Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
O Comit RN
Atividades
Linha do Tempo
ABC Reprimidos
ABC Repressores
Comisses IPMs
BNM Digital no RN
Coleo Represso
Coleo Memria
Mortos Desaparecidos
Represso no RN
Acervos Militantes
Bibliografia RN
RN: Nunca Mais
udios
Videos
Galerias
Direitos Humanos
Desejos Humanos
Educao EDH
Cibercidadania
Memria Histrica
Arte e Cultura
Central de Denncias
Banco de Dados
Rede Brasil DH
Redes Estaduais
Rede Estadual RN
Rede Mercosul
Rede Lusfona
Rede Cabo Verde
Rede Guin-Bissau
Rede Moambique

Comit Estadual pela Verdade, Memria e Justia RN Centro de Direitos Humanos e Memria Popular CDHMP Rua Vigrio Bartolomeu, 635 Salas 606 e 607 Centro CEP 59.025-904 Natal RN 84 3211.5428 [email protected] 1p1d4a

Envie-nos dados e informaes:
DHnet Email Facebook Twitter Skype: direitoshumanos

Comisses da Verdade Brasil | Comisses da Verdade Mundo
Comit de Verdade Estados | Comit da Verdade RN

Inicial | Reprimidos RN | Mortos Desaparecidos Polticos RN | Repressores RN

Militantes Reprimidos no Rio Grande do Norte
Raimundo Ubirajara de Macedo

Livros e Publicaes

No Outono da Memria
O Jornalista Ubirajara Macedo Conta a Histria da Sua Vida
Nelson Patriota, 2010

16. Na ilha de Fidel

No preciso ser comunista para se reconhecer o valor de Cuba. Basta ter um pouco de sensibilidade, aliar a isso um tanto de informao e um outro tanto de utopia. Com essa receita, podemos chegar a Cuba com a certeza de que iremos irar com uma justa medida todo o magnfico trabalho de idealismo e praticidade que o povo cubano realizou desde a ascenso de Fidel Castro – ou desde o fim do governo de faz-de-conta de Fulgncio Baptista.

Fiz minha viagem a La Habana em 1990. Ficamos num hotel, de cujo nome no me recordo, mas que sei que fora construdo por empresrios americanos para usufruto dos turistas ianques. E tambm canadenses, europeus... Os turistas latino-americanos estavam naturalmente excludos. Reside justamente a um dos grandes feitos da revoluo: ter devolvido aos cubanos a sua dignidade, reconhecendo-lhes seus direitos, dentre estes, o de desfrutar dos seus bens esttico-patrimoniais.

A primeira coisa que notei, antes do desembarque no aeroporto Jos Mart, em Havana, foi o brilho intenso das guas caribenhas entremeadas de ilhas, ilhotas, e outros pequenos acidentes insulares espalhados em meio vastido do mar e que, medida que se aproximava a aterrissagem, ganhavam contornos mais ntidos que acentuavam sua beleza, marcada pela plasticidade dos seus entornos.

Como das vezes anteriores, Lourdinha me acompanhava numa excurso constituda de pessoas com as quais tnhamos variados graus de amizade, o que acrescentava ao prazer de conhecer novos lugares e pessoas, o calor e o conforto da amizade. Ficamos todos no mesmo hotel, mas a partir da, pequenos subgrupos do nosso grupo maior faziam seu prprio programa, de acordo com o grau de interesse de cada um. noite, costumvamos fazer programas coletivos, indo a um determinado teatro, boate ou restaurante previamente acertado com a organizao do tour. Afora eu e Lourdinha, outros aficionados da boa msica integraram esse eio a Cuba, por isso, amos com frequncia a espetculos musicais, ponto em que a ilha caribenha especialmente forte. No vimos um Silvio Rodriguez nem um Pablo Milans ao vivo, mas pudemos assistir a shows de nomes importantes da velha guarda cubana, como Omara Portuondo, Efraim Ferrer e Compay Segundo. Mas, independentemente de ter ou no um grande nome em cartaz, nessa ou naquela casa de espetculos, sempre valia a pena assistir, porque o povo cubano extremamente musical. Nesse ponto, eles se parecem muito com ns brasileiros, e esto sempre dispostos a “fazer um som” de improviso, nem que seja ao como de uma caixinha de fsforos... Recordo que um dos shows musicais que assistimos em Havana me levou a compar-lo com espetculos semelhantes que eu havia assistido no fazia muito tempo no Moulin Rouge, em Paris. E a concluso a que cheguei foi que o espetculo que vi em Havana nada ficava a dever ao dos parisienses.

A praia de Varadero, na provncia de Matanzas, onde ficava nosso hotel, um lugar especialmente privilegiado de Cuba. Sendo uma tradicional estao de veraneio desde os tempos de Baptista, dispe de uma variedade de hotis voltados especialmente para o turismo, o que confere a eles um padro de qualidade prximo s exigncias europeias e americanas. Devido aos laos histricos que nos unem aos cubanos, os turistas brasileiros so recebidos com muito carinho em Cuba, seja num hotel trs estrelas, seja num restaurante, numa fbrica artesanal, num caf ou em outra parte.

Mas o que mais concorre para elevar a imagem de Cuba no exterior a qualidade de sua educao e de sua sade. Pudemos conferir ao vivo por que a educao cubana tem to larga repercusso. Visitamos uma escola primria meio por acaso, quando voltvamos de um eio baia de Cienfuegos, de volta a Havana. Nosso guia precisou se ausentar por cerca de duas horas e eu e Lourdinha e mais um pequeno grupo deparamos com o que nos pareceu a fachada de uma escola. Nos identificamos como turistas brasileiros e pedimos permisso para visit-la. Um professor veio nos receber e nos conduziu ao interior do estabelecimento, onde, naquele momento, outro professor ministrava aula de espanhol para crianas de entre oito e dez anos.

Ao notar a nossa presena, ele interrompeu a aula para nos convidar a assisti-la. Como ramos quatro, nos acomodamos sem dificuldade em cadeiras que foram providenciadas para ns e, embora com alguns equvocos de sentido, nos comunicamos “avelmente”. Lourdinha pediu ento para ver a lio que as crianas estudavam naquele momento e pediu a uma delas, uma garotinha de tez escura e olhos muito amendoados, que lesse o poema “Dos Patrias”, de Jos Mart, que exalta o amor do poeta a Cuba e noite, as duas ptrias de que fala o poema.

A garota no se fez de rogada. Levantou-se da sua carteira escolar e leu o poema vagarosamente, sem demonstrar insegurana. Lourdinha a parabenizou pela tima leitura e, aps agradecermos ao professor, fizemos meno de nos retirar. Mas foi o prprio professor que se dirigiu ao nosso grupo e nos fez uma breve exposio sobre as dificuldades que vivenciava na escola. Eram dificuldades de ordem material, frisou, mas que no comprometiam a qualidade do ensino porque a dedicao dos alunos as compensava com sobra. Percebi o quanto lhe custava fazer aquela confisso para quatro estranhos que pouco ou quase nada sabiam sobre os problemas de que ele falava. Mas era como se ele precisasse desabafar com algum seus problemas. Falou tambm das limitaes salariais que enfrentava no seu trabalho, mas nos garantiu que no trocaria a sua ctedra por nada que significasse mudar a forma de ser de Cuba. Notamos que a confisso lhe custou um grande esforo e lgrimas rolaram de sua face.

Em outra ocasio, visitamos uma fbrica de charutos nos arredores de Havana. Eram centenas de trabalhadores, no geral, jovens e de ambos os sexos, que enrolavam manualmente o tabaco at conferir-lhe a forma do charuto. Nenhum operrio interrompeu seu trabalho, mas samos de l abarrotados de charutos de diversas marcas, que compramos a preo convidativo.

Em outra ocasio, fomos a um hospital de mdio porte. No vimos pacientes pelos corredores, como to comum nos hospitais pblicos brasileiros. Outro detalhe que me chamou a ateno foi a limpeza impecvel dos corredores e ambulatrios. Notei tambm que havia mdicos em grande nmero e junto aos guichs de atendimento os pacientes pareciam tranquilos.

Em resumo, vi uma Cuba vibrante, esbanjando energia e entusiasmo, cheia de vitalidade e de projetos, mas sem descuidar da vida presente. Com os avanos que j conseguiu em reas essenciais como sade, educao, lazer e cultura, acho que o povo cubano est preparado para os desafios gerados com o afastamento de Fidel Castro. A vibrao das ruas d a entender que corre sob o cho da ilha uma energia que anima a alma cubana e a renova a cada novo dia.

^ Subir

< Voltar

Desde 1995 dhnet-br.informativomineiro.com Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: [email protected] Facebook: DHnetDh
Google
Not
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
Hist
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Mem
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multim
Comit