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Militantes Reprimidos no Rio Grande do Norte
Mailde Pinto Ferreira Galvo
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1964. Aconteceu em Abril
Mailde Pinto Galvo
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Confinamento dos presos

O dia 15 de agosto foi mais um daqueles tantos da insegurana da ditadura quando, noite, nasceu Leonzinho, uma criana linda e saudvel, filho de Conceio e Moacyr de Ges, que chegou em plena ditadura e j marcado por ela desde antes de nascer. A alegria pelo parto normal de Conceio chocava-se com a tristeza pela priso e ausncia do pai, encarcerado no 16 RI. Conceio, emocionada e silenciosa, sem lgrimas e sem sorrisos, abraava o filho, recebia os amigos e se fechava no mistrio da sua solido. No sendo dia de visita, procurei ajuda do oficial de dia para avisar a Moacyr. Fui atendida ao telefone pelo capito Aroldo Galvo que, imediatamente, transmitiu a notcia.

Poucos dias aps o nascimento da criana, a imprensa divulgou que o capito Lacerda havia retirado alguns presos dos quartis e levado para o confinamento da ilha de Fernando de Noronha. Os quartis entraram em prontido e as visitas aos presos estavam suspensas, fato que acontecia sempre que surgia algo de novo ou eram editados novos atos de exceo. A notcia deixou-nos em grande aflio principalmente diante da possibilidade de terem levado Moacyr.

O meu irmo Leon e eu dividamos a preocupao por Conceio que j programava, para a prxima visita, levar a criana ao quartel. Para proteg-la e evitar que lhe informassem sobre a transferncia dos presos, os mdicos que a assistiam proibiram as visitas. Decidi, ento, ir ao quartel e procurar falar com o capito Lacerda mas no o encontrei. O oficial de dia, tenente Jurema, atendeu-me e empenhou a palavra que Moacyr continuava na mesma priso. Convidou-me a andar pelo ptio interno do quartel, onde estive na expectativa de ver Moacyr atravs das grades.

Naquele dia as janelas estavam vazias, nenhum rosto apareceu. Demorei o tempo possvel, mas tudo era silncio e solido. Imaginei que os presos estariam nas camas, temendo pelos companheiros e por si mesmos. Pela minha experincia podia saber que, naquele dia, estariam acuados e recolhidos sobre os seus destinos. Agradeci ao oficial e me retirei.

Informada da minha visita ao quartel, a mdica Aliete Roselli, cunhada do preso Lus Maranho, procurou-me, chorando, pedindo ajuda para voltar ao quartel e conseguir notcias dele, atravs do mesmo capito Lacerda. O nome de Lus j constava das notcias da transferncia para a ilha mas ela no conseguia aceitar. Foi muito difcil para mim negar aquela ajuda mas no consegui atend-la; havia esgotado minha reserva de coragem na busca por Moacyr. Os quatro presos, Djalma Maranho, Lus Maranho Filho, Floriano Bezerra e Aldo Tinoco, foram levados pelo capito Lacerda, para a ilha de Fernando de Noronha na madrugada de uma sexta-feira. A transferncia era motivada pela concesso de um habeas-corpus, requerido ao Superior Tribunal Militar, em favor do preso Aldo Tinoco, ento suplente de deputado federal, conforme informao do capito Lacerda a "O Poti", de 23 de agosto, divulgada na seguinte notcia:

DESTINO DOS QUATRO PRESOS POLTICOS FOI FERNANDO DE NORONHA.

Nenhuma revelao foi feita imprensa pelas autoridades militares em torno do ponto do territrio brasileiro para onde foram levados, na madrugada de anteontem, os quatro presos polticos transferidos de nossa capital.

Ontem noite, em contato com o capito nio Lacerda, presidente do IPM que apura a subverso em nosso Estado, soubemos que chegara tarde a resposta do comando do 4 Exrcito consulta formulada pelo comando da guarnio, indagando sobre o informe aos jornalistas ou no do destino dos presos. A resposta foi negativa.

Adiantou, ainda, que a ordem partiu do general Antnio Carlos da Silva Muricy, que responde pelo comando do 4 Exrcito. Em resposta a uma pergunta, itiu que, apesar de ser esperada a transferncia, a concesso de habeas-corpus pelo Supremo Tribunal Militar pode ter tido influncia para a deciso do assunto.


A TRANSFERNCIA

Os quatro presos polticos, ex-prefeito Djalma Maranho, ex-deputados Lus Maranho Filho e Floriano Bezerra e o suplente de deputado federal Aldo Tinoco saram de nossa capital na madrugada de sexta-feira.

Foram conduzidos em avio militar da FAB, pelo prprio capito Lacerda e pelo tenente Roosevelt, do 16 RI. O local para onde foram conduzidos estava em segredo. certo, porm, que continuam em territrio do 4 Exrcito.

O capito Lacerda e o tenente Roosevelt retornaram da misso na noite do mesmo dia, adiantando que os presos polticos no demonstraram, durante a viagem, constrangimento com a viagem.

Quanto ao habeas-corpus concedido pelo Superior Tribunal Militar em favor do Dr. Aldo Tinoco, afirmou o capito nio Lacerda que, at o momento, nenhuma confirmao oficial recebeu em torno do assunto. – Tomou conhecimento da deciso apenas por noticirio de jornal. No entanto, respondendo a uma pergunta, afirmou que no duvida que o bacharel Aldo Tinoco ser libertado se chegar o habeas-corpus.


CONFIRMADO FERNANDO DE NORONHA

No entanto, j noite, tivemos informaes que o Sr. Venncio Zacarias, pai do ex-deputado Floriano Bezerra, vindo hoje nossa capital, como faz todos os sbados, para visitar o seu filho e no o encontrando, procurei o coronel Mendona Lima, que responde pelo Comando da Guarnio. Daquela autoridade militar era recebido a informao de que o seu filho, como tambm os outros trs presos polticos, foram transferidos para a ilha de Fernando de Noronha."

O dio do general Muricy era tanto que se sentiu com poderes para desafiar uma deciso do Superior Tribunal Militar, retirando os presos de Natal para Fernando de Noronha e impedindo ou retardando o cumprimento dos habeas-corpus.

amos, ainda, uma semana at a prxima visita aos presos quando ficamos convencidos de que Moacyr, realmente, se encontrava no quartel. Acompanhei Conceio quando levou o filho para ser visto pelo pai, no dia seguinte ao que deixou a Maternidade Janurio Cicco, onde recebeu inteira solidariedade da equipe mdica e paramdica que a manteve ali por quase quinze dias, at que ficassem tranqilos quanto ao seu estado emocional. A equipe era composta pelos professores Leide Morais, Araken Pinto, Heriberto Bezerra, Adelmaro Cunha, Edmilson Queiroz, Lavoisier Maia, Socorro Santos, Edsio Pereira e Aluzio Leite.

As visitas aos presos aconteciam ao ar livre, no ptio ao lado das celas. Formavam-se grupinhos em torno de cada preso. Os oficiais e soldados vigiavam, circulando em torno, inibindo gestos e conversas. Moacyr estava visivelmente emocionado; beijou a esposa e o filho mas no permitiu que a excepcional visita fosse dramatizada por maior tristeza.

Os dias que se seguiram transferncia dos presos para Fernando de Noronha foram tensos e repletos de boatos. Falaram que outros presos somam levados e voltvamos das visitas sem certeza da prxima.

Ainda no ms do agosto, os jornais divulgaram que poderia haver trovas prises mas no esclareciam que, em cinco meses de investigaes no haviam conseguido uma nica prova que confirmasse a preparao do atos terroristas ou subversivos a serem praticados pela equipe do prefeito Djalma Maranho ou do qualquer outro setor da cidade. Continuvamos, no entanto, a viver sob tenso e vigiados por civis delatores e militares.

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