades de emprego/trabalho, direcionados principalmente a comunidades com poucas oportunidades de emprego/trabalho. Programas para aumentar a qualificao profissional dos jovens incluem:

a) programas de estgios em organizaes pblicas e privadas;

b) programas de primeiro emprego para jovens recm-sados da escola;

c) programas de longa durao (um ano), que oferecem residncia, educao, capacitao profissional e servios de apoio para jovens em situao de risco. Estes programas no so geralmente avaliados pelo seu impacto sobre o crime e a violncia. Mas os estudos disponveis sugerem que os programas de estgios, de curta durao, so relativamente baratos, mas no ajudam a prevenir o crime e a violncia. Os programas de longa durao, mais intensivos, so mais caros, mas tm maior probabilidade de contribuir para a preveno do crime e da violncia.

Programas para aumentar a qualificao profissional de adultos que receberam penas e adolescentes que receberam medidas socioeducativas podem ser desenvolvidos dentro ou fora de estabelecimentos prisionais ou de internao. Normalmente, programas para adolescentes enfatizam mais a educao e qualificao profissional do adolescente. Programas para adultos enfatizam mais o o a oportunidades de emprego/trabalho. Programas voltados para a reintegrao profissional de adultos que j cumpriram penas apresentam melhores resultados do ponto de vista de reduo do envolvimento com crimes e violncias. Programas voltados para adultos cumprindo pena tambm apresentam resultados positivos. Mas estes programas tm pouco impacto na reduo do crime e da violncia na sociedade, se os crimes e violncias so praticados por jovens e adultos que no aram pelo sistema de justia criminal. Programas voltados para adolescentes que receberam medidas scio-educativas no apresentaram resultados satisfatrios, possivelmentedevido a problemas de concepo e dificuldades de implementao.

Programas para aumentar as oportunidades de emprego/trabalho de comunidades e grupos incluem:

a) incentivos para contratao de pessoas de grupos em situao de risco;

b) incentivos para desenvolvimento econmico para comunidades em situao de risco;

c) apoio para desenvolvimento de pequenas e mdias empresas em comunidades em situao de risco.

Estes programas ainda no foram suficientemente avaliados. Segundo Bushway and Reuter (1997), os efeitos limitados de programas de preveno do crime e da violncia na esfera do trabalho podem ser atribudos falta de integrao de programas voltados para aumentar a educao e qualificao profissional de indivduos em situao de risco e programas voltados para ampliao das oportunidades de traba-lho/ emprego em comunidades e grupos em situao de risco. Alm disso, programas na esfera do trabalho freqentemente no tm por objetivo a reduo do crime e da violncia e no esto associados a programas voltados para reduo do crime e da violncia. O desenvolvimento destes programas dificultado pela estigmatizao das comunidades e grupos a que os programas se destinam e dependem, para seu sucesso, da sua integrao em programas compreensivos de preveno do crime e da violncia capazes de reduzir a estigmatizao destas comunidades e grupos.

Programas Centrados no Trabalho

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos no Brasil apresentados neste relatrio (ver anexo), dezesseis esto centrados na rea do trabalho e renda. Outros quinze programas, apesar de estarem mais diretamente voltados para outras reas (especialmente justia e comunidade), tambm desenvolvem aes na esfera do trabalho. Muitos programas voltados para adolescentes em cumprimento da medida socioeducativa e mulheres vtimas de violncia desenvolvem atividades de capacitao e insero profissional, visando a ampliar as oportunidades de trabalho e renda destes grupos. Cerca de metade dos programas direcionados para trabalho e renda voltada para os jovens. Alguns atuam no combate ao trabalho infantil. H exemplos de iniciativas voltadas para o o ao micro-crdito, para as pessoas com mais de 40 anos e para os trabalhadores ambulantes. Nem todos os programas apresentam como objetivo a reduo da violncia, mas sim de fatores de risco como o desemprego e excluso social. Todos os programas so recentes, sendo a maioria datada de 2001 e os mais antigos de 1998.

Os programas que esto voltados para os jovens demonstram todos a preocupao com a dificuldade de insero dos jovens entre 16 e 21 anos no mercado de trabalho. Oferecem oficinas e cursos de capacitao profissional e oportunidades de estgios e trabalhos em empresas privadas e no servio pblico. Alguns programas tambm oferecem bolsa para os participantes, muitas vezes condicionada permanncia na escola ou participao em atividades comunitrias.

Os programas voltados para o combate ao trabalho infantil desenvolvem aes de complementao de renda e gerao de trabalho para as famlias, de forma a substituir a renda proveniente dos trabalhos das crianas. H o estmulo para que as crianas permaneam nas escolas e creches e no voltem ao mercado de trabalho. Tambm so desenvolvidas aes no sentido de mapear o trabalho infantil e desenvolver trabalhos mais amplos visando superao da situao de misria das famlias.

De um modo geral, h poucas informaes sobre o reflexo desses programas na preveno da violncia. O indicador mais freqente o nmero de pessoas atendidas pelos programas, mas h alguns que demonstram tambm indicadores relativos insero no mercado de trabalho. Uma exceo regra percebida nos programas que fazem parte da estratgia de combate excluso na Cidade de So Paulo (Renda Mnima, Bolsa Trabalho e Comear de Novo), que apresentam indicadores de diminuio do desemprego, aumento do comrcio local e reduo da violncia nos distritos nos quais foram implementados.

Recomendaes

. Programas voltados para ampliao da qualificao profissional e do o a oportunidades de emprego, direcionados particularmente a membros de grupos em situao de risco de desemprego:

. Inclui programas de estgio, primeiro emprego, mudana de emprego, cursos de curta e longa durao;

. Inclui programas direcionados para jovens, adolescentes em medida scioeducativa, e para adultos cumprindo pena.

. Programas voltados para ampliao das oportunidades de emprego e trabalho, direcionados particularmente a comunidades e grupos com poucas oportunidades de emprego e trabalho:

. Inclui programas de incentivo ao desenvolvimento econmico, desenvolvimento de pequenas e mdias empresas e cooperativas, e contratao de profissionais.

. Programas que integrem os dois tipos de programas mencionados acima, a fim de aproximar as oportunidades de emprego e trabalho e as pessoas e grupos que necessitam de emprego e trabalho.

4.4. A Preveno na Mdia

A exposio ao crime, violncia e discriminao atravs da mdia um fator que vem chamando a ateno de estudiosos e pesquisadores, na medida em que pode reforar ou atenuar os efeitos desta exposio na esfera da famlia, da escola, do trabalho e da comunidade, e tambm pode reforar ou atenuar o impacto de polticas e programas de preveno do crime e da violncia.

No Brasil, ainda so incipientes os estudos sobre a violncia na mdia. Contudo, em outros pases, muito se tem pesquisado e divulgado a respeito da influncia dos meios de comunicao sobre a agressividade das crianas e adolescentes. Os resultados no so conclusivos, mas pesquisadores tm encontrado relao entre meios de comunicao que privilegiam a violncia como tema e a agressividade humana (Cardia 1995). Programas de preveno que enfocam o treinamento de pais para modificar o hbito de seus filhos assistirem televiso no mostram resultados adequados. Outros que visaram dar criana noes sobre a importncia do que se assiste e suas conseqncias, dando-lhes liberdade de deciso, parecem surtir melhor efeito (Heath et al 1989).

Revisando mais de 1.000 estudos produzidos nos Estados Unidos, Strasburger (1999) constata que a violncia na mdia, mesmo que secundariamente, uma das causas da violncia na sociedade norte-americana. As concluses desses estudos demonstram que a violncia na mdia pode: a) facilitar o comportamento agressivo e anti-social em indivduos suscetveis, demandando pesquisas sobre esses perfis; b) dessensibilizar o espectador para a violncia na vida real, tornando as pessoas mais indiferentes ao sofrimento alheio e menos aptas a intervirem em situaes de conflito; c) aumentar reaes de medo e concepes tendenciosas sobre a realidade.

Em 1993, a Associao Norte-americana de Psicologia publicou o Relatrio Juventude e Violncia, enumerando alguns dos principais fatores scio-culturais relacionados a essa questo e destacou a importncia da interveno e da preveno da violncia na mdia, por parte dos profissionais de educao e sade. A partir de um complexo retrato da juventude norte-americana, incluindo afro-americanos, asiticos e latino-americanos, o documento apontou a violncia na mdia como um dos fatores responsveis pelo incremento da violncia na sociedade, tanto no que se refere perpetrao de atos que afetam a integridade do outro, quanto na vitimizao desse grupo etrio. Em sntese, o Relatrio destacou que, ao longo do tempo, a incorporao de hbitos agressivos serve como base para comportamentos agressivos futuros e concluiu que a exposio excessiva violncia na televiso pode:

a) contribuir para atitudes violentas contra mulheres (quando representadas em papis de vtimas) e contra minorias tnicas (quando representados como grupos agressivos);

b) impulsionar os jovens para atitudes consumistas, fazendo inclusive uso da violncia para obter produtos que a propaganda apresenta.

No Canad, o National Clearinghouse on Family Violence divulgou, em 1994, um documento sobre os efeitos da violncia na mdia sobre as crianas, enfatizando o papel dos pais na mediao da relao televiso e pblico infantil. Algumas das recomendaes desse documento so: a criao de rotinas, pelas quais as crianas devem realizar outras atividades, limitando o tempo frente tv; a adequao de uma abordagem sobre a convivncia com a tv idade da criana e o dilogo sobre os valores positivos para um ambiente no agressivo.

O Guia Mdico para a Violncia na Mdia, da Associao Mdica Americana (1996), uma das principais publicaes que vem orientando os profissionais de diversos pases sobre os possveis efeitos causados pelo excesso de exposio mdia. Esse guia relaciona os efeitos bio-psico-sociais e recomenda a mdicos e pais medidas especficas para prevenir os efeitos nocivos da violncia na mdia, tais como: controle do tempo de exposio frente tv; estmulo prtica de outras atividades, principalmente fsicas etc. A Academia Americana de Pediatria sugere as seguintes orientaes a seus membros: desestmulo noo autoritria de proibio de programas; implantao de uma agenda pr-criana nos meios de comunicao, indicando temas e reduzindo o excesso de violncia; orientao de pais e familiares sobre a questo; atuao sobre os meios de comunicao visando ao bem-estar da criana e divulgao do potencial positivo dos meios de comunicao (Charren et al 1994).

Em recente publicao, a Academia Americana de Pediatria recomenda uma srie de medidas a serem tomadas por profissionais de sade, pais, escola, comunidade, governo e os prprios meios de comunicao, de forma a intervir nos nveis de violncia na televiso, nos videogames, nos filmes, na mdia impressa e nos clipes musicais. A Equipe de Recursos da Mdia da Academia Americana de Pediatria trabalha com a indstria de entretenimento no sentido de analisar roteiros e questes sobre a adequao do material a ser veiculado para crianas. Essa entidade desenvolveu tecnologias como os softwares Bab da Net, Patrulha Ciberntica e Observador do Surfe a fim de evitar que determinados materiais sejam ados via computador. Essa abordagem tem restries, pois necessita de habilidade dos pais para o uso desses softwares, e no h um controle sobre outras ofertas on-line que burlam essas restries. A Academia tem um papel importante na presso aos meios de comunicao e recomenda, sobretudo, a parceria dos pediatras com profissionais de demais entidades de diversas reas para a elaborao de uma agenda da sade pblica com relao violncia na mdia (American Academy of Pediatrics 2001). Na Amrica Latina e Brasil, as pesquisas realizadas sobre violncia na mdia so extremamente escassas. H um reconhecimento por parte dos pesquisadores de que no possvel generalizar para os pases latino-americanos os resultados das pesquisas realizadas em outras culturas. Cada sociedade possui realidades especficas que determinam os modos de produo, circulao e consumo dos produtos midticos, mesmo considerando a questo da globalizao que faz com que os processos tecnolgicos e a realidade virtual transponham essas fronteiras.

Merlo-Flores (1999), investigando a questo na Argentina, na dcada de 80, constatou que as crianas se relacionam umas com as outras utilizando elementos da televiso, e que um desses elementos mais freqentes a agresso. Para essa autora, a agresso se tornou um novo cdigo de comunicao, sobretudo para as pessoas mais jovens. No entanto, essa pesquisadora questiona se esse fator torna as crianas necessariamente agressivas no sentido patolgico.

No Brasil, pesquisa recente do UNICEF com 5.280 adolescentes revela que 52% desse grupo etrio tm na televiso a maior fonte de lazer. Cerca de 70% consideram a programao da tv muito boa (UNICEF/Fator OM, 2002). Enfatizar os aspectos positivos da mdia, assim como o compromisso de uma parte dos profissionais da rea de comunicao com a qualidade da programao tem sido tambm um esforo em mbito mundial. A televiso estatal brasileira, TV Cultura, um exemplo pela alta qualidade de sua programao e acumula prmios por preservar essa qualidade.

Pesquisa financiada pela UNESCO, em 1998, realizada em 23 pases, incluindo o Brasil, com 5.000 crianas de 12 anos de idade, procurou investigar atravs de questionrios como essas crianas percebem a violncia na TV. O estudo mostrou que a televiso um meio presente em todas as reas pesquisadas, e que as crianas am mais tempo em frente TV (uma mdia de 3 horas) do que com qualquer outro meio de comunicao (rdio ou livros), ou com qualquer outra atividade, inclusive lio de casa. O estudo aponta a atrao das crianas pela violncia, que est relacionada, de certa forma, ao modo como os heris da fico (principalmente dos pases ocidentais) so recompensados por suas aes. Desse modo, a violncia na mdia pode servir como modelo para a soluo dos problemas na vida real. Essa pesquisa adverte, no entanto, que preciso investigar outros fatores, como o impacto da personalidade da criana, seu ambiente real, experincia com agresso, circunstncias familiares e contexto cultural (Groebel, 1999).

Legislao e Regulamentao

Os meios de comunicao so uma das principais fontes de informaes sobre crimes e violncias e cumprem um papel de informar, denunciar e, muitas vezes, investigar crime e violncias. Para alm dessas funes, mais recentemente, a mdia tem ampliado suas atividades sociais cumprindo um papel de:

(a) apoiar as campanhas institucionais com mensagens preventivas;

(b) acolher os movimentos sociais de vtimas de violncia;

(c) incorporar essa temtica atravs do marketing social nas novelas, trazendo para o pblico o debate sobre as formas diversas de violncia que afetam a nossa sociedade.

Entretanto, alguns programas funcionam tambm como produtores de violncias, veiculando contedos violentos na programao de entretenimento, esteretipos de determinados grupos sociais como mulheres, negros e homossexuais, inclusive dos criminosos e dos policiais, que contribuem com concepes distorcidas a respeito do crime e da violncia. A despeito de suas possibilidades de assumir uma funo pedaggica e preventiva com relao violncia, quando se voltam para uma ao educativa, os meios de comunicao, inversamente, podem difundir uma cultura de violncia e contribuir para o aumento de comportamentos anti-sociais e violentos, principalmente no grupo de crianas e adolescentes. inegvel a condio estratgica da mdia e da cultura na preveno do crime e da violncia, tanto como espaos que ampliam as vozes da sociedade, quanto na circulao de mensagens orientadas para a valorizao da vida e eliminao das formas de violncia. Legislaes e regulamentaes voluntrias com o intuito de estabelecer limites ao da mdia esto sendo discutidas em muitos pases atualmente. A Austrlia um dos pases mais atuantes nesse sentido. Desenvolve pesquisas sobre o assunto desde a dcada de 1970 e, para garantir um controle maior sobre os meios de comunicao, promove leis, regulamentos, auto-regulamentao das mdias e uma participao ampla da comunidade. Pases da Unio Europia procuram regulamentar as mdias controlando programas, imagens ou cenas que incitem o dio, a discriminao, a violncia, a obscenidade e a pornografia infantil. Nos Estados Unidos no h regulamentao para cenas violentas e um dos controles sobre a programao, exercido pelos pais, atravs do uso da tecnologia V-chip12, implantada nos aparelhos de TV.

A Conveno da ONU sobre os Direitos da Criana, adotada em 1989, rene um conjunto de princpios em seu Artigo 17, que estabelece o direito da criana informao e o s fontes, e aborda a necessidade de encorajar o desenvolvimento de orientaes apropriadas para proteger a criana de informaes e materiais prejudiciais ao seu bem-estar. A dcada de 90 marca a mobilizao de muitos pases, a maioria com o apoio dos rgos das Naes Unidas, em torno da problemtica do crescimento da violncia na mdia. Em 1997 foi criada a Cmara Internacional da UNESCO para Crianas e a Violncia na Tela ligada ao Centro de Informao Nrdica para a Pesquisa sobre Mdia e Comunicao (Nordicom), e financiada em conjunto pelo governo sueco e pela UNESCO. Essa Cmara tomou como base a Conveno da ONU para os Direitos da Criana. A partir da, reuniu um conjunto de pesquisas realizadas em diversos pases do mundo sobre o tema, produzidas principalmente em pases com amplo o mdia, como os Estados Unidos, Canad, pases da Europa Ocidental, Japo e Austrlia. O resultado das pesquisas, apesar das diversidades socioculturais desses pases, aponta a mdia como parte importante da vida social alertando que, mesmo que no seja o nico meio que influencia na violncia, exerce uma participao significativa quando associada principalmente a outros fatores ambientais e individuais.

Tambm foi criado na dcada de 90 um Conselho Mundial para a Educao em Mdia com o apoio da UNESCO. Quatro pases lideram esse Conselho: Austrlia, frica do Sul, Canad e Gr-Bretanha. Essa educao voltada para a mdia tambm faz parte dos currculos escolares de pases como a Finlndia, Sucia, Frana, Noruega e Dinamarca, desde a dcada de 70. A educao para a mdia tida pela maioria desses pases como uma soluo para crianas e jovens aprenderem a lidar de modo reflexivo com os meios de comunicao (von Feilitzen 2002).

Brasil

No Brasil, tem sido escassa a iniciativa do poder pblico na reflexo e responsabilizao social dos meios de comunicao no que se refere exposio de crianas e adolescentes s imagens e contedos violentos veiculados, sobretudo, pela televiso. O Plano Nacional de Direitos Humanos, institudo pelo decreto 1.904 de maio de 1996 e atualizado por meio do decreto 4.229 de maio de 2002, contm, no captulo sobre a garantia do direito liberdade, uma srie de recomendaes referentes regulamentao da programao televisiva e radiofnica. O Plano prev, por exemplo, a criao de um sistema de avaliao permanente sobre os critrios de classificao indicativa e faixa etria e o mapeamento de programas televisivos e radiofnicos que estimulem a apologia ao crime, violncia, tortura, ao racismo e a outras formas de discriminao, ao de grupos de extermnio e pena de morte, para identificar os responsveis e adotar as medidas legais pertinentes.

Em 1997, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul instituiu, a partir do Decreto n 37.730, o Comit de Estudos da Violncia com representantes do Governo do Estado, da sociedade civil, Secretaria de Justia e Segurana. O objetivo do Comit foi o de estabelecer medidas legislativas e buscar alternativas para a violncia, atravs da atuao do Estado, da sociedade civil e das entidades no governamentais. O Comit de Estudos da Violncia organizou uma comisso para trabalhar a violncia na mdia. Um dos primeiros trabalhos dessa comisso foi a consolidao dos resultados de um pesquisa sobre valores sociais e meios de comunicao, a pedido do Ministrio da Justia e da Unesco, e a traduo do Guia Mdico sobre Violncia na Mdia, autorizada pela Associao Mdica Americana. Algumas ONGs, como TVBem, Tver e Agncia Nacional dos Direitos da Infncia (ANDI), tm procurado influenciar a legislao brasileira no sentido de regulamentar a programao, analisar o seu contedo, e levar os principais temas da infncia e adolescncia brasileiras para as pautas das diversas mdias.

A Agncia Nacional dos Direitos da Infncia (ANDI), organizao no-governamental criada em 1992, desempenha um papel de destaque, promovendo junto aos meios de comunicao a insero de temas relevantes para a promoo e defesa dos direitos da criana e do adolescente no pas. Essa agncia analisa a cobertura da mdia sobre a infncia e adolescncia e verifica como os temas so inseridos, apontando a prioridade e a relevncia de determinados temas sociais. Em maro de 2000 foi criada a Rede ANDI Brasil, uma parceria de organismos de comunicao. Essa relevante iniciativa busca investir na formao de uma cultura jornalstica que priorize as questes dos direitos da infncia e adolescncia brasileiras. A Rede ANDI abrange as cinco regies do pas e produz boletins semanais, clippings, pesquisas locais, alm de disponibilizar on-line um banco de projetos sociais. Outras organizaes no governamentais vm realizando um monitoramento da mdia brasileira. O Tver uma entidade criada em 1998 e analisa as conseqncias e responsabilidades da televiso com relao criana (www.tver.com.br). um grupo constitudo por psicanalistas, psiclogos, educadores, jornalistas e advogados. O TV Bem um Instituto de Defesa do Telespectador, criado em 1999 com o objetivo de mobilizar a sociedade para a reflexo e anlise da responsabilidade social e pblica da televiso brasileira. No se tem uma avaliao mais aprofundada sobre essas iniciativas no sentido de aferir o real impacto de sua atuao na preveno da violncia na mdia.

As TVs Comunitrias tambm tm contribudo para dar visibilidade realidade das comunidades, produzindo sua prpria programao utilizando linguagens locais para abordar problemas locais. A Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou em 2001 o documento Promoo de Segurana da Criana e do Adolescente frente Mdia (TV, Internet). Nesse texto, recomenda aos pais que estejam atentos em relao aos hbitos de seus filhos de assistir TV e usar a internet, buscando limitar o tempo frente a esses meios, estimular outras atividades de lazer, conhecer os programas a que os filhos assistem e ajudar a compreender o contedo que veiculado (Doria Filho, 2001). No entanto, essa iniciativa no foi amplamente disseminada, de forma a se tornar uma prtica incorporada na rotina de mdicos e demais profissionais de sade. Em 2001 foi elaborado pelo Consrcio Universitrio pelos Direitos Humanos em parceria com a Fundao Friedrich Ebert e com apoio da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, UNESCO e ILANUD o Manual de Mdia e Direitos Humanos, com o objetivo de ser um guia prtico para consulta de fontes e textos reflexivos sobre a relao entre direitos humanos e mdia. Em 2003, foi publicado o Guia de Direitos Humanos Fontes para jornalistas, elaborado pela Conectas em parceria com a ANDI e apoio da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, UNESCO e Fundao Ford, com noes gerais, reas temticas, fichas sobre instituies de direitos humanos, textos relevantes, dicas, calendrio e glossrio para subsidiar jornalistas e outros interessados.

Reato (2001) e Yunes (2001) destacam que, do ponto da vista da sade pblica e da epidemiologia, a programao violenta nos meios de comunicao considerada como um fator de risco. Esses pesquisadores propem a mediao de pais, profissionais de sade e educao para promoverem orientao e preveno.

Programas Centrados na Mdia

Das iniciativas voltadas preveno do crime e da violncia na mdia, existem algumas que incentivam a comunicao tica e respeitadora dos direitos humanos, realizando o monitoramento dos contedos divulgados, em especial daqueles que possam ter impacto sobre crianas e adolescentes. Nessa linha, h produo de contedo jornalstico adequado, compartilhado por meio de rede de organizaes para a divulgao de informaes positivas e corretas sobre os direitos da criana e do adolescente. A Agncia Nacional dos Direitos da Infncia (ANDI), por exemplo, criou em 2000 a Rede ANDI Brasil, uma articulao de rgos de comunicao voltados para o estmulo a uma cultura jornalstica que priorize esses direitos.

Em alguns dos programas levantados nas esferas da escola e da comunidade h aes diretamente relacionadas comunicao, como a produo de jornais e revistas comunitrias por jovens envolvidos com projetos nas suas comunidades e a implantao da educomunicao em escolas, envolvendo alunos e professores na utilizao de novas tecnologias para promover formas de comunicao alternativas, como rdios comunitrias dentro das escolas. Esses programas no tm uma relao direta com o contedo divulgado pela mdia escrita e televisiva, mas conscientizam sobre a importncia da comunicao e capacitam jovens e adultos para comunicar.

Recomendaes

. Programas voltados para divulgao de leis e polticas de proteo e promoo dos direitos humanos, e o monitoramento do cumprimento dessas leis e polticas pelos meios de comunicao, em parceria com outros setores da sociedade;

. Programas voltados para ampliao da discusso das causas da criminalidade e da violncia, fatores de risco e de proteo na esfera individual, dos grupos mais prximos, da comunidade e da sociedade, e das polticas, programas e aes de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no pas;

. Inclui programas voltados para ampliao da discusso sobre o papel das armas de fogo no aumento da incidncia e impacto de crimes e violncias, e das medidas necessrias para limitar e controlar o porte e a comercializao de armas de fogo.

. Programas voltados para ampliao do intercmbio de informaes entre profissionais de diversas disciplinas e reas de atuao, de forma a ampliar a compreenso da natureza, das causas e das solues para o problema da criminalidade e da violncia no pas;

. Programas voltados para ampliao do conhecimento sobre as vtimas de crimes e violncia, os diferentes tipos de vtimas e vitimizao, bem como sobre os direitos das vtimas, os servios disponveis e as possibilidades de ao para as vtimas de crimes e violncia.

. Programas voltados para a discusso da condio da juventude brasileira, considerando que:

a) hoje, no pas, as principais causas de morte na faixa etria jovem so os homicdios e os acidentes de trnsito; e

b) existe uma desproporcional representao da violncia praticada pos jovens.

. Programas voltados para divulgao de projetos de preveno que obtm resultados positivos em termos de reduo do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica.

4.5. A Preveno na Comunidade

Estudos e pesquisas mostram que as comunidades tm caractersticas que podemaumentar ou diminuir o risco de crime e violncia, particularmente aumentando ou diminuindo o controle social formal e principalmente o controle social informal sobre o comportamento dos indivduos e grupos que a integram. No mesmo pas, estado ou cidade, h uma distribuio desigual dos crimes e violncias e freqentemente h uma concentrao relativamente grande de crimes e violncias em um nmero pequeno de comunidades e bairros. A preveno do crime e da violncia nestas comunidades ou bairros tem um papel central na preveno do crime e da violncia na sociedade.

Os fatores de risco e os fatores de proteo presentes na comunidade no so determinantes da maior ou menor presena do crime e da violncia. A presena de mltiplos fatores de risco no implica necessariamente uma alta incidncia de crimes e violncia, assim como a presena de mltiplos fatores de proteo no implica necessariamente uma baixa incidncia de crimes e violncias.

Alm disso, fatores de risco e de proteo afetam de maneiras diversas os indivduos em famlias e grupos diferentes e indivduos em diferentes fases do seu desenvolvimento o que pode provocar uma distribuio desigual dos crimes e violncias entre as famlias e grupos no interior da mesma comunidade e fazer com que indivduos na mesma famlia ou grupo sejam expostos de forma diferente ao crime e violncia. Entretanto, de maneira geral, quanto maior a presena de fatores de risco e menor a presena dos fatores de proteo, maior chance de crimes e violncias na comunidade.

Polticas e programas de preveno do crime e da violncia na esfera da comunidade tm por objetivo diminuir a presena e o impacto dos fatores de risco e aumentar a presena e o impacto dos fatores de proteo existentes na comunidade. A maior dificuldade para a preveno do crime e da violncia que as caractersticas das comunidades influenciam no apenas o risco de crimes e violncias, mas tambm as chances de implementao de polticas e programas de preveno. Assim, polticas e programas de preveno so implementados mais facilmente e mais freqentemente com sucesso em comunidades onde h menor risco de crimes e violncias do que naquelas em que h maior risco de crimes e violncias. O desafio no apenas desenvolver polticas e programas de preveno do crime e da violncia, mas principalmente desenvolver polticas e programas que possam beneficiar as comunidades em que h maior risco de crimes e violncias. Para beneficiar as comunidades com maior incidncia de crimes e violncias, polticas e programas precisam ser efetivamente compreensivos, direcionados para reduo de mltiplos fatores de risco e aumento de mltiplos fatores de proteo (Sherman et al 1997).

Entre os fatores apontados mais freqentemente como fatores de risco esto:

. Pobreza, particularmente quando associada ao desemprego, marginalizao e excluso social e cultural, e quando atinge os jovens;

. Exposio ao crime, violncia e discriminao, direta e indireta, inclusive atravs da mdia, particularmente quando atinge crianas e adolescentes.

. Deteriorao fsica e desorganizao social:

. Falta de infra-estrutura urbana;

. Falta de oportunidades de habitao, educao, trabalho, lazer, esporte e cultura;

. Falta de oportunidades de participao poltica;

. Presena de gangues e grupos ou organizaes envolvidas com o crime;

. Disponibilidade de drogas, lcool e armas de fogo.

Nos Estados Unidos, estudos e pesquisas mostram que o maior aumento e a maior reduo das taxas de crimes violentos no perodo 1960-2000 aconteceu entre os jovens, nas grandes cidades, particularmente nas reas e comunidades pobres (Travis e Waul 2002). Em particular, no caso dos homicdios, todo o aumento no final da dcada de 1980 e declnio na dcada de 1990 deveu-se a homicdios praticados com arma de fogo por adolescentes (menos de 18 anos de idade) e jovens adultos (18-24 anos de idade). Os especialistas apontam trs fatores contextuais cuja influncia contribui para o aumento e declnio das taxas de crimes violentos nos Estados Unidos: mudanas demogrficas, mais especificamente a proporo de jovens adultos (18-24 anos de idade)na populao; mudanas no mercado da droga, particularmente a expanso e posterior limitao do comrcio do crack, envolvendo jovens adultos e adolescentes, com o a armas de fogo; e mudanas no mercado de trabalho, com a retrao e expanso da economia e particularmente a disponibilidade de empregos e de salrios compensadores para jovens com baixa qualificao.

H menos estudos e pesquisas sobre os fatores de proteo, que diminuem o risco de crimes e violncias. Entre os fatores apontados como fatores de proteo contra o crime e a violncia esto:

. Incluso econmica, social e cultural, particularmente dos jovens;

. Valorizao de atitudes e comportamentos no-criminosos, no-violentos e nodiscriminatrios, a partir dos primeiros anos de desenvolvimento da criana e do adolescente;

. Desenvolvimento urbano e social;

. Presena de famlias, grupos e redes de superviso e apoio a crianas, adolescentes e jovens;

. Limitao e controle do o a drogas, lcool e armas de fogo.

Os principais tipos de programas de preveno do crime na esfera da comunidade so (Sherman et al 1997):

a) programas voltados para a organizao e mobilizao da comunidade;

b) programas dirigidos a gangues;

c) programas com mentores (orientadores);

d) programas de recreao;

e) programas para a reduo da presena ou do o a drogas, lcool e armas.13

Estes programas ainda no foram suficientemente avaliados, mas de maneira geral, ainda que possam produzir resultados positivos, no so suficientemente compreensivos e direcionados para os fatores principais ou estruturais que influenciam a incidncia de crimes e violncias na esfera da comunidade. Entre os programas desenvolvidos, Sherman aponta que so promissores os programas com orientadores (mentores), programas dirigidos a gangues quando voltados para reduo da coeso das gangues, e programas de recreao para jovens aps a escola quando contam com adequada orientao e superviso dos participantes.

Programas de organizao e mobilizao da comunidade incluem programas que podem ser voltados criao de organizaes comunitrias ou mobilizao de recursos para resolver problemas comunitrios, e que podem adotar estratgias horizontais e verticais de organizao e mobilizao da comunidade. Segundo Sherman, a maioria destes programas no produz resultados porque adotam estratgias horizontais e atribuem a organizaes da prpria comunidade a responsabilidade pela resoluo de problemas cuja resoluo depende da ao de organizaes pblicas e privadas situadas fora da comunidade. Estes programas poderiam ser mais eficazes se adotassem estratgias verticais e procurassem influenciar a ao das organizaes pblicas e privadas capazes de, efetivamente, resolver os problemas da comunidade.

Em relao ao controle de armas de fogo, os especialistas assinalam a eficcia do mpoliciamento direcionado para reas de risco de crimes cometidos com arma de fogo, do rastreamento da propriedade de armas de fogo, e do aumento das condies exigidas para a compra e a venda de armas (Travis e Waul 2002). Por outro lado, os especialistas assinalam a ineficcia de programas atravs dos quais o governo compra de volta as armas dos cidados e programas atravs dos quais o governo exige uma licena especial para o porte de armas de fogo ocultas (Sherman et al 1997, Travis e Waul 2002).

Preveno Local 14

Nos ltimos vinte anos, em diversos pases, os governos locais comearam a desenvolver polticas e programas mais compreensivos e intersetoriais, visando preveno do crime e da violncia e promoo da segurana de comunidades cujo tamanho pode variar de bairros at cidades de menor ou maior porte. Governos centrais e organizaes internacionais, particularmente a Organizao das Naes Unidas, atravs do Programa Cidades Mais Seguras e do Programa de Gesto Urbana, tm apoiado estas iniciativas. Estes programas tipicamente focalizam mltiplos fatores de risco e de proteo, e integram aes de diversas organizaes governamentais e no governamentais. Nos Estados Unidos e Canad, com o desenvolvimento do policiamento comunitrio e do policiamento orientado para a resoluo de problemas, a polcia freqentemente assume um papel central na articulao de organizaes locais e no desenvolvimento de programas de preveno na comunidade. Na Inglaterra, Frana e Itlia, governos locais freqentemente assumem a liderana. Na Inglaterra, os programas de preveno na comunidade envolvem a formao de parcerias contra o crime. Na Frana, os programas de preveno na comunidade envolvem o estabelecimento de contratos locais de segurana. Nos Estados Unidos, programas de preveno na comunidade assumem diversos formatos, mas freqentemente envolvem parcerias entre a polcia e organizaes locais, incentivados pelo governo federal atravs de programas federais como Local Law Enforcement Block Grants, Weed and Seed, Comprehensive Communities, Title V Delinquency Prevention Grants.

Estudos e pesquisas realizados nos Estados Unidos sugerem a importncia do desenvolvimento de programas de preveno compreensivos e multi-setoriais, particularmente dirigidos a cidades e bairros onde h alta incidncia de crimes e violncias (Sherman et al 1997). Entretanto, estes programas ainda so relativamente recentes e no foram suficientemente avaliados. Alm disso, o fato de serem compreensivos, focalizando mltiplos fatores de risco e de proteo, de envolverem mltiplas aes desenvolvidas por mltiplas agncias, e assumirem caractersticas diferentes em comunidades diferentes, dificulta o monitoramento e avaliao dos resultados, mais especificamente a identificao das aes que produziram e das aes que no produziram resultados positivos.

Preveno Situacional

Em comunidades e bairros, a incidncia de crimes e violncia tambm freqentemente concentrada em determinadas situaes, locais e horrios os chamados hot-spots onde as oportunidades para a prtica de crimes e violncias so maiores. A concentrao de aes de preveno em hot-spots, visando a reduzir as oportunidades para a prtica de crimes e violncias, uma estratgia adotada de maneira crescente, principalmente por empresas pblicas e privadas e servios de segurana privada, mas tambm por organizaes policiais (ver seo dedicada a aes de preveno na esfera da polcia) e governos locais, paralelamente a aes de preveno dirigidas diretamente s vtimas ou agressores.

Programas de preveno situacional so bastante utilizados para preveno de crimes contra o patrimnio, que freqentemente envolvem o uso de violncia, em condomnios e reas residenciais, reas comerciais, bancos, estabelecimentos e mquinas que acumulam grande quantidade de dinheiro, espaos pblicos com grande circulao de pessoas, estaes rodovirias, metrovirias, ferrovirias e aeroportos, estacionamentos e garagens, meios de transporte pblico.

O principal objetivo de programas de preveno situacional a reduo das oportunidades para prtica de crime, atravs do aumento do custo, aumento do risco e reduo do benefcio associado prtica de crimes em situaes, locais e horrios especficos, visando a dissuadir a prtica de crimes nestas situaes, locais e horrios. Estudos e pesquisas realizados nos Estados Unidos e Inglaterra mostram que programas de preveno situacional so efetivamente capazes de reduzir de maneira significativa o crime e a violncia nas situaes, locais e horrios em que so implementados, mesmo considerando-se os efeitos da migrao dos crimes (Eckblom 1998; Pease 1998; Pease 1997; Eck 1997). Mostram tambm que estes programas podem produzir dois tipos de efeitos no previstos, um contrabalanando o outro: a) migrao de crimes para outras situaes, locais e horrios, que no so alvos de programas de preveno; b) reduo de crimes em outras situaes, que no so alvos de programas de preveno, mas, devido proximidade ou semelhana com situaes em que estes programas existem, so percebidas como situaes em que os programas so desenvolvidos.

Entretanto, programas de preveno situacional freqentemente combinam diferentes estratgias visando a reduzir as oportunidades para prtica de crimes e violncias, algumas delas centradas no aumento de custos, e outras no aumento de riscos, e outras ainda na reduo de benefcios associados prtica do crime e da violncia (Eckblom 1998: Pease 1997). Neste caso, difcil determinar quais estratgias so efetivamente responsveis pela preveno do crime (Eck 1997). A proteo de alvos e vtimas, o controle de o a alvos e vtimas, o afastamento dos agressores, e o controle de facilitadores para prtica de crimes e violncias (em particular, armas, lcool e drogas), so estratgias que visam a aumentar os custos para a prtica de crimes e violncias.

O controle de entrada e sada, e a vigilncia, que podem ser feitas por profissionais de segurana, pelos trabalhadores nos locais de trabalho e pelo pblico, so estratgias que visam a aumentar os riscos da prtica de crimes e violncias. A remoo de alvos e vtimas, a identificao de bens, a remoo de estmulos, o estabelecimento de regras de conduta so estratgias que visam a reduzir os benefcios resultantes da prtica de crimes e violncias.

um trao inerente a estratgias de preveno situacional serem muito sensveis s caractersticas das situaes para as quais foram desenvolvidas, sendo mais eficazes nas situaes para as quais foram desenvolvidas. Diante de situaes com caractersticas diferentes, ou mesmo de mudanas nas caractersticas das situaes nas quais foram desenvolvidas, inclusive mudanas resultantes da capacidade dos criminosos de responder implantao de programas de preveno situacional, estratgias de preveno situacional podem perder eficcia. Deste fato decorre a necessidade de constante adaptao e aperfeioamento de estratgias de preveno situacional. Pease (1998) argumenta que indivduos e organizaes freqentemente deixam de adotar, desenvolver e aperfeioar estratgias de preveno situacional porque desconhecem as possibilidades de preveno, mas principalmente porque os custos so maiores do que os benefcios da preveno e h possibilidade de rear os custos da preveno situacional para terceiros e para organizaes policiais. Neste sentido, Pease argumenta que os governos devem incentivar indivduos e organizaes a adotar medidas de preveno situacional e evitar o ree dos custos da preveno situacional para terceiros e para organizaes policiais. Entre as diferentes formas atravs das quais os governos podem incentivar a preveno situacional, Pease destaca:

. Disseminao de informao sobre as possibilidades de reduo do crime e da violncia atravs de estratgias de preveno situacional;

. Disseminao de informao sobre princpios de preveno situacional do crime e da violncia que podem ser aplicados em diferentes situaes;

. Disseminao de informao sobre estratgias de preveno situacional, consideradas eficazes para diferentes situaes;

. Incentivos econmicos para adoo de medidas que diminuam as oportunidades para a prtica de crimes, por exemplo, na construo de espaos e estabelecimentos pblicos e privados, no desenvolvimento de produtos e servios, e at mesmo no desenvolvimento de novas polticas;

. Sanes econmicas para adoo de medidas que aumentem as oportunidades para a prtica de crimes;

. Imposio da obrigatoriedade de estudos para verificar o impacto, do ponto de vista da segurana pblica, de propostas de construo de espaos e estabelecimentos pblicos e privados, de desenvolvimento de produtos e servios, e de desenvolvimento de novas polticas.

Programas Centrados na Comunidade

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos no Brasil apresentados neste relatrio, 34 so centrados na comunidade e cerca de 40, centrados em outras reas, realizam aes na rea da comunidade. A maioria dos programas de preveno do crime e da violncia na esfera da comunidade comeou a ser implementada na dcada de 1990, mas apresentam um leque bastante heterogneo de iniciativas. H, tambm, programas iniciados na dcada de 1980.

Dos programas focalizados na comunidade h os que trabalham a incluso social de uma forma mais completa, implementando diferentes programas sociais (sade, renda, trabalho, moradia, cidadania) e revitalizando o espao urbano em determinados bairros e/ ou favelas das cidades. H os que trabalham atravs da implementao de programas sociais especficos ou do incentivo organizao e mobilizao da comunidade para me-lhoria no ambiente comunitrio.

H programas que oferecem oportunidades de esporte, lazer e cultura para jovens em sua comunidade e essas atividades vo desde boxe, basquete, futebol e outros esportes, at teatro, dana, msica, escultura e restaurao de obras histricas. Em alguns programas a atividade comunitria realizada em locais criados para esse fim na prpria comunidade, o que faz com que a populao se sinta co-responsvel pelo equipamento. H tambm programas que aproximam a escola da comunidade e transformam a escola em centro de reflexo sobre seus prprios problemas e sobre os problemas da comunidade, sendo que em alguns desses programas observou-se o desenvolvimento de atividades extra-classe com foco na valorizao da comunidade por crianas e jovens, bem como a participao em projetos comunitrios.

De uma forma geral, a formao e capacitao de jovens para compreender e intervir de uma forma positiva nas suas comunidades aparece nos programas de preveno. A articulao de programas, servios, rgos governamentais e entidades comunitrias, bem como a definio dos papis e atribuies desses atores envolvidos com a preveno da violncia, compem programas cujo eixo a elaborao e implementao de planos municipais de segurana pblica. H tambm programas que criam articulaes regionais entre municpios acerca de uma temtica especfica, como segurana pblica e infncia e juventude, por exemplo.

H ainda programas especficos de iluminao pblica nas vizinhanas de escolas com alto ndice de violncia, programa de silncio urbano que determina o horrio de fechamento de bares, programa de retirada de vendedores ambulantes das vias pblicas e re-alocao em espao especfico para esse comrcio, programa de fechamento de lixes e organizao de cooperativas de catadores e desenvolvimento de reciclagem e monitoramento de vias pblicas por meio de cmeras de vdeo. A interveno na esfera da comunidade permeia tambm quase todos os programas voltados para a violncia domstica contra mulheres, crianas e adolescentes, sejam eles mais especficos da sade, da famlia ou da justia. Esses programas, de uma forma geral, realizam atendimento multidisciplinar e acabam intervindo na esfera da comunidade quando realizam palestras, seminrios, debates, criam fruns locais e regionais para discusso da temtica, promovem campanhas de conscientizao e de incentivo a denncias e notificaes e articulam os servios e organizaes locais em uma rede de atendimento.

Programas de implantao de centros que integram servios de assistncia jurdica, plantes de delegacias, emisso de documentos, mediao de conflito, juizados especiais, centros de informao, dentre outros servios, em bairros e comunidades especficas e em determinadas regies das cidades, so tambm formas de interveno na esfera da comunidade. Em alguns programas focalizados na revitalizao urbana ou na resoluo de problemas de segurana pblica em determinados bairros, h a criao de conselhos e/ou comisses que prevem a participao da comunidade no levantamento dos problemas e das possibilidades de soluo.

A dimenso comunitria, como se pode constatar dos programas encontrados na realidade brasileira, bastante fluida e permeia boa parte dos programas de preveno do crime e da violncia, adquirindo maior ou menor importncia dependendo do programa e do contexto em que implementado. A importncia das aes na esfera da comunidade no desenvolvimento de programas de preveno do crime e da violncia vem sendo cada vez mais reconhecida.

De um modo geral, h pouco acompanhamento e monitoramento dos resultados do trabalho realizado. Os indicadores mais freqentes so o nmero de participantes e de atendimentos realizados, sendo que h poucos registros sobre a evoluo do trabalho realizado e do reflexo desses programas na preveno do crime e da violncia, especialmente considerando que muitos programas trabalham com fatores de risco e de proteo e que no h informaes sistematizadas que possam servir para esse monitoramento.

No entanto, alguns programas mais especficos, como aqueles de preveno situacional e em hot spots conseguem estabelecer uma relao mais direta com a preveno do crime e da violncia, uma vez que avaliam o impacto atravs de indicadores mais objetivos, como o nmero de crimes.

Recomendaes

. Programas voltados para organizao e mobilizao da comunidade para participao nas decises sobre interesses da comunidade, especificamente no desenvolvimento de polticas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica.

. Programas voltados para evitar e para reduzir o envolvimento de grupos da comunidade com o crime e a violncia;

. Programas voltados para evitar a vitimizao e reduzir o impacto da vitimizao sobre as famlias, os grupos e a comunidade;

. Programas de preveno social do crime e da violncia, visando a reduzir os fatores de risco e a ampliar os fatores de proteo que afetam a incidncia e o impacto do crime e da violncia na comunidade, especialmente nas seguintes reas:

. Infra-estrutura urbana e habitao;

. Sade, educao, emprego, promoo social;

. Cultura, esporte e lazer;

. Segurana e justia;

. Programas de preveno situacional, visando a reduzir as oportunidades para prtica de crimes e violncias nas reas de risco (hot-spots).

4.6. A Polcia e a Preveno

O papel desempenhado pela polcia na preveno do crime e da violncia vem sendo estudado e pesquisado em diversos pases do mundo, especialmente nos Estados Unidos e Inglaterra. H uma polarizao do debate entre aqueles que argumentam que a polcia tem um papel central e aqueles que argumentam que a polcia tem um papel marginal na preveno do crime e da violncia. Mas diversos estudos e pesquisas procuram distinguir diferentes tipos de estratgias adotadas pelas polcias e avaliar o impacto destas estratgias sobre o crime e a violncia.

Nas dcadas de 1970 e 1980, uma srie de pesquisas mostrou as limitaes, do ponto de vista da preveno do crime, das estratgias tradicionais de policiamento centradas no aumento da presena policial, das operaes de patrulhamento, do nmero de prises, e da rapidez no atendimento de ocorrncias. Estes estudos contriburam para o desenvolvimento de uma srie de inovaes na rea da polcia, particularmente o policiamento comunitrio, o policiamento orientado para a resoluo de problemas, o policiamento orientado para a manuteno da ordem e na melhoria da qualidade de vida, e o policiamento direcionado para hot-spots (locais e horrios de alto risco de crime e violncia).

O direcionamento de policiais para hot-spots uma tpica ao de preveno situacional, freqentemente adotada junto a outras aes de preveno situacional utilizadas pela comunidade, como, por exemplo, a instalao de cmeras de televiso, para aumentar a vigilncia em locais com alta incidncia de crimes. Entretanto, o impacto do policiamento direcionado para hot-spots depende em grande parte do tipo de relacionamento existente entre a polcia e a comunidade (Sherman et al 1997).

O policiamento comunitrio e o policiamento orientado para a resoluo de problemas so direcionados para a reduo dos fatores de risco que contribuem para aumentar a incidncia de crimes e violncias na sociedade. H diferentes formas de policiamentocomunitrio, algumas delas se aproximam bastante do policiamento orientado para a resoluo de problemas. A principal diferena entre os dois tipos de policiamento que o policiamento comunitrio enfatiza a importncia do contato polcia-comunidade e a reduo de fatores conjunturais/situacionais que aumentam o risco de crimes na comunidade. O policiamento orientado para a resoluo de problemas enfatiza a importncia dos resultados da ao policial e a reduo dos fatores estruturais/sociais que aumentam o risco de crimes na comunidade. Sherman compara a estratgia de preveno do policiamento comunitrio estratgia adotada pelos servios de segurana privada e a estratgia do policiamento orientado para resoluo de problemas estratgia adotada pelos profissionais da sade pblica (Sherman 1995).

Segundo Sherman, a legitimidade da polcia e a existncia de prticas de responsabilizao da polcia capazes de assegurar esta legitimidade so fatores cruciais para a preveno do crime e da violncia (Sherman et al 1997).15 Estudos e pesquisas mostram que a legitimidade da polcia, particularmente a legitimidade decorrente do tratamento dispensado aos cidados, um fator que contribui para a preveno do crime e da violncia e, no caso dos cidados j envolvidos com a prtica de crimes e violncias, contribui para a preveno da reincidncia. Estudos e pesquisas disponveis indicam que h estratgias de policiamento eficazes na preveno do crime e da violncia, particularmente:

. Direcionamento do policiamento para hot spots em que h alto risco de crime e violncia;

. Direcionamento da investigao criminal e das prises para os casos dos criminosos envolvidos em crimes mais graves e em maior nmero de crimes;

. Direcionamento da investigao criminal e das prises para os casos de violncia domstica, quando os suspeitos tm emprego ou trabalho;

. Direcionamento da investigao criminal e das prises para os casos de pessoas dirigindo sob efeito de lcool;

. Direcionamento do policiamento para proteo de vtimas envolvidas em crimes graves e em maior nmero de crimes.

Indicam tambm que h estratgias ainda no suficientemente avaliadas, mas que podem ser consideradas promissoras, incluindo:

. Policiamento comunitrio quando a comunidade participa efetivamente da definio das prioridades para a preveno do crime e da violncia;

. Policiamento comunitrio quando a polcia e a comunidade priorizam o aumento da responsabilizao e da legitimidade da polcia e melhoria das relaes entre a polcia e a populao, inclusive as relaes com as vtimas e dos autores de crimes e violncias;

. Policiamento orientado para a manuteno da ordem, quando possvel resolver o problema de declnio da legitimidade da polcia e de deteriorao das relaes entre a polcia e a populao;

. Policiamento orientado para a resoluo de problemas;

. Policiamento direcionado para apreenso de armas.

H, entretanto, estratgias de policiamento que so consideradas pouco ou nada eficazes, e at contraproducentes, do ponto de vista da preveno do crime e da violncia.

. Policiamento comunitrio quando no h um claro direcionamento das aes da polcia e da comunidade para a preveno do crime e da violncia, mais especificamente para os fatores que aumentam e/ou diminuem o risco de crimes e violncias;

. Policiamento comunitrio centrado em programas de vigilncia de bairro (neighborhood watch)

. Policiamento para manuteno da ordem, quando no possvel resolver o problema de declnio da legitimidade da polcia e de deteriorao das relaes entre a polcia e a populao.

. Direcionamento da investigao criminal e das prises/apreenses para os casos de jovens/adolescentes envolvidos em crimes de pouca gravidade.

. Direcionamento da investigao criminal e das prises para pessoas envolvidas no trfico de drogas.

. Direcionamento da investigao criminal e das prises para os casos de violncia domstica, quando os suspeitos no tm emprego ou trabalho.

Programas Centrados na Polcia

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos no Brasil apresentados neste relatrio, seis esto centrados na polcia e onze incluem aes nesta esfera, apesar de estarem centrados em outras reas, particularmente escola, comunidade e sade. De um modo geral, os programas de preveno do crime e da violncia na esfera da polcia so recentes, ganhando importncia a partir do final da dcada de 1990, particularmente atravs de programas de polcia comunitria e de atendimento especializado a mulheres e a crianas e adolescentes vtimas de crimes e violncias. Ainda que existam programas desenvolvidos na dcada de 1980, muitos foram interrompidos e reiniciados ou reformulados na dcada de 1990.

Dentre os programas levantados, boa parte deles desenvolve atividades de policiamento comunitrio, incluindo a construo e implantao de bases comunitrias em locais especficos, aproximao com a comunidade por meio de reunies comunitrias, a realizao de diagnstico local sobre a situao da criminalidade e violncia, interao com organizaes comunitrias locais que prestam atendimentos a vtimas e agressores.

H programas visando criao de conselhos comunitrios ou municipais de segurana, integrando a polcia populao, a guardas municipais, a setores organizados da sociedade civil e a outros departamentos e rgos governamentais. Estes conselhos buscam construir, de forma compartilhada, o diagnstico do problema do crime e da violncia, bem como apontar as possveis aes a serem desenvolvidas para a melhoria da segurana pblica, dividindo e compartilhando as atribuies de cada ator. Em alguns casos, h tambm a elaborao de planos municipais de segurana que buscam aproximar e racionalizar as atividades das polcias, da guarda municipal e de outros rgos e secretarias municipais.

H programas voltados para o atendimento de vtimas do crime e da violncia, como delegacias especializadas e o Programa Bem Me Quer, desenvolvido em So Paulo e posteriormente implantado em outros estados, que integram o atendimento policial aos atendimentos mdico, jurdico, social e psicolgico, particularmente o atendimento a vtimas de determinados tipos de violncia, como a violncia domstica e sexual.

Programas realizados pela polcia, direcionados aos jovens, freqentemente incluem aconselhamentos e palestras sobre o crime e a violncia e especialmente sobre o uso de lcool e drogas em escolas.

De um modo geral, nos programas de preveno do crime e da violncia realizados na esfera da polcia, existe monitoramento em relao incidncia de crimes, uma vez que a prpria polcia quem produz os dados sobre crimes. No entanto, ainda baixo o grau de organizao desse acompanhamento estatstico, especialmente no que diz respeito continuidade do acompanhamento no tempo e integrao das informaes sobre crimes com outras informaes relevantes para o monitoramento e a avaliao do resultado dos programas de preveno da violncia.

Recomendaes

. Programas de apoio ao policiamento orientado para a resoluo de problemas;

. Programas de apoio ao policiamento comunitrio, quando:

. A comunidade efetivamente participa das decises sobre as prioridades na preveno do crime e da violncia;

. A polcia e a comunidade priorizam a responsabilizao e a legitimidade da polcia.

. Programas de apoio ao policiamento orientado para a manuteno da ordem e da qualidade de vida, quando:

. possvel resolver o problema de responsabilizao e legitimidade da polcia.

. Programas de apoio ao policiamento orientado para reas e horrios de maior risco de crimes (hot-spots).

. Programas de apoio ao policiamento orientado para controle do comrcio e porte de armas de fogo e para apreenso de armas de fogo ilegais, especialmente programas direcionados a:

. reas de risco de crimes praticados com arma de fogo;

. Rastreamento da propriedade de armas de fogo;

. Imposio de controles exigidos pela lei para venda de armas;

. Imposio de controles exigidos pela lei para compra, registro e porte de arma.

. Programas de apoio ao policiamento direcionado para preveno da direo de veculo sob efeito de lcool;

. Programas de apoio investigao criminal e percia tcnica voltados para os casos de crimes mais graves, de criminosos com crimes mais graves e mais freqentes, e de vtimas de crimes mais graves e mais freqentes;

. Programas de apoio investigao criminal e percia tcnica voltados para os casos de violncia familiar ou domstica e violncia sexual;

. Programas de reduo da lentido na tramitao dos inquritos policiais;

. Programas de reduo do nmero de pessoas presas em delegacias de polcias;

. Programas voltados para a limitao e controle do uso da fora em aes policiais;

. Programas de apoio ao registro, compartilhamento, anlise e uso de informaes sobre a incidncia do crime e a estrutura e funcionamento do sistema de segurana pblica, voltados para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno;

. Programas de apoio ao estudo e pesquisa sobre a estrutura e funcionamento do sistema de segurana pblica, e sua relao com a preveno do crime.

4.7. A Justia e a Preveno

A Justia tem um papel central na preveno do crime e da violncia, nem sempre reconhecido pela populao que v as organizaes do sistema de justia criminal e istrao penitenciria como organizaes responsveis simplesmente pela aplicao e execuo de punies aos autores de crimes e no como organizaes responsveis pela preveno de crimes na sociedade.

Entretanto, as punies aplicadas e executadas pelo sistema de justia criminal e istrao penitenciria no tm como objetivo apenas a retribuio do mal causado sociedade pelos autores dos crimes. Tm como objetivo, principalmente, a reabilitao e reintegrao social, profissional e familiar dos autores de crimes, e/ou a sua deteno e incapacitao para a prtica de novos crimes. Neste sentido, as organizaes do sistema de justia criminal e istrao penitenciria tm um papel central na preveno da reincidncia criminal e conseqentemente na preveno do crime e da violncia na sociedade, na medida em que a reincidncia criminal contribui para o aumento dos crimes e violncias na sociedade. Alm disso, a ameaa de punio por parte das organizaes do sistema de justia criminal e istrao penitenciria aumenta o risco e o custo da prtica de crimes. , portanto, um fator de dissuaso que tambm contribui para a preveno da reincidncia criminal e para a preveno do crime e da violncia na sociedade. Alm disso, a Justia tambm tem um papel fundamental na preveno do crime e da violncia na medida em que o sistema judicirio uma das instncias de resoluo de conflitos interpessoais e coletivos que, se no resolvidos, podem se intensificar e aumentar o risco de crimes e violncias na sociedade. Com relao punio, os estudos e pesquisas disponveis indicam que a forma pela qual o sistema de justia criminal aplica e executa as punies e trata os autores de crimes tem um impacto significativo sobre a reincidncia criminal e a incidncia de crimes e violncias na sociedade. So fatores importantes o respeito lei e aos direitos dos agressores, bem como a consistncia na aplicao e execuo das punies. H pouca evidncia, entretanto, de que o aumento das punies, especificamente o aumento da utilizao da pena de priso, contribui para a preveno criminal.

So considerados eficazes do ponto de vista da preveno criminal:

. Programas de reabilitao e reinsero social, profissional e familiar, desde que sejam estruturados e compreensivos, adequados s necessidades dos participantes, centrados no desenvolvimento de habilidades educacionais, profissionais e sociais, e no reforo de regras de comportamento, e no simplesmente ao fortalecimento da auto-estima, e caracterizados por um relacionamento positivo entre as pessoas responsveis pela implementao e os participantes do programa.

. Penas de priso para pessoas que cometem crimes graves ou reincidem freqentemente;

. Penas alternativas priso, para crimes menos graves, variveis de acordo com o tipo de crime e a situao do agressor;

. Programas para tratamento da dependncia qumica na priso.

Jovens

Na rea da Justia, h organizaes e profissionais responsveis especificamente pelo tratamento de adolescentes autores de atos infracionais. No Brasil, como em outros pases, os adolescentes se tornam alvo de medidas socioeducativas visando a sua reabilitao e reinsero social, profissional e familiar, no momento em que do entrada no sistema de justia. A gravidade e freqncia dos atos infracionais so os parmetros para definio das medidas a serem aplicadas ao jovem. H consenso na literatura internacional, e na brasileira, de que quanto mais perto da comunidade estiver o adolescente em cumprimento das medidas scio-educativas, melhores so os resultados obtidos. Estudos internacionais do muito destaque s aes de preveno do crime e da violncia realizadas pelas organizaes que atendem aos jovens infratores. Dois tipos de programas mostram bons resultados: aqueles com enfoque na reabilitao (em detrimento dos que possuem enfoque punitivo) e os com superviso comunitria. Inmeras avaliaes mostraram a no eficincia dos programas que incutem o medo e a punio, aqueles de abordagem militar e os que priorizam apenas o aconselhamento individual ou coletivo dos jovens. Entretanto, os programas com base na reabilitao recebem dos avaliadores internacionais a mesma crtica feita no Brasil: embora a reabilitao seja o objeto principal das aes, na prtica, so muito pobremente implementados, devido a fatores financeiros, gerenciais e relacionais (Sherman et al 1997).

A anlise de 443 diferentes programas norte-americanos avaliados mostrou que, em mdia, a taxa de reincidncia caiu de 50% entre os adolescentes que no aram por programa de reabilitao para 45% entre os adolescentes que aram por programas de reabilitao. Considerando-se apenas os adolescentes que aram por programas de reabilitao mais estruturados e compreensivos isto , adequados s necessidades dos participantes, centrados no desenvolvimento de habilidades educacionais, profissionais e sociais, no reforo de regras de comportamento, e caracterizados por um relacionamento positivo entre as pessoas responsveis pela implementao e os participantes do programa a taxa de reincidncia cai ainda mais, ficando entre 32%-38% (Sherman et al 1997).

Um interessante exemplo de interveno intensiva com jovens que deram entrada na Justia Juvenil da Flrida/EUA baseado na linha sistmica, englobando o jovem, sua famlia e comunidade (Cervenka et al. 1996). efetuado na prpria casa do jovem em cumprimento de medida. Um consultor de campo se encontra com a famlia por uma hora, no mnimo trs vezes por semana, durante aproximadamente 10 semanas. Todos os familiares que vivem na casa fazem parte dos encontros. Aps esse perodo de contato intensivo, a comunicao permanece atravs de contato telefnico com os pais, durante quatro anos, visando a monitorar o funcionamento familiar e o nvel de estresse.

A interveno baseada na disponibilizao de servios de apoio, ados pela instituio, de acordo com a prioridade demonstrada por cada famlia (usados para ajudar a famlia a se conectar com seus prprios recursos). Trabalha com o e e o empoderamento da famlia em seu ambiente natural, e no com suas fraquezas. Assumese que os pais tm capacidade para identificar o que melhor para a famlia, buscando-se respeitar e apoiar os valores do sistema familiar. As metas que os servios desenham para o empoderamento da famlia so: reestruturar limites; restaurar a hierarquia familiar; estimular habilidades parentais mais efetivas; restaurar a organizao pela adoo de limites (o que aceitvel e o que no ), estabelecendo regras e delegando tarefas apropriadas para a idade, acordadas entre todos os membros da famlia; dar e aos pais para tomarem a responsabilidade do bemestar da criana/adolescente; aumentar habilidades para comunicao entre os membros; desenvolver habilidade em resolver problemas.

Tambm so postuladas metas para a famlia, desenvolvendo sua auto-estima e a capacidade da criana/adolescente. Defende-se que a criana/adolescente em conflito com a lei deve: ser ouvida e aceita, no ser identificada como um problema. Sua famlia precisa: dar uma trgua ao comportamento antigo, oferecendo a possibilidade de um novo comeo; criar um ambiente de segurana, onde temas como drogas, dificuldades entre pares, problemas na escola e outros possam ser discutidos livremente, sem conseqncias. A criana/adolescente necessita ser retirada do lugar de poder (posio freqentemente ocupada por infratores que possuem recursos, autonomia no mundo infracional e/ou liderana na famlia) e colocada como um igual entre os irmos, sendo, porm, reconhecida como uma pessoa nica e especial.

O programa estabelece quatro fases da ateno. A primeira fase a de coleta de dados, que se inicia no primeiro encontro, momento crtico para o resultado da interveno. comum que muitas famlias tenham sido tratadas de forma desrespeitosa por outras instituies, chegando ao servio desconfiadas ou resistentes. So acionados mecanismos sociais de apoio econmico, social e profissional. A fase intermediria refora esses pontos,procurando apontar o que est mudando e o que no est. Reduz-se o nmero de contatos.

A fase seguinte a de trmino, duas semanas antes da graduao, momento em que se finaliza o atendimento. Nesse encontro, que lembra o momento da graduao acadmica, feita uma checagem sobre alguns pontos cruciais, como hierarquia, limites, empoderamento, problemas, comunicao, regras/tarefas e conexo com outros sistemas sociais. Nessa fase, comum ocorrerem novamente comportamentos disfuncionais como os apresentados antes do tratamento, que o consultor deve estar apto a lidar, j que h incerteza quanto ao funcionamento familiar sem a presena do consultor. Pensar medidas de preveno e promoo uma tarefa ainda mais difcil quando os jovens esto inseridos em gangues juvenis. Estudos internacionais sobre a efetividade dos programas atuarem sobre esses grupos ressaltam a dificuldade de generalizao dos resultados obtidos pela diversidade de organizao e atuao dos grupos juvenis. Avaliaes desses programas mostraram efeito fraco ou inexistente sobre a violncia cometida pelas gangues.

Muitas aes realizadas sobre esses grupos inclusive as aes policiais tendem a reforar a coeso do grupo e aumentar sua identificao infracional. Contudo, essa forma de atuao considerada promissora quando consegue reduzir a coeso do grupo e quando est associada a intervenes em problemas estruturais na comunidade. Programas escola-res e comunitrios so realizados geralmente com a presena de orientadores que moni-toram o comportamento dos jovens.

Alguns itens so considerados essenciais para que um programa que atue sobre gangues juvenis seja bem sucedido:

(1) as comunidades no podem negar a existncia do problema das drogas e de gangues;

(2) deve-se voltar para jovens de mdio ou alto risco, com abordagem intensiva e multifacetada, focalizando o desenvolvimento de habilidades (como a resoluo de conflitos), desestimulando crenas, atitudes e valores que reforcem comportamentos antisociais;

(3) oferecer alternativas para o envolvimento dos jovens das gangues, como programas recreacionais, eventos escolares, trabalho;

(4) deve ser conduzido nas prprias comunidades dos jovens, envolvendo as famlias e a escola;

(5) a equipe que o dirige deve ser bem treinada, capaz de sentir empatia pelos jovens e de compreender a cultura juvenil, sem desmerecer ou depreciar suas crenas;

(6) procurar associar-se ao mundo do trabalho, propiciando oportunidades de treinamento profissional e emprego;

(7) seus objetivos devem ser especficos e resultar em alguma forma oficial de sucesso, como por exemplo, um diploma;

(8) compreender que a reincidncia normal (especialmente para os usurios de lcool e drogas e para alguns comportamentos sociais negativos) e que o tratamento um processo contnuo, mais do que um nico episdio. Tcnicas de preveno de reincidncia devem sempre ser utilizadas para facilitar a adaptao do jovem comunidade.

Brasil

Estudo nacional realizado com adolescentes em conflito com a lei de Recife e do Rio de Janeiro identificou distines entre os jovens das duas cidades. No Rio de Janeiro, a influncia do trfico predomina e os grupos formados so muito mais voltados para os interesses econmicos de cada boca de fumo. Em Recife, os jovens se agregam mais em funo do seu bairro e dos interesses comuns aos grupos de cada localidade (Assis, 1999). Essas diferenas poderiam se encaixar dentro do que Zaluar (1997) define como quadrilhas e galeras. As primeiras costumam ter hierarquia bem definida e possuir pequeno nmero de pessoas que se organizam com a finalidade de desenvolver atividades ilegais para o enriquecimento de seus membros. J as galeras se caracterizariam por serem organizaes sem chefia instituda, regras explicitadas e rituais de iniciao, geralmente com estreita relao com os bairros em que vivem, que se renem mais para atividades recreativas.

Grupos de jovens de classe mdia tambm so reconhecidos pela violncia no pas. Sejam eles os jovens de Braslia que queimaram vivo um ndio, ou alguns lutadores de artes marciais, que cultivam gestos e atitudes agressivas, colecionando episdios de violncia, numa cultura em que a pedagogia da briga e os valores machistas se mostram profundamente arraigados (Minayo et al., 1999). Poucas aes conjuntas preventivas sobre esses grupos tm sido feitas no pas, desconhecendo- se suas formas de organizao e atuao. Menos ainda se sabe sobre os mecanismos de preveno da violncia mais indicados para esses to variados grupos. Um outro tpico que tem tido destaque no Brasil quando se pensa em preveno da violncia e promoo de segurana se refere s medidas para melhorar as condies de ressocializao do jovem em conflito com a lei, especialmente aquele privado de liberdade, geralmente afastado da comunidade e da famlia.

No que se refere conduo das medidas de Liberdade Assistida e Semiliberdade, alguns municpios brasileiros tm sado frente com estratgias de mobilizao comunitria. Alguns exemplos so os municpios de Santo ngelo/RS, Boa Vista/RR, Recife/PE e Belo Horizonte/MG. Nesses locais, a participao da comunidade se destaca, inserindo-se, freqentemente, a figura de orientadores comunitrios voluntrios que acompanham o adolescente no dia a dia, dando e ao tcnico responsvel pelo jovem. Todavia, em parte significativa dos municpios brasileiros, ainda perduram: o distanciamento da comunidade na implementao das medidas socioeducativas, a precariedade das intervenes sociais e cognitivas de apoio famlia do jovem e o atendimento socioeducativo mais focalizado na punio e no na ressocializao juvenil.

Criatividade ainda menor a dos servios que atendem jovens em situao de privao de liberdade. Os avanos conceituais sobre as formas de atendimento e preveno da infrao juvenil alcanados no Brasil na ltima dcada, que distanciam os antigos modelos punitivos das perspectivas atuais (que priorizam modelos pedaggicos de ateno e desenvolvimento de potencialidade), ainda no foram suficientes para reverter a prtica institucional conservadora de institucionalizao, secularmente arraigada. A despeito da nova doutrina, muitas instituies tm contribudo pouco para a promoo de qualidade de vida, sade mental, cidadania dos usurios do sistema, ressocializao e reduo da reincidncia (Oliveira e Assis, 1999). Ao contrrio, muitas vezes permitem ou produzem formas significativas de violao aos direitos humanos, sobretudo quando a infrao cometida e a medida aplicada so de maior gravidade. (Xaud, 1999; Brasil, 2002).

O retorno do adolescente privado de liberdade ao seu lar e comunidade um momento delicado e usualmente no acompanhado pelas instituies, facilitando, para muitos jovens, o retorno ao mundo infracional. As ms condies da estrutura de grande parte das instituies brasileiras (lotao, adequao do espao proposta socioeducativa), os modelos de ateno e as formas como so executadas as atividades socioeducativas constituem outro ponto fundamental de interesse para o campo de reflexo sobre as medidas preventivas e para a noo de promoo de condies de vida para esses jovens e suas famlias. A constatao da realidade vivenciada em muitas instituies brasileiras ilustra o quo distante para esses jovens esto os paradigmas da preveno e promoo (Assis e Constantino, 2003).

A dificuldade de atuar preventivamente e de forma a promover condies de reaprendizado social nessas instituies fechadas um dos mais srios imes a serem enfrentados. Uma das poucas tentativas observadas foi a do Programa Escola de Paz, em desenvolvimento pela Unesco na rede pblica de ensino de boa parte do pas, que durante alguns meses tentou levar a noo de cultura de paz aos adolescentes em privao de liberdade do Rio de Janeiro. A falta de continuidade dos programas, a precariedade dos registros dos programas institucionais e a inexistncia de avaliaes dificultam a socializao de experincias e impedem a real compreenso do estado da arte da preveno da violncia juvenil e da promoo da segurana pblica no pas.

Recomendaes

. Priorizar programas com enfoque na reabilitao e de superviso comunitria;

. Integrar programas de preveno direcionados aos jovens em conflito com a lei a programas de preveno mais universais, especialmente aqueles voltados preveno da violncia familiar;

. Estimular programas de preveno da violncia em nvel escolar;

. Associar s aes do programa, incentivos ao apoio econmico e social aos jovens e suas famlias;

. Os programas devem agir junto com as comunidades propondo a reduo do o do jovem ao lcool, drogas e armas de fogo;

. Criar programas para tratamento do uso de substncias psico-ativas;

. Realizar pesquisas e avaliaes nacionais sobre os programas de preveno violncia e promoo de segurana, visando gesto mais precisa e frutfera dos recursos pblicos e privados.

Programas Centrados na Justia

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no Brasil apresentados neste relatrio, cerca de 19 so centradas na rea da Justia e outros 16 tm um componente na rea da Justia apesar de estarem centrados em outras reas, como famlia, trabalho, comunidade e sade. Muitos programas de preveno do crime e da violncia na esfera da Justia comearam a ser implementados a partir da dcada de 1990. No sistema de justia criminal, h promotorias e varas especializadas no atendimento de adolescentes em conflito com a lei que desenvolvem programas voltados para aplicao e execuo de medidas socioeducativas em meio aberto (liberdade assistida e prestao de servios comunidade). Seja por meio de organizaes no-governamentais, seja por meio de prefeituras, h diversos programas centrados no atendimento aos adolescentes cumprindo medida socioeducativa em meio aberto. H programas que tm por objetivo incentivar a municipalizao do atendimento, para que a execuo das medidas scio-educativas seja feita na comunidade de residncia dos adolescentes. Estes programas podem incluir acompanhamento jurdico, atendimento individual e em grupo e famlia, insero em cursos profissionalizantes, estgios e pagamento de bolsas, visitas domiciliares, insero do adolescente e da famlia na rede de servios, atividades culturais e artsticas, e encaminhamento escola.

No sistema penitencirio, h programas que oferecem capacitao profissional e trabalho para o preso. H tambm programas educacionais e programas de incentivo leitura e redao, e prtica de esporte, jardinagem, teatro, pintura e dana. Outro foco de programas a execuo de penas alternativas priso que se concretiza por meio da implantao de centrais de penas e medidas alternativas, responsveis por captar vagas em instituies sociais para o apenado, encaminh-lo e acompanh-lo na execuo da pena alternativa, bem como supervisionar e apoiar tecnicamente comarcas que desenvolvem o programa.

Na rea da Justia, h diversos programas que visam a descentralizar o atendimento jurdico, aproximando a populao do Poder Judicirio e/ou oferecendo a possibilidade de mediao e resoluo pacfica de conflitos em comunidades mais distantes e com pouca infra-estrutura urbana. Tais programas contribuem para realizao de acordos judiciais e extrajudiciais, prestam outros tipos de servios como emisso de documentos e realizam oficinas e palestras sobre direitos e justia. Nessa linha, h programas que prestam orientao e encaminhamento jurdico, desde que o interessado participe ativamente do encaminhamento da demanda, incentivando o protagonismo do cidado que tiver um direito violado. Existem centros e ncleos de atendimento a vtimas de crimes violentos e a familiares de vtimas fatais, em funcionamento em vrios estados, com apoio do governo federal. Estes centros oferecem atendimentos multidisciplinares (jurdico, social e psicolgico) para as vtimas e familiares, e procuram garantir, entre outros objetivos, o o da vtima justia e a responsabilizao dos agressores.

H tambm, em vrios estados, com apoio do governo federal, programas de proteo a vtimas e testemunhas ameaadas em funo de participao em processo criminal, cujo objetivo garantir a proteo integral das mesmas durante o processo criminal. H ainda muitos programas de atendimento a mulheres e crianas e adolescentes vtimas de violncia domstica e sexual, com componente na rea da Justia. De uma forma geral, os resultados dos programas so auferidos pelo nmero de atendimentos. No caso da execuo das medidas socioeducativas, poucos programas fazem o acompanhamento da reincidncia e do aumento ou diminuio da aplicao da medida de internao. No caso de proteo de testemunhas, h tambm acompanhamento do nmero de casos resolvidos com o auxlio do programa (quadrilhas desbaratadas e rus condenados). No entanto, falta articulao entre os indicadores disponveis para o monitoramento dos programas, bem como a sistematizao dos atendimentos realizados pelos programas de forma a possibilitar a construo de indicadores mais objetivos.

Recomendaes

. Programas de reduo da lentido na tramitao dos processos judiciais;

. Programas de reduo da desigualdade no o ao sistema de justia e da desigualdade no tratamento das pessoas e das comunidades pelos profissionais e organizaes do sistema de justia;

. Programas de apoio resoluo extrajudicial e comunitria de conflitos;

. Programas de reduo do nmero de pessoas presas preventivamente, aguardando julgamento;

. Programas de proteo a vtimas e testemunhas ameaadas em razo de participao em inqurito policial e processo judicial;

. Programas de reabilitao e reinsero familiar, profissional e social, dirigidos a adultos cumprindo pena pela prtica de crime e para adolescentes em medida scioeducativa pela prtica de ato infracional, com as seguintes caractersticas:

. Estruturados e direcionados para as caractersticas e as necessidades dos participantes;

. Centrados no desenvolvimento de habilidades acadmicas, profissionais e sociais dos participantes;

. Centrados nos incentivos para mudanas de comportamento;

. Implementados de forma adequada, pelo tempo necessrio;

. Integridade nas relaes entre agentes responsveis pela implementao e participantes.

. Programas de apoio aplicao e execuo de penas alternativas e medidas scioeducativas em meio aberto, direcionados para:

. Crimes e infraes menos graves;

. Adultos e adolescentes com baixa reincidncia;

. Casos em que penas alternativas possuam maior eficcia e/ou melhor relao custo-benefcio.

. Programas de limitao da aplicao e execuo da pena de priso e medidas de internao

aos crimes e infraes mais graves e aos adultos e adolescentes com alta reincidncia;

. Programas de apoio famlia de adultos cumprindo pena pela prtica de crime e de adolescentes em medida scio-educativa pela prtica de ato infracional, especialmente nos casos de pena de priso e medida de internao;

. Programas de apoio expanso e aperfeioamento do papel da comunidade na reabilitao, tratamento e reinsero familiar, profissional e social dos adultos cumprindo pena pela prtica de crimes e adolescentes em medida socioeducativa pela prtica de ato infracional;

. Programas de apoio ao registro, compartilhamento, anlise e uso de informaes sobre o processo judicial e a execuo penal, bem como sobre a estrutura e funcionamento dos sistemas de justia criminal e istrao penitenciria, voltados para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno;

. Programas de apoio ao estudo e pesquisa sobre a estrutura e funcionamento do sistema de justia criminal e istrao penitenciria, e sua relao com a preveno do crime.

4.8. A Sade e Preveno

Desde a dcada de 1970, inicialmente nos Estados Unidos e depois em outros pases do mundo, cresceu a ateno dos profissionais da sade ao problema da violncia devido ao reconhecimento do impacto causado por ela sobre a sade das pessoas e das comunidades e do custo da violncia para as instituies do sistema de sade. Inicialmente, o setor de sade adotou uma abordagem reativa e teraputica, centrada no atendimento e tratamento das vtimas da violncia. Posteriormente, principalmente no setor da sade pblica, os profissionais da sade aram a adotar uma abordagem mais pr-ativa e preventiva, procurando identificar a natureza e controlar a extenso do problema da violncia na sociedade, identificar suas causas e possveis solues, e aplicar amplamente as medidas adequadas para solucionar o problema.

Na rea da sade, adota-se uma tipologia que classifica as diversas manifestaes de violncia em trs tipos principais:

a) violncia contra si mesmo;

b) violncia interpessoal, entre as quais possvel distinguir a violncia familiar e a violncia na sociedade, a violncia contra crianas, parceiros, idosos, jovens, pessoas conhecidas, pessoas estranhas, e a violncia sexual;

c) violncia coletiva.

Compreende-se ainda que a violncia um fenmeno complexo, multicausal, cuja incidncia e impacto so influenciados por fatores na esfera individual, dos grupos mais prximos, da comunidade local e da sociedade. A partir da identificao da natureza e das causas da violncia presente na sociedade, procura-se definir estratgias de preveno primria, secundria e terciria, direcionadas para a populao em geral, pessoas ou grupos em situao de risco, ou pessoas e grupos que j se tornaram autores ou vtimas violncia. As violncias interpessoais, na esfera da famlia e da comunidade, em muitas das suas formas tipificadas como crime, so objetos de preocupao, tanto dos profissionais de sade quanto dos profissionais da rea da segurana pblica e da justia criminal. Aes de preveno da violncia tm sido desenvolvidas pelos profissionais da sade em diversos pases do mundo, direcionadas a fatores de risco na esfera individual, dos grupos mais prximos, da comunidade mais prxima e da sociedade em geral, entre as quais se destacam:

. Na esfera individual, h programas com o objetivo de promover atitudes e comportamentos para proteger as crianas e jovens enquanto crescem e programas com o objetivo de modificar atitudes e comportamentos de pessoas que j se envolveram com a violncia, sejam como autores ou como vtimas. Destacam-se os programas educativos, inclusive sobre o abuso de drogas, programas de desenvolvimento de habilidades sociais e de autocontrole, programas de aconselhamento e apoio, e programas de tratamento mdico.

. Na esfera dos grupos mais prximos, h diversos programas com o objetivo de melhorar o relacionamento ou resolver problemas de relacionamento interpessoal, e so direcionados para as relaes familiares e para relaes com colegas e amigos, na escola e ou na comunidade. Destacam-se os programas de visitas domiciliares, programas de instruo sobre relaes pais-filhos, programas de terapia familiar, programas de desenvolvimento de habilidades de relacionamento.

. Na esfera da comunidade local, os programas tm por objetivo sensibilizar, organizar e mobilizar os membros da comunidade, especialmente dos profissionais da sade, para identificar a presena de manifestaes de violncia nos seu estgio inicial ou de fatores de risco de violncia, bem como para atuar na preveno da violncia e no atendimento, assistncia e tratamento das vtimas da violncia.

. Na esfera da sociedade, h aes visando adoo de leis e polticas com o intuito de promover o desenvolvimento de programas e aes visando a identificar a natureza e as causas da violncia que atinge os usurios do sistema de sade, bem como medidas de preveno primria, secundria e terciria para reduzir a mortalidade e morbidade decorrente de violncias.

Brasil

No Brasil, o PROGRAMA DE SADE DA FAMLIA PSF um exemplo de programa de preveno desenvolvido na esfera da sade, de abrangncia nacional, direcionado para a famlia e a comunidade.Criado em 1993 pelo Ministrio da Sade, hoje atende a 13 milhes de pessoas em comunidades (http://www.hospitalar.com/arquivo_not/not1020.html). Tem como caractersticas essenciais o fato da famlia, e no o indivduo, constituir a referncia para as prticas de sade, a viso da interveno ativa e preventiva, e a integrao com a comunidade. As principais atividades do programa so: diagnstico de sade da comunidade, visita domiciliar, participao em grupos comunitrios, atendimento nas unidades e estabelecimentos de referncia e contra-referncia.

Um manual de apoio especfico sobre o tema da violncia familiar auxilia as equipes responsveis pelo Programa Sade da Famlia, ampliando a capacidade de atuao preventiva em relao violncia contra crianas, adolescentes, mulheres, idosos, portadores de deficincia, alm de discutir a articulao entre masculinidade e violncia (Deslandes e Assis, 2003). Embora a equipe, composta por mdicos, enfermeiros e agentes comunitrios, esteja em contato prximo com as famlias, h muitas dificuldades no que se refere atuao frente violncia familiar, sejam elas devidas a resistncias individuais, normas culturais, inexistncia de e e recursos institucionais e insegurana comunitria (Cavalcanti, 2002).

Este programa combina servios e atividades universais e localizadas: atende tanto a famlias em geral como quelas com elevado grau de vulnerabilidade. um programa baseado na comunidade, que atinge as famlias da comunidade (incluindo as vtimas de maus-tratos ou potencialmente vtimas), e coloca os pais em posio privilegiada, tanto para receber o atendimento como para dar andamento s aes desenvolvidas Atualmente, a rea da sade vivencia um momento frtil na rea da atuao frente violncia, havendo um crescimento significativo de aes realizadas pelas Secretarias Estaduais e Municipais dos Estados, com apoio do Ministrio da Sade, em unidades do sistema de sade, na comunidade e na famlia. Atividades de monitoramento das notificaes de violncia contra a criana e adolescente hoje fazem parte de estratgias de muitas secretarias de sade, contribuindo para a preveno da violncia medida que fornecem a dimenso e gravidade da violncia na sociedade, possibilitando a conscientizao da populao sobre o fenmeno e a definio de prioridades para preveno e atendimento. Recentemente foi aprovada uma lei que estabelece a notificao compulsria dos casos de violncia contra a mulher, fato que deve estimular o registro e dar novo foco ao atendimento a esse grupo nos servios de sade.

Uma forma de preveno que tem se disseminada atravs da rea da sade a de capacitao de profissionais para a deteco e atendimento vtima de violncia e seus familiares. Em todo o pas, Secretarias Estaduais e Municipais e vrios hospitais tambm tm criado seus prprios servios, que assumem contribuir para o atendimento e a preveno da violncia atravs da capacitao profissional e da ateno especializada. Programas de atendimento a crianas e adolescentes vtimas de violncia tm sido criados em vrios hospitais pblicos brasileiros, com aes de preveno primria, secundria e terciria, propondo atendimento biopsicossocial famlia, alguns deles incluindo grupos de orientao aos pais.

A emergncia hospitalar um outro local em que atividades de preveno de crimes e violncias podem ser realizadas (embora efetivamente ainda no o sejam). Estudo feito em dois hospitais de emergncia do Rio de Janeiro mostra que tanto pacientes que tentaram suicdios, como crianas, adolescentes e mulheres vtimas de violncia que buscaram atendimento no foram alvos de medidas preventivas significativas. Pelo contrrio, vrios desses pacientes foram atendidos sem que se questionasse a violncia sofrida. O atendimento voltou-se exclusivamente para as queixas clnicas (Deslandes, 1999). Mesmo que a prtica ainda esteja distante da teoria, um avano o exemplo articulado do Conselho Regional de Medicina de So Paulo, Escola Paulista de Medicina e Sindicato dos Mdicos do Estado, que propem a integrao do atendimento s vtimas de violncia (CRMES, APM, SIMESP, 1998) e a definio do papel de cada nvel da ateno. Muitas organizaes no-governamentais tambm atuam nessa rea, com a participao de profissionais da sade, algumas delas capitaneando as aes de preveno da violncia contra a criana/adolescente e contra a mulher no pas.

Programas Centrados na Sade

Dos 109 programas de preveno do crime e da violncia em desenvolvimento no Brasil apresentados neste relatrio (ver seo 7), seis esto centrados na rea da sade. Outros 21 programas, apesar de estarem centrados em outras reas, tambm desenvolvem aes na sade. Programas centrados na famlia, que atendem mulheres ou crianas e adolescentes vtimas de violncia familiar, e programas centrados na comunidade que atendem a vtimas e familiares de crimes violentos freqentemente contam com a participao de profissionais da rea da sade, tais como atendimento mdico e psicolgico, por exemplo.

A maioria dos programas tem como preocupao central a sade das vtimas de violncia. H tambm aqueles voltados para a sade de crianas e adolescentes em situao de risco. E, por fim, existem programas direcionados para o problema das drogas. Alguns programas se iniciaram no incio da dcada de 90, mas a maioria bastante recente. Os programas direcionados para as vtimas de violncia desenvolvem dois tipos de intervenes principais: atendimento s vtimas e capacitao de profissionais. O atendimento realizado especialmente por profissionais da rea mdica e psicolgica e direcionado a vtimas de todas as formas de violncia, sendo que alguns programas demonstram preocupao direta com as vtimas de violncia sexual. A capacitao de profissionais interveno tambm bastante freqente e visa a preparar os profissionais das reas da sade para receber, atender e trabalhar com as vtimas de violncia. Tambm os programas que esto voltados para a sade dos jovens trabalham com a capacitao profissional. Encontramos exemplos de programas de capacitao permanente dos profissionais que trabalham na rea da infncia e da adolescncia e de capacitao de profissionais visando preveno da morbi-mortalidade resultante de causas externas (tanto intencionais como acidentais).

De um modo geral, h pouco acompanhamento e monitoramento dos resultados do trabalho realizado. Os indicadores mais freqentes so o nmero de participantes dos trabalhos de capacitao e de atendimentos realizados, sendo que h poucos registros sobre a evoluo do trabalho realizado e o reflexo desses programas na preveno da violncia.

Recomendaes

. Programas de preveno e tratamento de problemas relacionados ao consumo de lcool e drogas;

. Programas de preveno e tratamento de problemas psico-sociais e biolgicos que aumentam o risco de comportamentos violentos;

. Programas de apoio ao registro, compartilhamento, anlise e uso de informaes sobre a incidncia e o impacto da violncia na sociedade, voltados para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno;

. Programas de apoio ao estudo e pesquisa sobre violncia e preveno da violncia.

5. Metodologia para Desenvolver Polticas e Programas de Preveno do Crime e da Violnvia: Como Fazer a Preveno do Crime e da Violncia?

Crimes e violncias so problemas de segurana pblica com caractersticas e causas que variam muito, dependendo do tipo de crime e de violncia, das pessoas envolvidas e das circunstncias em que ocorrem, cujas solues nem sempre so conhecidas pelos profissionais das diversas reas que lidam com estes problemas. fundamental, portanto, ampliar o conhecimento sobre as caractersticas e as causas dos crimes e violncias na sociedade, e as possveis solues para estes problemas, atravs de estudos, pesquisas e particularmente do monitoramento e avaliao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidas em cada pas, estado, cidade ou bairro. Estudos e pesquisas realizados em diferentes pases no so suficientes para determinar o que funciona e o que no funciona em matria de preveno do crime e da violncia, particularmente porque polticas e programas que funcionam em um contexto freqentemente no podem ser implementadas ou no funcionam em outros contextos. Mas estes estudos e pesquisas mostram com relativa clareza que alguns tipos de polticas e programas tm menos chances de prevenir efetivamente o crime e a violncia:

a) polticas e programas apoiados simplesmente em aes de polcia e de justia;

b) polticas e programas desenvolvidos sem planejamento e sem monitoramento e avaliao da sua implementao e dos seus resultados; e

c) polticas e programas sem a participao da sociedade.

Ainda que estas polticas e programas possam ter um efeito positivo no curto prazo, dificilmente so sustentveis e produzem resultados positivos a mdio e longo prazo. Na seo anterior, este relatrio apresentou o resultado de estudos e pesquisas sobre programas de preveno do crime e da violncia em diversas reas, incluindo famlia, escola, trabalho, comunidade, mdia, polcia, justia e sade, enfatizando que tm mais chance de ser bem-sucedidas as polticas e programas que so compreensivos e localizados, isto , dirigidos para reas e grupos de risco e para os mltiplos fatores de risco e de proteo associados ao problema que ser quer resolver, e tambm as polticas e programas que so implementados de forma contnua e permanente, por um perodo suficiente para produzir e consolidar os resultados desejados, com a participao da sociedade. Nesta seo, o relatrio apresenta uma metodologia para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, com o objetivo de auxiliar os profissionais diretamente envolvidos no desenvolvimento destas polticas e programas a aperfeioar o seu trabalho e de aumentar a legitimidade, eficcia e eficincia das polticas e programas nesta rea.

A metodologia apresentada nesta seo um guia para ao, til para profissionais de diversas reas, envolvidos na preveno de diversos tipos de crime e de violncia, em diversos estados, cidades ou bairros. Assim, a metodologia no prescreve mtodos e aes especficas, adequadas a situaes especficas, para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia. A metodologia descreve e explica os os fundamentais deste processo incluindo principalmente planejamento, implementao, monitoramento e avaliao , que devem orientar a definio de mtodos e aes especficas, adequadas para o desenvolvimento destas polticas e programas, que s podem ser feitas pelos profissionais diretamente envolvidos no processo, levando em considerao o contexto no qual acontece. Esta metodologia foi desenvolvida a partir de um extenso levantamento de estudos, pesquisas e relatrios sobre a preveno do crime e da violncia, realizados por profissionais de diversos pases, especializados na preveno de diversos tipos de crimes e violncias.16

Apesar da complexidade de muitos processos de desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, bem como das prprias polticas e programas de preveno do crime e da violncia, esta complexidade dos processos no garantia da sua eficcia e freqentemente dificulta a sua implementao. Este relatrio procura apresentar uma metodologia bsica, simples, prtica, que aponta os elementos necessrios para o desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, que podero e devero ser desenvolvidos, aperfeioados e adaptados de acordo com necessidades dos profissionais que a utilizam.

Planejamento, Implementao, Monitoramento e Avaliao

Em teoria, o desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia um processo que envolve quatro etapas ou fases principais, cada uma delas envolvendo uma srie de os. So elas: planejamento, implementao, monitoramento e avaliao.

Planejamento a etapa que diz respeito ao processo de elaborao de polticas, programas e/ou aes de preveno do crime e da violncia, que envolve necessariamente a identificao do problema de segurana pblica a ser resolvido, suas conseqncias, suas causas, e as aes capazes de resolv-lo ou pelo menos limitar e controlar a sua incidncia e/ou conseqncias.

Implementao a etapa que diz respeito ao processo de execuo de polticas, programas e/ou aes de preveno do crime e da violncia. Monitoramento a etapa que diz respeito ao processo de verificao da implementao e dos resultados de polticas, programas e/ou aes de preveno do crime e da violncia. Avaliao a etapa que diz respeito ao processo de anlise dos resultados de polticas, programas e/ou aes de preveno do crime e da violncia, incluindo a determinao do seu sucesso ou insucesso, bem como das causas do sucesso ou insucesso e, eventualmente, uma definio ou recomendao sobre a sua continuidade, descontinuidade ou modificao. Planejamento, implementao, monitoramento e avaliao so quatro etapas interrelacionadas e interdependentes. Por exemplo, o planejamento condiciona e condicionado pela implementao, monitoramento e avaliao das polticas e programas. Por um lado, om planejamento condiciona, em maior ou menor grau, a implementao, o monitoramento e a avaliao das polticas e programas. Se no houver uma clara definio de objetivos, aes estratgicas, resultados esperados, e indicadores de implementao e resultados, na fase de planejamento, mais difcil implementar, monitorar e avaliar a poltica ou programa. Por outro lado, o planejamento condicionado, em maior ou menor medida, pela possibilidade ou pela expectativa de implementao, monitoramento e avaliao das polticas e programas.

Se no houver organizaes e grupos mobilizados para implementar a poltica ou programa e se no houver informaes confiveis para o monitoramento e avaliao da implementao e dos resultados, o planejamento da poltica ou programa ser afetado. Freqentemente h sobreposio entre as quatro etapas, embora sejam logicamente subseqentes, na medida em que o incio do planejamento antecede o incio da implementao, que por sua vez antecede o incio do monitoramento, e este o incio da avaliao. Assim, o planejamento das aes no termina necessariamente no momento de incio da implementao, mas pode continuar na medida em que se processa a implementao, monitoramento e avaliao de resultados, prtica esta que permite a correo de eventuais erros e a incorporao no planejamento de fatos novos, no previstos ou no conhecidos at o incio da implementao.

Nas prximas sees, o relatrio focaliza cada uma das quatro etapas do processo de desenvolvimento de polticas e programas de preveno da violncia, descrevendo e explicando os os mais importantes em cada uma das quatro etapas, e indicando produtos obtidos em cada uma das etapas.

Planejamento

A etapa de planejamento pode ser subdividida em duas etapas principais. A primeira etapa o diagnstico ou auditoria da segurana pblica, para identificar a natureza, a magnitude e as causas dos problemas de criminalidade e violncia, as necessidades e expectativas dos indivduos envolvidos e da comunidade afetada pelos problemas, bem como as possibilidades e limitaes existentes para o desenvolvimento de aes visando a resolver estes problemas.

A segunda etapa a formulao de uma poltica integrando diversos programas, ou de um programa integrando diversas aes, visando a solucionar o problema, definindo objetivos, aes estratgicas, responsabilidades, recursos, cronograma de implementao, resultados esperados e indicadores de resultados. Pr-condio para sua realizao a constituio de uma unidade responsvel pelo planejamento, integrada por profissionais capacitados para realiz-lo, e a existncia de uma base de informaes e dados necessrios para o diagnstico do problema e a formulao de polticas e programas para solucion-lo.

Estruturar a Unidade Responsvel Pelo Planejamento

Em teoria, o desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia deve ser um processo aberto, transparente. Deve contar com a participao dos principais interessados na resoluo do problema e com as organizaes e grupos cuja contribuio importante para a sua resoluo, em todas as suas fases, incluindo o planejamento, a implementao, o monitoramento e a avaliao. Portanto, abertura, transparncia e participao so fatores importantes para assegurar um mnimo de legitimidade, eficcia e eficincia das polticas e programas de preveno do crime e da violncia, assim como acontece com outras polticas e programas pblicos.

Na prtica, abertura, transparncia e participao no processo de desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia dependem de vrios fatores, incluindo a natureza do problema a ser enfrentado, a natureza do regime poltico e do governo, e organizao e mobilizao da sociedade civil. Os estudos, pesquisas e relatrios mais recentes sobre preveno do crime e da violncia tendem a reconhecer e enfatizar a importncia da abertura, da transparncia e da participao para o desenvolvimento de polticas e programas e de preveno do crime e da violncia. Reconhece-se, entretanto, que o grau de abertura, transparncia e participao varivel em funo das condies nas quais se d o desenvolvimento das polticas e programas e que o grau de abertura um fator que influencia, mas no determina, o resultado das polticas e programas.

Na etapa de planejamento, importante analisar quais so as organizaes e grupos cujo envolvimento importante para o sucesso do processo de desenvolvimento da poltica/programa de preveno do crime e da violncia, e principalmente identificar a organizao ou grupo responsvel pela gesto de cada etapa deste processo (planejamento, implementao, monitoramento e avaliao). A partir desta anlise, importante estruturar= uma unidade de gesto responsvel pelo planejamento (bem como as unidades de gesto responsveis pela implementao, monitoramento e avaliao, que podem ou no coincidir com a unidade de planejamento) e estabelecer a forma de relacionamento entre esta unidade e as demais organizaes e grupos participantes do processo. De maneira geral, quanto mais complexa a sociedade e a poltica/programa de preveno do crime da violncia, maior ser a separao, diferenciao e especializao das organizaes e grupos responsveis pelo planejamento, implementao, monitoramento e avaliao de cada etapa do desenvolvimento da poltica/programa de preveno do crime e da violncia.

Nas sociedades e polticas/programas mais simples, entretanto, a mesma organizao ou grupo freqentemente responsvel pela gesto de todas as etapas do processo. Organizaes governamentais (dos governos federal, estadual e/ou municipal), organizaes no governamentais (da sociedade civil e/ou do setor privado) e centros de estudos e pesquisas podem participar e colaborar no desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia.

As responsabilidades de cada organizao, especialmente a responsabilidade pela gesto dos processos de planejamento, implementao, monitoramento e avaliao de polticas/programas de preveno do crime e da violncia, dependem em grande parte das caractersticas da sociedade e do governo e da natureza do problema de segurana pblica que se deseja resolver. Problemas referentes a aes de grupos ou organizaes criminosas atuando em mais de um estado ou pas normalmente exigem polticas e programas geridos pelo governo federal, com a colaborao dos governos estaduais e municipais. Problemas referentes a aes de grupos ou organizaes criminosas atuando em mais de um municpio, bem como a crimes mais graves e reincidncia freqente, normalmente exigem polticas e programas geridos pelo governo estadual, com a colaborao do governo federal e dos governos municipais. Problemas referentes a aes individuais ou de grupos e organizaes atuando em um nico municpio, bem como a crimes menos graves, violncia domstica e de gnero, violncia envolvendo crianas e jovens, e violncia contra minorias, normalmente podem ser objeto de polticas e programas geridos pelo governo municipal ou mesmo por entidades no governamentais (da sociedade civil ou do setor privado), com a colaborao do governo estadual e do governo federal.

Identificar a Natureza e a Magnitude do Problema

Identificar a natureza e magnitude do problema de segurana pblica implica identificar tipos de crimes e violncias, a freqncia das ocorrncias, similaridades e diferenas das ocorrncias, as situaes de incidncia, as caractersticas e as relaes entre os indivduos e grupos afetados pelo problema, na condio de agressores ou vtimas, as conseqncias do problema para os indivduos e grupos afetados e para a sociedade, incluindo danos fsicos, psicolgicos, econmicos, sociais, culturais e polticos, e os contextos econmico, social, cultural, poltico e institucional nos quais o problema se manifesta.

Informaes sobre o problema podem ser quantitativas e/ou qualitativas e podem ser obtidas a partir de diversas fontes, incluindo organizaes governamentais (federais, estaduais e municipais), organizaes no-governamentais (da sociedade civil e do setor privado), e centros de estudos e pesquisas. Levantar informaes junto aos membros da comunidade e s pessoas diretamente envolvidas em crimes e violncias, na condio de agressores e vtimas, normalmente importante para a adequada compreenso da natureza e da magnitude do problema.

O tipo de informao e as fontes de informao dependem do tipo de problema de segurana pblica que objeto de ateno, entre os quais possvel citar, como exemplo: o crime/violncia urbana, o crime/violncia rural, o crime/violncia domstica, o crime/ violncia contra a mulher, crime/violncia envolvendo crianas e adolescentes, crime/ violncia contra minorias, o crime/violncia praticado por agente pblico, o crime/violncia praticado por grupo ou organizao criminosa nacional, e o crime/violncia praticado por grupo ou organizao criminosa internacional.

Fontes de Informao 17

Entre as fontes de informao mais comuns sobre problemas de segurana pblica, possvel relacionar:

. Organizaes policiais (dados de boletins de ocorrncia, termos circunstanciados, inquritos policiais, sobre crimes, vtimas, agressores e circunstncias do crime; estatsticas e mapas de ocorrncias criminais);

. Organizaes do sistema de justia criminal, incluindo Ministrio Publico, Poder Judicirio e Defensoria (dados de processos judiciais, sentenas, sobre crimes/ violncias, vtimas, agressores e circunstncias do crime);

. Organizaes do sistema penitencirio e organizaes especializadas na execuo de penas alternativas (dados sobre agressores e execuo penal);

. Organizaes especializadas na aplicao de medidas scio-educativas em meio fechado e em meio aberto (dados sobre adolescentes que praticaram atos infracionais e aplicao de medidas scio-educativas);

. Organizaes especializadas no atendimento a vtimas de crimes/violncias (dados sobre os crimes/violncias, as vtimas, os agressores e as circunstncias de crimes/violncias);

. Organizaes do sistema de sade (dados sobre violncias e vtimas);

. Organizaes governamentais, da sociedade civil e do setor privado (dados de relatrios sobre tipos especficos de crimes/violncias, agressores, vtimas e circunstncias de crimes/violncias);

. Organizaes da mdia (dados de reportagens e anlises publicadas na imprensa);

. Universidades e centros de estudos e pesquisas (dados de estudos e pesquisas sobre crimes/violncias, vtimas, agressores, as circunstncias e as conseqncias do crime/violncia);

. Pesquisas de vitimizao (dados sobre crimes/violncias, vtimas, agressores, as circunstncias e as conseqncias do crime/violncia);

. Pesquisas de opinio (dados sobre a percepo que a populao tem dos problemas de segurana pblica);

. Grupos focais (dados sobre a percepo que a populao tem da natureza e das conseqncias dos problemas de segurana pblica);

. Entrevistas com lideranas e especialistas (dados sobre a percepo que as lideranas e os especialistas tm da natureza e das conseqncias dos problemas de segurana pblica);

Em relao coleta de informaes, importante, antes de procurar ou solicitar informaes, definir quais so as informaes relevantes e identificar as organizaes que as possuem. Assim, a coleta de informaes pode ser direcionada s informaes relevantes e s organizaes que as detm. Evita-se, assim, o problema de procurar ou solicitar informaes irrelevantes e/ou de procurar ou solicitar informaes junto a organizaes que no as detm.

Identificar as Causas do Problema

Alm de identificar a natureza e magnitude, importante identificar as causas do problema de segurana pbica que se deseja resolver. Identificar as causas do problema implica identificar os fatores que aumentam o risco de crimes/violncias (fatores de risco) e/ou os fatores que diminuem o risco de crimes/violncias (fatores de proteo) associados aos crimes/violncias. Estes fatores de risco e de proteo podem estar associados estrutura da sociedade e/ou estrutura das situaes especficas em que ocorrem os crimes/violncias, bem como s atitudes e comportamentos de indivduos e grupos que praticam e que so vtimas de crimes/violncias (Krug et al 2002; Reiss e Roth 1993).

As sociedades, comunidades, grupos e indivduos so influenciados por um conjunto de fatores de risco e de proteo, que contribuem para estabelecer uma situao de vulnerabilidade ou resilincia diante do crime/violncia. H razovel grau de consenso sobre a existncia de mltiplos fatores que contribuem para aumentar e/ou diminuir o risco de crimes e violncias, bem como a vulnerabilidade e/ou resilincia diante de crimes e violncias. Mas h sempre divergncias sobre a importncia relativa dos vrios tipos de fatores de risco e de proteo e, conseqentemente, sobre as aes necessrias para resolver o problema, que tendem a variar dependendo do tipo de crime e de violncia e das caractersticas da sociedade.

Fatores Sociais de Risco e de Proteo

H estudos e pesquisas sobre a origem do crime e da violncia que focalizam e enfatizam a importncia de fatores associados estrutura da sociedade, particularmente, mas no apenas as caractersticas das instituies familiares, educacionais, comunitrias, econmicas, policiais, judicirias e penitencirias. Segundo estes estudos e pesquisas, as caractersticas da sociedade influenciam o grau de pr-disposio dos indivduos e grupos para a prtica de crimes/violncias. Tambm influenciam a maior ou menor presena de indivduos e grupos orientados para a prtica de crimes/violncias na sociedade at certo ponto, independentemente da vulnerabilidade de indivduos e grupos vitimizao e do risco de encontro de agressores e vtimas em determinados locais e horrios.

Entre os fatores de risco freqentemente citados esto: a desorganizao social, comunitria e familiar; a desigualdade de oportunidades, particularmente nas reas da sade, educao, trabalho, segurana e justia; a discriminao, marginalizao e excluso de grupos minoritrios; a disseminao de valores, normas e atitudes favorveis ao crime e violncia; a disseminao de instrumentos (armas) e substncias (lcool e drogas) que facilitam a prtica do crime e da violncia; as relaes com familiares, amigos e conhecidos envolvidos com o crime e a violncia; a ausncia ou fragilidade de polticas/programas de preveno do crime e da violncia.

Entre os fatores de proteo freqentemente citados esto: a organizao social, comunitria e familiar; a igualdade de oportunidades, particularmente nas reas da sade, educao, trabalho, segurana e justia; a valorizao da diversidade e a incluso de grupos minoritrios; a disseminao de valores, normas e atitudes favorveis resoluo de problemas e conflitos por meios legais e pacficos; a disseminao de meios legais e pacficos de resoluo de problemas e conflitos; relaes com familiares, amigos e conhecidos capazes de resolver problemas e conflitos por meios legais e pacficos; o desenvolvimento de polticas/ programas de preveno do crime e da violncia.

Fatores Situacionais de Risco e de Proteo

H, entretanto, outros estudos e pesquisas que focalizam e enfatizam a importncia de fatores associados estrutura das situaes em que ocorrem os crimes/violncia, particularmente as relaes entre potenciais agressores e vtimas que se encontram num determinado local e horrio. Segundo estes estudos e pesquisas, a predisposio de indivduos e grupos fator importante, mas no suficiente, para explicar o risco de crimes e violncias na sociedade, que depende tambm da vulnerabilidade de indivduos e grupos vitimizao e, principalmente, das oportunidades de encontro de potenciais agressores e vtimas em lugares e horrios determinados. Deste ponto de vista, as oportunidades para o encontro de potenciais vtimas e agressores e para a prtica de crimes e violncias afetam de maneira significativa a incidncia de crimes e violncias na sociedade indepen-dentemente da predisposio de indivduos e grupos para a prtica de crimes.

Entre os fatores de risco freqentemente citados esto: presena e concentrao de pessoas pr-dispostas prtica de crimes e violncias; concentrao de pessoas vulnerveis vitimizao; e/ou existncia de oportunidades para a prtica de crimes e violncias, ou seja, situaes, lugares e horrios em que crimes e violncias tm custo baixo, risco baixo e benefcio alto.

Entre os fatores de proteo freqentemente citados esto: ausncia ou disperso depessoas pr-dispostas prtica de crimes e violncias; ausncia ou de disperso de pessoas vulnerveis vitimizao; e/ou inexistncia de oportunidades para a prtica de crimes e violncias, ou adoo de prticas e medidas que aumentam o custo, aumentam o risco e reduzem o benefcio de crimes e violncias.

Teorias sobre o Crime e a Violncia

Sherman (1992) caracteriza as teorias sobre as causas do crime e da violncia na sociedade como teorias da presso hidrulica e teorias da oportunidade. Segundo adeptos das teorias da presso hidrulica, as oportunidades para a prtica de crimes e violncias ajudam a explicar os tipos de crime e violncia mais recorrentes na sociedade, os locais e horrios de maior incidncia, e os indivduos e grupos mais vitimizados. Mas o que explica fundamentalmente o problema de criminalidade e violncia na sociedade a pr-disposio de indivduos e grupos para a prtica de crimes e violncias. Dentre as teorias da presso hidrulica, trs tipos so bastante freqentes. O primeiro tipo de teoria atribui a predisposio prtica de crimes e violncias na sociedade desorganizao ou anomia na sociedade e ao enfraquecimento de instituies e prticas que incentivam a resoluo de problemas e conflitos por meios legais e pacficos, freqentemente associada a perodos de crise e/ou mudana social e poltica.

O segundo tipo de teoria atribui a predisposio prtica de crimes e violncias na sociedade socializao de indivduos e grupos para a prtica de crimes e violncia, freqentemente associada presena na sociedade de grupos e organizaes criminosas que promovem a resoluo de problemas e conflitos por meios ilegais e violentos. O terceiro tipo de teoria atribui a predisposio para a prtica de crimes e violncias na sociedade existncia e disseminao de problemas de natureza biolgica, psicolgica e/ou psico-social, que diminuem o autocontrole dos indivduos e/ou aumentam sua propenso para prtica de crimes e violncias. Para adeptos das teorias da oportunidade, por outro lado, a pr-disposio de indivduos e grupos para a prtica de crimes/violncias apenas uma dos fatores que contribui para explicar o problema da criminalidade e da violncia na sociedade, e nem sempre o mais importante. Outros fatores, mais importantes, so a vulnerabilidade vitmizao de indivduos e grupos, e principalmente a existncia de oportunidades para a prtica de crimes e violncias em determinadas situaes, lugares e horrios.

No diagnstico das causas de um determinado tipo de problema de segurana pblica, diante da multiplicidade de fatores que contribuem para a origem do problema, h freqentemente uma tendncia a privilegiar determinados fatores em funo da adeso a teorias da presso hidrulica ou a teorias da oportunidade, ou mesmo a maior disponibilidade de informaes sobre determinados fatores, associados estrutura da sociedade, estrutura das situaes especficas em que ocorrem os crimes/violncias, e/ou s atitudes e comportamentos de indivduos e grupos que praticam e que so vtimas de crimes/violncias.

Diante da ausncia de um consenso sobre o valor das diferentes teorias sobre o crime e a violncia, prudente analisar, no caso especfico, a importncia dos mltiplos fatores, antes de fixar ateno em um conjunto especfico de fatores de risco e de fatores de proteo, cuja presena (no caso de fatores de risco) e ausncia (no caso dos fatores de proteo) contribui para a origem do problema de segurana pblica. A abertura, a transparncia e a participao de lideranas e especialistas no processo de diagnstico da natureza e das causas do problema de segurana pblica um instrumento para minimizar as chances de erro no diagnstico e aumentar as chances de correta identificao das causas do problema.

Fontes de Informao

Alm dos tipos e fontes de informao citadas acima, para a identificao da natureza e magnitude dos problemas de segurana pblica, possvel citar outras fontes de informao relevantes para a identificao das causas dos problemas:

. Organizaes do governo municipal, estadual e federal (dados sobre a populao afetada e sobre o contexto ou a circunstncia na qual acontecem os problemas de segurana pblica);

. Universidades e centros de estudos e pesquisas (dados de estudos e pesquisas sobre as causas dos problemas de segurana pblica);

. Pesquisas de opinio (dados sobre a percepo que a populao tem das causas dos problemas de segurana pblica);

. Grupos focais (dados sobre a percepo que a populao tem das causas dos problemas de segurana pblica);

. Entrevistas com lideranas e especialistas (dados sobre a percepo que as lideranas e os especialistas tm das causas dos problemas de segurana pblica).

Definir os Objetivos da Poltica/Programa de Preveno

Na definio dos objetivos da poltica/programa de preveno do crime e da violncia, h duas escolhas principais a serem feitas. A primeira diz respeito escolha entre a reduo da incidncia do crime e da violncia ou a reduo dos danos causados pelo crime e pela violncia. A opo pela reduo da incidncia do crime e da violncia implica a priorizao de estratgias de preveno primria e secundria do crime e da violncia, voltadas para o conjunto da populao e para as reas e grupos de risco. A opo pela reduo dos danos causados pelo crime e pela violncia implica a priorizao de estratgias de preveno secundria e terciria, centradas nas reas e grupos de risco e os indivduos que j se tornaram vtimas e/ou autores de crimes e violncias.

A segunda diz respeito escolha entre a reduo e a limitao e controle do problema do crime e da violncia. A opo pela reduo e a limitao e controle do problema implica a opo por estratgias mais compreensivas, orientadas para um maior nmero de fatores de risco e de proteo, e abrangentes, orientadas populaes e reas maiores. A opo pela limitao e controle do problema implica a opo por estratgias menos compreensivas, orientadas para um menor nmero de fatores de risco e de proteo, emenos abrangentes, orientadas para populaes e reas menores. A definio dos objetivos da poltica/programa condiciona e condicionada pelo conjunto de aes que podem ser realizadas na implementao da poltica/programa.

Definir as Aes para Realizao dos Objetivos da Poltica/Programa

Aes para realizao dos objetivos da poltica/programa de preveno do crime e da violncia podem ser implementadas em diversas reas da sociedade, incluindo as seguintes reas: famlia, escola, trabalho, comunidade, mdia, polcia, justia e sade. A anlise das aes que podem ser implementadas para realizar os objetivos da poltica/ programa deve levar em considerao a sua legitimidade, a sua eficcia e eficincia, bem como sua exeqibilidade e sustentabilidade. A definio das aes a serem implementadas deve levar em considerao a necessidade e suficincia das aes para, atuando sobre os fatores de risco e de proteo, realizar os objetivos da poltica/programa. Aes desnecessrias devem ser descartadas. As aes escolhidas devem ser suficientes para realizao dos objetivos. Na definio das aes a serem implementadas, em funo de consideraes sobre a legitimidade, eficcia, eficincia, exeqibilidade e sustentabilidade das aes que podem ser implementadas, possvel e freqentemente desejvel haver uma redefinio e ajuste dos objetivos da poltica/programa.

Definir as Organizaes e Grupos que Podem Colaborar no Desenvolvimento da Poltica/Programa

Organizaes governamentais (federais, estaduais e/ou municipais) e organizaes no governamentais (da sociedade civil e/ou do setor privado) podem participar e colaborar no desenvolvimento de polticas/programas de preveno do crime/violncia e das aes de implementao, monitoramento e avaliao das polticas/programas. Na fase de planejamento, entretanto, importante definir claramente as responsabilidades de cada organizao e grupo, especialmente das organizaes e grupos responsveis pela gesto de cada etapa do processo de desenvolvimento da poltica/programa. No desenvolvimento de polticas/programas de preveno do crime e da violncia, a legitimidade e tambm a eficcia e eficincia de polticas/programas normalmente podem ser reforadas atravs da identificao e incluso de dois tipos de organizaes e grupos:

a) organizaes e grupos representativos das comunidades afetadas pelo problema, especialmente da populao afetada pelo problema;

b) organizaes governamentais e no governamentais desenvolvendo aes relevantes para resoluo do problema.

Definir os Recursos para o Desenvolvimento da Poltica/Programa

Na definio dos recursos para o desenvolvimento da poltica/programa, h duas escolhas principais. Primeiro, a escolha da natureza dos recursos, incluindo recursos materiais e humanos. Tradicionalmente, na rea da segurana pblica, os governos investem mais na aquisio de tecnologias, equipamentos, viaturas e armas do que na contratao e qualificao dos profissionais para fazer uso destes recursos materiais. Cada vez mais, entretanto, h uma tendncia a enfatizar a importncia dos recursos humanos sobre os recursos materiais.

Segundo, a escolha entre as fontes dos recursos, que podem ser as organizaes governamentais (federais, estaduais, municipais) e no governamentais (sociedade civil, setor privado). No Brasil, tradicionalmente, na rea da segurana pblica, o governo federal e principalmente os governos estaduais so as principais fontes de recursos para polticas/programas de preveno do crime e da violncia. De maneira crescente, entretanto, reconhece-se a importncia dos recursos investidos pelos governos municipais e por organizaes no governamentais, da sociedade civil e do setor privado.

Definir um Cronograma para Desenvolver a Poltica/Programa

O desenvolvimento da poltica/programa deve ser orientado por um cronograma de execuo, definindo as aes a serem implementadas no curto, mdio e longo prazo, e os prazos para implementao das aes.

Definir os Resultados que se Espera Alcanar com a Implementao da Poltica/Programa

importante definir os resultados que se espera alcanar com o desenvolvimento da poltica/programa, bem como a implementao das aes que integram a poltica/programa, a curto, mdio e longo prazo, porque atravs do monitoramento dos resultados que ser possvel saber se, e em que medida, os objetivos da poltica/programa foram atingidos. Os resultados esperados devem estar sempre relacionados aos objetivos da poltica/ programa, ainda que a relao entre os resultados esperados e os objetivos no seja sempre evidente ou bvia. Alm de estarem relacionados aos objetivos da poltica/programa, os resultados esperados devem ser sempre mensurveis atravs de indicadores de resultados. Os resultados esperados so freqentemente definidos em termos quantitativos, como, por exemplo, a reduo dos crimes violentos ou o aumento do efetivo policial, mas podem ser definidos tambm em termos qualitativos, como, por exemplo, melhoria da segurana pblica ou o aperfeioamento da atuao da polcia. Neste caso, entretanto, importante definir indicadores capazes de medir ou verificar resultados qualitativos.

Planejar o Monitoramento da Implementao e dos Resultados

O monitoramento da implementao e dos resultados da poltica/programa e das aes previstas na poltica/programa deve ser permanente, iniciando-se logo aps o incio da implementao da poltica/programa.

Na fase de planejamento, importante definir quem realizar o monitoramento e como o monitoramento ser feito. interessante responsabilizar organizaes ou grupos diferentes pela implementao e pelo monitoramento da poltica/programa, embora nem sempre seja possvel separar e diferenciar estas duas atividades. O monitoramento da implementao e dos resultados depende da existncia de indicadores capazes de medir ou verificar avanos na implementao e os resultados obtidos a partir da implementao da poltica/programa e das aes previstas na poltica/programa.

Indicadores so medidas que ajudam a responder a questo quanto, ou se, progresso est sendo realizado na direo de um certo objetivo (Vera Institute of Justice, 2003). Indicadores so importantes para verificar progresso na implementao de aes ou programas por parte de uma organizao ou grupo, na obteno de resultados especficos a partir da implementao de aes ou programas especficos por parte de organizaes ou grupos especficos, e na obteno de resultados gerais a partir da implementao de um conjunto de aes e programas especficos que integram uma poltica geral. O Vera Institute of Justice (2003) desenvolveu um guia para construo de indicadorespara verificar os resultados de polticas e programas na rea da segurana e justia, que ressalta a importncia de combinar diversos tipos de indicadores, relacionados aos resultados das aes desenvolvidas pelas diferentes organizaes e grupos participantes da poltica ou programa, para verificar o resultado geral das polticas ou programas. O guia tambm ressalta a importncia de utilizar diversas fontes para obter informao sobre os indicadores.

Entre as principais fontes de informao na rea de segurana e justia, o guia cita os bancos de dados governamentais, as pesquisas quantitativas e qualitativas, os relatrios de organizaes governamentais, no governamentais e da imprensa, a legislao.

As principais recomendaes para o desenvolvimento de indicadores so:

. Comear pelo resultado, no pelo indicador;

. Medir resultados com cestas balanceadas de indicadores;

. Testar os indicadores pela sua sensitividade s mudanas pretendidas;

. Desenhar indicadores que permitam isolar as experincias de grupos com menos poder, como, por exemplo, a populao pobre;

. Evitar criar incentivos perversos;

. Usar os indicadores mais simples e baratos;

. Desenvolver a confiana nos indicadores entre os interessados;

. Desenhar indicadores que faam sentido para a maioria das pessoas.

Planejar a Avaliao da Implementao e dos Resultados

A partir dos dados obtidos durante o monitoramento da implementao e dos resultados das aes, programas e polticas, possvel fazer uma avaliao da implementao e dos resultados destas aes, programas e polticas. Na fase de planejamento, importante definir quando sero feitas avaliaes, quem realizar as avaliaes e como estas sero feitas. As avaliaes podem ser mais ou menos freqentes, mas fundamental a realizao de uma avaliao ao final do processo de implementao da poltica ou programa. Avaliaes mais freqentes oferecem mais oportunidades de verificar se, e em que medida, as polticas, programas e aes esto produzindo os resultados esperados e realizando os seus objetivos.

As avaliaes podem ser feitas de forma aberta e pblica, ou de forma fechada e reservada. Podem contar com a participao de representantes das organizaes e grupos envolvidos no planejamento, implementao e monitoramento da poltica/programa, e tambm dos destinatrios ou beneficirios da poltica/programa. Nas avaliaes, importante focalizar os fatores que mais influenciaram a implementao e os resultados da poltica/programa, os resultados alcanados e no-alcanados, os resultados esperados e inesperados. importante tambm realizar comparaes com outras polticas/programas semelhantes e com polticas/programas diferentes. O principal resultado da etapa de planejamento um documento estabelecendo de forma clara e precisa a poltica/programa de preveno do crime e da violncia e um plano de ao para implementao da poltica/programa.

. IMPLEMENTAO

A etapa de implementao da poltica/programa de preveno do crime e da violncia inclui a implementao, conforme o plano de ao estabelecido na etapa de planejamento, das aes de curto, mdio e longo prazo. Pr-condio para a implementao da poltica/programa a constituio de uma unidade responsvel por esta implementao, que pode ser a mesma responsvel pelo planejamento, integrada por organizaes ou grupos e por profissionais capacitados.

Estruturar a Unidade de Gesto da Implementao

Essencial na estruturao da unidade responsvel pela implementao da poltica/ programa a identificao de uma organizao ou grupo capaz de mobilizar organizaes e grupos parceiros e os recursos necessrios para implementar o plano de ao, bem como de profissionais capazes de antecipar e solucionar dificuldades na execuo do plano de ao e, eventualmente, modificar e aperfeioar o plano de ao em funo dos resultados obtidos no processo de implementao.

No caso de polticas de preveno do crime e da violncia, integrando diversos programas e aes, governamentais e no-governamentais, importante que a unidade gesto seja parte da estrutura governamental. No caso de programas de preveno, a unidade de gesto pode ser ou no parte da estrutura governamental. A gesto de programas de preveno freqentemente compartilhada por organizaes governamentais e no governamentais.

Mobilizar as Organizaes e Grupos

Na mobilizao das organizaes e grupos responsveis pela implementao da poltica/ programa, importante informar os membros destas organizaes e grupos sobre os objetivos da poltica/programa, bem como capacit-los e motiv-los para implementar as aes previstas no plano de ao. Neste sentido, cursos, estgios e materiais didticos podem ser desenvolvidos para os profissionais de organizaes governamentais e no governamentais responsveis pela implementao da poltica/programa.

Campanhas e materiais informativos podem ser desenvolvidos para o pblico alvo da poltica/programa, cuja colaborao fundamental para o sucesso da poltica/programa. No desenvolvimento de cursos, estgios, campanhas, materiais didticos e informativos, importante verificar se estes so apropriados e relevantes para os objetivos e para pblico que se pretende atingir.

Mobilizar os Recursos

Na mobilizao de recursos para polticas/programas de preveno, a criao de fundos pblicos para financiar polticas e programas governamentais uma estratgia adotada na rea da sade e que vem sendo adotada na rea da segurana pblica pelo governo federal e por diversos governos estaduais e municipais. importante, entretanto, considerar que os recursos pblicos para o desenvolvimento de polticas/programas de segurana pblica so limitados e, na maioria das vezes, no so direcionados para preveno do crime e da violncia. Alm disso, organizaes governamentais freqentemente desenvolvem polticas sociais e urbanas relevantes para a preveno do crime e da violncia, sem considerar a relao das polticas/programas com a preveno do crime e da violncia. Organizaes no-governamentais, da sociedade civil e do setor privado, poderiam investir mais recursos no desenvolvimento de polticas/ programas de preveno do crime e da violncia e na melhoria da segurana pblica, se houvesse mais incentivos para que isso acontecesse.

Com incentivos adequados, parte dos recursos atualmente investidos em polticas/ programas segurana pblica e justia criminal poderia ser direcionada para polticas/ programas de preveno do crime e da violncia. Parte dos recursos atualmente investidos em polticas sociais e urbanas poderia ser direcionada para polticas/programas que contribusse para a preveno do crime e da violncia. E parte dos recursos atualmente investidos na segurana privada poderia ser direcionada para a segurana pblica. Entre os diversos tipos de incentivos que podem ser considerados para direcionar recursos pblicos e privados para polticas/programas de preveno (Goldstein 1997; Pease 1998), possvel citar:

. Disseminao de informao;

. Campanhas educativas;

. Propostas informais/privadas;

. Propostas formais/pblicas;

. Crticas informais/privadas;

. Crticas formais/pblicas;

. Concesso de benefcios econmicos para investimentos em preveno;

. Imposio de custos econmicos para ausncia de investimentos em preveno;

. Legislao obrigando investimentos em preveno;

. Aes judiciais referentes a prejuzos decorrentes de aes que aumentam a incidncia de crimes e violncias, e da ausncia de aes de preveno do crime e da violncia.

Realizar as Aes Previstas no Plano de Ao

Constituda a unidade de gesto, mobilizados as organizaes, os grupos e os recursos necessrios, possvel realizar as aes previstas no plano de ao, na forma estabelecida no cronograma de execuo. O principal resultado da etapa de implementao a efetiva realizao das aes= previstas no plano de ao, visando obteno dos resultados esperados, no curto, mdio e longo prazo.

. MONITORAMENTO

A etapa de monitoramento da poltica/programa de preveno do crime e da violncia se inicia logo aps a definio dos objetivos, aes e resultados esperados, na fase de planejamento da poltica/programa. Atividades preparatrias para o monitoramento, particularmente a identificao de indicadores da implementao e dos resultados das aes previstas na poltica/programa e a identificao de fontes de informaes para verificao da evoluo destes indicadores, devem ser realizadas desde a fase de planejamento. Ainda na fase de planejamento, antes do incio da implementao da poltica/ programa, importante verificar a situao dos indicadores, a fim de permitir o acompanhamento e a comparao dos indicadores antes, durante e aps a implementao da poltica/programa. O incio do monitoramento deve acontecer simultaneamente ao incio da implementao da poltica/programa, a fim de permitir o acompanhamento dos resultados a curto, mdio e longo prazo.

Pr-condio para o monitoramento da poltica/programa a constituio de uma unidade responsvel por este monitoramento, integrada por uma organizao, grupo ou profissionais capacitados, que disponham de recursos e o a fontes de informaes e dados necessrios para realizar o monitoramento.

Estruturar a Unidade de Gesto do Monitoramento

Essencial na estruturao da unidade responsvel pelo monitoramento da poltica/ programa de preveno do crime e da violncia a identificao de uma organizao, grupo ou profissionais capazes de produzir, coletar, sistematizar e analisar informaes e dados sobre a implementao e os resultados da poltica/programa. Preferencialmente, a unidade responsvel pelo monitoramento deve ser separada e diferente da unidade responsvel pelo planejamento e implementao da poltica/programa. Deve incluir especialistas com conhecimento na rea de metodologia de monitoramento e avaliao de polticas/programas e conhecimento sobre o problema que objeto da poltica/programa.

importante que a unidade de gesto do monitoramento esteja em comunicao com organizaes e grupos envolvidos no planejamento e implementao do programa, e com organizaes e grupos que so ou devem ser atendidos pela poltica/programa, a fim de que possa receber a colaborao destes no processo de monitoramento, particularmente atravs do fornecimento de informaes e dados relevantes para o processo de monitoramento.

Mobilizar Organizaes e Grupos

Na mobilizao das organizaes e grupos que podem colaborar no processo de monitoramento, fornecendo informaes e dados sobre a implementao e os resultados da poltica/programa, importante informar os membros destas organizaes e grupos sobre os objetivos da poltica/programa e particularmente da etapa de monitoramento, bem como motiv-los para colaborar no processo de monitoramento. A legitimidade do processo de monitoramento de polticas/programas de preveno do crime e da violncia reforada atravs da incluso e colaborao no apenas de representantes de organizaes e grupos envolvidos no planejamento e implementao da poltica/programa, mas principalmente de representantes de organizaes e grupos que so ou devem ser atendidos ou beneficiados pela poltica/programa.

Coletar, Sistematizar e Analisar Informaes e Dados

No processo de monitoramento, importante separar e diferenciar indicadores e fontes de informaes e dados referentes implementao das aes previstas na poltica/ programa de preveno e referentes aos resultados das aes implementadas. importante tambm identificar as fontes de informaes e dados disponveis para verificar a situao dos indicadores. Por fim, importante utilizar diversos indicadores e diversas fontes de informao e dados para verificar a situao dos indicadores. Atendimentos realizados, pessoas atendidas, benefcios concedidos, pessoas beneficiadas, por exemplo, so geralmente indicadores da implementao das aes. Incidncia de crimes e violncias, populao vtima de crimes e violncias, populao reincidente na prtica de crimes e violncias, grau de exposio a fatores de risco e a fatores de proteo, grau de vulnerabilidade e de resilincia diante de fatores de risco e a fatores de proteo, por outro lado, so geralmente exemplos de indicadores de resultados da implementao das aes. Nmero de homicdios, latrocnios, roubos, leses corporais e estupros so exemplos de indicadores da incidncia de crimes violentos. Secretarias de estado da segurana pblica e secretarias da sade so exemplos de fontes de informao e dados sobre a incidncia de homicdios.

Elaborar Relatrios

Constituda a unidade de gesto, mobilizados as organizaes e grupos, coletadas, sistematizadas e analisadas informaes e dados, possvel elaborar relatrios peridicos sobre a implementao e os resultados das aes previstas na poltica/programa. O principal resultado da etapa de monitoramento so relatrios apresentando informaes, dados e anlises parciais e finais sobre a implementao e os resultados das aes previstas na poltica/programa. Alm de informaes, dados e anlises sobre o conjunto de aes previstas na poltica/programa, importante apresentar informaes, dados e anlises sobre aes especficas, focalizando as principais aes, a fim de que seja possvel avaliar no apenas o resultado geral da poltica/programa, mas tambm a contribuio especfica das principais aes para o resultado geral.

. AVALIAO

A etapa de avaliao da poltica/programa de preveno do crime e da violncia se inicia logo aps a elaborao do primeiro relatrio apresentando informaes, dados e anlises parciais sobre a implementao e dos resultados das aes previstas na poltica/ programa. Durante esta etapa, os relatrios parciais e o relatrio final do monitoramento so apresentados e analisados. A partir desta anlise da implementao e dos resultados da poltica/programa, so tomadas decises em relao a sua continuidade, reorientao ou, eventualmente, suspenso.

Enquanto o monitoramento da implementao e dos resultados da poltica/programa uma atividade permanente, a avaliao uma atividade que acontece periodicamente, normalmente a partir da elaborao dos relatrios parciais e finais do monitoramento.

Freqentemente, a avaliao realizada apenas ao final do perodo de implementao da poltica/projeto. Mas boa prtica a realizao de avaliaes peridicas, durante o perodo de implementao da poltica/programa, que podem servir de base para a identificao e resoluo de problemas nos processos de implementao e monitoramento.

A avaliao deve incluir uma reflexo sobre a implementao e os resultados das aes previstas na poltica/programa, as condies e os fatores que facilitaram e que dificultaram a implementao da poltica/programa, as condies e os fatores responsveis pelo sucesso ou pelo fracasso da poltica/programa. Deve incluir ainda recomendaes sobre a continuidade, reorientao ou, eventualmente, suspenso da poltica/programa.

No caso da avaliao final, deve incluir recomendaes sobre a aplicabilidade da poltica/programa em outros contextos.

Pr-condio para a avaliao da poltica/programa a constituio de uma unidade responsvel por esta avaliao, integrada por uma organizao, grupo ou profissionais capacitados, que disponham de recursos e de informaes e dados suficientes para realizar a avaliao.

Estruturar a Unidade de Gesto da Avaliao

Essencial na estruturao da unidade responsvel pela avaliao da poltica/programa de preveno do crime e da violncia a identificao de uma organizao, grupo ou profissionais capazes de analisar os relatrios de monitoramento e avaliar a implementao e os resultados da poltica/programa. Assim como a unidade responsvel pelo monitoramento, a unidade responsvel pela avaliao deve ser separada e diferente da unidade responsvel pelo planejamento e implementao da poltica/programa. A mesma unidade pode ser responsvel pelo monitoramento e pela avaliao da poltica/programa. Deve incluir especialistas com conhecimento na rea de metodologia de monitoramento e avaliao de polticas/programas e conhecimentosobre o problema que objeto da poltica/programa.

importante que a unidade de gesto da avaliao esteja em comunicao com organizaes e grupos envolvidos no planejamento, implementao e monitoramento do programa, e com organizaes e grupos que so ou devem ser atendidos pela poltica/ programa, a fim de que possa contar com a colaborao de seus representantes no processo de avaliao da implementao e os resultados da poltica/programa.

Mobilizar as Organizaes e Grupos

Na mobilizao das organizaes e grupos que podem colaborar no processo de avaliao, importante informar os membros destas organizaes e grupos sobre os objetivos da poltica/programa e particularmente da etapa de avaliao, bem como capacit-los e motiv-los para avaliar a implementao e os resultados da poltica/programa. A legitimidade do processo de avaliao de polticas/programas de preveno do crime e da violncia reforada atravs da incluso e colaborao no apenas de representantes de organizaes e grupos envolvidos no planejamento, implementao e monitoramento da poltica/programa, mas principalmente de representantes de organizaes e grupos que so ou devem ser atendidos ou beneficiados pela poltica/programa.

Elaborar relatrios

O principal resultado da etapa de avaliao so relatrios avaliando a implementao e os resultados das aes previstas na poltica/programa, incluindo avaliaes sobre as condies e os fatores que facilitaram e que dificultaram a implementao da poltica/programa e os fatores responsveis pelo sucesso ou pelo fracasso da poltica/programa. O relatrio deve incluir ainda recomendaes sobre a continuidade, reorientao ou, eventualmente, suspenso da poltica/programa. No caso da avaliao final, o relatrio deve incluir recomendaes sobre a aplicabilidade da poltica/programa em outros contextos.

Alm da avaliao geral da implementao e do resultado da poltica/programa, importante apresentar avaliaes especficas da implementao e dos resultados das principais aes, a fim de que seja possvel avaliar no apenas o resultado geral da poltica/programa, mas tambm a contribuio especfica das principais aes para o resultado geral.

6. O Papel da Unio, Estados e Municpios: Como Promover a Preveno do Crime e da Violncia?

O Brasil um estado federal, no qual o governo federal e os governos estaduais e municipais tm responsabilidades especficas na rea da segurana municipal, conforme estabelecido na Constituio Federal de 1988. O Sistema nico de Segurana Pblica visa a promover a integrao das aes federais, estaduais e municipais, sem ferir o princpio da autonomia dos estados e dos municpios, mas definindo princpios e diretrizes comuns, e criando condies favorveis para que o governo federal apie aes dos governos estaduais e municipais, e receba em contrapartida o apoio destes governos, na rea da segurana pblica.

Apesar das diferenas existentes entre as reas da segurana pblica e da sade, a experincia de construo do Sistema nico de Sade no Brasil (Ministrio da Sade, Conselho Nacional de Sade 2002) uma referncia fundamental para a construo do Sistema nico de Segurana Pblica. Tambm uma referncia fundamental a experincia internacional e a diretrizes da Organizao das Naes Unidas em matria de preveno do crime e da violncia (United Nations Economic and Social Council, Commission on Crime Prevention and Criminal Justice 2002). Por fim, uma referncia importante a experincia dos Estados Unidos, um estado federal como o Brasil, em que o governo federal desempenha um papel ativo na promoo de programas de preveno do crime e da violncia nos estados e municpios (Sherman et al 1997).

Com base em estudos e pesquisas nacionais e internacionais sobre a preveno do crime e da violncia, e na experincia de construo do Sistema nico de Sade no Brasil, possvel delinear uma srie de princpios e diretrizes que podem orientar a atuao do governo federal e o desenvolvimento de polticas, programas e aes de preveno do crime e da violncia, no contexto do Sistema nico de Segurana Pblica.

PRINCPIOS

Democracia e Direitos Humanos, Desenvolvimento Sustentvel, Cooperao Internacional

A preveno do crime e da violncia deve ser compatvel com e contribuir para o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentvel, e da cooperao internacional. Sem democracia, direitos humanos, desenvolvimento sustentvel e cooperao internacional, polticas, programas e aes de preveno no podero contribuir efetivamente para a reduo do crime e da violncia.

Responsabilidade do Estado

A preveno do crime e da violncia uma responsabilidade do estado, que deve ser compartilhada por organizaes governamentais em todos as esferas e reas do estado, incluindo organizaes federais, estaduais e municipais, responsveis por polticas econmicas, sociais, culturais, habitacionais, urbanas, de segurana pblica, istrao da justia e istrao penitenciria.

Participao da Sociedade

A preveno do crime e da violncia, apesar de ser uma responsabilidade do estado, deve contar com a participao de organizaes da sociedade civil e do setor privado, na formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas de preveno.

Universalidade

A preveno do crime e da violncia deve beneficiar o maior nmero possvel depessoas e grupos, especialmente as pessoas e grupos vulnerveis e/ou em reas e situaes de risco, mais suscetveis de se tornar vtimas e/ou autores de crimes e violncias.

Eqidade

A preveno do crime e da violncia deve beneficiar igualmente todas as pessoas, independentemente da sua condio econmica, social e/ou cultural, da sua orientao poltica, ideolgica ou religiosa, da sua origem, nacionalidade, idade, gnero e cor.

Integralidade

A preveno do crime e da violncia depende do desenvolvimento de aes de preveno primria, secundria e terciria, assim como de aes em diversos contextos institucionais, incluindo a famlia, escola, trabalho, mdia, comunidade, polcia, justia e sade.

Descentralizao

A preveno do crime e da violncia depende da adequao das aes de preveno s condies especficas de cada estado e municpio e s necessidades e prioridades da populao.

Diretrizes

A aplicao destes princpios no desenvolvimento de polticas, programas e aes de preveno do crime e da violncia depende da implementao de uma srie de diretrizes, principalmente por parte das organizaes governamentais, federais, estaduais e municipais, mas tambm por parte das organizaes da sociedade civil e do setor privado:

Unidade de Gesto 18

O governo deve ter uma unidade de gesto responsvel pelo desenvolvimento da poltica de preveno do crime e da violncia, visando a integrar programas e aes de organizaes em diferentes esferas e reas de governo. Esta unidade de gesto pode ser uma secretaria, coordenadoria, comit, comisso, grupo de trabalho e/ou gabinete de gesto integrada da segurana pblica, mas deve ter estrutura adequada para desempenhar seu papel e incluir representantes das diferentes esferas e reas de governo cuja atuao relevante para a preveno do crime e da violncia e para a melhoria da segurana pblica. A disponibilidade e compartilhamento de informaes e dados sobre a criminalidade e a violncia e sobre polticas e programas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica uma condio fundamental para o funcionamento da unidade gestora.

Conselho Consultivo 19

Associado unidade de gesto, o governo deve contar com um conselho consultivo, para promover a participao social e o controle externo no desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica. O conselho consultivo deve ter estrutura adequada para desempenhar seu papel e deve ser paritrio, incluindo representantes de organizaes do governo, da sociedade e da universidade, alm de especialistas, cuja atuao relevante para a preveno do crime e da violncia e para a melhoria da segurana pblica. O o a informaes e dados sobre a criminalidade e a violncia e sobre polticas e programas de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica uma condio fundamental para o funcionamento do conselho consultivo.

Plano de Ao

A unidade de gesto, com apoio do conselho consultivo, deve desenvolver um plano de ao, definindo objetivos a serem alcanados, aes para realizao dos objetivos, organizaes responsveis pela implementao das aes, prazos para implementao das aes, recursos disponveis, resultados esperados, e instrumentos de monitoramento e avaliao da implementao e dos resultados do plano, visando preveno do crime e da violncia e a melhoria da segurana pblica Polticas e programas de preveno do crime e da violncia so mais eficazes quando tm objetivos definidos de forma clara e precisa, so planejadas levando em considerao as caractersticas especficas dos crimes e violncias que se pretende evitar e das comunidades em que estes crimes e violncias acontecem, e atuam sobre os fatores de risco e os fatores de proteo que afetam a incidncia e o impacto de crimes e violncias sejam estes fatores relacionados s atitudes e comportamentos dos agressores e das vtimas, ou s situaes ou contextos em que os crimes e violncias acontecem.

A criminalidade e a violncia so fenmenos complexos, que se manifestam de forma diferente, tm causas diferentes, e exigem solues diferentes em estados, cidades e bairros diferentes. No Brasil, a criminalidade e a violncia urbana so problemas particularmente graves. As grandes cidades e regies metropolitanas registram taxas de homicdios extremamente elevadas em comparao com as registradas em outros pases da regio e do mundo. O problema da criminalidade e da violncia urbana deve estar no centro das atenes no desenvolvimento de polticas e programas de preveno. A violncia familiar e domstica, a violncia de gnero, freqentemente entre parceiros ntimos, a violncia contra membros de grupos minoritrios, a violncia envolvendo jovens, so problemas graves que contribuem de maneira significativa para o aumento do crime e da violncia na sociedade brasileira. Estes problemas devem ser considerados prioritrios no desenvolvimento de polticas e programas de preveno, particularmente nas esferas estadual e municipal.

O crime organizado, a corrupo e a violncia praticada por agentes pblicos trabalhando nas polcias, nos sistemas penitencirios e nas unidades de internao de adolescentes so problemas que no apenas contribuem para o aumento do crime e da violncia na sociedade, como minam a capacidade das organizaes governamentais e no-governamentais de desenvolver polticas e programas de preveno. Estes problemas tambm devem ser considerados prioritrios no desenvolvimento de polticas e programas de preveno, particularmente nas esferas federal e estadual. Na sociedade brasileira, a desigualdade, a discriminao e a falta de oportunidades, particularmente na rea da educao e do trabalho, a desigualdade no o aos sistemas de segurana e justia, alm do estresse e da instabilidade no ambiente familiar e comunitrio, so fatores que aumentam o risco e agravam o impacto de muitos tipos de crimes e violncias. Estes fatores devem ser levados em considerao no desenvolvimento de polticas e programas de preveno.

Polticas e programas de preveno so mais eficazes se forem compreensivos e levarem em considerao o conjunto de fatores de risco e fatores de proteo cuja interao determina a vulnerabilidade ou resilincia dos indivduos, famlias, grupos e comunidades diante do crime e da violncia. Neste sentido, polticas e programas de preveno devem ser multidisciplinares e multi-setoriais, incorporando assim a contribuio de profissionais especializados em diversas disciplinas e de grupos e organizaes atuando em diversas reas do governo e da sociedade. A interao e a colaborao de parceiros de disciplinas e setores diferentes mais efetiva quando acontece desde o incio, da fase de planejamento das polticas e programas, continuando nas fases de implementao, monitoramento e avaliao.20

Polticas e programas de preveno so mais eficazes, do ponto de vista da reduo do crime e da violncia na sociedade, se forem direcionados para as reas e grupos onde h maior concentrao de fatores de risco de crimes e violncias e menor concentrao de fatores de proteo diante de crimes e violncia. A exceo a esta regra geral seriam os programas de preveno centrados na rea da famlia, cuja aceitao pblica, apoio poltico e econmico, e resultados comprovados em programas avaliados indicam a necessidade de sua universalizao, ainda que a implementao deva levar em considerao as diferenas entre reas e grupos em relao aos fatores de risco e aos fatores de proteo.

Polticas e programas de preveno so mais eficazes se o seu desenvolvimento estiver baseado em informaes e dados no apenas sobre o tipo de crime e de violncia que se pretende evitar, mas tambm sobre a implementao e os resultados de polticas e programas de preveno semelhantes desenvolvidos anteriormente.

Base de Informao 21

A qualidade de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e da melhoria da segurana pblica depende da existncia de uma base de informaes e dados sobre os principais crimes e violncias que se deseja prevenir, bem como sobre as caractersticas do meio ambiente fsico e/ou social nos quais estes crimes e violncias acontecem, dos grupos em situaes de risco e/ou vulnerveis, e das as pessoas que efetivamente praticam e/ou so vtimas de crimes e violncias.

Recursos Humanos 22

A qualidade de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e de melhoria da segurana pblica depende tambm da existncia de profissionais qualificados, atuando em organizaes governamentais e no governamentais, e de programas de formao e atualizao profissional em reas relevantes para a preveno do crime e da violncia.

Recursos Materiais

A qualidade de uma poltica e de um plano para preveno do crime e da violncia depende ainda da existncia de recursos suficientes para sua formulao, implementao, monitoramento e avaliao, bem como da alocao adequada dos recursos disponveis, levando em considerao principalmente os resultados alcanados pelos diversos programas e aes de preveno.

Unio, Estados e Municpios na Preveno do Crime e da Violncia

Num estado federal como o Brasil, o sucesso na preveno do crime e da violncia depende da integrao de aes na esfera da Unio, dos Estados e dos Municpios. A Unio est numa posio mais favorvel para promover a cooperao entre o governo e organizaes internacionais. Os Estados e Municpios, por sua vez, esto em posio mais favorvel para promover a cooperao entre o governo e organizaes da sociedade civil e do setor privado. Depende, entretanto, tanto da Unio quanto dos Estados e dos Municpios, a integrao das aes do governo federal, governos estaduais e governos municipais.

O desafio, na construo do Sistema nico de Segurana Pblica, definir a responsabilidades da Unio, Estados e Municpios na preveno do crime e da violncia, e as condies mnimas para que a Unio, os Estados e os Municpios desempenhem adequadamente suas responsabilidades.

Unio

Analisando a experincia dos Estados Unidos, Sherman (Sherman et al 1997) argumenta que, nos Estados Unidos, o governo federal desempenha dois papis principais na preveno do crime e da violncia: a) direcionar a preveno criminal realizada pelos estados e cidades, atravs de investimentos em pesquisa e desenvolvimento de estratgias de preveno criminal; b) financiar o desenvolvimento de programas de preveno criminal pelos estados e cidades. No caso do direcionamento da preveno criminal, o governo federal financia a pesquisa necessria para o desenvolvimento de um programa de preveno criminal, a implementao do programa em uma localidade, o monitoramento e avaliao do programa em uma localidade, a disseminao de informao sobre o programa e seus resultados para todo o pas.

Uma questo crucial, na definio do papel do governo federal, a relao entre o direcionamento e o financiamento de programas de preveno. Nos Estados Unidos, o governo federal historicamente desempenhou os dois papis paralelamente, aproveitando o resultado de pesquisa e desenvolvimento para orientar o financiamento de programas de preveno desenvolvidos pelos estados e cidades. Segundo Sherman (Sherman et al 1997), investimentos em pesquisa e desenvolvimento produzem resultados muito superiores do que investimentos no financiamento de programas de preveno criminal. A melhor estratgia, portanto, seria integrar os investimentos federais em pesquisa e desenvolvimento e no financiamento de programas de preveno, exigindo que parte dos investimentos destinados ao financiamento dos programas de preveno seja utilizado no monitoramento e avaliao da eficcia e do custo-benefcio dos programas. O Governo Federal ou a dispor de um novo instrumento para apoiar o desenvolvimento de polticas e programas na rea da segurana pblica, inclusive polticas e programas de preveno do crime e da violncia, com a criao do Fundo Nacional deSegurana Pblica em junho do ano 2000, atravs de medida provisria 2.029/00, posteriormente institudo pela lei federal 10.201/01, de 14 de fevereiro de 2001. Com a reestruturao do Fundo Nacional de Segurana Pblica, atravs da lei federal 10.746/03, de 10 de outubro de 2003, o Governo Federal procurou criar condies mais favorveis para o desenvolvimento de polticas de preveno do crime e da violncia por parte dos estados, integrando programas na rea da segurana pblica e programas de preveno do crime e da violncia desenvolvidos em outras reas, alm da participao dos municpios na preveno do crime e da violncia e na melhoria da segurana pblica.

Alm da ampliao dos recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica, fundamental a definio de uma poltica nacional de segurana pblica, articulada a polticas estaduais e municipais, na qual a preveno do crime e da violncia seja um objetivo central, e no apenas marginal, para orientar a aplicao dos recursos do Fundo. Somente assim ser possvel promover a efetiva integrao entre os programas federais, estaduais e municipais desenvolvidos na rea da segurana pblica, da justia criminal e da istrao penitenciria, e os programas desenvolvidos nas reas da sade, educao, trabalho, promoo social, comunicao social, desenvolvimento urbano, direitos humanos, entre outras, relevantes para a preveno do crime e da violncia e para a melhoria da segurana pblica.

Nesse sentido, o Governo Federal, atravs do Ministrio da Justia, deve desenvolver uma poltica nacional de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, que orientaria a aplicao de recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica e a aplicao de recursos de rgos federais em polticas e programas federais, estaduais e municipais de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica. Os governos estaduais que se integrarem ao Sistema nico de Segurana Pblica devem desenvolver uma poltica estadual de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica alinhada com a poltica nacional. Da mesma forma, os municpios que se integrarem ao Sistema nico de Segurana Pblica devem desenvolver polticas municipais de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica alinhada com a poltica nacional e a poltica estadual. Na esfera da Unio, o Governo Federal poderia criar, junto ao Ministrio da Justia, uma comisso executiva ou gabinete de gesto integrada, responsvel pelo desenvolvimento e da poltica nacional de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica. A comisso executiva poderia ser presidida pelo Ministro da Justia, coordenada pelo Secretrio Nacional de Segurana Pblica, contando com a participao de representantes dos diversos rgos do Ministrio da Justia, representantes de outros ministrios e secretarias do Governo Federal, e ainda representantes dos governos estaduaise dos governos municipais.

Esta comisso executiva poderia estar articulada com um conselho consultivo, responsvel pela promoo da participao social e controle externo no desenvolvimento da poltica nacional de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica. Este conselho seria paritrio, com representantes do governo e da sociedade, e deveria contar com a participao de especialistas e representantes de organizaes governamentais e da sociedade civil, atuando na esfera federal, estadual e municipal, nas reas da segurana pblica, justia criminal, istrao penitenciria, sade, educao, trabalho, promoo social, comunicao social, desenvolvimento urbano, direitos humanos e outras reas relevantes para a preveno do crime e da violncia.

No longo prazo, o Governo Federal poderia criar um Conselho Nacional de Preveno do Crime e da Violncia e Promoo da Segurana Pblica, junto ao Ministrio da Justia, a partir da fuso do Conselho Nacional de Segurana Pblica e do Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria.

No curto prazo, o Governo Federal poderia criar um Conselho Nacional de Preveno do Crime e da Violncia e Promoo da Segurana Pblica, junto Secretaria Nacional de Segurana Pblica, a partir da reestruturao do Conselho Nacional de Segurana Pblica. Esta reestruturao teria por objetivo de ampliar a representatividade do conselho, atravs da incluso de representantes de organizaes governamentais (federais, estaduais e municipais), organizaes da sociedade civil e da universidade, atuando em reas relevantes para a preveno do crime e da violncia e a promoo da segurana pblica. Para promover a participao e integrao de organizaes federais ao Sistema nico de Segurana Pblica, seria importante a participao de representantes da Polcia Federal, do Ministrio Pblico Federal, do Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria, Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criana e do Adolescente, Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Conselho Nacional de Promoo da Igualdade Racial, Conselho Nacional de Educao, Conselho Nacional de Sade, Conselho Nacional de Assistncia Social, e Conselho Nacional deDesenvolvimento Econmico e Social.

Para promover a participao e integrao de organizaes estaduais ao Sistema nico de Segurana Pblica, seria importante a incluso de representantes das secretarias de estado da segurana, da justia e da istrao penitenciria, de entidades da polcia civil, da polcia militar, da polcia tcnico-cientfica, do Ministrio Pblico Estadual, de conselhos estaduais da rea da segurana pblica, justia e istrao penitenciria. Para promover a participao e integrao dos municpios ao Sistema nico de Segurana Pblica, seria importante a participao de representantes de entidades nacionais dos municpios, entidades nacionais das guardas municipais, e conselhos municipais da rea da segurana urbana.

O Governo Federal deve promover o desenvolvimento de polticas e programas estaduais e municipais de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, e a integrao dos estados e municpios ao Sistema nico de Segurana Pblica, atravs de apoio econmico, contando para isso com recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica e de outras fontes disponveis, apoio tcnico, apoio poltico, e da definio de regras mnimas para orientar o desenvolvimento de polticas estaduais e municipais articuladas com a poltica nacional. O Governo Federal deve condicionar os investimentos dos recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica apresentao pelos estados e municpios de informaes e dados sobre o crime e a violncia e sobre a implementao e o resultado de polticas e programas de preveno do crime e da violncia, bem como observncia pelos estados e municpios das regras mnimas estabelecidas na poltica nacional, entre as quais se destacam:

. A constituio de unidades integradas de gesto da segurana pblica responsveis pelo desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, com representao de diferentes setores do governo.

. A constituio de conselhos consultivos para promover a participao social e o controle externo no desenvolvimento de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, com representao de diferentes setores do governo, da sociedade e da universidade.

. A elaborao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica, integrando aes de diferentes setores do governo e da sociedade civil.

. O desenvolvimento de bases de informao para subsidiar a formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica.

. A formao e qualificao de profissionais para formular, implementar, monitorar e avaliar polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica.

. A constituio de fundos e a destinao de recursos pblicos e privados para formulao, implementao, monitoramento e avaliao de polticas e programas de preveno do crime e da violncia e promoo da segurana pblica.

O Governo Federal deve ainda constituir um sistema nacional de informaes sobre segurana pblica e justia criminal, definir e promover a implantao de regras mnimas para formao e aperfeioamento de profissionais de segurana pblica, e identificar e promover inovaes e boas prticas nos estados e municpios da federao. O Governo Federal deve, por fim, atravs do Ministrio da Justia, assumir a responsabilidade pela poltica de preveno do crime organizado interestadual e internacional, contando sempre com a colaborao de outros ministrios e secretarias de estado do Governo Federal, e ainda dos estados e dos municpios, atravs de convnios ou protocolos estabelecidos entre as partes.

Estados

No Brasil, os estados tm desempenhado um papel central na rea da segurana pblica, atravs das organizaes do sistema de segurana pblica, justia criminal e istrao penitenciria, mas no tm sido capazes de desenvolver e de sustentar polticas de preveno do crime e da violncia e desenvolver aes integradas com o Governo Federal e os governos municipais. Para viabilizar o desenvolvimento de uma poltica estadual de preveno do crime e da violncia, o Estado deve constituir uma unidade de gesto que, juntamente com um conselho consultivo, seria responsvel pela poltica estadual e pela formulao, implementao, monitoramento e avaliao de um plano de ao integrando programas para preveno do crime da violncia e melhoria da segurana pblica no estado. Para viabilizar a operacionalizao da poltica estadual de preveno do crime e da violncia, o Estado deve criar o Fundo Estadual de Segurana Pblica, constituir um sistema estadual de informaes sobre segurana pblica e justia criminal e adotar as regras mnimas para formao e aperfeioamento de profissionais de segurana pblica. O Estado deve assumir a responsabilidade pela poltica de preveno do crime e da violncia no seu territrio, especialmente a preveno do crime organizado intermunicipal, a preveno dos crimes e violncias de maior gravidade, alm da preveno do crime e da violncia nos municpios que no se integrarem ao Sistema nico de Segurana Pblica, contando sempre com a colaborao da Unio e dos municpios, atravs de convnios ou protocolos estabelecidos entre as partes.

Municpios 23

No Brasil, h um crescente reconhecimento do papel dos municpios na rea da segurana pblica (Brasil, Ministrio da Justia 2003). Entretanto, a atuao dos governos municipais na preveno do crime e da violncia ainda incipiente e tem alcance e impacto limitado. A efetiva participao dos municpios na rea da segurana pblica, ao lado do governo do estado e do Governo Federal, depende da existncia ou da criao de condies favorveis, nos municpios, para o desenvolvimento e a sustentao de polticas de preveno do crime e da violncia, entre as quais se destacam: uma unidade de gesto e um conselho consultivo, responsveis pelo desenvolvimento da poltica municipal de preveno do crime e da violncia e melhoria da segurana pblica; uma base municipal de informaes; um grupo de profissionais capacitados; e disponibilidade de recursos e um fundo municipal para segurana pblica.

Para viabilizar a operacionalizao da poltica municipal de preveno do crime e da violncia, o Municpio deve criar o Fundo Municipal de Segurana Pblica, constituir um sistema municipal de informaes sobre segurana pblica e, caso tenha guarda municipal, adotar as regras mnimas para formao e aperfeioamento de profissionais de segurana pblica.

O Governo Federal deve reservar uma parcela dos recursos do Fundo Nacional de Segurana Pblica para promover o desenvolvimento de polticas e programas municipais de preveno do crime e da violncia, e a integrao dos municpios ao Sistema nico de Segurana Pblica. Na aplicao da parcela dos recursos do Fundo e no processo de integrao dos municpios ao Sistema nico de Segurana Pblica, o Governo Federal deve dar ateno especial aos municpios que so capitais de estado, pertencem a regies metropolitanas, so plos regionais, tm grande concentrao populacional e altas taxas de homicdio, alm de experincias inovadoras na rea da segurana pblica. Os municpios que se integrarem ao Sistema nico de Segurana Publica devem compartilhar com o Estado e a Unio a responsabilidade pela poltica de preveno do crime e da violncia no seu territrio, especialmente no desenvolvimento de programas e preveno primria e na preveno dos crimes e violncias de menor gravidade, da violncia domstica e de gnero, violncia contra minorias e violncia envolvendo jovens, da desordem urbana e dos conflitos interpessoais e sociais.

Os municpios devem contar sempre com a colaborao do Estado e da Unio, particularmente os municpios que so capitais de estado, plos regionais, tm grande concentrao populacional ou pertencem a regies metropolitanas. Enquanto no houver legislao federal regulamentando a participao dos municpios na rea da segurana pblica, esta participao deve ser regulada atravs de convnios ou protocolos estabelecidos entre Municpio, Estado e, principalmente quando apoiada pelo Fundo Nacional de Segurana Pblica, pela Unio.

Bibliografia

Abramovay, E. (coord.). 2001. Escolas de Paz. Braslia: UNESCO/Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Abramovay, E. (coord.) 2003. Escolas Inovadoras. Braslia: UNESCO/Kellogg Foundation.

Adorno, Srgio. 1999. Precocius Delinquency: young people and gangs in So Paulo (Brazil). So Paulo: Center for the Study of Violence, University of So Paulo. Paper prepared for delivery at the 1999 Annual Meeting of the American Anthropological Association, September 17-20.

Adorno, Srgio. 1993. A Criminalidade Violenta Urbana no Brasil: um recorte temtico,

BIB-Boletim Bibliogrfico e Informativo em Cincias Sociais 35:1, pp. 3-24. Adorno, Srgio and Cardia, Nancy. 2002. Police Violence, Democratic Transition and Rule of Law in Brazil (1980-1998). So Paulo: Center for the Study of Violence.

Paper prepared for delivery at the XXII International Congress of the Latin American Studies Association, March 16-18.

Akerman, Marco e Bousquat, Aylene. 1999. Mapas de Risco de Violncia, So Paulo em Perspectiva 13:4, pp. 112-120.

Arias, Enrique Desmond. 2002. The Trouble with Social Capital: Networks and Criminality in Rio de Janeiro. Paper prepared for delivery at the 2002 Annual Meeting of the American Political Science Association, August 29-September1.

Assis, Simone G. de. 1999. Traando caminhos em uma sociedade violenta: a vida de jovens infratores e seus irmos no-infratores. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.

Assis, Simone G. de e Constantino, Patrcia. 2001. Filhas do Mundo: infrao juvenil feminina no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001.

Assis, Simone G. e Avanci, J.Q. 2003. Labirinto de espelhos: desenvolvimento da autoestima na infncia e adolescncia. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.

Azevedo, Rodrigo Ghiringhelli de. 2000. Informalizao da Justia e Controle Social. So Paulo: IBCCRIM, 2000.

Beato, Cludio et al. 1999. Stay Alive Program: Simple Actions, Effective Results. Belo Horizonte: Crisp.

Beato, Cludio. 1998. Determinantes da Criminalidade em Minas Gerais, Revista Brasileira de Cincias Sociais 13:37, pp. 47-87.

Beato F, Cludio C e Reis, Ilka Afonso. 2000. Desigualdade, Desenvolvimento Scio- Econmico e Crime. Rio de Janeiro: Ipea.

Beato, Cludio et al. 2002. Das Polticas de Segurana Pblica s Polticas Pblicas de Segurana. So Paulo: Ilanud.

Bennet, Trevor, Crime Prevention, em Tonry, M. (ed.). 1998. The Handbook of Crime and Punishment. New York and Oxford: Oxford University Press.

Bloom, M. 1999. Primary prevention and resilience: changing paradigms and changing lives, in Hampton, R.L., Jenkins, P. e Gullotta, T.P., 1999, pp. 87-114.

Blumstein, Alfred e Wallman, Joel (eds.). 2000. The Crime Drop in America. Cambridge: Cambridge University Press.

Brasil, Cmara dos Deputados, Comisso de Desenvolvimento Urbano e Interior. 2002. IV Conferncia das Cidades: As diversas formas de superao da violncia. Braslia: Cmara dos Deputados, Centro de Documentao e Informao, Coordenao de Publicaes.

Brasil, Ministrio da Justia. 2003. O Papel dos Municpios no Sistema nico de Segurana Pblica: Relatrio do Grupo de Trabalho sobre Segurana Pblica do Comit de Articulao Federativa. Braslia: Ministrio da Justia.

Brasil, Ministrio da Justia. 2002. Relatrio Final Verso 1.0 - Programa de Apoio istrao da Segurana Pblica e da Poltica Penitenciria nos Estados e Municpios Penaspem. Braslia: Ministrio da Justia.

Brasil, Ministrio da Justia. 2001. Plano Nacional de Segurana Pblica. Braslia: Ministrio da Justia.

Brasil, Ministrio da Justia e Viva Rio. 1997. Propostas da Conferncia Nacional Segurana, Justia e Cidadania. Braslia: Ministrio da Justia e Viva Rio.

Brasil, Ministrio da Justia, Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria. 2003. Resoluo 16, de 17 de dezembro de 2003.

Brasil, Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica. 2003. Programa de Segurana Urbana e Preveno da Violncia Esboo Preliminar. Braslia: Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica. Manuscrito.

Brasil, Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica. 2003. Apresentao dos Planos Estaduais de Segurana Pblica. Braslia: Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica. Manuscrito.

Brasil, Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, departamento de Pesquisa, Anlise da Informao e Formao de Pessoal em Segurana Pblica. 2003. Arquitetura Institucional do Sistema nico de Segurana Pblica. Braslia: Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, departamento de Pesquisa, Anlise da Informao e Formao de Pessoal em Segurana Pblica. Apresentao em power-point.

Brasil, Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, Departamento de Pesquisa, Anlise da Informao e Formao de Pessoal em Segurana Pblica. 2003. Criminalidade no Brasil. Braslia: Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, departamento de Pesquisa, Anlise da Informao e Formao de Pessoal em Segurana Pblica. Apresentao em power-point.

Brasil, Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, Departamento de Pesquisa, Anlise da Informao e Formao de Pessoal em Segurana Pblica. 2003. Custos Sociais e Econmicos da Criminalidade. Braslia: Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, departamento de Pesquisa, Anlise da Informao e Formao de Pessoal em Segurana Pblica. Apresentao em power-point.

Brasil, Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, Departamento de Pesquisa, Anlise da Informao e Formao de Pessoal em Segurana Pblica. 2003. Perfil das Organizaes Policiais. Braslia: Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica, departamento de Pesquisa, Anlise da Informao e Formao de Pessoal em Segurana Pblica. Apresentao em power-point.

Brasil, Ministrio da Sade, Conselho Nacional de Sade. 2002. O Desenvolvimento do Sistema nico de Sade: avanos, desafios e reafirmao dos seus princpios e diretrizes. Braslia: Ministrio da Sade/Conselho Nacional de Sade.

Brasil, Ministrio da Sade. 2001. Poltica Nacional de Reduo da Morbimortalidade por Acidentes e Violncias - Portaria MS/GM 737, de 16/05/01. Braslia: Ministrio da Sade.

Brasil, Ministrio da Sade. 1993. Violncia contra crianas e adolescentes: proposta preliminar de preveno e assistncia violncia domstica. Braslia: Ministrio da Sade.

Brasil, Prefeitura de Porto Alegre. 2003. A Prefeitura de Porto Alegre e a Segurana Urbana. Porto Alegre: Prefeitura de Porto Alegre, Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurana Urbana. Inclui o texto do Plano Municipal de Segurana Urbana.

Bushway, Shawn e Reuter, Peter. 1997. Labor Markets e Fatores de Risco de Crime. Em Sherman et al 1997.

Buvinic, Mayra, Morrison, Andrew and Shifter, Michael. 1999. Violence in Latin American and the Caribbean: A Framework for Action. Washington, DC: Interamerican Development Bank.

Campos, Andr, Pochmann, Mrcio, Amorim, Ricardo e Silva, Ronnie (orgs.). 2003. Atlas da Excluso Social no Brasil, volume 2. So Paulo: Cortez Editora.

Cano, Incio. 2001. Violncia Letal, Renda e Desigualdade Social no Brasil. Rio de Janeiro: 7 Letras.

Cardia, Nancy. 1999. Atitudes, Normas Culturais e Valores em Relao Violncia. Braslia: Ministrio da Justia, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos.

Cardia, Nancy. 1995. Mdia e violncia. Comunicao & Poltica 1:2, pp.63-73.

Cardia, Nancy e Schiffer, Sueli. 2002. Violncia e Desigualdade Social. Cincia e Cultura 54:1, pp. 25-31.

Cardia, Nancy e Schiffer, Sueli. Sem data. Urbanization, Youth and Risk Factors for Substance Abuse - So Paulo Secondary Data Analysis. So Paulo: Center for the Study of Violence, University of So Paulo.

Cardia, Nancy, Adorno, Srgio e Poleto, Frederico. 2003. Homicdio e violao de direitos humanos em So Paulo. Estudos Avanados 17:47, pp. 43-73.

Carneiro, Leandro Piquet. 2000. Violent Crime in Latin American Cities: e Rio de Janeiro So Paulo Research Report. So Paulo: Departamento de Cincia Poltica, Universidade de So Paulo. Manuscrito.

Castro, Mary Garcia e Abramovay, Miriam. 2002. Drogas nas Escolas. Braslia: Unesco.

Cavalcanti, M.L. 2002. A abordagem da violncia intrafamiliar no Programa Mdico de Famlia: dificuldades e potencialidades. Tese de Doutorado. Instituto Fernandes Figueira. Rio de Janeiro.

Cedec. 1996A. Mapa de Risco de Violncia da Cidade de So Paulo. So Paulo: Cedec.

Cedec, 1996B. Mapa de Risco de Violncia da Cidade de Curitiba. So Paulo: Cedec.

Cedec. 1997A. Mapa de Risco de Violncia da Cidade de Salvador. So Paulo: Cedec.

Cedec. 1997B. Mapa de Risco de Violncia da Cidade do Rio de Janeiro. So Paulo: Cedec.

Cerqueira, Daniel, Lobo, Waldir. 2003. Determinantes da Criminalidade: uma resenha de modelos tericos e resultados empricos. Rio de Janeiro: Ipea.

Cerqueira, Daniel, Lobo, Waldir. 2003. Criminalidade: social versus polcia?. Rio de Janeiro: Ipea.

Cervenka, K.A., Dembro, R. e Brown, C.H. 1996. A Family Empowerment Intervention for Families of Juvenile Offenders. Aggression and Violence Behavior, vol. 1, n.3, pp-205-216, 1996.

Chalom, Maurice et al. 2001. Urban Safety and Good Governance: The Role of the Police.

IC and UNCHS-Habitat Safer Cities Program.

Clark, Ronald V. e Eck, John, Become a Problem-Solving Crime Analyst (London: Jill Dando Institute of Crime Science, University College London, 2003).

Conectas Direitos Humanos, ANDI, UNESCO, Secretaria Especial de Direitos Humanos, Fundao Ford. 2003. Guia de Direitos Humanos: Fontes para jornalistas. So Paulo: Cortez Editora.

Consrcio Universitrio de Direitos Humanos, Fundao Friedrich Ebert, UNESCO, Secretaria de Estado de Direitos Humanos. 2001. Manual de Mdia e Direitos Humanos. So Paulo: Consrcio Universitrio de Direitos Humanos, Fundao Friedrich Ebert, UNESCO, Secretaria de Estado de Direitos Humanos.

CRMES (Conselho Regional de Medicina do Estado de So Paulo), APM (Associao Paulista de Medicina), SIMESP (Sindicato dos Mdicos do Estado de So Paulo). 1998. A Epidemia da Violncia. So Paulo: s.ed.

Daro, D. e Donelly, AC. 2002. Charting the waves of prevention: two steps forward, one step back. Child Abuse & Neglect, 26, pp. 731-742. Debarbieux, ric et al. 2003. Violncias nas Escolas: desafios e alternativas. Braslia: Unesco e Pnud, 2003.

Debarbieux, ric e Blaya, Catherine (orgs.). 2002. Violncia nas Escolas: dez abordagens europias. Braslia: Unesco.

Debarbieux, ric e Blaya, Catherine (orgs.). 2002. Violncia nas Escolas e Polticas Pblicas. Braslia: Unesco.

Dembo, R., Cervenka, K.A., Hunter, B. e Wang, W. 1999. Engaging high risk families in community based intervention services. Aggression and Violent Behavior, 4(1): 41- 58, 1999.

Deslandes, S.F. 1999. O atendimento s vtimas de violncia na emergncia: preveno numa hora dessas? Cincia & Sade Coletiva v.4, n.1, 81-94.

Deslandes, S.F. e Assis, Simone G. 2003. Famlias: parceiras ou usurias eventuais? Anlise de servios de ateno a famlias com dinmica de violncia domstica contra crianas e adolescentes. Rio de Janeiro: CLAVES/UNICEF. Relatrio Final de Pesquisa.

Dowdney, Luke. 2003. Crianas do Trfico: um estudo de caso de crianas em violncia armada organizada no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 7 letras, 2003.

Eck, John. 1997. Preventing Crime at Places. Em Sherman et al 1997.

Eckblom, Paul. 1998. Situational Crime Prevention: effectiveness of local initiatives. Em Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998.

Fajnzylber, Pablo, Lederman, Daniel e Loayza, Norman. 2000. Crime and Victimization: An Economic Perspective. Paper prepared for delivery at the 1st Meeting of the Latin American Economic Policy Review, New York, May 12-13.

Fajnzylber, Pablo, Lederman, Daniel e Loayza, Norman. 1998. Determinants of Crime Rates in Latin America and the World. Washington, DC: World Bank. Ferrari, D.C. e Veccini, T.C.C. 2002. O fim do silncio na violncia familiar. So Paulo: gora.

Fyfe, James J. and Goldkamp, John S. e White, Michael D. 1997. Strategies for Reducing Homicide: The Comprehensive Homicide Initiative in Richmond, California. Washington, DC: NIJ.

Frum Nacional de Reforma Urbana. 2003. Resolues do Encontro Nacional Junho de 2003: Rumo Conferncia Nacional das Cidades - Uma Outra Cidade Possvel. Manuscrito.

Gauthier, Lily-Ann et al. 1999. 100 Crime Prevention Programs to Inspire Action Across the World. IC, 1999.

Goldstein, Herman. 1990. Problem-Oriented Policing. New York: McGraw-Hill.

Gottfredson, Denise. 1997. School-based Crime Prevention, in Sherman et al 1997.

Hampton, Robert L., Jenkins, Pamela e Gullota, Thomas P. (eds.). 1999. Preventing Violence in America (Thousand Oaks/London/New Dellhi: Sage Publications. Hawkins, J. David et al, Predictors of Youth Victimization. 2000. OJJDP - Juvenile Justice Bulletin. Washington, DC: United States Department of Justice, Office of Justice Programs, Office of Juvenile Justice and Delinquency Prevention.

Hicks, David C. Denat, Frantz e Arsenault, Bernard. 2000. Inspiring Police Practices: Crime Prevention Partnerships. Montreal: International Center for the Prevention of Crime. Instituto da Cidadania. 2001. Projeto Segurana Pblica para o Brasil. So Paulo: Instituto da Cidadania.

Interamerican Development Bank, Sustainable Development Department, Social Development Division, Technical Notes 1-9.

Krug, Etienne G. et al. 2002. World Report on Violence and Health. Geneva: World Health Organization. O relatrio est traduzido para o portugus, com o ttulo Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade.

Lauritsen, Janet L. 2003. How Families and Communities Influence Youth Victimization.

OJJDP - Juvenile Justice Bulletin. Washington, DC: United States Department of Justice, Office of Justice Programs, Office of Juvenile Justice and Delinquency Prevention. Leavel, H.R. e Clarck. E.G. 1976. Medicina Preventiva, So Paulo: Mc Graw Hill do Brasil.

Lederman, Daniel. 2000. Ciencia, investigacin y polticas pblicas: el curioso caso del crimen y la violencia en Latin Amrica. Paper prepared for delivery at the international conference Crimen y Violencia: causas y polticas de prevencin, Bogot, May-4-5.

Lederman, Daniel, Loayza, Norman e Mendez, Ana Mara. 2000. Violent Crime: Does Social Capital Matter?

Lederman, Daniel e Loayza, Norman. 1999. What causes crime and violence?. In Moser and Listner 1999.

Liebermann, Susan and Landman, Karina. 2000. A Manual for Community Based Crime Prevention. Pretoria: National Crime Prevention Center.

Lima, Renato Srgio de. 2002. Criminalidade Urbana - Conflitos Sociais e Criminalidade Urbana: uma anlise dos homicdios cometidos no municpio de So Paulo. So Paulo: Sicurezza.

Lima, Roberto Kant de et al. 2000. Violncia, Criminalidade, Segurana Pblica e Justia Criminal no Brasil: Uma Bibliografia. BIB-Boletim Bibliogrfico e Informativo em Cincias Sociais 50:2, pp. 45-123.

Londoo, Juan Luis e Guerrero, Rodrigo. 1999. Violncia em America Latina: Epidemiologia y Costos. Washington, DC: Banco Interamericano de Desenvolvimento.

MacKenzie, Doris L. 1997. Criminal Justice and Crime Prevention. Em Sherman et al 1997.

Maia, Paulo Borlina. 1999. Vinte Anos de Homicdio no Estado de So Paulo, So Paulo em Perspectiva 13:4, pp. 121-129.

Mesquita Neto, Paulo de. 2001. Crime, Violncia e Incerteza Poltica no Brasil, in Mesquita Neto, Paulo de et al, A Violncia no Cotidiano. So Paulo: Fundao Konrad Adenauer, 2001.

Mesquita Neto, Paulo de e Affonso, Beatriz S. 2003. Segundo Relatrio Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil. So Paulo: Comisso Teotnio Vilela de Direitos Humanos.

Minayo, Maria Ceclia, Souza, Ednilsa Ramos de (orgs,). 2003. Violncia sob o Olhar da Sade. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz.

Minayo, Maria Ceclia, Souza, Ednilsa Ramos de (orgs,). 2003. Misso Investigar: Entre o Ideal e a Realidade de Ser Policial. Rio de Janeiro: Garamond, 2003.

Minayo, Maria Ceclia, Souza, Ednilsa Ramos de e Njaine, Kathie (orgs.). 1999. possvel prevenir a violncia? Dossi publicdo em Cincia e Sade Coletiva 4:1.

Moser, Caroline e Lister, Sarah (eds.). 1999. Violence and Social Capital: Proceedings of the LCSES Seminar Series, 1997-98. Washington, DC: World Bank.

Nuttall, C., Goldblatt, P. e Lewis, C. 1998. Reducing Offending: an assessment of research on ways of dealing with offending behavior. London: Home Office.

Pease, Ken. 1998. Changing the Context of Crime Prevention. Em Nuttall, Goldblatt e Lewis 1998.

Pease, Ken, Crime Prevention. 1997. Em Maguire, M., Morgan, R. e Reiner, R. (eds.), The Oxford Handbook of Criminology. Oxford: Clarendon Press.

Pillai, V.M.A, Collins, A e Morgan, R. 1982. Family Walk In Centre Eaton Socon: Evaluation of Project on Preventive Intervention Based in the Community. Child Abuse & Neglect, 6, pp. 71-79.

Pinheiro, Paulo S. et al. 1998. So Paulo Sem Medo: um diagnstico da violncia urbana. Rio de Janeiro: Garamond.

Pochmann, Mrcio e Amorim, Ricardo (orgs.). 2003. Atlas da Excluso Social no Brasil, volume 1, 2a edio. So Paulo: Cortez Editora.

Rede de Observatrios de Direitos Humanos. 2002. Relatrio da Cidadania III: Os Jovens e os Direitos Humanos. So Paulo: Rede de Observatrios de Direitos Humanos.

Rede de Observatrios de Direitos Humanos. 2002. Relatrio da Cidadania II: Os Jovens, a Escola e os Direitos Humanos. So Paulo: Rede de Observatrios de Direitos Humanos.

Rede de Observatrios de Direitos Humanos. 2000. Relatrio da Cidadania: Os Jovens e os Direitos Humanos. So Paulo: Rede de Observatrios de Direitos Humanos.

Reiss Jr., Albert J. e Roth, Jeffrey A. 1993. Understanding and Preventing Violence. Washington, DC: National Academy Press.

Ribeiro, Paulo Jorge e Strozenberg, Pedro (organizadores). 2001. Balco de Direitos: resolues de conflitos em favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Mauad. Rizzini, I., Barker, G. e Ssaniga, N. 2000. Fortalecendo as bases de apoio familiares e comunitrias para crianas e adolescentes. Rio de Janeiro: EDUSU, Jacobs Foundation.

Sethi D., Marais S., Seedat M., Nurse, Jo, Butchart, A. 2003. Handbook for the documentation of interpersonal violence prevention programmes. Geneva: WHO, Department of Injuries and Violence Prevention.

Sherman, Lawrence. 1995. Police. Em Wilson, James Q. e Petersilia, Joan (eds.), Crime. San Francisco: ICS Press.

Sherman, Lawrence W. et al 1997. Prevention Crime: What Works, What Doesnt, Whats Promising: A Report to the United States Congress. Washington, DC: National Institute of Justice.

Schoemaker, D.J. 1996. Theories of delinquency. An examination of explanations of delinquent behavior. New York: Oxford University Press.

Staudt, M.M., Whitaker, L.S. e Hinterlong, J. 2001. The role of familiy preservation therapists in facilitating use of aftercare services. Child Abuse & Neglect, 26(6): 803-817.

Thorton, T.N. et al. 2002. Best Practices of Youth Violence Prevention: a sourcebook for community action. Atlanta: Center for Disease Control and Prevention, National Center for Injury Prevention and Control, Division of Violence Prevention. Thyen, U. e Thiessen, R. 1995. Secondary prevention serving families at risk. Child Abuse & Neglect, vol. 19, n.11, pp.1337-1347.

Travis, Jeremy. 2002. Reflections on the Crime Decline: proceedings from the Urban Institute Crime Decline Forum. Washington, DC: Urban Institute, Justice Policy Center. United Nations, Economic and Social Council. 1995. Resolution 1995/9 Guidelines for the prevention of urban crime (24 de julho de 1995).

United Nations Economic and Social Council, Commission on Crime Prevention and Criminal Justice. 2002. Report on the Eleventh Session (16-25 April 2002).

Documento E/2002/30, E/CN.15/2002/14. Inclui a resoluo Ao para promover preveno criminal eficaz, que aprova o documento Diretrizes para Preveno do Crime.

United Nations Economic and Social Council, Commission on Crime Prevention and Criminal Justice. 2002. Eleventh Session, 16-25 April 2002, Effective communitybased crime prevention Report of the Meeting of the Group of Experts on Crime Prevention (Vancouver, Canada, 21-24 January, 2002). Documento E/CN.15/ 2002/4.

United Nations Office on Drugs and Crime. 2003. The Application of the United Nations Standards and Norms on Crime Prevention and Criminal Justice Expert Group Meeting. Viena: Ministrio da Justia.

United Nations, Tenth UN Congress on the Prevention of Crime and the Treatment of Offenders. 2002. Vienna Declaration on Crime and Justice: Meeting the Challenges of the Twentieth First Century. Documento A/Conf.187/4/Rev.3.

United Nations, Tenth UN Congress on the Prevention of Crime and the Treatment of Offenders. 2000. Effective Crime Prevention: keeping the pace with new developments Working paper prepared by the Secretariat. Documento A/Conf.187/7.

United Nations, Tenth UN Congress on the Prevention of Crime and the Treatment of Offenders. 2000. Community involvement in effective crime prevention - Background paper for the workshop on community involvement in crime prevention. Documento A/Conf.187/11.

United States, Department of Education. 1998. Early Warning, Timely Response: A Guide to Safe Schools. Washington, DC: United States, Department of Education.

United States, Department of Health and Human Services. 2001. Youth Violence: A Report of the Surgeon General. Washington, DC: United States Department of Health and Human Services.

United States, Department of Health and Human Services, Public Health Service, National Institutes of Health, National Institute of Mental Health. 2000. Child and Adolescent Violence Research at the National Institute of Mental Health.

Washington, DC: National Institute of Mental Health. Vera Institute of Justice, Measuring Progress Toward Safety and Justice: A Global Guide to the Design of Performance Indicators across the Justice Sector (VIJ, Novembro 2003).

Viana, Luiz Werneck, Carvalho, Maria Alice Rezende de, Meo, Manuel Palacios Cunha e Burgos, Marcelo Baumann. 2001. A judicializao da poltica e das relaes sociais no Brasil. Editora Revan.

Viva Rio. 2003. Plano Municipal de Ordem Pblica Resende, RJ. Rio de Janeiro: Viva Rio.

Waiselfisz, Jacobo. 2002. Mapa da Violncia III; Os Jovens do Brasil. Braslia: Unesco, Instituto Ayrton Senna, Ministrio da Justia/Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Weisburd, David. 1997. Reorienting Crime Prevention Research and Policy: From the Causes of Criminality to the Context of Crime. Washington, DC: NIJ.

World Bank, Department of Finance, Private Sector and Infrastructure, Latin America Region, Preveno Comunitria do Crime e da Violncia em reas Urbanas: Um Guia de Recursos para os Municpios. Washington, DC: World Bank.

Yunes, Joo e Zubarew, Tmara. 1999. Mortalidad por causas violentas en adolescentes y jvenes: um desafio para la regin de ls Amricas. Revista Brasileira de Epidemiologia 2:3, pp. 102-171.

Zaluar, Alba. 1999. Violncia e Crime, in Miceli, S. (ed.), O que Ler na Cincia Social Brasileira, 1970-1995. So Paulo: Anpocs. Srie Polcia e Sociedade

Organizao: Nancy Cardia, Ncleo de Estudos da Violncia da USP. Apoio: Fundao Ford.

1. Bayley, David H., Padres de Policiamento (So Paulo: Edusp, 2001).

2. Bayley, David H. e Skolnick, Jerome H., Nova Polcia: inovaes nas polcias de seis cidades norte-americanas (So Paulo: Edusp, 2001).

3. Monet, Jean-Claude, Polcias e Sociedades na Europa (So Paulo: Edusp, 2001).

4. Brodeur, Jean-Paul, Como Reconhecer um Bom Policiamento (So Paulo: Edusp, 2002).

5. Greene, Jack (org.), istrao do Trabalho Policial (So Paulo: Edusp, 2002).

6. Skolnick, Jerome H. e Bayley, David H., Policiamento Comunitrio (So Paulo: Edusp, 2002).

7. Tonry, Michael e Norval, Morris (orgs.), Policiamento Moderno (So Paulo: Edusp, 2002).

8. Bittner, Egon, Aspectos do Trabalho Policial (So Paulo: Edusp: 2003).

9. Goldstein, Herman, Policiando uma Sociedade Livre (So Paulo: Edusp, 2003).

Web-sites

Brasil

Brasil, Ministrio da Justia

http://www.mj.gov.br

Brasil, Ministrio da Justia, Conselho Nacional de Poltica Criminal e Penitenciria

http://www.mj.gov.br/cnpc

Brasil, Ministrio da Justia, Secretaria Nacional de Segurana Pblica

http://www.mj.gov.br/senasp

Brasil, Presidncia da Repblica, Secretaria Especial de Direitos Humanos

http://www.presidencia.gov.br/sedh

Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas Psicotrpicas

http://www.unifesp.br/dpsicobio/cebrid

Centro de Estudos de Criminalidade e Segurana Pblica, Universidade Federal de Minas Gerais CRISP/UFMG

http://www.crisp.ufmg.br

Centro de Estudos de Segurana e Cidadania,

Universidade Cndido Mendes CESEC/UCAM

http://www.cesec.ucam.br

Fundao Oswaldo Cruz (Fiocruz) Ver pginas sobre Linhas de Pesquisa, Violncia e seu Impacto na Sade e do Centro Latino-Americano deEstudos de Violncia e Sade (Claves)

http://www.fiocruz.br

Instituto Brasileiro de Cincias Criminais

http://www.ibccrim.org.br

Instituto de Estudos da Religio

http://www.iser.org.br

Instituto Latino-Americano das Naes Unidas para a Preveno do Delito Tratamento do Delinqente ILANUD

http://www.ilanud.org.br

Laboratrio de Estudos da Criana, Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo LACRI/USP

http://www.usp.br/ip/laboratorios/lacri

Ncleo de Estudos da Violncia, Universidade de So Paulo NEV/USP

http://www.nev.prp.usp.br

Ncleo Fluminense de Estudos e Pesquisas, Universidade Federal Fluminense NUFEP/UFF

http://www.uff.br/nufep

Ncleo de Pesquisa das Violncias, Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

http://www.ims.uerj.br/nupevi

Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura - Brasil

http://www.unesco.org.br

Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento - Brasil

http://www.pnud.org.br

Programa de Gesto Pblica e Cidadania, Fundao Getlio Vargas

http://inovando.fgvsp.br

Outros Pases

Australian Institute of Criminology

http://www.aic.gov.au

Canadian Association of Civilian Oversight of Law Enforcement

http://www.cacole.ca

Center for Problem-Oriented Policing (EUA)

http://www.popcenter.org/

Center for the Study and Prevention of Violence (EUA)

http://www.colorado.edu/cspv

Center for Violence Study and Prevention (EUA)

http://mcnet.columbia.edu/dept/sph-old/cvrp/index.html

Centre de Recherches Sociologiques sur le Droit et les Institutions Pnales (Frana)

http://www.cesdip.msh-paris.fr

Centro de Estudios en Seguridad Ciudadana (Chile)

http://www.cesc.uchile.cl

Centro de Estudios Legales y Sociales (Argentina)

http://www.cels.org.ar

Committee on the istration of Justice (Reino Unido)

http://www.caj.org.uk

Community Policing Consortium (EUA)

http://www.communitypolicing.org

Council of Europe Ver pginas sobre Direitos Humanos e Programa Polcia e Direitos Humanos

http://www.coe.int

Crime Reduction Web-site (Gr-Bretanha)

http://www.crimereduction.gov.uk

European Institute for Crime Prevention and Control, associado s Naes Unidas

http://www.heuni.fi

European Forum for Urban Safety

http://urbansecurity.org

European Platform for Policing and Human Rights (Dinamarca)

http://www.epphr.dk/s.htm

Home Office Research and Statistics Directorate (Gr Bretanha)

http://www.homeoffice.gov.uk/rds/index.htm

Institut des Hautes Etudes de la Scurit Intrieure (Frana)

http://www.ihesi.interieur.gouv.fr

Instituto de Investigacin sobre el Delito y la Justicia para Amrica Latina (Argentina)

http://iidejual.jus.gov.ar

Inter-American Development Bank

http://www.iadb.org

International TED Association

http://www.ted.net/home.html

International Victimology Web-site

http://www.victimology.nl

Instituto Latinoamericano de las Naciones Unidas para la Prevencin del Delito y el Tratamiento del Delincuente ILANUD (Costa Rica)

http://www.ilanud.org.cr

International Center for the Prevention of Crime (IC)

http://www.crime-prevention-intl.org

Jill Dando Institute of Crime Science, University College of London

http://www.jdi.ucl.ac.uk

Justice Policy Institute (EUA)

http://www.justicepolicy.org

National Association for Civilian Oversight of Law Enforcement (EUA)

http://www.nacole.org

National Center for Injury Prevention and Control,

Division of Violence Prevention (EUA)

http://www.cdc.gov/ncipc/dvp/dvp.htm

National Crime Prevention Council (EUA)

http://nc.org

National Crime Prevention Strategy Web-Site (Canad)

http://www.crime-prevention.org

National Criminal Justice Reference Service (EUA)

http://www.ncjrs.org

National Criminal Justice Reference Service

Ver pgina sobre Preveno do Crime

http://virlib.ncjrs.org/more.asp?category=51&subcategory=131

National Institute of Justice Pgina sobre Preveno do Crime

http://www.ojp.usdoj.gov/nij/crimdocs2003.htm

National Youth Violence Prevention Resource Center

http://www.safeyouth.org

Neighbourhood Renewal Unit (Reino Unido)

http://www.neighbourhood.gov.uk

Open Society Institute, Criminal Justice Initiative (EUA)

http://www.soros.org/crime

Open Society Institute, Justice Initiative (EUA)

http://justiceinitiative.org

Police Complaints Authority (Reino Unido)

http://www.pca.gov.uk

Projeto Cidade Segura (Emilia-Romagna, Itlia)

http://www.regione.emilia-romagna.it/citta_sicure/index.htm

Research Network on Adolescent Development and Juvenile Justice (EUA)

http://www.mac-adoldev-juvjustice.org

Restorative Justice On Line (EUA, Prison Fellowship International, Centre for Justice and Reconciliation)

http://www.restorativejustice.org

United Nations Interregional Crime and Justice Research Institute (UNICRI)

http://www.unicri.it

United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC)

http://www.unodc.org

United Nations Commission on Crime Prevention and Criminal Justice

http://www.unodc.org/unodc/crime_ci_commission.html

United Nations Crime and Justice Information Network (UNCJIN)

http://www.unodc.org/unodc/uncjin.html

United Nations, Habitat - Programa Cidades Seguras

www.unchs.org/safercities

United States, Department of Education, Office of

Special Education and Rehabilitative Services

http://www.ed.gov/about/offices/list/osers/index.html

United States, Department of Health and Human Services

http://www.hhs.gov

United States, Department of Health and Human Services, Centers for Disease Control and Prevention.

Ver National Center for Injury Prevention and Control, Division of Violence Prevention

http://www.cdc.gov

United States, Department of Health and Human Services, National Institutes of Mental Health.

http://www.nimh.nih.gov

United States, Department of Justice, National Institute of Justice

http://www.ojp.usdoj.gov/nij

United States, Department of Justice, Office of Justice Programs

http://www.ojp.usdoj.gov

United States, Department of Justice, Office of Juvenile Justice and Delinquency Prevention

http://ojjdp.ncjrs.org

Urban Institute, Justice Policy Center (EUA)

www.urban.org

Youth Law Center (EUA)

http://www.youthlawcenter.com

Vera Institute of Justice (EUA)

http://www.vera.org

World Bank

http:www.worldbank.org

World Health Organization Ver especialmente o Relatrio Mundial sobre Violncia e Sade

http://www.who.int

9. Glossrio

Crime

Transgresso imputvel da lei penal, por dolo ou culpa, ao ou omisso (Houaiss).

Violncia

Uso intencional da fora fsica ou do poder, real ou em ameaa, contra outra pessoa ou contra si prprio ou contra outro grupo de pessoas, que resulte ou tenha grande possibilidade em resultar em leso, morte, dano psicolgico, deficincia de desenvolvimento, ou privao (OMS).

Preveno do Crime e da Violncia

Resultado de polticas, programas e/ou aes de reduo do crime e da violncia e/ou seu impacto sobre os indivduos e a sociedade, atuando sobre os fatores de risco e os fatores de proteo que afetam a incidncia do crime e da violncia e seu impacto sobre os indivduos, famlias, grupos e comunidades, e sobre a vulnerabilidade e a resilincia dos indivduos, famlias, grupos e comunidades diante do crime e da violncia.

Fator de Proteo

Fator que reduz a probabilidade de incidncia ou de efeitos negativos de crimes ou violncias. Quanto maior a presena de fatores de proteo e menor a presena de fatores de risco, menor a probabilidade de incidncia e de efeitos negativos de crimes e violncias.

Fator de Risco

Fator que aumenta a probabilidade de incidncia ou os efeitos negativos de crimes ou violncias, mas no determina a incidncia ou os efeitos negativos de crimes e violncias. Quanto maior a presena de fatores de risco, e menor a presena de fatores de proteo, maior a probabilidade de incidncia e de efeitos negativos de crimes e violncias.

Resilincia

Condio de indivduos, famlias, grupos e comunidades que os tornam menos suscetveis ao envolvimento com o crime e violncia e de vitimizao, mesmo em situaes de alto risco.

Vulnerabilidade

Condio de indivduos, famlias, grupos e comunidades que os tornam mais suscetveis de envolvimento com o crime e a violncia e de vitimizao, mesmo em situaes de baixo risco.

Poltica de Preveno do Crime e da Violncia

Conjunto de programas, desenvolvido pelo governo (federal, estadual e/ou municipal), integrados em funo de objetivos comuns, visando a reduzir a incidncia do crime e da violncia e/ou seus efeitos negativos sobre os indivduos, famlias, grupos e comunidades.

Programa de Preveno do Crime e da Violncia

Conjunto de aes, desenvolvidas por organizaes governamentais e/ou no governamentais, integradas em funo de objetivos comuns, visando a reduzir a incidncia do crime e da violncia e/ou seus efeitos negativos sobre os indivduos, famlias, grupos e comunidades.

Preveno Primria

Estratgia de preveno centrada em aes dirigidas ao meio ambiente fsico e/ou social, mais especificamente aos fatores ambientais que aumentam o risco de crimes e violncias (fatores de risco) e que diminuem o risco de crimes e violncias (fatores de proteo), visando a reduzir a incidncia e/ou os efeitos negativos de crimes e violncias. Pode incluir aes que implicam mudanas mais abrangentes, na estrutura da sociedade ou comunidade, visando a reduzir a pr-disposio dos indivduos e grupos para a prtica de crimes e violncias na sociedade (preveno social). Ou, alternativamente, pode incluir aes que implicam mudanas mais restritas, nas reas ou situaes em que ocorrem os crimes e violncias, visando a reduzir as oportunidades para a prtica de crimes e violncias na sociedade (preveno situacional).

Preveno Social

Estratgia de preveno centrada em aes dirigidas reduo da pr-disposio dos indivduos e grupos para a prtica de crimes e violncias na sociedade.

Preveno Situacional

Estratgia de preveno centrada em aes dirigidas reduo das oportunidades para a prtica de crimes e violncias na sociedade, atravs do aumento dos custos, aumento dos benefcios e/ou reduo dos benefcios associados prtica de crimes e violncias.

Preveno Secundria

Estratgia de preveno centrada em aes dirigidas a pessoas mais suscetveis de praticar crimes e violncias, mais especificamente aos fatores que contribuem para a vulnerabilidade e/ou resilincia destas pessoas, visando a evitar o seu envolvimento com o crime e a violncia ou ainda a limitar os danos causados pelo seu envolvimento com o crime e a violncia, bem como a pessoas mais suscetveis de ser vtimas de crimes e violncias, visando a evitar ou limitar os danos causados pela sua vitimizao. freqentemente dirigida aos jovens e adolescentes, e a membros de grupos vulnerveis e/ou em situao de risco.

Preveno Terciria

Estratgia de preveno centrada em aes dirigidas a pessoas que j praticaram crimes e violncias, visando a evitar a reincidncia e promover o seu tratamento, reabilitao e reintegrao familiar, profissional e social, bem como a pessoas que j foram vtimas de crimes e violncias, visando a evitar a repetio da vitimizao e a promover o seu tratamento, reabilitao e reintegrao familiar, profissional e social.

Preveno Universal

Estratgias de preveno direcionadas a toda a populao, independente do risco de crime e de violncia.

Preveno Localizada

Estratgias de preveno direcionadas a uma parcela da populao, levando em considerao o risco de crime e de violncia.

Preveno Escolhida

Estratgia de preveno direcionada populao em situao de risco de envolvimento em crimes e violncias, na condio de autor ou de vtima.

Preveno Indicada

Estratgia de preveno direcionada populao que j se envolveu em crimes e de violncias, na condio de autor ou de vtima.

Preveno Compreensiva

Estratgias de preveno baseadas em mltiplas aes/programas, direcionadas a mltiplos fatores de risco e de proteo.

Preveno Focalizada

Estratgia de preveno baseada em uma nica ao/programa, direcionadas a um nico fator de risco ou de proteo.

< Voltar


AP

Desde 1995 dhnet-br.informativomineiro.com Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: [email protected] Facebook: DHnetDh
Linha do Tempo
MNDH
Hist
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Mem
1935 Multim
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
Curso de Agentes da Cidadania Direitos Humanos
Comit
Rede Brasil de Direitos Humanos
Redes Estaduais de Direitos Humanos
Rede Estadual de Direitos Humanos Rio Grande do Norte
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Rede Lus