O
Ministrio Pblico do Rio Grande do Norte condena o uso
da violncia contra a mulher para vender servios feito
pela concessionria Via Costeira e a agncia de publicidade
Lmina
Por
Antonino Condorelli
O uso da violncia contra a mulher banalizada, convertida
em mera questo esttica, e a coisificao do sexo feminino
atravs de sua comparao a bens de consumo como a
carroceria de um carro - para vender produtos e servios
no rendem, se as mulheres (e todas as pessoas com
conscincia) se mobilizam para reivindicar o respeito
sua dignidade.
o que demonstrou o desfecho da ao emprendida pela Rede
Estadual de Direitos Humanos do Rio Grande do Norte contra
uma propaganda da concessionria da Volskswagen em
Natal, a Via Costeira, produzida pela agncia Lmina
e veiculada na edio de 29 de abril do dirio
Tribuna do Norte. O anncio representa
o rosto de uma mulher espancada com a chamada Mecnica,
funilaria e pintura Via Costeira. T na cara que precisa.
Na ada segunda-feira, 14 de junho, o Ministrio Pblico
do Rio Grande do Norte emitiu um termo de ajustamento de
conduta que obriga a concessionria Via Costeira
e a agncia Lmina a promover um evento cujo enfoque
dever ser a violncia contra a mulher, cabendo concessionria
cobrir a parte financeira, particularmente a locao do
auditrio e o pagamento dos folders e cartazes, que
devero ser produzidos pela Lmina.
Alm disso, o Procurador de Justia Eduardo Cavalcanti,
que elaborou o termo, determinou que este ltimo seja publicado
em um espao correspondente a um quarto de pgina do jornal
que veiculou a mensagem publicitria, sob responsabilidade
da Via Costeira, e no Dirio Oficial do Estado.
O termo foi emitido aps uma audincia na Promotoria
de Justia da Comarca de Natal da qual participaram um representante
da Via Costeira Veculos e outro da agncia Lmina
respectivamente, Luciano Cmara e Paulo Andr Linhares
de Freitas e representantres de diversas entidades a instituies
de Direitos Humanos: Neffer Andr Torma Rodrigues da OAB/RN;
Isabel Helena Meira e Silva Matoso Freire, Presidente do
Conselho Estadual de Direitos da Mulher do RN; Fbio dos
Santos, Coordenador de Direitos Humanos
e Defesa das Minorias da Secretaria de Justia; Elizabeth
Mafra Cabral Nasser, Coordenadora do Frum de Mulheres do
RN; Vera Lcia Raposo da Fonseca, Presidente do Conselho
Municipal dos Direitos da Mulher e das Minorias de Natal;
Luisa de Ges, do Centro de Referncia a Mulher Cidad e
Marcos Dionsio de Medeiros Caldas, Ouvidor da Defesa Social.
Para a organizao do evento sobre violncia contra a
mulher que ser patrocinado pela Via Costeira, foi formada
uma comisso composta pelo Promotor Eduardo Cavalcanti e
algumas pessoas presentes na audincia.
O termo de ajustamento de conduta do Ministrio Pblico
do RN contra a propaganda da Via Costeira produzida
pela Lmina representa uma vitria da dignidade da
pessoa sobre a barbrie da banalizao da violncia contra
a mulher e seu uso para potencializar o lucro.
No mesmo dia em que o anncio foi publicado, a Rede Estadual
de Direitos Humanos RN - atravs do Conselho Estadual
de Direitos Humanos, o Frum de Mulheres do RN e a Ouvidoria
da Defesa Social - fez uma representao junto ao Procurador
Geral de Justia do Estado, Fernando Vasconcelos, contra
a concessionria e a agncia de publicidade, considerando
o anncio uma agresso dignidade da mulher e da pessoa.
A ao da Rede alcanou uma forte repercusso tanto nacional
como internacional, recebendo a solidariedade e o apoio
de dezenas de entidades, instituies e pessoas no Brasil
e fora, destacando-se o papel fundamental no acompanhamento
do caso que teve o Comit Latino-Americano e do Caribe para
a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM).
Devido macia campanha emprendida pelo CLADEM, o caso
chegou at a Alemanha: um cidado daquele pas escreveu
uma carta Volskwagen pedindo um pronunciamento sobre o comportamento
da sua concessionria em Natal.
A grande repercusso que o caso teve graas atuao
decisiva do CLADEM fez que se mobilizassem, entre outros,
o Ministrio Pblico Federal, o Instituto
de Defesa do Consumidor (IDEC) ambas instituies
pediram a documentao completa do assunto para estudar
uma possvel ao o Centro de Justia Global - que emprendeu
uma campanha para mobilizar a Justia alem e a Federao
de rgos para a Assistncia Social e Educacional (Fase).
Esperamos que o desfecho que teve o caso induza anunciantes,
agncias de publicidade e veculos de comunicao a refletir
sobre a necessidade de introjetar o respeito pessoa -
sem censuras nem moralismos hipcritas, apenas cumprindo
o que manda a Constituio: no pisar ou agredir a dignidade
do ser humano nas suas atividades.