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Democratizao
das Comunicaes e da Mdia - Foco e Amplitude
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Osvaldo Len
ALAI
131a
A
nova espiral de violncia e mentiras que estourou no mundo depois
dos atentados registrados nos EUA, no dia 11 de setembro ado,
bruscamente trouxe um cenrio adverso s lutas democrticas.
Adversidade que obrigou as lutas democrticas a redobrar seus
esforos para a paz, a justia e a verdade. Isto no s
implica confrontar os excessos da manipulao e distoro
informativa, como as bases e condies que permitem que ela
acontea, que precisamente o que por dcadas vinha animando a
luta pela democratizao das comunicaes.
O
FSM, enquanto processo social articulador, apresenta-se como um
espao idneo e legtimo para catalizar energias e propiciar a
emergncia de um movimento social agrupado sob a bandeira da
democratizao das comunicaes. Com esta premissa, propomos
para a conferncia focalizar a ateno no esboo de uma AGENDA
SOCIAL DAS COMUNICAES. Como se trata de um tema transversal
pois concerne a toda relao humana o que importa
situar os pontos centrais que contribuam para a definio de
estratgias e propsitos frente a articulao e impulso desse
movimento social.
PROBLEMTICA
A
democratizao da comunicao , antes de tudo, uma questo
de cidadania e justia social, que integra o direito humano
informao e comunicao. Cabe dizer que consubstancial
a vida democrtica da mesma sociedade, cuja vitalidade depende de
uma cidadania devidamente informada e deliberante para participar
e corresponsabilizar-se na tomada de deciso dos assuntos pblicos.
Nos
ltimos tempos, sem exceo, esta aspirao democrtica tem
sido seriamente debilitada pela hegemonia neoliberal que, ao
colocar o mercado como eixo do ordenamento social, pretende
confiscar as democracias, anulando todo sentido de cidadania. Alm
disso, a comunicao ou a se constituir em e chave
dessa dinmica. Tanto assim que, apoiando-se no acelerado
desenvolvimento de tecnologias e tcnicas, os poderes
estabelecidos apontam para convert-la em paradigma de futuro,
sob a frmula de sociedade da informao ou qualquer
outro equivalente.
Eis
que a comunicao no s tem sido objeto de substanciais mudanas
internas (subordinao da palavra imagem, transmisses
diretas e em tempo real, multimdia etc) mas tambm tem se
convertido em um dos setores mais dinmicos, com profundas
repercusses em todos as ordens da vida social.
A
comunicao aparece agora como um dos setores econmicos de
ponta, tanto por sua rentabilidade na busca em decifrar as chaves
que apontam para a chamada nova economia. Portanto, ao calor
da globalizao econmica, do qual com maior virulncia se
desatou a dinmica de concentrao empresarial e
multinacionalizao, que se traduziu no aparecimento de
verdadeiros moguls, com ramificaes em todos os cantos do
mundo.
Isto
, megacorporaes que se formaram pela fuso de jornais de mdio
porte, cadeias de televiso, tvs a cabo, cinemas, software,
telecomunicaes, entretenimento, turismo, entre outros. Tais
produtos e servios dessas empresas podem promover-se mutuamente
entre seus diferentes ramos, em busca de uma ampliao de seus
respectivos nichos de mercado. Hoje so sete as corporaes que
dominam o mercado mundial da comunicao. Se no se
estabelecerem restries a esta lgica oligoplica, amanh
podero ser menos.
Como
se trata de um projeto global, este processo vem acompanhado a
imposio tanto de polticas de liberalizao e
desregulamentao, sobretudo em matria de telecomunicaes,
para eliminar qualquer regulamentao ao espao estatal que
pudesse interpor-se expanso multinacional, como normas
tal o caso da nova interpretao dos direitos de propriedade
intelectual orientadas a salvaguardar seus interesses e a
lograr que de uma vez por todas a informao e a produo
cultural sejam consideradas meras mercadorias.
Ao
amparo do dogma neoliberal, o que se v configurando uma indstria
de cultura altamente concentrada e regida por critrios
exclusivamente comerciais. Os critrios so de rentabilidade
acima do interesse pblico e do paradigma do consumidor acima do
cidado. Nada surpreende que a promessa do futuro se perfile com
abundante informao gratuita, mas banal, ainda que
sensacionalista pela mdia, sendo que a de qualidade s poder
ter o quem tem condies de pagar.
Tal
a fora desta investida que em seu trajeto praticamente
arrastou os meios de carter pblico, privatizando-os todos, alm
de forar todos os restantes a comercializarem-se, criando uma
verdadeira eroso nesse rol, ficando sem espaos para alimentar
o debate amplo, plural e aberto s diversas perspectivas, idias
e expresses culturais da sociedade.
No
meio de todos esses desenvolvimentos, a mdia tambm ou a
ser um espao crucial na configurao do espao pblico e da
cidadania dizemos crucial para assinalar que no se trata de
um fenmeno novo, mas sim intenso e substancial tanto pelo
peso que agora tem para gravitar na definio das agendas pblicas
como para estabelecer a legitimidade de tal debate. A predominncia
da mdia com relao a outras instncias de mediao social
partidos, associaes de classe, igrejas, estabelecimentos
educacionais etc tal que, para prevalecer, estas preciso
recorre quelas.
Neste
contexto, o risco de que a ditadura do mercado se consolide
a partir do enorme poder que concentrou no mundo da comunicao,
para ganhar as mentes e os coraes das pessoas, no
uma mera fantasia.
O
curso dessa tendncia s poder ser brecado e modificado por
uma ao cidad contundente, sustentada e deliberada. Existem
roteiros abertos por uma multiplicidade de iniciativas em
diferentes planos. Coletivos empenhados em garantir o o
universal s novas tecnologias de informao e comunicao;
redes de intercmbio para desenvolver software livres; espaos
para pressionar em instncias de deciso na defesa do direito
informao e comunicao; organismos empenhados em
monitorar e implementar aes crticas frente aos contedos
sexuais, racistas, excludentes etc, veiculados pela mdia;
programas de educao para desenvolver uma postura crtica
frente a mdia; associaes de usurios para pressionar na
programao da mdia; meios independentes, comunitrios,
alternativos comprometidos em desenvolver a comunicao; redes
cidads e de intercmbio informativo articuladas por intermdio
da internet; pesquisadores que contribuam para abater as chaves do
sistema reinante e apontar possveis sadas; organizaes
sociais que entrem na disputa da batalha da comunicao; associaes
de jornalistas que levantem a bandeira da tica e independncia;
coletivos de mulheres que articulem redes para que avance a
perspectiva do gnero na comunicao; movimentos culturais que
se neguem a deixar-se sepultar no esquecimento; redes de educao
popular; observatrio em prol da liberdade de informao;
associaes para se opor aos monoplios; movimentos em defesa
da mdia de carter pblico.
Se
tratam de embries de uma resistncia cidad, todavia dispersa,
que precisa multiplicar-se e transformar-se em uma grande mobilizao
de movimentos sociais articulados na luta pela democratizao da
comunicao, trincheira que, na atualidade, se joga o futuro da
democracia. No , portanto, um assunto que diga respeito
unicamente a quem direta ou indiretamente se encontre vinculado
comunicao: interpela o conjunto de atores sociais. E o Frum
Social Mundial pode ser esse espao de encontro necessrio e
inadivel.
PROPOSTAS
ALTERNATIVAS
De
vrios eventos realizado em torno da democratizao da comunicao
e da mdia, temos recolhido os seguintes sinais como pontos bsicos
para avanar na formulao de uma agenda comum.
O
direito comunicao se apresenta agora como aspirao que
se inscreve no dever histrico que comeou com o reconhecimento
de direitos aos proprietrios dos meios de informao, logo aos
que trabalham sob relaes de dependncia com eles, e,
finalmente, a todas as pessoas, que a Declarao Universal de
Direitos Humanos, em seu Artigo 19, consignou como o direito
informao e liberdade de expresso e de opinio. Esta
parte de uma concepo mais global de todos os direitos
reconhecidos e reivindicados em torno da comunicao, que
incorpora de maneira particular os novos direitos relacionados com
as mudanas de cenrio da comunicao e um enfoque mais
interativo da comunicao, no qual os atores sociais so
sujeitos da produo informativa e no simplesmente receptores
ivos da informao. Assim, assume que o reconhecimento desse
direito necessrio ao exerccio dos demais direitos humanos e
um elemento fundamental da vigncia democrtica. A incorporao
desse direito nas agendas dos movimentos sociais e o
desenvolvimento de estratgias para sua concretizao se
apresentam como uma meta chave da construo de alternativas.
importante o estabelecimento de polticas pblicas
sustentadas nos mecanismos de controle social democrtico, para
limitar o poder dos interesses articulados pela lgica do
mercado, com normas que permitam sua regulao, regulamentao
e fiscalizao, descartando disposies questionveis como a
censura, considerado como uma prioridade.
O tema abrange uma ampla gama de aspectos, incluindo, por
um lado, as atuais tentativas de desorganizao do setor e de
imposio de legislaes em torno da propriedade industrial
promovidas pela OMC, FMI e similares, cujo resultado facilitar
o processo de globalizao e monopolizao dos meio de
sistemas de comunicao. Por outro lado, h a necessidade de
implantar polticas para garantir a diversidade e independncia
de fontes, soberania e diversidade cultural, o democrtico
s tecnologias, dentre outros. Com relao as lutas de resistncia
em curso, incluem as de democratizao do aspecto radioeltrico
(frente as tentativas de privatizao), a defesa dos direitos
dos usurios da internet (frente aos projetos de escuta eletrnica,
censura, etc), a configurao de corpos reguladores
independentes por meio dos quais a cidadania pode participar na
definio de polticas, dentro outras.
Vinculada s polticas pblicas se destaca a proposta de
resgate e impulso da criao de meios de comunicao pblicos
de carter cidado. Trata-se de meios da esfera pblica (no
necessariamente estatal), mas que estejam sob controle da
sociedade civil e financiados segundo o princpio da economia
solidria (ou seja, com fundos pblicos e/ou privados).
Assim, adquirem particular importncia as aes
desenvolvidas nos diferentes contextos nacionais e internacionais
para frear o processo de monopolizao dos meios e sistemas de
comunicao, como tambm a mercantilizao da informao.
Outra prioridade identificada o desenvolvimento de uma
informao diversa, plural e com perspectiva de gnero. As aes
a esse respeito vo desde a crtica aos meios de massa at o
apoio ao desenvolvimento e a sobrevivncia de meios alternativos
e independentes, que adotem tais critrios como princpios de
seu objetivo de negcio.
Um setor prioritrio a envolver nesse movimento so os
jornalistas, particularmente por meio de suas associaes de
classe. No s seus prprios interesses profissionais se
encontram ameaados pela mercantilizao da informao. Um
ponto chave criar alianas com esse setor em torno do carter
de servio pblico da comunicao.
Outro setor importante
para desenvolver alianas so os movimentos de consumidores.
Pode-se desenvolver movimentos de presso nos meios e nos sistema
de comunicao, que tratam seus consumidores de maneira
isolada, deixando-os como nico poder o de comprar ou no
comprar, de acender ou apagar. Este poder seria maior se exercido
de forma coletiva.
Desenvolver uma cidadania informada requer uma capacidade
de leitura critica dos meios de comunicao, que o que buscam
desenvolver os programas de alfabetizao imediata, para
que a cidadania possa entender melhor a natureza socialmente
construda da mdia.
Um aspecto fundamental para acompanhar este processo so
as atividades de pesquisa, que permitam enfocar novos terrenos e
formas de ao. Impe-se uma vinculao mais estreita entre
os movimentos pela democratizao da comunicao e os
pesquisadores na matria e o desenvolvimento de documentos de
popularizao de pesquisas e atividades de intercmbio entre
teoria e prtica.
Uma das propostas sociais centrais sobre comunicao
plantadas no marco do primeiro FRUM SOCIAL MUNDIAL foi a urgncia
de abrir um amplo debate pblico sobre o impacto e conseqncia
da concentrao monopolizada no campo da comunicao e as
prioridades de desenvolvimento de novas tecnologias de informao
e de comunicao. Esse debate permitir abrir uma reflexo
necessria, mas sempre postergada, como relativa a relao
entre a mdia e a democracia, sua funo social e a imposio
de um modelo baseado em consideraes estritamente comerciais.
Traduo:
Danilo Trademar Acosta
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