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Militantes Reprimidos no Rio Grande do Norte
Mailde Pinto Ferreira Galvo
Livros
e Publicaes
1964.
Aconteceu em Abril
Mailde Pinto Galvo
Edies Clima
1994
Exposio
de livros
As
prises se sucediam e, na Prefeitura,
vivia-se a euforia da vitria.
Pretensos intelectuais, contando com o apoio
do "Dirio de Natal" que,
em 1964, tinha como superintendente o jomalista
Lus Maria Alves, fizeram, mediante
critrios prprios, a seleo
dos livros apreendidos nas bibliotecas municipais
e nas residncias dos presos e organizaram
uma exposio dos mesmos,
na ento Galeria de Arte da Praa
Andr de Albuquerque. O pblico
foi mobilizado e compareceu Galeria
para conhecer a prova do crime de subverso
praticado atravs das pequenas bibliotecas
populares que serviam s populaes
dos bairros carentes da cidade.
Pelo amplo noticirio da imprensa,
pelas fotografias de meia pgina
dos jornais e pela leitura dos seus ttulos,
podia-se observar que a maioria dos livros
eram os que haviam sido recebidos por doao
da Biblioteca do Exrcito, atravs
do General Humberto Peregrino, seu ento
diretor. Aqueles livros, alis, eram
raramente procurados pelos leitores que
pouco se interessavam por assuntos estritamente
militares; no entanto, foram o ponto crtico
de todos os interrogatrios a que
fui submetida. Eram ttulos sugestivos
e direcionados divulgao
de assuntos militares e, por causa deles,
fui acusada de que estariam sendo usados
para o ensinamento de tticas de
luta armada.
A notcia que acompanhava a fotografia
dos livros, publicada pelo "O Dirio
de Natal", maldosa e irresponsvel:
“Alguns dos livros apreendidos
na Biblioteca Popular da Prefeitura
na praa Andr de Albuquerque
nesta capital. As obras editadas pela
Biblioteca do Exrcito, na foto
acima, embora de circulao
autorizada parecem demonstrar a preocupao
no preparo militar para guerrilhas.”
Nenhum outro noticirio referia-se
s colees de escritores
como Jos de Alencar, Monteiro Lobato,
Machado de Assis, Graciliano Ramos, Jorge
Amado, Castro Alves, Raquel de Queiroz e
outros que compunham as bibliotecas populares.
De, aproximadamente, oito mil livros que
compunham as dez bibliotecas da Prefeitura
- trs em praas pblicas,
uma no Centro de Formao
de Professores, um nibus-biblioteca
volante e cinco caixas-bibliotecas com 150
livros cada, nos acampamentos escolares,
mais o acervo de reserva - selecionaram
uns poucos livros que tratavam da realidade
poltico-social do Brasil e fundamentaram
desonestamente as acusaes.
Algum tempo depois, a amiga Nadja Amorim
Barreto encontrou, num salo de cabeleireiro,
a esposa de um oficial do Exrcito
lendo, como subsdio para estudos
universitrios, um livro carimbado
pela Diretoria de Documentao
e Cultura e pertencente s caixas
de emprstimos dos j desativados
acampamentos da campanha de alfabetizao.
Era impossvel acreditar que considerassem
os livros como preparao
para guerrilhas apenas por ignorncia,
principalmente porque alguns responsveis
pela organizao da exposio
eram, na maioria, pessoas de formao
universitria e tidos como intelectuais
da cidade. Estavam todos possudos
pelo delrio do poder, perturbados
pela vibrao de um patriotismo
falsamente direcionado e covardemente preocupados
em agradar aos militares. Agradaram aos
militares mas destruram, completamente,
um plano cultural que, se continuado, poderia
ter modificado a lamentvel e dramtica
situao do analfabetismo
em Natal.
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