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Raimundo Ubirajara de Macedo
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e l fora se falava em liberdade
Ubirajara Macedo, Sebo Vermelho
2001
Ida
para So Paulo
Depois
de ter ado onde meses preso, fui liberado
em parte, uma vez que a priso fora
transformada em domiciliar. Sa do
velho quartel do 16 RI, no dia 19
de maro de 1965, deixando ainda
dois presos polticos encarcerados:
Manoel Bento, velho agricultor em Baa
Formosa, e o jovem estudante Nilson Advncula
de Souza. Como se v, fui dos ltimos
a sair, pois, graas a Deus quase
todos os companheiros de priso tinham
conseguido habeas corpus e cado
fora. Mais uma vez, repito, era perigoso
e no sabia...
O advogado que conseguiu transformar minha
priso em domiciliar foi o Dr. talo
Pinheiro, hoje presidente do Tribunal de
Justia. Ainda hoje, quando nos encontramos,
relembramos o trabalho que ele teve para
conseguir o habeas corpus mas, como tambm
sou filho de Deus, a luta de talo
deu certo e hoje me sinto-me grato quele
magistrado.
Voltei s minhas atividades profissionais,
no s nos Correios, mas tambm
no jornalismo e acompanhando de perto tudo
o que os “reformadores” do pas
faziam, completamente dominados pelas mesmas
foras que apoiarem o golpe traioeiro
de 64. Quantas coisas ruins aconteceram!...
Mas tivemos que engolir as mazelas causadas
que a CIA e outros cmplices internacionais
ditava aos sobas que foram se sucedendo
no poder, que quela altura no
sabamos at quando iria.
No podemos destacar aqui nada que
dissesse, isto bom para os brasileiros,
isto bom para a nossa liberdade,
isto bom para nossos filhos! Nada
surgiu para que se justificasse a infeliz
tomada do poder naquele fatdico
primeiro de abril. Nada mesmo, alm
do sofrimento de milhares de famlias
vendo seus pais, seus filhos, netos e parentes
sucumbindo diante de uma fora bruta,
fascista e retrgrada ditada por
interesses de fora, que nada tinham a ver
com o quede melhor pudesse existir em benefcio
do povo brasileiro.
A vida corria sem maiores novidades, a no
ser a obrigao de me apresentar
todos os finais de semana do Quartel General
para um livro provando que no
tinha me afastado de Natal, onde ainda cumpria
priso domiciliar. Comigo, Carlos
Lima, as estudantes de Direito Tereza Braga
e Berenice Freitas, Jos Fernandes
Machado, os irmos Guaracy e Paulo
Oliveira, alm de outros que a memria
no momento no me ajuda a relembrar.
As idas a Recife tambm quebraram
um pouco o ritmo normal da minha existncia
naqueles dias cinzentos. Tinha que ir depor
ao Juizado da 7 Regio Militar,
onde estava rolando o nosso processo. Formalidades
s, porque em regime de exceo
como o que estvamos ando, tudo
isso eram firulas que no impressionavam
a ningum. Havia entre ns,
os mesmos que se apresentavam ao quartel
em Natal, um esprito superior a
tudo o que se ava. Tereza e Berenice
faziam bem ar em o tempo com suas irreverncias
e lembranas da poca em que
driblaram as foras da represso.
Lembravam tambm dos maus momentos
que aram na fase mais aguda da fuga
em busca da liberdade. Em Recife, nos encontramos
com Eurico Reis e juntos enfrentvamos
os questionrios manipulados pelos
“juzes” fardados. Havia
o caso coisas gozadas, partidas dos mesmos
juzes. Por a se v
como eram preparados aqueles que nos iam
julgar... E Eurico, bom advogado, ria de
chorar com as besteiras que ouvia dos “magistrados”.
Mas tudo que se ou fazia parte do show
daqueles que, coitados, recebiam ordens
de fora e ali estavam representando uma
farsa que ainda hoje perdura em alguns setores
da vida nacional. Tempos depois, j
exilado em So Paulo, soube do resultado
de nossas idas ao Tribunal Militar de Recife.
Tinha sido condenado a um ano, e como j
tinha cumprido onze meses de priso
celular e mais dois de domiciliar, fui considerado
livre de qualquer outra pena. Tambm
pudera!
Finalmente, So Paulo. Quando menos
esperava, trabalhando nos Correios e Telgrafos,
chega notcia da minha transferncia
para a capital paulista. Encarei com calma
o ato dos meus superiores hierrquicos
e fui tratando logo de “arrumar a
trouxa” e, para encurtar a histria,
dia 23 de junho estava embarcando no aeroporto
Augusto Severo rumo ao Congonhas. Na viagem,
comigo iam mais trs funcionrios
da mesma repartio, estes
transferidos por perseguio.
Boas pessoas e timos companheiros,
mas nada tinha com problemas polticos.
Aproveitaram a ida de um “subversivo”
e mandaram os rapazes embora. Desses, um
voltou, um morreu e outro continua morando
l e sei que vai bem de vida. Aposentou-se
e trabalha em empresa privada.
competente e lembro-me que seu nome
Francisco Pereira. Minha homenagem daqui
ao velho companheiro de viagem e de trabalho.
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