155u4l
A
economia de fundos prprios: um novo regime de acumulao
financeira
Dominique
Plihon*
A
economia sa, assim como a maior parte das economias europias,
mudou de regime macro-financeiro desde o incio dos anos 80.
Estas economias aram de um regime de endividamento para um
regime de fundos prprios.
Em outros termos, as empresas a partir de ento se financiam
essencialmente com base nos seus fundos prprios, recorrendo cada
vez menos ao endividamento bancrio. Trata-se de uma mudana de
lgica financeira que tem implicaes econmicas e sociais
considerveis.
Nossa
hiptese de que se pode explicar satisfatoriamente certas mutaes
econmicas e financeiras observadas na Europa, neste fim de sculo,
com base nesta mudana de regime macro-financeiro. A nosso ver,
esta mudana de regime constitui uma nova etapa na insero de
nossas economias no capitalismo financeiro mundial, e corresponde
a uma modificao da relao de foras em favor dos credores
e dos detentores do capital financeiro em escala mundial.
Depois
de ter apresentado a influncia preponderante dos fundos prprios
no financiamento das empresas, relaciona-se esta evoluo com vrios
fenmenos atuais que esto a ela diretamente ligados: a
distribuio do valor agregado em favor das empresas, o papel
crescente da lgica acionria [actionnariale] e de fundos
de investimento estrangeiros, a financeirizao da gesto das
empresas. Conclui-se esta reflexo sublinhando dois efeitos
perversos da economia de fundos prprios: o aumento da
instabilidade financeira e da especulao, de uma parte, e a
transferncia de riscos para os assalariados, de outra.
1.
Transio para a economia de fundos prprios: a evidncia
A
participao dos fundos prprios no parou de aumentar desde a
metade dos anos 70, at atingir um valor prximo de 100% dos
recursos financeiros das empresas a partir de meados dos anos 90.
Constata-se na Tabela 1 que as duas fontes de recursos prprios,
as emisses de aes e, sobretudo, a poupana das empresas,
desenvolveram-se fortemente. Em compensao, o endividamento,
que representava quase 50% do financiamento das empresas na metade
dos anos 70, tornou-se marginal. Em particular, os pagamentos,
pelas empresas, foram superiores aos seus emprstimos junto aos
estabelecimentos de crdito, fato que justifica os fluxos
negativos existentes no fim do perodo.
Tabela
1
Aumento
da importncia dos fundos prprios no financiamento das empresas
Fluxo
em bilhes de francos
|
1975
|
1980
|
1987
|
1990
|
1994
|
1996
|
A.
Autofinanciamento
parcela
relativa poupana bruta (a)
|
103
95
|
185
174
|
503
469
|
640
596
|
837
743
|
877
743
|
B.
Emisses de aes
|
15
|
52
|
160
|
221
|
257
|
289
|
C.
Endividamento (b), com a parcela
relativa
aos mercados (c)
e
aos estabelecimentos de crdito
|
104
14
85
|
147
17
119
|
211
38
150
|
512
99
387
|
54
19
93
|
18
68
112
|
D.
Financiamento total : A + B + C
|
222
|
384
|
874
|
1373
|
1001
|
1148
|
Parcela
dos fundos prprios : A + B / D
|
53%
|
62%
|
76%
|
64%
|
109%
|
102%
|
(a)
Poupana bruta + subsdios ao investimento + outras transferncias
de capital;
(b)
Scios + mercados + estabelecimentos de crdito;
(c)
Emisses lquidas de ttulos do mercado monetrio e de obrigaes.
Fonte:
INSEE (Comptes nationaux). Conseil National du Crdit.
O
segundo fato notvel diz respeito evoluo da taxa de
autofinanciamento das empresas. Assiste-se, efetivamente, a uma
alta recorde desta taxa (Poupana/FBCF), que ultraa
largamente o limiar dos 100% desde 1993. Esta evoluo resulta
da conjuno de dois fenmenos caractersticos da situao
atual das empresas sas: uma progresso rpida das
receitas, que permitiu a acumulao de uma poupana abundante,
e uma falta de dinamismo do investimento produtivo, que se
traduziu em uma baixa duradoura da taxa de investimento, como
mostra a Tabela 2.
Tabela
2
A
alta espetacular da taxa de autofinanciamento
Indicadores
em %
|
1970
|
1980
|
1990
|
1995
|
1996
|
1997
|
Taxa
de investimento (1)
|
22,1
|
19,4
|
18,9
|
16,3
|
16,1
|
15,5
|
Taxa
de autofinanciamento (2)
|
75,5
|
61,7
|
88,9
|
114,9
|
112,1
|
118,3
|
(1)
Taxa de investimento : parcela dos investimentos no valor
agregado;
(2)
Taxa de autofinanciamento : poupana sobre investimento.
Fonte:
INSEE. Comptes Nationaux.
Em
conseqncia deste duplo movimento de poupana e investimento,
as empresas sas no geral apresentam como resultado, desde
1993, uma capacidade de financiamento da ordem de 1,5% do PIB, ao
o que, antes, tinham tradicionalmente necessidade de
financiamento. Trata-se, portanto, de um fenmeno novo,
verificado qualquer que seja o tamanho da empresa, como confirmam
os dados das centrais de balanos.
2.
Economia de fundos prprios e aumento dos lucros das empresas
A
acumulao de fundos prprios pelas empresas est fundada em
uma distribuio do valor agregado favorvel aos lucros. ,
com efeito, por meio dos seus lucros que as empresas obtm sua
poupana (principal fonte de fundos prprios) e remuneram seus
acionistas (segunda fonte de fundos prprios). Qualquer que seja
o indicador usado taxa de explorao, taxa de poupana,
taxa de rentabilidade do capital uma constatao se impe:
a situao financeira das empresas melhorou consideravelmente
desde o incio dos anos 80.
Uma
anlise de longo prazo acerca da taxa de explorao das
empresas (ver Tabela 3) mostra a alta espetacular da parcela do
valor agregado apropriada pelas empresas sas desde 1983, ano
da mudana de rumos da poltica econmica na Frana, com a
instaurao do rigor salarial (plano Delors). Apesar de uma
compresso no incio dos anos 90, a taxa de explorao das
empresas sas est atualmente em um nvel historicamente
elevado, da ordem de 32%, segundo estimativas do INSEE relativas
ao conjunto das sociedades no-financeiras. Essa constatao se
verifica para as principais categorias de empresas: empresas
individuais e sociedades, grandes empresas e PME, e qualquer que
seja a base estatstica utilizada (contabilidade nacional e
centrais de balano).
Um
segundo indicador atesta a boa sade financeira das empresas
sas. Trata-se da taxa de poupana (Poupana/VA): sua evoluo
semelhante quela da taxa de explorao e ultraa, na
metade dos anos 80, o nvel recorde de 1970 (Tabela 3).
Tabela
3
Indicadores
de resultados de sociedades no financeiras
Indicadores
em %
|
1970
|
1980
|
1985
|
1990
|
1995
|
1996
|
1997
|
Taxa
de explorao (1)
|
29
|
24
|
25,5
|
30.5
|
32,0
|
31,7
|
32,3
|
Taxa
de poupana (2)
|
16,7
|
12,0
|
12,8
|
16,8
|
18,8
|
18,0
|
18,3
|
(1)
Taxa de explorao : excedente bruto de explorao sobre
valor agregado;
(2)
Taxa de poupana: parte dos lucros no distribudos
(descontados os impostos) no valor agregado.
Fonte:
INSEE.
Uma
distribuio do valor agregado desfavorvel aos assalariados
6r333s
A
contrapartida desta alta nas receitas das empresas a forte
degradao da situao dos assalariados na distribuio salrios-lucros.
Com
base na participao dos salrios na riqueza nacional (medida
pelo PIB), o Office Statistique des Communauts Europennes
confirma a evoluo desfavorvel das rendas do trabalho nos pases
da Unio Europia, descrita na Tabela 4. Na Europa dos 15, houve
uma queda da participao dos salrios no PIB de
aproximadamente seis pontos, o que significou a agem de uma mdia
de 75,5% em 1971/80 para 69,6% em 1995. Foi na Frana que a
parcela relativa aos salrios sofreu a queda mais forte desde os
anos 70, alcanando o menor nvel em 1995.
Tabela
4
2j6zn
Participao
dos salrios no PIB (%)
6p39j
Pas
|
1961/70
|
1971/80
|
1981/90
|
1990
|
1995
|
Estados
Unidos
|
71,1
|
72,1
|
71,6
|
71,6
|
71,2
|
Europa
dos 15
|
74,4
|
75,5
|
73,1
|
71,1
|
69,6
|
Frana
|
72,8
|
73,9
|
72,5
|
68,5
|
66,5
|
Alemanha
|
71,6
|
73,7
|
70,9
|
67,8
|
68,1
|
Reino
Unido
|
72,7
|
73,8
|
72,9
|
74,6
|
72,6
|
Itlia
|
72,8
|
73,8
|
73,3
|
75,3
|
67,2
|
(1)
Participao dos salrios corrigida pelas taxas de
assalariamento: esta correo visa tornar possveis as
comparaes entre os nveis e evolues segundo os pases,
tendo em conta as diferenas entre as estruturas sociais (em
particular o peso dos trabalhadores independentes no emprego
total).
Fonte:
Eurostat.
Trabalhos
econmicos
explicam a evoluo recente da distribuio do valor agregado
principalmente por dois fatores:
a influncia do desemprego sobre a negociao salarial: quando
o desemprego alto, a relao de foras desfavorvel aos
assalariados; o aumento dos salrios reais inferior aos ganhos
de produtividade do trabalho, o que eleva os ganhos da empresa.
o impacto da alta das taxas de juros: o aumento do custo do
capital (medido pela taxa de juros) gera um acrscimo da parte
relativa remunerao do capital. O INSEE estima, assim, que a
alta da taxa real de juros seria responsvel pela baixa em dois
pontos do PIB da participao dos salrios ao longo dos dez ltimos
anos.
Segundo
estas anlises, o peso do primeiro fator o desemprego
seria preponderante. Isso ajuda a explicar por que a parcela dos
salrios na distribuio do valor agregado teria ficado
relativamente estvel nos Estados Unidos, onde a taxa de
desemprego tem sido bem menor do que na Europa.
Sem
estar erradas, essas explicaes no vo suficientemente
longe: de fato, essa distribuio do valor agregado explicada
pela nova relao de foras que se estabeleceu entre o trabalho
e o capital, em favor deste ltimo, como se mostrar agora.
3.
As empresas governadas pela lgica acionria
Uma
das principais conseqncias do papel preponderante assumido
pelos fundos prprios no financiamento das empresas foi modificar
as relaes entre os trs principais parceiros destas ltimas,
acionistas, dirigentes e assalariados. Assistiu-se a um
questionamento do modelo tradicional da empresa, popularizado por
Berle e Means, segundo o qual h uma separao entre os
acionistas e os dirigentes, estes ltimos detendo o poder efetivo
dentro da empresa. Sob o regime fordista que funcionou at os
anos 70, os dirigentes da empresa haviam travado acordos com os
assalariados, organizando uma repartio dos ganhos de
produtividade no seio da empresa, o que permitiu a preservao
da estabilidade da repartio do valor agregado.
O
advento da economia de fundos prprios consagra o fim deste
regime. O modelo tradicional, qualificado de stake-holder,
e que considera a empresa como uma comunidade de interesse entre
seus trs parceiros, cedeu lugar a um novo modelo, denominado shareholder,
que d a primazia absoluta aos interesses dos acionistas.
O
aumento da importncia dos investidores institucionais
O
poder dos acionistas foi consideravelmente reforado pelo
desenvolvimento da gesto coletiva da poupana. Este fato
ocasionou uma concentrao de capital das empresas nas mos dos
investidores institucionais, enquanto que, no ado, os
acionistas estavam largamente dispersos entre os poupadores
individuais. Hoje, trs tipos de investidores detm uma parcela
crescente do capital das empresas na maior parte dos pases
industrializados; so os famosos fundos de penso anglo-saxes,
os fundos mtuos (OPCVM na Frana), e as companhias de seguro. A
ttulo de ilustrao, a parte das aes detida pelos
investidores institucionais nos Estados Unidos ou de 5% em
1946 para mais de 50% em 1996. Na Frana, essa proporo
ultraou igualmente 50% no fim dos anos 90.
Na
Europa, ao longo dos anos 90, um dos fenmenos mais importantes
foi a chegada em massa dos investidores estrangeiros. Estes detm
entre 20 e 40% do capital das empresas cotadas em bolsa nos
principais pases europeus, como mostra a Tabela 5. A maior parte
dessas participaes financeiras estrangeiras provm de
investidores anglo-saxes, e, em particular, dos fundos de penso
norte-americanos.
Tabela
5
Taxa
mdia de participao estrangeira no capital prprio das
empresas europias 1996 (%)
|
Alemanha
|
Espanha
|
Frana
|
Itlia
|
Reino-Unido
|
ndice
de referncia
|
DAX
30
28,5
|
IBEX
35
47,8
|
CAC
40
28,1
|
MIB
30
24,0
|
FT
SE 100
18,8
|
Empresas
cotadas em Bolsa
|
24,0
|
38,8
|
22,1
|
22,2
|
19,7
|
Empresas
no cotadas em Bolsa
|
12,7
|
25,7
|
16,1
|
14,0
|
14,8
|
Fonte:
CREP, segundo os dados Amadeus do bureau Van Djik, e
Global Equity Ownership, do Grupo Carson.
A
Frana um dos pases onde o avano dos investidores
estrangeiros foi mais rpido. Estes se aproveitaram das privatizaes
macias efetuadas no pas, nos ltimos anos, para se
apropriarem de uma parcela quase sempre elevada do capital das
empresas nos setores bancrio e industrial, como ilustra a Tabela
6.
Tabela
6
Parcela
dos investidores estrangeiros no capital das grandes empresas
sas
Em
% do capital em setembro/1999
5e6ww
Bancos
Seguradoras
|
Investidores
estrangeiros
|
Investidores
anglo-saxes
|
Indstria
|
Investidores
estrangeiros
|
Investidores
anglo-saxes
|
BNP
Socit
Gnrale
CCF
AXA
AGF
|
45
50,1
68,8
44
25
|
20,4
29
10
28
16,5
|
Elf-Aquitaine
Rhne-Poulenc
Vivendi
Alcatel
Accor
|
56
59,6
51,5
49
48
|
39
14,4
27
30
30
|
Os
novos princpios de gesto da empresa
Os
investidores institucionais estrangeiros, que gerem em nome dos
seus clientes enormes portflios de aes, buscam impor regras
de gesto fala-se, a esse respeito, de governana
nas empresas controladas.
A
hiptese terica fundamental do modelo anglo-saxo de gesto
da empresa a de que os acionistas e os executivos da empresa tm
interesses contraditrios. Estes ltimos buscam privilegiar seus
interesses, em termos de poder e remunerao, valorizando as
informaes privilegiadas s quais tm o no interior da
empresa. As novas formas de gesto definidas pelos investidores
anglo-saxes tm como objetivo, precisamente, reduzir as
assimetrias de informao e o estimular os executivos a
istrar a empresa tendo como nico objetivo a maximizao
dos valores das aes.
Os
investidores avaliam a governana das empresas segundo cinco critrios
principais:
(1)
A informao dos acionistas: qualidade da informao acerca da
estrutura dirigente da empresa, o que implica, particularmente, a
independncia dos es, a existncia de um responsvel
pelas relaes com os investidores e o estabelecimento de um
sistema contbil adaptado s normas anglo-saxs.
(2)
Direitos e obrigaes dos acionistas: respeito ao princpio
uma ao, uma voz, um dividendo.
(3)
Composio do conselho de istrao: procedimentos de eleio
e remunerao dos membros do conselho e dos comits, separao
das funes de presidente e de diretor geral.
(4)
Ausncia de medidas anti-take-overs hostis: eliminao
de todas as medidas destinadas a impedir as ofertas de compra
hostis (poison pill) e a limitar o poder dos rgos de
direo.
(5)
A remunerao dos dirigentes: o objetivo definir formas de
remunerao que estimulem os dirigentes a buscar a maximizao
do valor acionrio. Uma das principais tcnicas utilizadas
constituda pelas stock options.
A
ao do poder pblico e do patronato francs
em
favor dos investidores estrangeiros
Na
Frana, governos sucessivos, independentemente de sua colorao
poltica, tudo fizeram para atrair os investidores estrangeiros
para a praa financeira de Paris, modernizando-a com base no
modelo anglo-saxo. Suas esperanas foram imensamente superadas,
dado que os no residentes tornaram-se atores muito ativos na
bolsa, realizando quase 25% das transaes, segundo as pesquisas
do Banque de .
O
desejo do patronato francs de caminhar na direo de um modelo
de governana mais prximo das normas anglo-saxs ilustrado
pelo contedo dos relatrios elaborados por Viennot (1995 e
1999), antigo presidente da Socit Gnrale. As recomendaes
dos relatrios Viennot mostram claramente o desejo dos dirigentes
de grandes empresas sas de levar em considerao as
demandas dos investidores estrangeiros relativas informao
dos acionistas e organizao de conselhos de istrao.
Os relatrios propem, assim, a introduo de es
independentes, a separao das funes de presidente e de
diretor geral e a instaurao de novas normas contbeis, prximas
dos padres anglo-saxes, destinadas a introduzir mais transparncia
nas contas. Porm, nada proposto no que tange representao
dos assalariados nos conselhos, assim como em relao s
modalidades de negociao salarial que prevalecero na empresa.
4.
A financeirizao da gesto das empresas
Com
o domnio total dos acionistas, representados pelos investidores
institucionais, os managers so levados a dar prioridade
rentabilidade financeira da empresa. Objetivos que antes
prevaleciam como o desenvolvimento da produo e do emprego
tornam-se secundrios. Da resulta uma financeirizao
da gesto das empresas.
Os
novos mtodos de gesto voltados para a criao de valor acionrio
O
objetivo primordial imposto s empresas a criao de
valor acionrio. Trata-se de aumentar por todos os meios o
valor burstil da empresa, visando maximizar a riqueza dos
acionistas, seus proprietrios.
Para
alcanar este objetivo, as empresas equiparam-se com novos mtodos
de gesto, dentre os quais o mais sofisticado o mtodo EVA (Economic
Value Added). O EVA pode ser definido de modo bastante
simples: constitui o resultado econmico da empresa aps a
remunerao do total dos capitais investidos, endividamento e
fundos prprios. Um EVA positivo significa que a istrao
conseguiu criar valor, beneficiando os acionistas durante um dado
exerccio.
Segundo
Baudru & Morin (1999), as seguintes empresas sas
colocaram em funcionamento o mtodo EVA no decorrer dos ltimos
dois anos: AXA, BNP, CCF, ELF, Tlcom, Lafarge,
Schneider, Socit Gnrale, Valo, Vivendi. H seis anos, o
jornal LExpansion publica uma classificao anual das
grandes empresas sas, segundo seus resultados no que
concerne criao de valor acionrio, utilizando os
indicadores EVA.
As
alavancas estratgicas usadas para aumentar a criao do valor
acionrio
Para
atingir o objetivo de maximizao do shareholder value,
as empresas lanam mo de polticas bem definidas, que podem
ser classificadas em quatro categorias principais:
(1)
As fuses-aquisies so freqentemente apresentadas como um
meio de criar valor acionrio.
O resultado geralmente atingido, como mostra a elevao sbita
das cotaes na Bolsa das empresas-alvo. Constata-se, com freqncia,
que a maior parte do aumento do shareholder value
engendrado pelas operaes de fuses quando aquele se d
transferido aos detentores do capital da empresa-alvo.
A
criao de valor acionrio obtida por meio da explorao
das sinergias existentes entre estabelecimentos fundidos e por
meio da realizao de economias de escala. As aproximaes
entre empresas permitem ganhos de produtividade significativos,
cujas conseqncias diretas incluem a reduo do efetivo de
assalariados, que se segue a boa parte das fuses. Essas operaes
se inserem em uma busca do tamanho critico, destinado a dar aos
novos grupos um poder de mercado maior frente concorrncia.
Iniciada
nos Estados Unidos, a corrida desenfreada s fuses-aquisies
ganhou os outros pases industrializados. Cerca de 2.500 operaes
entre pases, envolvendo investidores estrangeiros, teriam sido
realizadas unicamente durante o primeiro trimestre de 1999,
perfazendo um total de US$ 411 bilhes ( 384 bilhes), o que
representa uma alta de 68% em relao ao primeiro semestre de
1998.
(2)
A reconcentrao nas ocupaes de base
da empresa um segundo meio de aumentar a criao de valor em
benefcio do acionista. Concentrando-se nas atividades nas quais
detm uma vantagem comparativa, a empresa, supostamente, dota-se
de meios de valorizar seu savoir faire com relao aos
concorrentes, o que deveria traduzir-se em um aumento da criao
de valor em benefcio de seus acionistas. Os investidores
estimulam as empresas que controlam a aplicar esta poltica por
duas razes, alm da criao direta de valor acionrio. Em
primeiro lugar, os investidores no apreciam as empresas
diversificadas, do tipo conglomerado, pois suas estruturas so
geralmente complexas, o que considerado um fator de opacidade
para eles, que tm, entre outros objetivos, como se viu, a obteno
do mximo de transparncia. Segunda razo: os investidores
consideram que cabe a eles o compromisso de istrar a poltica
de diversificao, agindo sobre a composio de sua carteira
de ativos. Em outros termos, segundo esta concepo, cabe aos
atores financeiros e no aos operadores industriais
istrar as questes de diversificao. Tem-se aqui uma boa
ilustrao da primazia da finana sobre a lgica produtiva.
(3)
A reengenharia das cadeias de valor aparece como uma terceira
alavanca para concentrar a atividade da empresa nos segmentos mais
rentveis. O principal mtodo consiste em externalizar a
produo de certos produtos ou servios, quando podem ser
fabricados de modo mais competitivo por empresas de melhor
performance nesses segmentos. Fala-se, ento, de um processo de
desintegrao vertical (ou de decomposio) do processo
de produo, que tem por objetivo a reorganizao das cadeias
de valor da maneira mais rentvel. Esta poltica, empreendida
por numerosas empresas, acabou, particularmente, por
expulsar os assalariados do permetro das empresas,
confiando a gesto destes a subcontratantes externos, o que
causa, geralmente, uma precarizao das condies de trabalho.
(4)
A reduo da intensidade do capital. Um dos meios mais radicais
de aumentar a rentabilidade dos capitais prprios a reduo
do tamanho destes. O objetivo o de melhorar a produtividade dos
capitais prprios economizando sua utilizao. Trata-se da
estratgia conhecida por downsizing, que pode ser
praticada de diferentes maneiras. O meio mais espetacular de
atingir este objetivo a compra pela empresa das suas prprias
aes, por exemplo, mediante processo de oferta pblica de
recompra de aes.
Recomprando
uma parte do seu capital em aes, para um dado nvel de lucros
esperado no futuro, a empresa aumenta, mecanicamente, o valor das
aes restantes. Esta alta das aes intensificada se a
operao de compra financiada por um endividamento de custo
inferior quele dos fundos prprios (efeito de alavancagem).
Esta prtica, muito freqente nos Estados Unidos, desenvolve-se
atualmente na Europa. Na Frana, desde o vero de 1998, data na
qual a legislao autorizou este tipo de operao (chamada de relution),
mais de 400 empresas das quais quase todas integram o CAC 40
programaram recompra de aes. Dentre os objetivos
perseguidos pelas empresas com a recompra de suas aes, os trs
principais so: operaes de crescimento externo (60,8% das
empresas), atribuio de aes ou de opes de compra aos
funcionrios (57,6%) e otimizao do resultado por ao
(37,8%).
Uma
das conseqncias paradoxais destas prticas deve-se
sublinhar que, contrariamente ao afirmado pelos defensores
da economia de fundos prprios, os mercados de aes no
trazem dinheiro novo s empresas: um estudo recente do escritrio
de consultoria Salomon Smith Barney demonstra que, na
maioria dos mercados europeus, as emisses lquidas de aes,
ou seja, os montantes brutos de emisses, deduzidos das recompras
de aes e dos dividendos distribudos aos acionistas, foram
negativos ao longo dos ltimos anos.
Isso significa que, globalmente, os investidores retiraram das
empresas muito mais fundos do que trouxeram!
5.
Dois efeitos perversos da economia de fundos prprios
A
nova lgica imposta pelos acionistas e investidores
institucionais tem efeitos econmicos que vo muito alm da
gesto das empresas: traduz-se em uma instabilidade econmica e
financeira elevada e impe ao trabalho as principais conseqncias
dessa instabilidade.
Elevao
dos riscos de instabilidade financeira
35563v
Como
se viu, a prioridade absoluta dada atualmente ao objetivo de
rentabilidade dos fundos prprios. Esta , geralmente, medida
pelo ROE (return on equity ou rendimento das aes),
calculada como a razo resultado lquido/fundos prprios.
O ROE aumentou fortemente, primeiro nos Estados Unidos, e mais
recentemente na Europa, como mostra a Tabela 7.
Tabela
7
Rentabilidade
dos fundos prprios das empresas
Em
%
|
1994
|
1995
|
1996
|
1997
|
Estados
Unidos
Alemanha
Frana
Japo
|
16,3
1,7
7,3
2,0
|
17,7
7,9
9,4
1,9
|
19,8
9,5
8,4
4,2
|
20,0
11,8
8,7
4,7
|
Fonte:
Artus (1997).
O
nvel de referncia (benchmark) do ROE, que da ordem
de 20% nos Estados Unidos, largamente superior rentabilidade
econmica do capital, medida pela razo entre lucros brutos
antes do pagamento dos juros sobre a dvida e capital das
empresas.
As
empresas americanas conseguiram at aqui apresentar um ROE
elevado por meio do aumento da razo dvida/fundos prprios.
A rentabilidade das empresas melhorou porque as taxas de juros,
que representam o custo da dvida, so claramente mais baixas do
que o custo dos fundos prprios. Para alcanar este objetivo, as
empresas americanas endividaram-se fortemente, fazendo, assim,
pleno uso do efeito de alavancagem da dvida (Artus &
Debonneuil, 1999). Por outro lado, como foi visto, essas empresas
realizaram importantes operaes de recompra de aes, dentre
as quais uma parte foi financiada por endividamento, reduzindo
assim a parte dos seus fundos prprios que enseja o pagamento de
dividendos.
A
este respeito, interessante notar que a busca do efeito de
alavancagem traduziu-se em polticas opostas da parte de empresas
americanas e europias. Nos Estados Unidos, onde as taxas de
juros eram baixas, as empresas endividaram-se maciamente,
particularmente para financiar suas operaes de fuso-aquisio
e de recompra de aes, geradoras de valor acionrio, como se
viu. Em 1998, as empresas americanas haviam assim acumulado um
endividamento trs vezes superior aos fundos prprios. Este nvel
extremo de endividamento por parte das empresas, bem como por
parte do conjunto das famlias, um fator de fragilidade da
economia americana ressaltado por muitos economistas.
Em
contrapartida, na Europa, onde as taxas de juros permaneceram
elevadas at a metade dos anos 90, este efeito de alavancagem foi
obtido, at pouco tempo atrs, por um desendividamento das
empresas. Mais recentemente, porm, constata-se que as empresas
europias recomearam a se endividar, maneira de suas
concorrentes americanas.
Uma
outra conseqncia direta das presses, exercidas pelos
acionistas, alta da cotao das aes, a constituio
de bolhas financeiras, medidas pelos desvios crescentes entre o
valor econmico e o valor burstil das empresas. por esses
motivos que se assiste a uma elevao vertiginosa das cotaes
no fim dos anos 90, no conjunto das bolsas de valores dos pases
industrializados. A praa financeira de Paris obteve o melhor
desempenho em Bolsa no ps guerra, com a alta espetacular do ndice
CAC 40, que elevou-se em 40% em 1999, ultraando a barreira
simblica dos 5.000 (base 1.000 em dezembro de 1987).
A
transferncia dos riscos para as empresas e para os assalariados
1k696t
Os
objetivos financeiros impostos pelos investidores institucionais
ocasionam uma segunda srie de efeitos nefastos sobre as empresas
e, de modo mais amplo, sobre a economia. Trata-se da transferncia
de riscos para as empresas e os assalariados.
Segundo
Baudru & Morin (1999), os mtodos de gesto do tipo EVA (ver
acima) constituem uma verdadeira ruptura com a teoria financeira
convencional, pois instituem um divrcio entre os dois termos da
dupla risco-rendimento. Na teoria tradicional, tal como
formalizada pelo modelo MEDAF (Modelo de Equilbrio de Ativos
Financeiros), a rentabilidade e o valor financeiros da firma so
um resultado ex post do modelo. O valor da firma igual
ao valor atualizado, taxa de rendimento exigida, do fluxo de
receitas futuras. A metodologia EVA se traduz por uma inverso
completa do procedimento, subordinando o desempenho econmico da
firma a uma exigncia, definida ex ante, de remunerao
financeira. A meta a ser alcanada no a de fazer emergir o
valor de mercado da firma no equilbrio, como no modelo MEDAF,
mas a de determinar o sobrevalor econmico obtido pela empresa. A
varivel de ajuste no enfoque EVA no mais a valorizao da
empresa, mas o rendimento do ativo econmico istrado pela
firma. Segundo esta anlise, o nvel de rendimento exigvel
determinado no pelas caractersticas prprias da empresa, mas
sim pelas capacidades de presso que a estrutura acionria
capaz de fazer pesar sobre a empresa. O benchmarking, ou
seja, o fato de que critrios de rendimentos homogneos tendem a
se impor no mbito internacional, vai totalmente nessa direo.
Seguem-se duas conseqncias fundamentais: os nveis de risco e
rendimento so desconectados e o risco econmico transferido
para a empresa e seus parceiros.
Dentre
os parceiros da empresa, os assalariados so os primeiros a
sofrer essa transferncia de riscos. Isso por terem se tornado os
parceiros mais fracos da trade
acionistas-dirigentes-assalariados. Os investidores exigem
rendimentos no apenas elevados, mas igualmente estveis no
tempo. Em tempos de desaquecimento conjuntural, a massa salarial
constitui a principal varivel de ajuste disposio dos
dirigentes para assegurar a estabilidade dos resultados da
empresa. Verifica-se tambm que, ao longo dos ltimos anos, o
salrio real aumentou em mdia menos rapidamente do que a
produtividade do trabalho. Como indicam Artus & Debonneuil
(1999), isso significa que o rendimento do fator trabalho no
comporta prmio de risco. Em compensao, os acionistas se
beneficiam de altos prmios de risco contidos nos rendimentos. Se
verdade que o risco atualmente incorrido pelo trabalho e no
pelo capital, essa estrutura de riscos completamente
inadequada.
Assim,
a economia de fundos prprios tm duas implicaes
importantes, intimamente ligadas: ela est no prprio cerne do
aumento da instabilidade financeira internacional; e ela contribui
para estruturar as relaes entre trabalho e capital, bem como a
distribuio da riqueza, em favor dos detentores do capital
financeiro.
6.
Quais as perspectivas?
Este
estudo tentou caracterizar, no plano analtico, a situao
na qual se encontra a economia sa e o conjunto das economias
da Unio Europia neste fim de sculo. Qualificou-se este
regime especfico de economia de fundos prprios. De fato,
parece que a acumulao dos fundos prprios tem estado no
centro da dinmica recente de nossas economias. O papel central
dos fundos prprios no financiamento das empresas d um peso
preponderante aos acionistas em relao aos dirigentes e aos
assalariados. A dominao dos acionistas foi ampliada pelo
desenvolvimento da gesto coletiva da poupana, que gerou uma
concentrao do capital das empresas nas mos dos investidores
institucionais. Estes ltimos tornaram-se os mestres do jogo nas
empresas, que eles prprios enfraquecem ao impor normas de
rentabilidade perigosamente elevadas, e nos mercados financeiros
internacionais, que contribuem a desestabilizar, exercendo presses
alta das cotaes e favorecendo, assim, a emergncia de
bolhas especulativas.
Na
nossa obra coletiva precedente, La mondialisation financire
(1996),
havamos indicado que a primeira etapa da globalizao
financeira, a partir de fins dos anos 70, fora marcada pelo
desenvolvimento dos dficites e das dvidas pblicas. A dvida
mobiliria pblica dos principais pases industrializados havia
sido, segundo nossa anlise, um dos motores do desenvolvimento rpido
da finana internacional liberalizada. O dficit oramentrio
norte-americano desapareceu na metade dos anos 90 e os dficits
europeus esto em via de reduo, sob efeito das restries
impostas pela construo europia. Podemos tambm considerar
que, doravante, os mercados acionrios, que viabilizam a troca de
fundos prprios, tornaram-se um dos principais vetores da finana
mundializada.
essencial formularmos algumas proposies, no que tange
poltica econmica, para escaparmos da lgica atual
perversa da finana fundada na acumulao de fundos prprios,
e no objetivo de reequilibrar a relao de foras entre
trabalho e capital.
Trs
tipos de medidas podem ser salientadas:
(1)
Agir sobre a distribuio salrios-lucros para reequilibr-la
em favor das rendas do trabalho. Uma mudana desta distribuio
reduziria o peso da finana e permitiria retomar o crescimento em
bases saudveis. Convm, nesse sentido, redefinir as polticas
salariais, tanto no plano da empresa como no mbito macroeconmico.
Deve-se instaurar, sob o impulso dos poderes pblicos e dos
parceiros sociais, arranjos institucionais que permitam organizar
negociaes e chegar a novas formas de compromisso entre
trabalho e capital. Estas novas formas institucionais devem ser
elaboradas no mbito nacional e europeu. Vrios eixos de negociao
podem ser vislumbrados: a revalorizao dos baixos salrios; a
reduo do tempo de trabalho, com a condio de que se traduza
em aumento da massa salarial.
(2)
Tributar o capital e suas rendas, no objetivo de aumentar o seu
custo relativo ao trabalho e desencorajar a especulao
financeira. Assistimos a uma disputa desenfreada entre pases na
corrida baixa da tributao do capital; tempo de reverter
essa tendncia. Duas sries de medidas poderiam ser consideradas
em relao a esse assunto: aumentar a taxao das grandes
fortunas, incluindo-se a os instrumentos de trabalho, e taxar os
movimentos de capitais especulativos. Em um contexto de perfeita
mobilidade de capitais, essa ltima medida s ser eficaz se
aplicada em escala mundial. Essas medidas so, antes de tudo, uma
questo de vontade poltica: os Estados decidiram diminuir a
fiscalidade financeira. Esses mesmos Estados tm o poder de
refazer o que desfizeram, restabelecendo o equilbrio entre o
tratamento fiscal do trabalho e do capital.
(3)
Definir um novo quadro jurdico para o governo da empresa.
A reforma da lei das sociedades, de 1966, est na ordem do dia na
Frana. O patronato fez propostas, sob a presso de investidores
estrangeiros, para fazer evoluir a governana das empresas em
direo ao modelo anglo-saxo, o que implicaria um aumento da
primazia dos acionistas e, portanto, do capital. essencial
contrapor-se a este movimento estabelecendo regras que organizem
uma partilha equilibrada do poder e das riquezas, no seio da
empresa, entre os assalariados e os detentores do capital. Duas sries
de medidas so necessrias neste caso: assegurar uma participao
dos representantes dos assalariados nos conselhos das empresas e
impor aos dirigentes a obrigao de negociar a distribuio de
rendas geradas pela empresa entre assalariados e acionistas
segundo regras precisas (por exemplo, indexao de salrios e
dividendos com base nos ganhos de produtividade).
A
colocao em prtica de tais polticas seria feita de modo a
criar salvaguardas contra a influncia nefasta da economia de
fundos prprios, e a fornecer fundamentos mais saudveis para o
crescimento e o emprego em nossas sociedades.
*Dominique
Plihon professor da
Universit
Paris-Nord e membro do CEDI.
Referncias
bibliogrficas
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des nouvelles exigences de rentabilit: lexemple des
Etats-Unis. Flash,
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Consignations, n. 97-113, Nov. 1997.
________,
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1999. (Rapport du
Conseil dAnalyse conomique, n. 18).
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ARCHITECTURE financire internationale. Paris: Documentation Franaise,
1999. (Rapport du
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F. (Coord.). La
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(Livre de poche).
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M., PLIHON, D., SABORD, M. Les entreprises sont-elles
riches ou pauvres? Une analyse daprs les comptes des
entreprises. LASAIRE.
Publicado parcialmente em Problmes economiques.
n. 9, Mai 1997.
HICKS,
J. The crisis in
Keynesian economics. Oxford:
Basic Blackwell, 1974.
Resumo 1n2r4m
A
partir do incio dos anos 80, tanto na Frana quanto na maior
parte das economias europias, as empresas adotam um regime de
financiamento baseado em fundos prprios, abandonando o regime de
endividamento antes vigente. Esta aproximao ao modelo
anglo-saxo, ao determinar vrias mudanas no plano da empresa
como a primazia do acionista, a queda da participao dos
salrios no valor adicionado e a ruptura do elo entre lucro e
investimento tem tambm implicaes macroeconmicas
importantes, como o aumento da instabilidade financeira e a piora
na distribuio da renda e riqueza. Recomendam-se polticas
para reverter a lgica perversa da finana fundada na acumulao
de fundos prprios, com o objetivo de reequilibrar a relao de
foras entre trabalho e capital.
Palavras-chave:
Governana
empresarial; Financiamento da empresa; Economia de fundos prprios.
Abstract
4d5b3p
From
1980 on, French firms as well as firms in most European
countries migrate from the overdraft economy to the autoeconomy.
The adoption of the Anglo-Saxon model determines microeconomic
changes such as the increased power of investors, the falling
share of wages in
Resumo 1n2r4m
A
partir do incio dos anos 80, tanto na Frana quanto na maior
parte das economias europias, as empresas adotam um regime de
financiamento baseado em fundos prprios, abandonando o regime de
endividamento antes vigente. Esta aproximao ao modelo
anglo-saxo, ao determinar vrias mudanas no plano da empresa
como a primazia do acionista, a queda da participao dos
salrios no valor adicionado e a ruptura do elo entre lucro e
investimento tem tambm implicaes macroeconmicas
importantes, como o aumento da instabilidade financeira e a piora
na distribuio da renda e riqueza. Recomendam-se polticas
para reverter a lgica perversa da finana fundada na acumulao
de fundos prprios, com o objetivo de reequilibrar a relao de
foras entre trabalho e capital.
Palavras-chave:
Governana
empresarial; Financiamento da empresa; Economia de fundos prprios.
Abstract
4d5b3p
From
1980 on, French firms as well as firms in most European
countries migrate from the overdraft economy to the autoeconomy.
The adoption of the Anglo-Saxon model determines microeconomic
changes such as the increased power of investors, the falling
share of wages in value added, and slack investment rates in spite
of mounting profits with important macroeconomic consequences
(more financial instability and a worsening in wealth and income
distribution). Some policies are recommended to revert the
perverse logic of the autoeconomy and to reequilibrate the
relative forces of labour and capital.
Key
words:
Corporate governance; Corporate funding; Autoeconomy.
value
added, and slack investment rates in spite of mounting profits
with important macroeconomic consequences (more financial
instability and a worsening in wealth and income distribution).
Some policies are recommended to revert the perverse logic of the
autoeconomy and to reequilibrate the relative forces of labour and
capital.
Key
words:
Corporate governance; Corporate funding; Autoeconomy.
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