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Ditadura
Militar de 1964 no Rio Grande do Norte
Glnio
Fernandes de S
Represso no RN
Livros
e Publicaes
Relatrio
sobre a luta no Araguaia
Este relatrio foi escrito por ngelo
Arroyo aps o conflito e apresentado
para o Comit Central do Partido Comunista
do Brasil
Primeira
campanha
Incio
da luta
Nossa
Atuao
Segunda
campanha
Avanos
e perdas
Perodo
de Trgua
A
guerrilha e as massas
Ao
militar
Novas
tarefas e medidas da CM
Terceira
campanha
Primeira
campanha
Dia 12 de abril de 1972 iniciou-se a luta
guerrilheira no Araguaia. Cerca de 20 soldados
atacaram o "peazo" (principal
PA - Ponto de Apoio - do Destacamento A),
entrando por So Domingos. Dia 14,
uns 15 soldados atacaram o PA do Pau Preto
(do Destacamento C), entrando por So
Geraldo. Nos primeiros dias de abril, j
alguns policiais andaram pelas reas
dos destacamentos A e C procura
de informaes sobre os "paulistas".
O exercito soube de nossa presena
no sul do Par atravs da
denncia do traidor Pedro Albuquerque
que, meses antes, havia fugido com sua mulher,
do Destacamento C. [NE: mais tarde, soube-se
que no foi Pedro Albuquerque o denunciante
dos guerrilheiros que se encontravam no
Araguaia]. Esse casal tinha concordado plenamente
com a tarefa que iria realizar e com as
condies difceis
que iria enfrentar. No entanto, logo depois
de sua chegada ao Destacamento C, a mulher
de Pedro Albuquerque comeou a dizer
que no condies para
permanecer na tarefa e acabou convencendo
seu marido a fugir. Com a fuga desses elementos,
foram tomadas medidas de segurana.
Em maro de 1972, soube-se que Pedro
Albuquerque havia sido preso no Cear
e, em seguida, comeou a pesquisa
policial na zona. Devido a isso, reforaram-se
as medidas de segurana. Construram-se
alguns barracos na mata ou em capoeiras
e nosso pessoal ou a dormir fora dos
locais conhecidos. De dia, colocavam-se
guardas para manter a vigilncia.
Os destacamentos ficaram de sobreaviso,
prontos para informar, uns aos outros, quaisquer
fatos que afetassem a segurana.
No dia 12 de abril foi atacado o Destacamento
A. O comando enviou um companheiro para
avisar o Destacamento B. Por sua vez, o
Destacamento C, que havia sido atacado dia
14, avisou a Comisso Militar (CM),
atravs de um dos seus membros que
l se encontrava. A CM tomou medidas
para avisar o Destacamento B e tambm
o Destacamento A (pois no sabia
ainda do ataque quele destacamento).
O Destacamento B, ao tomar conhecimento
do que havia ocorrido no A, tratou de enviar
um elemento, Geraldo (Jos Genono
Neto), para avisar o C. Acontece que o C
j havia se retirado. Geraldo, no
encontrando o pessoal no local combinado,
nem qualquer sinal informando que o inimigo
havia batido no C, retomou por estrada,
quando devia vir pela mata, conforme recomendao.
Em conseqncia, foi preso por
alguns soldados, dois batepaus e com a ajuda
do comerciante e fazendeiro Nemer. No A,
foi liberado um elemento, Nilo (Danilo Carneiro),
que, desde que chegara, disse no
ter condies para a tarefa.
Ficou, no entanto, trabalhando num PA e
concordou em permanecer ai at o
comeo da luta, quando seria dispensado.
No dia 12, o Comando entregou-lhe uma certa
quantia para a viagem e mandou-o embora.
Ao chegar Transamaznica,
Nilo foi preso.
Apesar de prevenidos, os destacamentos tiveram
alguns prejuzos materiais na retirada.
No "peazo" (A) ficaram
roupas, calados, remdios,
livros, papel para impresso, o Manual
do Curso Militar, armas que estavam em conserto
e algumas em vias de fabricao.
Caiu tambm em poder do inimigo grande
parte da oficina de mecnica. No Destacamento
C caram dez sacos de arroz, dez
hectolitros de castanha-do-par,
um rdio e algumas as.
A primeira ofensiva do Exrcito se
verificou quando ainda no se tinha
terminado a preparao dos
trs destacamentos para a luta. A
situao dos destacamentos
era a seguinte: no A havia 22 elementos,
comandante: Z Carlos (Andr
Grabois), vice: Piau (Antonio de
Pdua Costa); no B, 21, comandante:
Osvaldo (Osvaldo Orlando Costa); vice: Zeca
(Jos Huberto Bronca); no C, 20,
comandante: Paulo (Paulo Mendes Rodrigues);
vice: Vitor (Jos Toledo de Oliveira).
Na CM, alm dos quatro membros, havia
dois elementos de guarda. Ao todo havia
69 elementos. Para completar os efetivos
faltavam 13 elementos. Todos os destacamentos
tinham reservas de alimentos, roupas, remdios
e munio. Faltavam, no entanto,
coisas indispensveis. No A e no
C no havia reserva de farinha. As
armas com que se contava eram precrias.
O Destacamento A tinha quatro fuzis, quatro
rifles 44, uma metralhadora fabricada l
mesmo, uma metralhadora INA, seis espingardas
20 e duas carabinas 22; o Destacamento B
tinha um fuzil, uma submetralhadora Royal,
seis rifles 44, uma metralhadora fabricada
l mesmo, 16 de dois canos, uma espingarda
16 de um s cano, seis espingardas
20, uma espingarda 36 e duas carabinas 22;
no C havia quatro fuzis, alguns rifles 44,
espingardas 20 e carabinas 22; na CM, havia
duas espingardas 20. A maior parte dessas
armas era antiga e apresentava defeitos.
Todos os combatentes tinham revlveres
38, com mais de 40 balas cada. Embora todos
os elementos tivessem feito progresso no
conhecimento do terreno, as deficincias
ainda eram grandes. Muitos companheiros
tinham ainda dificuldades em se orientar
na mata e caavam mal. No
existia tambm uma rede de informaes
e de comunicaes. No
existiam organizaes do Partido
nas reas perifricas, nem
mesmo nos Estados vizinhos. A CM e os destacamentos
A e B dispunham de pouco dinheiro.
A rea de atuao dos
destacamentos ia desde So Domingos
das Latas at o rio Caiano (pouco
mais de 20 km de So Geraldo). Em
extenso, essa rea tinha
cerca de 130 km de comprimento por uns 50
km de fundo. Um total de cerca de 6.500
km. A populao da rea
onde atuavam os destacamentos era de mais
ou menos 20 mil almas, sem incluir as zonas
prximas, como Marab (18
mil habitantes), So Joo
(3.000 habitantes), Araguatins (5.000 habitantes),
Xambio (5.000 habitantes). (No Norte
de Gois e Oeste de Maranho,
durante uns trs anos, realizou-se
tambm amplo trabalho de ligao
com as massas). Os produtos principais da
rea so: castanha-do-par,
babau, arroz, mandioca e milho.
Quase toda a regio de mata
e h muita caa.
Ao iniciar-se a luta, a CM perdeu contato
com o Destacamento C. Somente em janeiro
de 1973, esse contato foi restabelecido.
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Incio
da luta
O Exrcito atacou simultaneamente
os destacamentos A e C. Uns dez dias depois,
atacou o Destacamento B e tambm
o local da CM. As tropas ficaram na Transamaznica
e nas cidades de Xambio, Marab,
Araguatins, Araguan e nos povoados
de Palestina, Brejo Grande, So Geraldo,
Santa Cruz e outros. No foi muito
grande o nmero de soldados que entrou
na rea onde se achavam os PAs. O
Exrcito ocupou algumas fazendas
e sedes dos castanhais (Mano Ferreira, Oito
Barracas, Castanhal da Viva, Castanhal
do Alexandre, Fazenda do Nemer). Utilizou
avies, helicpteros e, nos
rios e igaraps, barcos da Marinha.
As tropas no chegaram a entrar mata,
movimentaram-se pelas estradas. Ficavam
emboscadas nas Proximidades de casas de
moradores nas roas, capoeiras, grotas
e algumas estradas. O Exrcito procurou
apresentar os guerrilheiros com marginais,
terroristas, assaltantes bancos, maconheiros
etc. Depois ou a dizer que ramos
estrangeiros, russos, cubanos, alemes.
Prendeu muitos elementos de massa, que considerava
mais amigos nossos, tanto nas roas
como nas cidades vizinhas. Depois de alguns
dias, esses elementos foram soltos. Comearam
a se apoiar nos bate-paus da regio
e recrutar muitos deles para p-los
a seu servio. Foraram muitos
moradores a servir de guias. Todos os nossos
locais foram queimados pelo Exrcito,
inclusive os paiis de milho e arroz
e depsitos de castanha. Cortaram
todas as rvores frutferas.
Tambm algumas roas e casas
de massa foram queimadas. As perseguies
estenderam-se aos padres. Alguns foram presos
e depois soltos. O Exrcito no
possua informaes
completas sobre ns. Alguns PAs s
foram queimados uns 15 dias depois do incio
da luta. O Exrcito, alm
da farda comum, usou tambm roupa
azul, roupa camuflada e trajes civis. Suas
patrulhas eram de dez elementos. Mas usava
tambm grupos menores, seis, ou maiores,
de 30. Recebia alimentao
de campanha, em latas sacos plsticos.
A primeira campanha se prolongou at
julho.
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Nossa
Atuao
Ao serem atacados, todos os componentes
dos destacamentos A e B retiraram-se, em
ordem, para as reas de refgio.
De imediato no e choques com o inimigo.
Em de abril, dois elementos do B defrontaram-se
com um grupo do exercito. Houve troca de
tiros. Um sargento e um soldado foram mortos
outros dispersaram. Os inimigos abandonaram
no local uma que conduziam. No entanto,
nesse encontro no foram apreendidas
nem armas, nem essa carga. A CM reuniu-se
em maio e tomou uma srie de providncias.
Publicou tambm o Comunicado n
1. Entre as providncias, indicou
como forma de luta a propaganda armada em
vista explicar s massas o motivo
da luta. Indicou medidas para melhorar o
abastecimento, a preparao
militar e o conhecimento do terreno. Ordenou
que se estudassem as possibilidades de realizar
aes de fustigamento e emboscadas.
E iniciou a preparao de
uma rede de informaes. A
ttica ento empregada resumia-se
no seguinte: 1) recuar para as reas
de refgio; 2) buscar contato com
as massas; e 3) tentar realizar aes
de fustigamento e emboscadas do inimigo.
O Destacamento A permaneceu no refgio
mais de um ms. Enfrentou dificuldades
de abastecimento. Em julho voltou-se para
a massa e foi bem recebido. No contato com
as massas resolveu o problema de alimento
e emboscada, mas no houve nenhuma
ao militar. O inimigo se
retirou da mata. Todos os componentes do
A mantiveram-se firmes, com exceo
do Paulo (Joo Carlos Campos Wisnesky),
que fingiu doena.
O Destacamento B permaneceu mais tempo do
que devia no refgio. Somente em
fins de junho comeou a voltar-se
para a massa, sendo tambm bem recebido.
Houve o choque militar j mencionado.
A atuao de massa foi principalmente
na rea da Palestina.
O Destacamento C apresentou alguns problemas
mais srios. Em abril, o destacamento
j havia abandanado a rea
do rio Caiano, onde atuara, e se concentrara
numa rea de mais mata, mas onde
o pessoal era recente, no conhecia
bem a regio. Alm disso,
entre os componentes do C havia dois elementos
incorporados h apenas uns trs
meses, dois outros ingressaram no momento
mesmo em que a luta se iniciava. Logo no
incio, alguns elementos mostraram
vacilao. Miguel e Josias.
Esse destacamento perdeu contato com a CM
at janeiro de 73. Ao contrrio
do A e do B, que mantiveram os trs
grupos de sua composio sob
controle direto do mando, no C o destacamento
se dispersou em trs grupos, indo
um deles para a antiga regio do
Caiano. Todos procuraram contato com a massa.
Houve vrios choques militares. Em
maio, um grupo dirigido por Jorge (Bergson
Gurjao Farias) seguiu para um antigo PA
(gua Bonita). A acampou.
No dia seguinte, ouvindo um assobio perto
de onde estava, Jorge mandou Domingos (Dower
Morais Cavalcante) verificar o que era.
Era o Exrcito. Domingos foi preso.
Em seguida, houve troca de tiros, tendo
os nossos se dispersado. Um soldado foi
ferido no brao. Dois elementos [Baianinha
(Luzia Ribeiro) e Miguel], que no
conheciam a rea, se perderam. Logo
depois foram presos em casas de moradores,
em pontos diferentes. Domingos se comportou
mal e levou o Exrcito a um depsito
do destacamento, onde havia remdios
e alimentos. Dias depois, Paulo (comandante
do destacamento) procurou um morador de
nome Cearense, seu conhecido, que j
havia prestado alguma ajuda, encomendando-lhe
um rolo de fumo, que seria apanhado dentro
de uns trs dias. Cearense sempre
foi muito ajudado por Paulo. No entanto,
diante da recompensa oferecida pelo Exrcito
(mil cruzeiros) a cada guerrilheiro que
entregasse, Cearense foi a So Geraldo
e avisou o Exrcito do ponto marcado
por Paulo. No dia de apanhar o fumo, dirigiu-se
ao local um grupo constitudo por
cinco elementos: Paulo, Jorge, urea
(urea Eliza Pereira Valado),
Ari (Arildo Valado) e Josias. Ao
se aproximarem do local, foram metralhados,
tendo morrido Jorge. Os demais se dispersaram.
No choque, perdeu-se, alm da arma
de Jorge, uma pistola 45 que Paulo conduzia.
Em meados de junho, trs companheiros,
dirigidos por Mundico (Rosalindo Souza),
procuraram um elemento de massa, Joo
Coioi, que j tinha ajudado
vrias vezes os guerrilheiros com
comida e informao. Ficou
acertado o dia em que ele voltaria de So
Geraldo para entregar as encomendas.
noitinha desse dia, aproximaram-se da casa
Mundico, Cazuza (Miguel Pereira dos Santos)
e Maria (Maria Lcia Petit), mas
perceberam que no havia ningum.
Cazuza afirmou que ouvira algum
dizendo baixinho: "'pega, pega".
Mas os outros dois nada tinham ouvido. Acamparam
a uns 200 metros. Durante a noite, ouviram
barulho que parecia de tropa de burro chegando
na casa. De manh cedo, ouviram barulho
de pilo batendo. Aproximaram-se
com cautela, protegendo-se nas rvores.
Maria ia na frente. A uns 50 metros da casa,
recebeu um tiro e caiu morta. Os outros
dois retiraram-se rapidamente. Dez minutos
depois, os helicpteros metralhavam
as reas prximas da casa.
Alguns elementos de massa disseram, mais
tarde, que Maria fora morta com um tiro
de espingarda desfechado por Coioi.
Este, logo depois, desapareceu com a famlia.
Uns dias mais tarde, Lena (Regilena) entregou-se
ao Exrcito. Deixou no acampamento
a espingarda e a mochila. Em princpios
de julho, Vitor e Carlito (Kleber Lemos
da Silva) saram para tentar um encontro
com a CM. Mas Carlito no pde
prosseguir viagem, devido ao agravamento
de uma ferida (Ieishmaniose) na perna. Sem
poder caminhar, ficou num castanhal, prxima
estrada, enquanto Vitor voltava
para avisar os companheiros. Nesse meio
tempo, ou pela estrada o bate-pau Pernambuco,
que ouviu o barulho de algum quebrando
um ourio de castanha. Levou, ento,
o Exrcito ao local. Ao procurar
se defender, Carlito foi alvejado no ombro
e, em seguida, preso. Foi levado para um
local chamado Abbora e l
foi bastante torturado. Chegou a ser amarrado
num burro e por este arrastado. Elementos
de massa disseram que o viram praticamente
morto sobre o burro. Soube-se depois que
Carlito levou os soldados at um
velho depsito que nada continha.
Pode ser que o tenham matado, mas tambm
pode ser que ficou apenas preso. Um pequeno
grupo, chefiado por Ari, trocou tiros com
o inimigo, tendo matado um soldado da Polcia
Militar.
O destacamento fez tambm uma ao
contra um barraco, sede de castanhal,
tendo conseguido regular quantidade de comestveis,
algumas pilhas e querosene. Mas pagaram
as mercadorias ao preo corrente
em So Geraldo. Tambm um
grupo de trs, num encontro casual,
liquidou um bate-pau, filho de um tal Jos
Pereira. O bate-pau foi intimado a levantar
o brao. Mas apontou a arma contra
os companheiros, sendo alvejado. A morte
desse bate-pau causou pnico entre
os demais da zona. Dois outros pequenos
grupos caram em emboscadas do Exrcito,
mas no tiveram baixas. Conseguiram
safar-se. A emboscada foi possvel
por falta de vigilncia. Os companheiros
iam caminhando por estradas e, apesar de
notarem o rastro dos soldados, no
se afastaram do caminho.
No curso da primeira campanha do inimigo,
a CM manteve contato regular com os destacamentos
A e B. A alimentao da CM
foi mantida pelo B. Em julho, a CM resolveu
enviar um grupo de companheiros, chefiados
pelo Juca (Joo Carlos Haas Sobrinho),
para conseguir relatar o contato com o C.
Faziam parte do grupo: Flvio (Ciro
Flvio de Oliveira Salazar), Gil
(Manoel Jos Nurchis), Aparcio
(ldalisio Soares Aranha Filho) e Ferreira
(Antonio Guilherme Ribeiro Ribas), do B.
Esta medida se impunha, porque o C no
atendeu aos pontos previamente estabelecidos.
Este grupo caiu numa emboscada do Exrcito
na Grota Vermelha, a uns 50 metros da estrada.
Juca levou dois tiros, um na perna e outro
na coxa, mas conseguiu, juntamente com os
outros companheiros, embrenhar-se na mata.
Ficaram parados alguns dias, para que Juca
se restabelecesse. Durante esse perodo,
Aparcio saiu para caar e
se perdeu. Procurou a casa de um morador,
chamado Peri, por onde sabia que os demais
iam ar. L ficou espera.
O dono da casa onde se refugiou levou-o
para um barraco no mato, prximo
casa. A lhe serviam a comida.
Dias depois, apareceu o Exrcito
e travou tiroteio com Aparcio. Este
descarregou todas as balas do revlver
que tinha e, quando tentava ench-Io
de novo, recebeu um tiro e morreu. No
se sabe se o Exrcito chegou por
acaso ou se foi denncia. O Juca,
com os outros, foi at a casa de
morador conhecido que podia fazer o contato
com o C. Deixou a um ponto para
o Paulo (todo dia 1 de cada ms,
a partir de setembro). Mas o ponto era uma
indicao que s Paulo
poderia saber. Juca retornou CM
com os demais. A CM reforou a sua
guarda com a vinda de Ari (Marcos Jos),
do A, e Zezinho, do B, e tentou fazer contato
com o CC.
Assim termina o perodo da primeira
campanha do inimigo.
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Segunda campanha
A segunda campanha se inicia setembro de
1972. Nesta campanha, as Foras Armadas
empregaram 8 mil a 10 mil soldados. As trapas
eram, em geral, de recrutas e de vrios
Estados. Distribuam-se por vrias
bases implantadas na rea. Estas
bases eram fazendas, sedes de castanhas
ou mesmo roas. Ocuparam as estradas
e abriram algumas picadas na mata. Chegaram
a entrar na mata, guiados por um morador
local (Osmar), na rea do B. Havia
pouca tropa especializada. A moral dos soldados
era baixa. Todos estavam ansiosos para regressar.
Armaram muitas emboscadas em beiras de grotas,
estradas, casas de mora dores e em capoeiras.
Fizeram algumas armadilhas. Utilizaram helicpteros
e avies. Soltaram trs bombas
na mata, nas proximidades de um acampamento
do Destacamento B. Recrutaram bate-paus
locais e pagavam 25 cruzeiros por dia aos
moradores que quisessem servir de guias.
Durante a campanha, o Exrcito distribuiu
boletins na rea, concitando os guerrilheiros
a se entregar. Distribuiu tambm
o fac-smile de uma carta do Geraldo,
dirigida ao Glnio (Glnio S),
do B, na qual afirmava que estava sendo
bem tratado, e com dignidade, pelo Exrcito
e pedindo a ele para se entregar. A carta
trazia o retrato de Geraldo e tambm
o de Miguel (que havia sido preso no C).
Elementos de massa dizem que viram tambm
uma carta da Baianinha e outra da Lena,
mas no temos confirmao.
O boletim, entre outras coisas, dizia que
"o povo no apoiava os guerrilheiros",
que “as fonte de suprimentos dos guerrilheiros
estavam bloqueadas", que “as
organizaes do Partido nas
cidades haviam cado e onde no
caram , estavam prestes a cair",
que "a luta do Araguaia no
teve a repercusso que os guerrilheiros
esperavam", que "as rotas de fuga
estavam bloqueadas", que "a guerrilha
urbana tinha fracassado e que era intil
prosseguir no caminho que estvamos"
e que "no restava outro caminho
seno entregar-se". Ao mesmo
tempo que realizavam a segunda grande operao,
as Foras Armadas desenvolviam uma
ao paralela junto s
massas. Procederam operao
Aciso (Ao Cvico
Social), distribuindo remdios, fazendo
consultas mdicas e dentrias,
levando doentes de helicpteros e
avies para as cidades maiores. Montaram
tambm uma operao
com o lncra. Este anunciava que iria distribuir
terras, legalizar as posses dos lavradores.
A campanha militar manteve-se at
fins de outubro.
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Avanos
e perdas
Ao iniciar-se a segunda campanha, os guerrilheiros
j possuam maior experincia.
Tinham avanado no conhecimento da
mata, na ligao com as massas,
na preparao militar, e conseguido
organizar um pouco melhor o abastecimento.
As armas, no entanto, continuavam precrias.
No havamos conseguido tom-Ias
do inimigo at esta data.
Antes de o inimigo entrar em ao,
a CM tinha decidido enviar um dos seus membros
para o Destacamento A e outro para o B,
a fim de l ficar um ms. O
companheiro Juca foi enviado para o C, com
o fim de reatar o contato.
No Destacamento A, o inimigo no
conseguiu estabelecer contato com os guerrilheiros.
Movimentou-se na rea, sem resultado.
O comando do destacamento tentou, tambm
sem resultado, realizar operaes
de fustigamento. No dia 29 de setembro,
houve um choque que resultou na morte de
HeIenira Resende (Helenira Resende de Souza
Nazareth). Ela, juntamente com outro companheiro,
estava de guarda num ponto alto da mata,
para permitir a agem, sem surpresa,
de grupos do destacamento. Nessa ocasio,
pela estrada, vinham tropas. Como estas
acharam a agem perigosa, enviaram "batedores"
para explorar a margem da estrada, precisamente
onde se encontrava HeIenira e o outro companheiro.
Este, quando viu os soldados, acionou a
metralhadora, que no funcionou.
Ele correu e Helenira no se deu
conta do que estava sucedendo. Quando viu,
os soldados j estavam diante dela.
Helenira atirou com uma espingarda 16. Matou
um. O outro soldado deu uma rajada de metralhadora
que a atingiu. Ferida, sacou o revlver
e atirou no soldado, que deve ter sido atingido.
Foi presa e torturada at a morte.
Elementos da massa dizem que seu corpo foi
enterrado no local chamado Oito Barracas.
A morte de Helenira causou grande indignao.
Z Carlos e Nunes (Divino Ferreira
de Souza) saram para pesquisar um
local que permitisse fazer uma emboscada.
Na estrada, perceberam a vinda de gente
e trataram de se esconder. Eram muitos soldados.
J tinham ado os quatro primeiros.
O quinto os viu e atirou. Houve forte tiroteio.
Nunes e Z Carlos escaparam com muita
dificuldade. Ambos chegaram a sofrer arranhes
das balas.
No Destacamento B, um pouco antes do incio
da segunda campanha, havia-se programado
uma ao de propaganda armada
no povoado de Santa Cruz. Quando os companheiros
se deslocaram para fazer essa operao,
o inimigo j estava penetrando na
rea. Amauri (Paulo Roberto Pereira
Marques) e Man (Jos Maurlio
Patricio) chegaram a ir at Santa
Cruz, enquanto os outros aguardavam num
acampamento margem do Gameleira.
Quando Amauri chegou ao povoado, ainda no
havia soldados. Ao regressar para avisar
os demais, foi surpreendido por tropas que
j tinham chegado. Ele foi atacado
e respondeu ao fogo. Escondeu-se numa capoeira
e conseguiu escapar. Os soldados vinham
para atacar o acampamento. Na vspera,
ara ali um bate-pau, Mozinha
de Paca, e viu o acampamento. Falou com
o Comprido (Simo Cilon Cunha Bruno)
e mostrou-se amigo. Em seguida, foi avisar
O Exrcito. No dia 15, os helicpteros
comearam a sobrevoar a rea.
Desta forma, a ao programada
para Santa Cruz no poderia mais
ser realizada. O comando resolveu retirar
o grosso dos combatentes e mudar de rea.
Foi para a Palestina. Antes de se retirar,
foi tentada uma emboscada que no
se realizou. Ficaram dois grupos de trs,
com o objetivo de fazer fustigamento ao
inimigo. Deviam permanecer na rea
por cinco dias e retomar depois para se
juntar ao destacamento. Um grupo ficou
espera do inimigo na estrada que vai para
Couro d'Anta e outro na estrada que vai
para Duas agens. aram quatro soldados,
vestidos paisana, pela estrada
onde estava o primeiro grupo.
Amauri ficou em dvida se eram realmente
soldados, e quando chegou a essa concluso,
j o ltimo tinha ado.
No houve ao. Pelo
segundo grupo tambm aram vrios
soldados. Os companheiros atiraram e mataram
um, retirando-se em seguida. Na marcha para
a Palestina, o destacamento tentou fazer
uma ao contra os soldados
que estavam acantonados no Castanha. Mas
verificou que era grande o nmero
dos inimigos - mais de 80. Desistiu-se da
ao. Dividiu-se o destacamento
em dois grupos e seguiu-se para a nova rea.
A resolveu-se fazer trabalho de
massa, apesar de o inimigo estar desenvolvendo
sua campanha. Visitaram-se umas dez famlias,
que se mostraram solidrias, ainda
que alguns demonstrassem medo do Exrcito.
Obteve-se certa quantidade de farinha e
batatas da terra. Logo que comeamos
as visitas, soubemos que o Exrcito
estava se retirando. Pouco antes, era grande
o nmero de soldados na rea.
Somente na roa do Osmar chegou a
haver 170 soldados e l pousaram
quatro helicpteros. Surgiu um srio
atrito entre o vice-comandante Zeca e os
demais membros do destacamento. Zeca, irritado,
insultou muitos companheiros e acabou dizendo
que ia se demitir do cargo. Ele no
tinha nenhuma razo e, com isso,
perdeu a autoridade. Ocorreu tambm
o desaparecimento do combatente Glnio.
Este, em princpios de outubro, j
na rea da Palestina, perdeu-se e
foi preso em dezembro, na casa de um pequeno
comerciante, perto de Santa Cruz. Um bate-pau,
Mozinha-de-Paca, o viu l
e foi buscar outro bate-pau, Alfredo Fogoi,
e o prenderam. Glnio havia sido procurado
pelo destacamento, sem resultado. Chegamos
a pensar que ele havia fugido, mas isto
no era certo, embora Glnio
tivesse mostrado ividade na ocasio
da priso. Parece que estava doente.
No Destacamento C, perto do dia 20 de setembro,
dois companheiros, Vitor e Cazuza, deslocavam-se
para fazer um encontro com trs companheiros.
Acamparam perto de onde devia ser o encontro.
tardinha, ouviram barulho de gente
que ia ando perto. Cazuza achou que
eram os companheiros e quis ir ao encontro
deles, mas Vitor no permitiu. Disse
que s devia ir ao ponto no dia seguinte.
Pela manh Cazuza convenceu Vitor
a permitir que ele fosse ao local onde,
na vspera, ouvira o barulho. Vitor
ainda insistiu que no se devia ir
ao ponto, mas acabou concordando. Ao se
aproximar do local do barulho, Cazuza foi
metralhado e morreu. Vitor encontrou os
trs - Dina (Dinalva Oliveira Teixeira).
Antonio (Antonio Carlos Monteiro Teixeira)
e Z Francisco (Francisco Chaves).
Como estavam sem alimento, Vitor resolveu
ir roa de um tal de Rodrigues
apanhar mandioca. Os companheiros disseram
que l no havia mais mandioca.
Vitor, porm, insistiu. Quando se
aproximaram da roa, viram rastros
de soldados. Ento, Vitor decidiu
que os quatro deveriam esconder-se na capoeira,
prxima estrada, certamente
para ver se os soldados avam e depois
ento ir apanhar mandioca. Acontece
que, no momento exato em que os soldados
avam pelo local onde eles estavam, um
dos companheiros fez um rudo acidental.
Os soldados imediatamente metralharam os
quatro. Dois morreram logo: Vitor e Z
Francisco. Antonio foi gravemente ferido
e levado para So Geraldo, onde foi
torturado e assassinado. Escapou a companheira
Dina, que sofreu um arranho de bala
no pescoo. Depois destes fatos,
o comando do C decidiu recuar e procurar
por todos os meios o contato com a CM.
Na CM, foi decidido enviar o Juca, em companhia
de mais quatro companheiros: Flvio,
Gil, Raul (Antonio Teodoro de Castro) e
Valk (Valquria Afonso Costa), do
B, para conseguir o contato com o C. Quando
Juca saiu, o Exrcito no
tinha ainda iniciado a segunda campanha.
Ele estava a caminho quando isso ocorreu.
No segundo dia de viagem, houve um choque
na rea do Franco. Os cinco estavam
numa capoeira "'a quando receberam
ordem de priso um soldado que apontava
a arma. Mas Flvio, que estava um
pouco afastado, atirou e acertou, ferindo
gravemente o soldado. Em seguida, se afastaram
do local. No dia seguinte, ocorreu outro
choque. Juca vira um cartaz do Exrcito
pregado numa rvore ao longo de uma
estrada. Mandou ver o que o cartaz dizia.
Quando o companheiro se aproximava do mesmo,
deparou com um soldado. Atirou e errou.
O soldado correu. Ao chegar, a 30 de setembro,
nas proximidades do local do encontro com
o C (Paulo), Juca observou que havia muitos
soldados nas redondezas. Em todas as casas
de moradores havia soldados. Juca resolveu,
porm, aproximar-se de uma das casas,
para se orientar melhor. Viu que l
tambm havia tropa. Retrocedeu e
se juntou ao grupo. No momento em que iam
saindo, Gil perguntou, talvez um pouco alto,
se poderia amarrar a botina. Imediatamente
ouviu-se uma rajada. Juca e Flvio
caram mortos. Raul foi ferido no
brao, escapando juntamente com Valk.
Gil ainda se aproximou de Juca tentando
reanim-lo. Ocorreram novos disparos.
Depois no se soube mais de Gil.
Deve ter morrido. Raul e VaIk, que no
conheciam bem a regio, vagaram durante
dois meses pela mata, at que se
encontraram novamente com os companheiros
do destacamento B. A CM decidiu tambm
enviar uma companheira para o Sul. A CM
discutiu a situao criada
pelo vice-comandante do B e decidiu retir-lo
do cargo e incorpor-lo
guarda da CM (como vice-comandante). Indicou
Simo para o lugar do Zeca no B.
Ao final da segunda campanha do Exrcito,
as foras guerrilheiras haviam perdido
os seguintes companheiros: no Destacamento
A, Helenira; no B, Flvio e Gil;
no C, Cazuza, Vitor, Antonio e Z
Francisco; na CM, Juca. Alm destes,
houve o desaparecimento de Glnio.
Desde que comeou a luta, em 12 de
abril, at o final de outubro, as
baixas foram 18 (entre mortos e aprisionados).
O total de combatentes era ento
de 50 (com a sada da companheira
para o Sul). O destacamento A estava com
19 elementos; o B, com 14; o C, com 9; a
CM, com 8.
^
Subir
Perodo
de Trgua
Em novembro de 1972, iniciou-se um perodo
de trgua. O grosso das tropas se
retirou da rea. Ficaram algumas
tropas na periferia e a PM manteve-se nos
postos de fiscalizao e controle.
Multiplicaram-se tambm os agentes
da Policia Federal (disfarados).
No tendo conseguido esmagar os guerrilheiros
na segunda campanha, o Exrcito se
preparava para realizar uma nova operao.
Comeou a construir quartis
em Marab, Imperatriz, Itaituba,
Altamira e Humait. Procurava recrutar
mateiros em vrios lugares. Construiu
estradas na rea e alargou as existentes.
Entre estas, a de So Domingos a
So Geraldo; Transamaznica
- Brejo Grande; da Fazenda do Mano Ferreira,
ando pelo Garimpo e a Viva e
indo at o Araguaia; a estrada que
ia da Viva (prximo de Santa
Isabel), ando pelo castanhal do Ferreira
e indo at Santa Cruz; a estrada
da Transamaznica - Taboco.
A servio do Exrcito (ao
que tudo indica), comearam a aparecer
indivduos estranhos na rea,
comprando terra, abrindo servio
de roa, instalando-se em fazendas.
Eram pessoas de outros Estados, inclusive
de So Paulo.
A CM orientou os destacamentos no sentido
de melhor aproveitar a trgua para
se preparar. Previa a nova ofensiva para
o comeo do vero, l
para maio. Entre as tarefas mais importantes,
destacava: ligao maior com
as massas, tanto em extenso como
em profundidade; preparao
de locais para aes de fustigamento
e emboscada, preparao de
bons locais de refgio; conhecimento
maior do terreno e melhoramento dos croquis;
intensificao do preparo
militar; procurar melhorar o armamento atravs
das massas (compra, troca etc) e montar
a oficina de consertos, organizao
de depsitos que garantissem a alimentao
para seis meses (sobretudo farinha, milho,
arroz). Os depsitos deviam ser pequenos,
descentralizados, e a maior parte dos alimentos
guardados devia ir para as zonas de refgio.
A CM orientou tambm para que os
destacamentos limem a rea, eliminando
os bate-paus, para que mantivessem vigilncia
a respeito de todas as pessoas estranhas
que aparecessem na rea. O principio
estratgico fundamental era a sobrevivncia
das foras guerrilheiras. De acordo
com esse principio, era necessrio
preservar as foras, no fazer
aes que redundassem em baixas.
A CM insistiu tambm na necessidade
de se criar ncleos da ULDP (Unio
pela Liberdade e pelos Direitos do Povo).
Em janeiro de 1973, o Destacamento C conseguiu
estabelecer contato com a CM. Paulo, com
outros companheiros, foi at a rea
da Palestina e l encontrou os elementos
do B e um membro da CM. Logo depois, a CM
reuniu-se e tomou as seguintes decises:
colocar Paulo como membro da CM e fundir
os destacamentos B e C. O destacamento B
deslocou-se para fazer a fuso. A
CM, porm, logo depois mudou de opinio
e decidiu manter os dois destacamentos separados,
procedendo reorganizao
do C. Vieram para o C os companheiros Luis
(Guilherme Gomes Lund) e Lauro (Custdio
Saraiva Nela), do A; Raul e Valk, do B e
Ivo (Jos Lima Piau Dourado),
do destacamento de guarda da CM. Foi designado
para comandante do C o companheiro Pedro
(Gilberto Maria Olimpio), da CM; ficando
Dina como vice-comandante. A CM decidiu
que o destacamento C concentrasse sua atividade
na rea prxima da estrada
de So Geraldo, abandonando temporariamente
as zonas da Grata Vermelha e do Caiano.
Nesse perodo da trgua, a
CM editou vrios materiais de propaganda,
uns mimeografados (em reco-reco) e outros
escritos mo. Foram os seguintes:
I) Carta ao Povo de Porto Franco e Tocantinpolis,
assinada pelo mdico Joo
Haas; 2) Carta de Osvaldo aos Seus
Amigos; 3) Comunicado sobre a Morte de Helenira
Resende; 4) Comunicado sobre a morte do
Juca; 5) Manifesto do 1 Ano de Luta;
6) Manifesto ao Soldado. Foram mimeografados
mais de cem exemplares do documento Em Defesa
do Povo Pobre e pelo Progresso do Interior
(programa da ULPD). Tambm foi mimeografado
o Romance da Libertao (de
autoria de Mundico, do C). Editou-se, igualmente,
um manifesto contra o Incra.
A CM elaborou os seguintes materiais: I)
Normas sobre Segurana no Trabalho
de Massa; 2) Normas sobre Acampamento; 3)
Normas sobre Recrutamento para a Guerrilha;
4) Adendo s Normas de Marcha; 5)
Indicaes para a Organizao
de Ncleos da ULDP.
As normas de segurana no trabalho
de massa foram elaboradas tendo em conta
a experincia e os ensinamentos decorrentes
das condies em que morreram
alguns combatentes, como Jorge, Maria e
outros. A se dizia que qualquer
visita s casas de moradores devia
ser encarada como uma operao
militar. Antes de entrar nas casas, era
necessrio observ-Ias de
longe, para se certificar de que nelas no
havia soldados ou pessoas estranhas. Durante
a visita, devia-se manter guardas em todas
as vias de o s casas. No
se devia permitir a sada de nenhuma
pessoa da casa enquanto durasse a visita.
Se algum se aproximasse da casa,
deixar ar se fosse amigo, ou deter se
no fosse gente conhecida ou amiga.
No largar a arma e explicar o motivo
aos moradores, pedindo inclusive desculpas.
Nas visitas de massa, os guerrilheiros no
deviam conduzir nenhum documento pessoal
ou que comprometesse a guerrilha. Antes
de ingressar nas casas, os companheiros
deviam combinar uma referncia para
encontro, no caso de terem de se dispersar
repentinamente (uma referncia prxima
e outra mais longe). Quando se tivesse que
marcar encontros com elementos de massa,
no se devia dizer massa
o dia exato em que se voltaria a sua casa.
Ao sair da visita, os visitantes no
deveriam dar a entender o rumo que iriam
tomar. Tambm no se devia
dormir nas casas de massa.
Quanto s normas de acampamento,
dizia-se que, antes de acampar, era preciso
pesquisar em torno, para ver se no
havia estrada, pique etc. Ao acampar, devia-se
fazer o plano de defesa e retirada. Evitar
rudos. O fogo s devia ser
aceso quando escurecer. No se devia
dar tiros prximo ao acampamento.
A mochila de cada combatente devia estar
sempre arrumada, pronta para ser levada
no caso de retirada. Reclamava-se o cumprimento
das normas de higiene (quando o acampamento
era por um prazo mais longo, devia-se abrir
pequenas fossas). As armas deviam estar
mo ou bem prximas
do combatente. Era necessrio evitar
cortes na vegetao que deixassem
marcas vista. Os acampamentos no
deviam ser conhecidos pelas massas. Quando
levantassem acampamento, exigia-se que o
mesmo fosse camuflado.
Sobre as normas de recrutamento para a guerrilha,
exigia-se que, antes de trazer qualquer
elemento de massa para as fileiras dos combatentes,
era preciso conhecer bem a pessoa, saber
a opinio das massas sobre ela, se
se tratava de morador antigo ou novo e se
era estimada ou no. Antes do ingresso
nas fileiras, se possvel, era necessrio,
durante algum tempo, experimentar os elementos
na realizao de determinadas
tarefas. Convinha ajudar o elemento novo
a elevar seu nvel poltico
e ideolgico e ensinar os analfabetos
a ler e escrever. Os recrutados no
deviam conhecer os depsitos, reas
de refgio e locais de encontro com
outros destacamentos.
No que se refere marcha, recomendava-se
que, quando se fosse atender a um encontro,
era preciso seguir o caminho conhecido,
evitando-se fazer pesquisa de novos roteiros,
para evitar atrasos prejudiciais. Se ocorresse
um engano no caminho, devia-se voltar ao
ponto conhecido, para melhor reorientar-se.
Os mantimentos para a viagem deviam ser
para mais uns dois dias do tempo previsto.
A respeito da criao dos
ncleos da ULDP, dizia-se que: a)
deviam ter de trs a cinco membros,
com um responsvel; b) os componentes
de um ncleo no deviam conhecer
a organizao de outros ncleos;
c) as tarefas dos ncleos deviam
ser: colher informao, fazer
propaganda da guerrilha entre os moradores,
ajudar a guerrilha com alimentao,
defender os interesses do povo da regio.
^
Subir
A
guerrilha e as massas
O xito maior da nossa atuao,
nesse perodo da trgua, foi
a ligao com as massas. Estendeu-se
nossa influncia entre o povo. Ganhamos
muitos amigos, e no era s
apoio moral. A massa fornecia comida e mesmo
redes, calados, roupas etc. E informao.
Contvamos com o apoio de mais de
90% da populao. A fraca
presena do inimigo na rea
e a nossa politica correta no trabalho de
massa proporcionaram esses exitos. Os guerrilheiros,
todos eles, eram bastante estimados pela
massa. Os de maior prestgio eram
Osvaldo e Dina. Logo depois vinham: Sonia
(Lcia Maria da Silva), Piau
(Nelson Lima Piau Dourado), Nelito,
Z Carlos (do A); Amauri, Mariadina
(Dinaelza Santana Coqueiro) (do B); Mundico
(do C); Joca (Giancarlo Castiglia) (do CM)
e Paulo. Os guerrilheiros ajudavam as massas
no trabalho de roa. O Romance da
Libertao era recitado pela
massa. Os hinos da guerrilha, elaborados
l mesmo, eram cantados pela massa.
Nas sesses de terec (candombl)
se faziam cantorias de elogio guerrilha.
O primeiro aniversrio da luta guerrilheira
foi comemorado com a participao
de elementos de massa. Na rea do
Destacamento A, fez-se reunio com
a massa (mais de 50 moradores) para discutir
medidas contra o Incra. A massa achava que
o Incra era nova forma de cativeiro. Criaram-se,
em toda a regio, 13 ncleos
da ULDP. Antes da terceira ofensiva do inimigo,
o trabalho junto a outras foras
havia se estendido. Ampliaram-se os contatos
com comerciantes, religiosos etc. Na propaganda,
alcanou tambm xito
o folheto A vida de um lavrador, literatura
de cordel da autoria de Beto (Lcio
Petit da Silva). Uma composio
musical em ritmo de toada local (Iind),
da autoria de Osvaldo Peri (Pedro Alexandrino
de Oliveira), alcanou xito.
A Rdio Tirana era ouvida por muitos
elementos do povo e seus comentrios
eram bem recebidos. Aderiram guerrilha,
como combatentes, vrios elementos
da massa: em dezembro de 1972, entrou um;
em abril de 1973, um; de junho em diante
entraram mais cinco no A; dois no B; e dois
no C. Uma boa parte da massa realizou tarefas
ligadas atividade guerrilheira.
^
Subir
Ao
militar
No perodo da trgua, realizaram-se
algumas aes militares. Em
maro, o Destacamento B fez uma operao
contra um antigo pistoleiro a servio
da Capingo, chamado Pedro Mineiro. Sua casa
foi cercada e ele foi preso. Em seguida,
foi julgado e executado. No local, foram
apreendidas duas espingardas calibre 16
de dois canos; uma espingarda 16; dois revlveres
38; um revlver 32; uma garrucha;
e uma carabina calibre 32-20. Foram apreendidos
tambm roupas, comestveis
e remdios. Em poder de Pedro Mineiro
havia mapas aerofotogramtricos da
rea do Gameleira, vrios
ttulos de posse ilegal de terra
e cartas de militares recomendando-o a outros
militares. O Destacamento B executou tambm
um morador da rea da Palestina,
chamado Osmar. Este elemento era o melhor
mateiro da zona e se dizia amigo de Osvaldo.
Mas foi engajado pelo Exrcito e
se dispunha a perseguir os guerrilheiros.
O Destacamento C, em agosto, realizou uma
operao contra a fazenda
e a casa de comrcio de Nemer Kouri.
Este fazendeiro ajudou o Exrcito
a prender Geraldo, no incio da luta,
e tinha se apossado de um burro que pertencia
aos guerrilheiros. A operao
foi feita noite. Sua fazenda foi
cercada. Encontravam-se l Nemer
e sua mulher e mais 13 trabalhadores. Nemer
foi preso. Aos 13 pees, os guerrilheiros
explicaram o motivo da ao
e os objetivos da luta. Nada se fez contra
eles. Os guerrilheiros confiscaram 400 cruzeiros,
um revlver 38, roupas, alimentos,
remdios.
O Destacamento A, na segunda quinzena de
setembro, realizou uma operao
contra um posto da Polcia Militar
do Par, na Transamaznica
(entroncamento com So Domingos).
O posto foi cercado pelos guerrilheiros,
que intimaram os soldados a se entregarem.
No cedendo intimao,
foi incendiado o telhado de palha. Os soldados
se entregaram. Na ao foram
apreendidos seis fuzis, um revlver
32, roupas e alguma munio.
Os soldados foram interrogados e depois
libertados, sendo advertidos de que seriam
justiados se voltassem a cometer
violncias contra as massas.
Todas estas aes contaram
com a ampla simpatia da populao.
Foram emitidos comunicados militares, pelos
destacamentos de cada uma dessas aes.
^
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Novas
tarefas e medidas da CM
Em agosto, a CM realizou uma reunio
com os comandantes dos destacamentos A,
B e C e os vice-comandantes do A e do C.
Fez-se um balano da atividade guerrilheira.
Constatou-se que se havia obtido xitos
importantes, principalmente no trabalho
de massa, que se avanou no conhecimento
do terreno e no suprimento de alimentos.
Constataram-se tambm deficincias,
entre as quais, que as nossas armas eram
ainda precrias e dbil nosso
servio de informao,
tornava-se necessrio consolidar
e estender o trabalho de massa e estar atento
para o inimigo, que podia entrar a qualquer
momento. Examinaram-se vrias hipteses
quanto ttica que o inimigo
poderia usar.
Na reunio, adotaram-se as seguintes
recomendaes. Ao comear
a ofensiva do inimigo, os destacamentos
deviam concentrar todos os seus componentes
e, diante das informaes
concretas, ver como agir. Era preciso ter
sempre presente o nosso objetivo estratgico
principal nesta primeira fase da luta guerrilheira:
conservar as foras, sobreviver.
Por isso, evitar aes que
redundassem baixas. Dependendo da envergadura
da ao do inimigo, poderia
se recuar para as reas de refgio
ou continuar realizando pequeno trabalho
de massas e aes militares
de fustigamento ou mesmo de emboscadas.
Predominava na CM a opinio de que,
se o inimigo no entrasse at
outubro, possivelmente no entraria
no perodo seguinte, devido s
chuvas. E que ele no poderia fazer
uma campanha demorada, devido a problemas
de logstica. Acreditava-se que no
entraria na mata, pois no tinha
bastantes tropas especializadas para isso.
Ficaria nas estradas e batendo as grotas.
Achava-se improvvel um cerco total
da rea. Considerava que o inimigo
atacaria mais seriamente as massas e, por
isso, se devia estudar a possibilidade de
a massa proteger. Havia condies
para recrutar muitos elementos de massa
a guerrilha. Era grande j o nmero
dos que se tinham comprometido ingressar
na luta, caso O Exrcito ocue
as roas.
A CM decidiu estender a rea destacamento
B at alm da estrada de So
Geraldo. O B aria centrar sua atividade
na nova rea q lhe foi atribuda
pela CM. A anti-rea da Palestina
seria percorrida dois ou trs meses.
O Destacamento C deveria deslocar-se para
as reas Grota Vermelha e do Caiano,
entretanto, o C ainda continuaria uns dois
ou trs meses atuando o vinha fazendo,
isto , na rea que seria
atribuda ao B a fim de os contatos
e ajudar o B a conhecer melhor essa zona.
Desde a segunda campanha do inimigo, os
destacamentos j no conservaram
a antiga estrutura grupos de sete permanentes.
Mantiveram-se os chefes de grupos, estes
grupos variavam, em sua composio
e nmero, segundo as necessidades
das tarefas. Terminada a tarefa, o grupo
desaparecia. Os Destacamentos jogavam com
o conjunto dos combatentes.
Em setembro, a companheira Tuca (Maria Luiza
Garlipe) foi transferida do destacamento
B para a CM, na funo de
responsvel pelo setor de sade.
Dois acontecimentos negativos ocorreram
tambm em setembro: a morte de Mundico,
do C, por acidente com a arma que portava;
e a fuga de Paulo, do A. Este elemento,
desde o incio da luta, se mostrara
vacilante e criava toda sorte de problemas.
Aproveitou a sada dos elementos
do A que foram realizar o ato contra o posto
policial e desapareceu. Mostrou-se indigno
de participar da guerrilha.
^
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Terceira
campanha
A terceira campanha do inimigo iniciou-se
a 7 de outubro. Neste momento, a situao
das foras guerrilheiras era a seguinte:
o destacamento A contava com 22 elementos;o
B com 12; o C com 14; a CM com 8. Ao todo,
56 guerrilheiros. O destacamento A tinha
oito fuzis e um no conserto, cinco rifles
44, uma metralhadora INA, oito espingardas,
22 revlveres 38 e um revlver
31. O destacamento B tinha um fuzil, uma
submetralhadora Royal, trs rifles
44, duas espingardas 16 de dois anos, uma
espingarda 16, uma carabina 32-20 duas espingardas
20, una carabina 22, 12 revlveres
38. O Destacamento C tinha dois fuzis, sete
rifles 44, cinco espingardas 20 e 14 revlveres
38. Em conserto, havia mais de dez armas
longas. Havia,em mdia, 40 balas
para cada revolver 38. Eram insuficientes
os cartuchos para as espingardas 20 e no
havia mais balas de calibre 22. As reservas
de alimentos garantiam um abastecimento
para cerca de quatro meses. Os remdios
tambm existiam em quantidades suficientes.
A maioria dos combatentes estava com pouca
roupa e j no havia calados.
Uma parte usava lambreta de sola de pneu
e alguns companheiros andavam mesmo descalos.
Eram insuficientes as quantidades de bssolas,
isqueiros, facas, querosene e pilhas. Muitos
companheiros no possuam
plsticos para abrigar-se da chuva.
Tambm faltavam sacos plsticos
para guardar comidas e roupas. Todo o dinheiro
existente eram 400 cruzeiros. A maioria
dos companheiros, 80%, orientava-se bastante
bem na mata. No fundamental, toda rea
era conhecida. O moral dos companheiros
era muito bom. Todos mostravam-se confiantes
e entusiasmados.
As tropas inimigas entraram por diferentes
pontos. Transamaznica, So
Domingos, Metade, Brejo-Grande, So
Geraldo e, possivelmente, pela Palestina
e Santa Cruz. Iniciaram a operao
desencadeando intensa represso
contra as massas. Prenderam quase todos
os homens vlidos das reas
em que atuvamos. Deixaram nas roas
s as mulheres e as crianas.
Algumas mulheres tambm foram presas.
O Exrcito procurou implantar o terror
entre as massas. Espancou muita gente. Houve
elementos que enlouqueceram de tanta pancada.
Queimaram casas e paiis onde no
encontravam os moradores. Dezenas de pequenos
e mdios comerciantes foram tambm
presos. As tropas obrigavam elementos da
massa a servir de guias. Gradualmente, foi
aumentando o nmero de soldados na
zona. Ocuparam fazendas, sedes de castanha,
roas, estradas, grotas etc. Na periferia
havia tambm grande nmero
de soldados. Fizeram bases de operao
no meio do mato, utilizando fazendas, roas
e sedes de castanhas. Estavam apoiados por
helicpteros e avies. A maior
parte da tropa era especializada em combate
na selva. Traziam bons mateiros.
No dia 7 de outubro, quando as tropas entraram
na rea, o Destacamento A estava
ainda disperso em trs grupos. Um
dirigido por Z Carlos, que estava
atuando nas proximidades do rio Fortaleza,
outro, dirigido pelo Piau, estava
no Taboco e o terceiro, comandado
pelo Nunes, estava na roa do Alfredo,
ajudando no trabalho de broqui. Sabedores
da presena do Exrcito, os
trs grupos se retiraram. No dia 7,
o Exrcito bateu na roa do
Alfredo, elemento de massa que integrava
a guerrilha. No dia 12, o grupo do Z
Carlos comunicou que o destacamento ficaria
na zona em que se encontrava at
a data do encontro com a CM, que seria dia
20. Alfredo, na ocasio, insistiu
com Z Carlos para que fossem apanhar
dois porcos deles, que se encontravam numa
roa prxima. Os porcos ajudariam
a alimentao dos guerrilheiros.
Z Carlos considerou temerrio
o projeto de Alfredo. Chegou a dizer: "No
vamos morrer pela boca", Sabia que
o Exrcito provavelmente estaria
emboscado na roa onde se encontravam
os porcos. No dia seguinte, saram
cinco companheiros para apanhar farinha
num depsito e, se nada de anormal
notassem, poderiam ir apanhar os porcos.
Mas, no caminho, decidiram ir, primeiramente,
apanhar os porcos. L chegaram cerca
de 9 horas. Mataram os porcos com quatro
tiros e os levaram para um lugar limpo a
fim de retalh-los. Fizeram fogo
de palha para pelar os porcos. Uma hora
depois estava terminado o servio.
Mas quando foram carregar a carne, as alas
das mochilas se quebraram. Alfredo resolveu,
ento, improvisar um cip
(vira mundo) para carregar nas costas. Quando
terminou o ltimo atado, eram j
12 horas. Estavam presentes os guerrilheiros
Z Carlos, Nunes, Alfredo, Zebo
(Joo Gualberto) e Joo (Demerval
da Silva Pereira). Preparavam-se para sair,
quando Alfredo ouviu um barulho esquisito.
Chamou a ateno de Joo.
Este, porm, achou que era uma palha
de coqueiro que tinha cado. Ato
contnuo, apareceram os soldados,
apontando suas armas. Atiraram sobre o grupo.
Joo conseguiu escapar, os outros
foram mortos. No tiveram tempo nem
de pegar as armas. Perderam-se, alm
da vida dos companheiros, quatro fuzis,
um rifle 44 e cinco revlveres 38.
No dia 20, houve o contato com um companheiro
da CM. Este decidiu nomear o companheiro
Piau para comandante do destacamento
e Beta para vice. Como o local onde se encontravam
era conhecido de elementos de massa, foi
decidido mudar-se para outro ponto. Chegou
a informao, dia 22, de que
os elementos da massa que queriam entrar
na guerrilha no haviam aparecido
no ponto. Dia 22 foram enviados dois companheiros
para o Taboco, a fim de trazer o
grupo chefiado por Nelito. E no dia 23,
pela manh, dois outros companheiros
foram levar, at a estrada que vai
para So Domingos, um rapazinho que,
por acaso, se encontrava com os nossos.
Nesse mesmo dia, os demais, em nmero
de 11, inclusive o membro da CM, deslocaram-se
para a margem esquerda do Fortaleza. Dois
helicpteros e um avio comeavam
a sobrevoar a rea. No dia 24, Snia
e Manuel (Rodolfo de Carvalho Troiano) foram
ao encontro dos dois que haviam levado o
rapazinho. No encontraram.
tarde, novamente Sonia e Wilson (elemento
de massa) voltaram ao local de encontro.
Recomendou-se que no fossem por
um piseiro antigo, pois ali poderia haver
soldados emboscados. Acontece que Snia
acabou indo pelo piseiro e, como decidisse
caminhar descala, deixou a botina
no caminho. Quando voltou, no encontrou
a botina. Pensou que fosse brincadeira de
gente de massa. Chamou por um nome conhecido.
Apareceu uma patrulha do Exrcito
que atirou nela, ficando ferida. Os soldados,
- segundo relatou gente de massa -, perguntaram-lhe
o nome. E ela respondeu que era guerrilheira
que lutava pela liberdade. Ento,
o que comandava a patrulha, respondeu: "Tu
queres liberdade. Ento, toma..."
- desfechou vrios tiros e a matou.
Wilson conseguiu escapar. No momento em
que o Exrcito atirava vinham chegando
os dois companheiros a quem Snia
ia buscar. Ouvindo os tiros, retiraram-se
e, trs dias depois, retornaram ao
destacamento. O destacamento deslocou-se
para nova rea. No dia 27 chegavam
Duda (Luiz Ren Silveira e Silva)
e Rib., que informaram que o grupo do Nelito
j havia se deslocado quando eles
l chegaram. Dois elementos de massa,
bastante jovens, Ribamar e Wilson, mostrando
medo, pediram para sair da guerrilha. Diziam
que eles no iam agentar as
dificuldades. O comando os dispensou.
Dia 2 de novembro, chegaram Nelito e seu
grupo. Assim, o destacamento ficou completo.
Nelito informou que tentou realizar uma
emboscada com nove elementos de massa, mas
os soldados no aram. Depois,
com os mesmos elementos, tentou destruir
uma ponte na Transamaznica. Tambm
no conseguiram. Chegaram a tocar
fogo na ponte, mas esta no queimou.
Os elementos de massa voltaram para suas
casas, pois tinham dito que ficariam fora
apenas uns poucos dias. Com Nelito, alm
dos nossos, ficou apenas um jovem de massa,
que pediu ingresso na guerrilha. O destacamento
decidiu embrenhar-se na rea de refgio.
emos, agora, ao que sucedeu com a CM
e os destacamentos B e C. Com o incio
da ofensiva do Exrcito, a CM decidiu
juntar os dois destacamentos e coloc-los
sob o comando do Pedro. Ento pensava-se
em permanecer na mesma rea em que
se encontravam. A informao
inicial era de que o nmero de soldados
no ava de uns 50. Pedro designou
um grupo de dez companheiros, sob a direo
de Osvaldo, para fazer uma emboscada, em
lugar apropriado, contra o inimigo. Outro
grupo, de seis companheiros dirigidos por
Ari, do C, foi mandado ao Franco para realizar
uma operao de fustigamento.
Depois de dez dias, Osvaldo retornou. Permaneceu
emboscado, mas as tropas no apareceram.
O grupo de Ari atacou alguns soldados, mas
no liquidou nenhum. Foi recrutado
um elemento de massa, Jonas, para a guerrilha.
Este elemento j havia sido preso
na segunda campanha e seu pai, atualmente,
estava preso. No comeo de novembro,
uma patrulha do Exrcito ou a
uns 30 metros do acampamento onde estavam
os dois destacamentos. A patrulha caminhava
pela mata, sem fazer rudo. No
foi observada pela guarda. Foi vista por
dois companheiros que vinham chegando ao
acampamento e se esconderam.
Em meados de novembro, reuniu-se a CM. Fez-se
um balano da situao
base dos informes e se afirmava
que a ofensiva do inimigo no era
to grande, aparecia com pouca fora.
A CM resolveu juntar os trs destacamentos,
que ficariam sob o seu comando. Esta fora
no teria mais reas fixas
determinadas, poderia movimentar-se segundo
as necessidades. A justificativa apresentada
para a fuso dos trs destacamentos
era a de que, com isso, se teria uma fora
maior e com maior potncia de fogo,
podendo-se realizar aes
de certa envergadura. Afirmou-se que, com
os destacamentos separados, era difcil
ter em mos fora suficiente
para certos tipos de ao.
Quando se discutiram as medidas prticas
para levar a cabo essa deciso, chegou-se
concluso de que o princpio
da fuso era justo, mas que apresentava
dificuldades quanto execuo,
pois surgiam problemas, como o do abastecimento
para um grande nmero de pessoas.
Decidiu-se, assim, adiar as medidas prticas
para uma prxima reunio da
CM. A CM designou o companheiro J. (ngelo
Arroyo) para assumir o comando do destacamento
A e manter este concentrado, em condies
de poder se reunir aos outros dois logo
que a CM tomasse deciso a esse respeito.
Nova reunio da CM foi marcada para
20 de dezembro.
No dia 19 de novembro, o membro da CM que
voltava para o A, em companhia de dois elementos
de guarda da CM, encontrou grande quantidade
de rastros de soldados dentro da mata, tanto
na rea da CM como do destacamento
BC e tambm do A. Os soldados palmilhavam
a mata, no s onde existiam
moradores, mas tambm onde no
os havia - portanto, em reas de
refgio. Os soldados, apoiados por
helicpteros e avies, percorriam
o Gameleira, o Ezequiel, o Cunha, o Caracol
e o Saranzal - todos eles dentro da nossa
rea.
O destacamento A se mantinha na rea
de refgio. No foi atacado,
nem via rastros de soldados nas proximidades.
Os helicpteros continuavam voando
na rea onde foram mortos Z
Carlos e outros. Em fins novembro, Nlito
e Carretel foram enviados Metade
para colher informaes com
a massa. Voltaram mais tarde e disseram
que a massa formara que h 15 dias
os soldados no avam por l.
Mas, no momento em que saam, chegavam
soldados no lugar onde eles estivem. A massa
informou ainda que os soldados estavam pensando
que os guerrilheiros estavam no castanhal
do Carlos Holanda e, por isso, faziam muitas
batidas. Os helicpteros sobrevoavam
aquele castanhal. Landin (Orlando Momente)
e outro companheiro foram at Cruzeiro
obter informaes e ver se
conseguiam sal. Voltaram dizendo que todas
as casas estavam vazias e que os amigos
tinham sido presos. Em dezembro, foi enviado
um grupo, chefiado por Joo,
rea do Taboco, para colher
informaes e ver se conseguia
comprar alguns objetos e se obtinha farinha
e sal. Souberam que h 15 dias o
Exrcito no ava l.
Elementos de massa compraram um pouco do
que se precisava, inclusive quatro pilhas.
L disseram que os elementos que
atuaram junto com Nelito na tentativa de
destruir o ponto da Transamaznica
tinham sido presos. Dois desses elementos
estariam sendo obrigados a servir de guia.
Disseram ainda que o pai de um companheiro
de l, que estava na guerrilha, havia
sido barbaramente espancado, tendo sido
levado para o hospital. No Taboco
haviam prendido todos os homens, num
total de 17.
No dia 20 de dezembro, J., Piau
e Antonio foram atender ao ponto com a CM.
No caminho, encontraram rastros de soldado.
No dia seguinte, encontraram-se com Ari
e Man, que tinham sido enviados
pela CM para conduzir J. reunio.
No ponto apareceram tambm os companheiros
Zezim, Raul e Lourival (Elmo Correia). Piau
e Antonio retornaram ao A. tardinha,
chegavam, tambm enviados pela CM,
os companheiros Jaca e Chica (Sueli Yomiko
Kanaiama). A presena de todos esses
elementos no ponto foi explicada da seguinte
maneira: depois que haviam sado
Man e Ari, ocorreu um ataque aos
trs outros (Zezim, Raul e Lourival)
por tropas do Exrcito. Sabendo que
Ari e Man tinham ido buscar J. para
lev-lo CM, os trs
que sabiam o lugar do ponto decidiram ir
avisar o que havia ocorrido, para evitar
que J. fosse surpreendido pelo inimigo.
Mas os companheiros da CM j tinham
tomado as providncias para esse aviso,
enviando o Joca e a Chica. J. decidiu enviar
Ari e Man para apanhar farinha num
depsito prximo. Man
ficou aguardando Ari a uma certa distncia.
Como Ari demorasse, Joca, que havia chegado,
foi at o depsito e l
no encontrou o Ari. No local do
depsito estava apenas o saco plstico
que Ari havia levado para trazer a farinha.
A impresso que se teve
de que ele fugiu, pois no apareceu
nem no acampamento, nem nas referncias.
Joca informou o que havia ocorrido com o
BC e a CM a partir de 20 de novembro. Contou
o seguinte: dias 21 e 22 de novembro, um
grupo de trs companheiros - Lauro,
Jaime (Jaime Petit da Silva) e Man
- fustigou uma patrulha na estrada e matou
um soldado. No dia 24, quando voltavam de
um contato com a massa, os companheiros
Ari, Raul e Jonas aram prximo
de uma grota. Ari e Raul se aproximaram
da grota para melhor se orientar. Jonas
ficou de guarda, perto das mochilas. Ouviu-se
um tiro e Ari caiu. Em seguida, ouviram-se
mais dois tiros. Raul correu. O Comando
do destacamento BC, que tambm ouvira
os tiros, enviou quatro companheiros para
pesquisar o que teria havido. Logo adiante,
esses companheiros encontraram o corpo de
Ari sem a cabea. Sua arma, um rifle
44, seu bornal e sua bssola tinham
sido levados. As mochilas de Ari, Jonas
e Raul estavam l. Raul voltou pela
manh ao acampamento e Jonas desapareceu.
(Houve suspeitas de que o assassino de Ari
fosse o prprio Jonas). Depois disso,
houve a juno dos dois destacamentos
com a CM, formando uma nica fora.
Devido a Jonas conhecer bem a rea
onde os companheiros se encontravam e inclusive
alguns planos do comando, resolveu-se sair
da rea e transferir-se para a rea
da Palestina. Ai havia alguns depsitos
e o destacamento B h alguns meses
ali no estivera. Dividiram a fora
em / trs grupos para se deslocar.
Ao todo eram 32 elementos.
Dias 28 e 29 de novembro o grupo dirigido
pelo Simo (oito companheiros) acampou
nas cabeceiras da grota do Nascimento. Neste
mesmo local, o destacamento B j
havia acampado meses atrs. Ferreira
ficou na guarda, Jaime foi catar babau.
Chico (Adriano Fonseca) e Toninho foram
procurar jabuti numa gameleira prxima.
Chico recebeu um tiro, caindo morto. Eram
17 horas. Em seguida, ouviu-se mais seis
tiros. O grupo levantou acampamento imediatamente,
deixando, no entanto, as mochilas, as as,
os bornais. O Doca (Daniel Calado) deixou
o revlver, que estava consertando
no momento da sada. Jaime e Ferreira
ficaram desligados do grupo. O Simo
no foi referncia
procur-los. No se sabe o
que ocorreu com eles. Durante cinco dias,
os demais companheiros, em nmero
de cinco, caminharam pela mata sem ter o
que comer e sequer um isqueiro para acender
fogo. Ao se encontrarem com o resto da fora,
apresentavam o corpo inchado de picadas
de tatuquira e estavam famintos. Dia 13,
fugiu Toninho (elemento de massa). Ele conhecia
a rea. Dia 14, toda a fora
se juntou novamente. Eram 28, caminharam
mais dois dias e acamparam num local onde
se pretendia fazer a reunio da CM.
Os 28 companheiros tinham feito o deslocamento
numa s coluna, tendo deixado fortes
rastros. No dia seguinte saram Man
e Ari para ir buscar o J. Os demais afastaram-se
uns 200 metros de onde se encontravam e
mandaram Zezim, Lourival e Raul apagar os
rastros. Quando os trs realizavam
essa tarefa, foram surpreendidos pelo inimigo.
Sem poder voltar de imediato ao acampamento,
temerosos de que J. viesse ao ponto sem
saber do ocorrido, os trs se dirigiram
para o local onde J. seria encontrado por
Man e Ari. O resto da fora,
ento 23 pessoas, em face do que
sucedera, decidiu abandonar a rea
em que estava e ir para a rea do
A. Seguiram em coluna, deixando rastro.
Entre 17 e 18 de dezembro, Josias fugiu
perto de uma base do inimigo. O comando
enviou Joca e Chica para avisar o J. e marcar
um novo local e dia para o encontro, que
seria j na rea de refgio
do A. Joca informou que o grosso da fora
chegaria depois do dia 24 e que estavam
sem comida. Pediam para que J. arranjasse
comida com o destacamento A.
Os cinco companheiros - Jaca, Man,
Chica, Lourival e Raul - retornaram e foram
esperar o grosso da fora em rea
prxima. J. e Zezim tambm
retornaram para o acampamento do destacamento
A.
Dia 25 de dezembro, J. veio ao ponto acompanhado
de Zezim, Joo e Antonio, trazendo
umas quatro latas de farinha. No ponto encontraram
Man e Chica. Man informou
que o grosso da fora estava acampado
a umas duas ou trs horas de caminhada.
Disse que no caminho encontrou rastros de
soldados (papel higinico servido).
Em seguida, os seis dirigiram-se com o mximo
de cautela para o acampamento da fora.
Um helicptero sobrevoava a rea
prxima ao acampamento da fora.
Quando j estavam a mais ou menos
a um quilmetro do acampamento, s
11h25 da manh, ouviram cerrado tiroteio.
Encontraram-se logo depois com urea
e Peri, que vinham apanh-los para
o acampamento.
Os dois afirmaram que o tiroteio tinha sido
no rumo do acampamento. Cinco minutos depois
do tiroteio, dois helicpteros e
um avio comearam a sobrevoar
a rea onde houvera o tiroteio, e
continuaram durante todo o dia nessa operao.
Dois helicpteros grandes fizeram
duas viagens - da base do Mano Ferreira,
a uns cinco ou seis quilmetros, at
o local do tiroteio. Tinha-se a impresso
de que estavam levando mais tropas ou retirando
mortos e feridos do local, e seus companheiros
(eram oito) - afastaram-se do local mais
ou menos um quilmetro. No dia seguinte,
26, foram a uma referncia para encontro,
num local prximo. A encontraram
os companheiros OsvaIdo, Lia (Teima Regina
Cordeiro Correa), Batista e Lauro.
Osvaldo informou o seguinte: o grosso da
fora havia acampado dia 24, mas
percebeu que estava perto da estrada. Dia
25, pela manh, afastaram-se uns
cem metros de onde se achavam, designando
alguns companheiros para limpar (camuflar)
o locaI em que estiveram. Os membros CM
e sua guarda ficaram num ponto mais alto
do terreno e os demais ficaram na parte
de baixo. Na hora do tiroteio, havia 15
companheiros no acampamento: Mrio
(Mauricio Grabois), Paulo, Pedro, Joca,
Tuca, Dina (com febre), Luis (com febre),
na parte alta; embaixo: Zeca, Lourival,
Doca e Raul (estava ralando coco babau
para comer). Lia e Lauro faziam guarda.
Osvaldo e Batista realizavam a camuflagem.
Fora do acampamento estavam urea
e Peri, que haviam se deslocado para trazer
J., Joo (Wandick Reidner Pereira
Coqueiro), Mariadina, que tinham ficado,
proximidades do local onde houvera o tiroteio
de 17 de novembro sobre Zezim, Raul e Lourival,
a de apanh-los; Amauri e Valk, tinham
sido enviados pelo comando para trazer de
volta Joo, Mariadina e possivelmente
os outros trs; Simo e Ivo,
que tinham ido a uma referncia ver
se conseguiam pegar o Ferreira e o Jaime;
Amauri, Valk, Joo e Mariadina deviam
chegar num ponto a uns cem metros de onde
houve o tiroteio, a partir do dia 28 de
dezembro. Osvaldo achava que os tiros haviam
sido sobre o pessoal da CM, e que ele se
retirara quando os tiros j o alcanavam.
No dia 27, observava-se crescente presso
do inimigo. Na manh do dia seguinte,
decidiu-se enviar Man e Chica para
apanhar Simo e Ivo (talvez tambm
Jaime e Ferreira) numa referncia
na rea do B, dia 30. Eles no
deviam retornar rea do
A, mas permanecer com os demais numa rea
do B. A poderiam juntar-se a outros
companheiros, os que procurassem na referncia
conhecida. Ficou combinado que Man
viria a 1 e 15 de fevereiro a um encontro
na rea do A (com J.), mas isso somente
se a barra estivesse limpa. Foi dito que
poderiam ficar desligados muitos meses.
A partir de maro, havia referncia
no B. Ainda dia 27, os dez companheiros,
ento juntos, decidiram se transferir
para a rea de refgio do
A. Caminharam em dois grupos. Chegaram dia
28 tarde. O acampamento estava
em estado de alerta. Tinham ouvido os tiros
e a movimentao de helicpteros
e avies. Dia 29, dois companheiros
tinham a informao de que,
para os lados do Fortaleza, no havia
movimento de tropas. Reuniu-se o comando
que tomou as seguintes decises:
devia-se abandonar aquele local; os companheiros
recentes - em nmero de 25 - deviam
se dividir em pequenos grupos e ir atuar
na rea que mais conhecessem que
a experincia das campanhas anteriores
mostrara que os pequenos grupos tm
mais mobilidade, mais facilidade de abastecer
e deixam menos rastros, que os grupos no
deviam dar sinal de presena nos
locais onde estivessem e, se fossem notados
pelo inimigo, deviam afastar-se da zona
e ligar se apenas a uma pessoa da massa,
de confiana, para obter informaes;
devia-se ter o mximo de cuidado
com os rastros, pois fora pelos rastros
que o inimigo nos atacara. Os grupos eram
cinco. Um chefiado por Osvaldo (que retomou
sua rea); outro por J.;
outro pelo Joo; outro, pelo Nelito;
e outro pelo Landim. Foi marcado um ponto
para os dias 1 e 15 de fevereiro.
noite do dia 29, fez-se uma reunio
com todos os presentes. Mostrou-se a gravidade
da situao e destacou-se
que este era o periodo mais critico
que atravessava a guerrilha. Acentuou-se
que outros povos tambm tinham ado
por momentos muito difceis e venceram
porque persistiram na luta, no se
deixaram abater. Mantendo-se uni dos e decididos,
poder-se-iam superar as dificuldades. O
comando indagou se algum dos combatentes
queria abandonar a luta. Caso algum
se sentisse abalado e no mais quisesse
continuar, poderia dizer. O comando autorizaria
a sada. Mas ningum manifestou
desejo de sair. Afirmou-se tambm
que no se conhecia a sorte dos demais
membros da CM. No se podia dizer
que tivessem sido mortos, apesar do que
ocorrera. Que se ia tentar um contato e
procurar agrupar todos os elementos dispersos.
Dia 30, pela manh, os cinco grupos
tomaram seus destinos. As 15 horas ouviu-se
rudo de metralhadora no rumo em
que havia seguido Osvaldo ou Landim. No
se sabe o que houve. No dia 2 de janeiro,
ouviu-se rudo de metralhadora para
o rumo em que seguia Nelito. Dia 4, o grupo
de J. aproximou-se da casa de um morador
para obter informaes e alimentos.
As pessoas da casa estavam bastante atemorizadas.
No sabiam informar sobre os tiros
e disseram que os soldados estavam por perto.
Que se tomasse muito cuidado, porque com
eles haviam um rastreador, Bigode, carioca,
que era bom piseiro. Dia 14, acamparam prximo
a uma capoeira. Foram ver se conseguiam
alguma mandioca. Iam com a recomendao
de ir pela estrada e voltar pela mata, mas
voltaram pela estrada. Trouxeram um pouco
de mandioca e no camuflaram o local
de que arrancaram as mandiocas. s
9h30, quando estavam preparando a refeio,
ouviram um barulho estranho na mata. Ficaram
de sobreaviso, com as armas na mo.
Viram ento os soldados que vinham
seguindo o rastro e avam a uns dez metros
de onde os companheiros se encontravam.
Os soldados atiraram, ouviu-se vrias
rajadas. J., Zezim e Edinho (Helio Luiz
Navarro) escaparam por um lado. No
se sabe se os outros trs - Piau,
Beta e Edinho encontraram Duda, do grupo
do Nelito. Ele contou que os tiros do dia
2 tinham sido sobre o grupo em que ele estava.
Disse que, depois do almoo desse
dia, Nelito e Duda estavam juntos e que
Cristina (Jana Morone Barroso) e Rosa (Maria
Clia Correa) haviam se afastado
por um momento. Carretel estava na guarda.
Na vspera, Duda e Carretel tinham
ido casa de um morador. A casa
estava vazia. Quando se retiraram, viram
que vinham chegando os soldados. Avisaram
Nelito. Imediatamente, afastaram-se do local.
Mas caminharam em trechos de estrada, deixando
rastros. Dia 2, Nelito tinha ido a uma capoeira
apanhar alguma coisa para comer. Trouxe
pepino e abbora numa lata grande
que l encontrara. A lata fez muito
barulho na marcha de volta. s 13h30,
ouviu-se rajadas. Os tiros foram dados sobre
Carretel, que saiu correndo. Nelito no
quis sair logo. Entrincheirou-se, talvez
pensando nas duas companheiras. Mas os soldados
se aproximavam. Ento, ele correu,
junto com Duda, mas foi atingido. Assim
mesmo, ainda se levantou e correu mais uns
20 metros. Foi novamente atingido e caiu
morto. Duda conseguiu escapar. No
se sabe o que houve com as duas companheiras,
nem com Carretel.
No dia 19 de janeiro, J. decidiu tentar
aproximar-se do local de referncia
com a CM, na esperana de que algum
companheiro aparecesse por l. Foi
junto com Zezim, deixando Edinho e Duda
juntos. A estes recomendou que, se encontrassem
Piau, avisassem de um encontro para
os dias 1 e 15, a partir de maro.
O local de referncia com a CM distava
uns quatro a cinco dias. Era na antiga rea
da CM, de cinco em cinco dias. Quando J.
e Zezim se aproximavam do local onde houve
os tiroteios de 25 de dezembro, notou-se
fortes rastros do inimigo, no s
antigos como recentes. E os helicpteros
sobrevoavam o local. Decidiram voltar porque
no havia condies
para prosseguir. A mata estava esquadrinhada
pelo inimigo.
Em poder do camarada Mrio, responsvel
pela CM, havia uma espcie de dirio,
onde ele anotou os principais fatos e as
medidas adotadas pela guerrilha, desde o
seu inicio. Essas anotaes
so da maior importncia, refletem
as opinies do comando em diferentes
ocasies. Com Mrio encontravam-se
tambm cpias de todos os
materiais editados, assim como os hinos,
poesias etc.
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