Emmanuel
Bezerra dos Santos
Militantes
polticos assassinado pela Ditadura Militar om48
Espanto,
horror, indignao, foram as sensaes que experimentei, quando vi
esta foto de Emmanuel morto. Ao v-la, as imagens comearam a fervilhar
na minha cabea. Recuei at 04 de setembro de 1973, 8:30 horas, Largo
da Moema, So Paulo. Emmanuel, depois de ter tomado caf em algum
daqueles botecos do Largo, espera seu companheiro Manoel Lisboa de
Moura em um "ponto". 8202q
Faz frio em So Paulo
naquela manh. Emmanuel esfrega suas mos, para se aquecer, apesar
de seu corpo est na temperatura normal, pois veste uma cala de veludo
e um bluso de l. Sente-se bem, acabava de voltar do Chile, ando
pela Argentina, onde tivera contatos com exilados brasileiros. Sente-se
bem em ouvir a lngua familiar das pessoas em torno. Sente-se bem
em estar no Brasil, na LUTA. Por isso espera ansiosamente o "Galego":
sabe o prazer que ter quando se encontrar com ele, quando apertar
sua mo e abra-lo. Tem muito o que conversar. Como andam as coisas
no Nordeste, como est o Partido?
Agora, lembrou-se de
So Bento, e pergunta a si mesmo: Mame o que estar fazendo? E o
velho? Talvez no mar, pescando. Olha os garis que preguiosamente
varrem a sarjeta do Largo e pensa: essas pessoas ainda vivero num
pas digno, ainda sero felizes. Imerso nesses pensamento, no percebe
a Veraneio que lentamente est dando a volta em sua direo. Olha
o relgio: 8:30 horas. E o Galego?
Subitamente, o carro
se detm diante dele e saltam 4 homens armados com metralhadoras e
gritam para ele. No sabe o que dizem, no ouve nada, no pensa nada.
Apenas os v. Sobressaltado. Pensa: estou cercado! No h tempo para
nada: os "garis" largam suas vassouras e se agarram com
ele. imobilizado, os "garis" j puxam suas mos para trs
e colocam as algemas. Violentamente arrastado para dentro do carro.
Ao entrar e antes de ser encapuzado e arremessado ao cho.
Emmanuel fita o homem
que est no banco da frente da Veraneio, testa larga e olhos frios,
que lhe diz, rindo: Flvio voc est morto: voc vai conhecer e viver
o inferno e arrepender-se de ter nascido... O automvel parte velozmente...
Emmanuel morreu torturado; no quero imaginar e imagino sua agonia.
Seus olhos, so olhos de quem no queria morrer; olhos abertos, escancarados
para a vida. O olho esquerdo est semi - fechado, teimando em abrir-se
para denunciar seus algozes, que devem t-lo esmurrado no olho que
est inchado.
Seus lbios tambm esto
intumescidos. Sua testa apresenta sinais de ferimentos, acima do olho
esquerdo. A base de seu nariz est visivelmente inchada. O lbio inferior,
cortado. Em volta de seu pescoo, desenha-se um colar da morte, como
se fra feito a fogo.
Eis o que fizeram com
Emmanuel! Emmanuel!! Jamais esquecerei o seu rosto nesta fotografia,
como a querer dizer, gritar algo, mas que silencia na penumbra da
morte.
(Luciano de
Almeida). |