Emmanuel
Bezerra dos Santos
Militantes polticos assassinado pela
Ditadura Militar
IMAGENS... E A IMAGEM
DE EMMANUEL 41324
Anchieta Fernandes P. (*)
Fui amigo de Emmanuel
Bezerra dos Santos. Fui companheiro em inesquecveis bate-caixas sobre
temas literrios. Nunca esqueci de um fato que demonstrou a sua modstia:
ao ser lanado um concurso de critica literria sobre a obra de Joo
Cabral de Melo Neto, pelo jornal "Correio do Povo", nos
idos de 1963, Emmanuel me perguntou se eu ia participar do concurso,
e eu ao responder afirmativamente ele ento disse que no iria mais
participar.
Mas Emmanuel Bezerra
dos Santos que eu acho importante recordar no o jovem literato,
autor de alguns poemas bonitos, e sim o Emmanuel que foi Presidente
da Casa do Estudante do Rio Grande do Norte no ano de 1967, Aquele
foi um ano de dificuldades para a casa. No livro "Histria da
Casa do Estudante do Rio Grande do Norte", Aluisio Azevedo registra
que desde o inicio de 1967 a referida entidade estava ando por
srias dificuldades financeiras, com enormes dbitos agravados com
o corte da subveno federal.
Aluisio diz textualmente:
"Talvez o mais triste de todos os registros encontrados nas atas
das sesses da Casa do Estudante, durante este perodo de seus 36
anos de existncia, tenha sido o da reunio de 04 de abril de 1967,
onde se l: "na despensa da instituio s havia o depsito de
02 sacos de feijo. Nem sal de cozinha havia. O dbito era muito grande
e na Tesouraria havia um saldo de apenas quatro cruzeiros (Cr$ 4,00).
Pois bem. Emmanuel Bezerra
teve uma istrao excelente, ando por cima das dificuldades,
reduzindo despesas e apelando por ajuda ao Governo do Estado, Prefeitura
de Natal, SUDENE e prefeituras do interior.
Era o Emmanuel dinmico,
o Emmanuel que j demonstrara sua capacidade, agindo na direo do
jornalzinho "Boletim Mensal", do Grmio Ltero - Cultural
Cmara Cascudo, da Casa do Estudante do Rio Grande do Norte, onde
o prprio Emmanuel escrevia artigos sobre o papel da burguesia nacional
no momento histrico que ento vivamos, e onde se revelaram os futuros
jornalistas da cidade, como Joo Batista Machado (escrevendo sobre
o problema do sal na economia do RN). Na poca, o grmio literrio
da Casa do Estudante estimulava bastante as atividades culturais,
promovendo concursos de prosa e poesia, palestras dos intelectuais
da cidade no recinto da casa, exposies de artes plsticas dos residentes.
Depois, o Emmanuel tornou-se
ativista poltico, ingressando nos "aparelhos" que atuaram
em quase todo o pas. Perdi contato com ele. Eis que de repente, em
certo dia dos idos de 1973, a reportagem sensacionalista do "Dirio
de Natal" noticiava que fora assassinado em So Paulo, em troca
de tiros com a polcia, o "terrorista" Emmanuel Bezerra
dos Santos. Ilustrando a matria, a foto mostrando o rosto sereno
de Emmanuel, com aquele olhar inteligente e aquele bigodinho misto
de nordestino e mexicano, aquela enorme testa, os cabelos alisados
para trs, romntico, a boca sensual meia aberta em um quase sorriso.
* Jornalista e escritor. |