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Repressores
RN
Militantes Reprimidos no Rio Grande do Norte
Mailde Pinto Ferreira Galvo
Livros
e Publicaes
1964.
Aconteceu em Abril
Mailde Pinto Galvo
Edies Clima
1994
Depoimento
na Comisso Municipal
Em
maio recebi uma intimao
para depor na Prefeitura, s vinte
horas de um dia determinado. Apresento-me
na hora marcada. A comisso encontrava-se
instalada no Salo Nobre da Prefeitura,
o mesmo salo onde se realizavam
as reunies de trabalho presididas
pelo prefeito Djalma Maranho. Fiquei
muito tensa quando entrei no recinto fortemente
iluminado. Em torno de uma mesa estavam
sentados os senhores Rodolfo Pereira, presidente,
e os membros que a compunham, capito-tenente
da Marinha Humberto Romero, capito
do Exrcito Gerardo Parente e o coronel
da Policia Militar Severino Bezerra. Fui
recebida com indisfarvel
hostilidade e desprezo. Senti-me naturalmente
acuada e desafiada. O oficial da Polcia
Militar permaneceu de cabea baixa
e em silncio, parecendo-me constrangido
e pouco vontade. O depoimento foi
muito difcil porque difcil
receber o preconceito jogado na cara, como
uma pedrada. Eu no estava preparada
para aquele encontro de dio e precisei
lutar muito para me defender. Envolveram-me
na agressividade, fui tambm agressiva
quase senti-me forte. Surpreendia-me a irresponsabilidade
de faz-los compreender a importncia
dos programas culturais da Diretoria de
Documentao e Cultura - DDC.
lnsistiam na acusao de que
atravs das bibliotecas populares
iramos preparar guerrilhas. Estavam
de posse das estatsticas de emprstimos
de livros que atingiram uma mdia
mensal de dois mil e quinhentos em cada
Posto e no acreditavam que, sem
interesses polticos e subversivos,
a DDC emprestasse livros a uma comunidade
popular.
Acusaram-me, tambm, de haver autorizado
a entrega de livros pela Livraria Universitria,
at uma certa importncia em
dinheiro, a uma associao
de militares da Marinha, que havia solicitado
ao prefeito a doao de alguns
livros para formao de uma
pequena biblioteca. Exibiam o ofcio,
atravs do qual eu fizera a autorizao,
como se fosse um documento de subverso
poltica. Um ano de rotina istrativa
era transformado, de repente, em crime contra
a segurana nacional. Foi um enfrentamento
desigual e intil. Usamos as mesmas
palavras, falamos dos mesmos assuntos mas
com sentidos diferentes; no podamos,
portanto, nos entender.
Sa do interrogatrio extremamente
cansada. Tentaram esmagar a minha resistncia,
confundiram as minhas respostas e usavam
qualquer palavra para implicar outros companheiros.
Citavam nomes de pessoas e insistiam nas
suas participaes em atos
subversivos, como se dispusessem de documentos
e provas. Excetuado o coronel da Polcia
Militar, foram todos muito cruis.
Em outras comisses pude conhecer
os que no eram cruis mas
eram despreparados. Na comisso composta
por funcionrios do ento
Departamento de Correios e Telgrafos,
um telegrafista ficou irritado quando lhe
respondi que no me sentia na obrigao
de ler todos os livros que a DDC expunha
para emprestar. Considerou-me, ento,
responsvel por um ato subversivo
que no sabia explicar, mas insistia
que no se podia emprestar livros
sem antes hav-los lido. Argumentava
sem maldade, apenas por ignorncia.
Assim, eram preparados os termos de acusao.
Na comisso dos Correios e Telgrafos,
apenas o presidente tinha condies
intelectuais para interrogar, mas todos
o faziam e tinham as suas concluses
equivocadas includas nos relatrios
de acusao.
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