Tecido
Social
Correio Eletrnico da Rede Estadual de Direitos Humanos
- RN
N.
032 – 31/03/04 53665l
A
Caravana de Direitos Humanos de Caic conta com uma massiva
participao popular
A Caravana
de Direitos Humanos de Caic, que abrangeu toda a regio do
Serid (no Sul-Oeste do Rio Grande do Norte) nos dias 25 e 26
de maro e culminou na I Conferncia Regional de Direitos Humanos,
foi caracterizada por uma massiva participao popular, a maior
das quatro Caravanas realizadas at agora no Estado, e se concluiu
com centenas de propostas e encaminhamentos.
A
Conferncia, que teve lugar na manh da sexta-feira, dia 26,
no plenrio do Centro Pastoral Dom Wagner, contou com a presena
de mais de 200 pessoas, representantes de entidades de todo
o Serid e da populao da cidade. Nos encontros temticos do
dia anterior, os locais onde aconteceram as reunies acabaram
lotados de gente. O entusiamo dos participantes dos encontros
e a vontade de falar, realizar denncias, anlises e propostas
foram to grandes que tornaram a Caravana um grande momento
de mobilizao da cidadania.Esta grande participao foi propiciada
pelo enorme trabalho de sensibilizao, mobilizao e organizao
do grupo de trabalho local, coordenado por Geraldo Wanderley,
coordenador do Nordeste da Pastoral Carcerria, e a militante
da Pastoral Ana Etelvina.
Durante
a Caravana, estiveram na capital seridoense representantes do
Centro de Direitos Humanos e Memria Popular (CDHMP) de Natal
(entidade promotora do projeto), do Conselho Estadual de Direitos
Humanos do Rio Grande do Norte, do Ministrio Pblico Estadual,
do Frum de Mulheres do RN, da Coordenadoria de Direitos Humanos
e Defesa das Minorias (CODEM) da Secretaria de Justia do Governo
do Estado, da Corregedoria Geral da Defesa Social, da Secretaria
Estadual de Agricultura e Reforma Agrria (SEARA), da delegao
do Rio Grande do Norte do Conselho Regional de Psicologia e
da Rede de Articulao Anti-Manicomial do RN.
Alm destas
entidades, instituies e mecanismos de proteo e promoo
dos Direitos Humanos no Rio Grande do Norte, participou da Caravana
o Sub-Secretrio Especial de Direitos Humanos da Presidncia
da Repblica, Perly Cipriano, histrico militante social brasileiro,
vtima de prises arbitrrias e torturas durante o regime militar.
Cipriano esteve em Caic para levar a Braslia um testemunho
do que est sendo a experincia das Caravanas de Direitos Humanos
do Rio Grande do Norte.
A
Caravana estreou na manh da quinta-feira, dia 25, com um cortejo
que partiu da praa Dr. Jos Augusto e atravessou o centro da
cidade com faixas, pirulitos informativos sobre as Caravanas,
a Rede Estadual de Direitos Humanos e o o Justia, um
carro de som sensibilizando a populao, a companhia de teatro
de rua La Trupe animando os participantes e os antes
desde suas pernas de pau e os trajes coloridos de um grupo local
de teatro e dana composto por crianas e adolescentes carentes
que participam de um projeto social.
O cortejo
parou em vrios pontos da cidade para que participantes da Caravana
pudessem convidar, atravs do carro de som, a populao a participar
dos encontros temticos e da Conferncia, alm de sensibilizar
sobre os Direitos Humanos ressaltando o carcter abrangente
e universal destes ltimos, que envolvem todas as esferas da
existncia humana: educao, sade, moradia, o gua potvel
e terra, lazer, igualdade de gnero, raa, opo sexual, etc.
O cortejo
parou, entre outros lugares, na frente do prdio do INSS de
Caic, onde participantes da Caravana denunciaram atravs do
carro de som a falta de uma rampa na entrada, que impede o o
aos deficientes fsicos.
Durante
a manh, uma delegao da Caravana visitou o lixo da cidade,
situado na confluncia de dois rios (o Serid e o Sabugi) e
que, devido s guas das chuvas, contamina os dois e onde dezenas
de pessoas, incluindo crianas, moram de trabalham todo dia
como catadores sem as mnimas condies higinicas e humanas.
A delegao da Caravana se comprometeu a levar representantes
dos catadores do lixo de Caic para visitarem e conhecerem
umas experincias exitosas de reciclagem em Natal e Serra Negra
do Norte, a exigir do poder pblico caicoense uma assistncia
mdica permanente e equipamentos de trabalho (que acabaram sendo
propostas e encaminhamentos da Conferncia) e a organizar os
catadores para formarem uma associao que cobre do poder constituido
condies dignas.
A
segunda visita da manh foi ao Aude Recreio, recentemente declarado
Patrimnio Histrico do Municpio mas que se encontra em condies
pssimas de conservao e que sofreu a pouco tempo um arrombamento
das suas paredes. Esta visita gerou, entre outras, as propostas
exigir Prefeitura a reurbanizao da rea, a criao e um
espao cultural em uma casa antiga existente na adjacncia e
a construo da primeira rea verde e de lazer da Zona Norte
de Caic.
No comeo
da tarde, a mesma delegao visitou a Penitenciria Regional
do Serid. Desta visita, entre outras, surgiram as propostas,
encaminhadas durante a Conferncia, de cobrar do Governo do
Estado a implantao no presdio de uma equipe tcnica composta
por psiclogo, assistente social, defensor jurdico e pedagogo
e um curso de atualizao dos profissionais e agentes que trabalham
na Penitenciria.
Durante
a tarde, Elizabeth Nasser, coordenadora do Frum de Mulheres
do RN (organizao estadual que luta pela igualdade de direitos
e oportunidades nas relaes de gnero), se reuniu com 21 mulheres
da cidade na clnica da doutora Vernica Alcntara, vereadora
do PSB e nica mulher do Legislativo municipal, para discutir
e formular propostas sobre as principais violaes que sofrem
as mulheres seridoenses: violncia domstica, mortalidade materno-infantil
(muito alta na regio, devido precariedade das estruturas
sanitrias pblicas), discriminao nos postos de trabalho (a
prpria vereadora Vernica sofre humilhaes inaceitveis dentro
da Cmara Municipal), diferenas salariais entre mulheres e
homens para os mesmos cargos, desigualdade no o ao emprego
quando h candidatos homens para a vaga disputada, falta geral
de oportunidades no mercado de trabalho.
necessrio
que haja em nossa cidade uma poltica voltada para a situao
da mulher, declarou a Tecido Social Socorro Freitas,
professora da rede estadual de ensino. A violncia de gnero
aqui muito alta, principalmente a praticada por pessoas com
quem a mulher tem um contato dirio (companheiro, pai, irmo...)
e na nossa cidade no tem uma Delegacia da Mulher. Uma mobilizao
como a da Caravana de Direitos Humanos, continuou a ativista,
fundamental porque necessrio que a mulher participe da
luta pelos seus direitos. A dvida que o mundo tem com as mulheres
no tem preo, por isso indispensvel que ns permaneamos
sempre mobilizadas, no s nestes dois dias.
Socorro
acrecentou que, no ado 8 de maro, Dia Internacional da
Mulher, a vereadora Vernica Alcntara solicitou na Cmara Municipal
a criao do Conselho Municipal da Mulher, rgo que ainda no
existe em Caic.
Deste encontro,
entre outras, surgiram as propostas de cobrar ao poder pblico
municipal a implantao de uma Delegacia Especializada de Atendimento
Mulher em Caic, de exigir que nos casos de estupro os exames
no ITEP sejam executados por pessoal tcnico de sexo feminino
e que a lei de cotas dentro dos partidos polticos seja cumprida.
Mas, sem dvida, o legado mais importante deste encontro foi
a formao de um grupo organizado de mulheres em Caic, que
inicialmente ser composto pelas 21 participantes da reunio
e se encarregar de mobilizar as mulheres da cidade na luta
pelos seus direitos e cobrar do poder pblico, de maneira permanente,
solues para seus problemas e o cumprimento dos compromissos
assumidos.
Sempre
durante a tarde, outros representantes da delegao da Caravana
se reuniram no auditrio do 6 Batalho da Polcia Militar com
policiais, representantes de entidades e da populao para discutir
e elaborar propostas sobre atuao policial e respeito aos Direitos
Humanos. Foi o encontro que contou com a maior participao:
o auditrio estava lotado e havia at gente em p.
Eu acho
de fundamental importncia trazer o conhecimento dos Direitos
Humanos para esta regio, declarou a Tecido Social Francisco
Borges Silva Neto, comandante da 1 Companhia da Polcia Militar
de Caic, presente no encontro. Diante das dificuldades que
vivemos no Brasil, onde existe uma cultura de violncia muito
forte, importante promover o conhecimento e a efetivao dos
direitos do ser humano. Estes, segundo o policial, no so
mais uma utopia, um ideal que no pode ser alcanado: Hoje
temos a Constituio Federal e outros mecanismos legais que
os promovem. Ns estamos inseridos neles e temos que ser protagonistas,
temos que tornar estes princpios efetivos.
Marcelo,
26 anos, membro do Conselho Tutelar de Acari, tambm participou
deste encontro. Acho que o aspecto mais importante desta Caravana
transmitir uma nova mentalidade populao, mostrar que os
Direitos Humanos envolvem muitas esferas: ambiental, cultural,
civil..., afirmou. Eu acredito que, hoje, a ausncia destes
direitos, acrecentou, devida mais inoperncia dos aparelhos
que temos para promov-los do que falta de mecanismos. No
Conselho Tutelar ns vivemos uma ausncia dramtica de polticas-guia
e de recursos. Ele existe, mas na prtica no funciona.
No final
da tarde, aps a chegada a Caic de Perly Cipriano, Sub-Secretrio
Especial de Direitos Humanos da Presidncia da Repblica, uma
delegao da Caravana se reuniu com ele e com representantes
de diversas entidades no salo de convenes do Hotel Portobello
para discutir e formular propostas sobre sade mental e Direitos
Humanos.
Participaram
do encontro, entre outros, o mdico psiquiatra Epitcio de Andrade
Filho, representante da luta anti-manicomial no Rio Grande do
Norte que trabalhou no Hospital Psiquitrico Mlton Marinho
de Caic, de onde foi afastado pelas suas denncias das prticas
violentas e contrrias aos Direitos Humanos que fazem parte
do dia a dia daquela unidade sanitria; a militante anti-manicomial
Neuzanete Costa, parente de uma vtima do sistema manicomial
no Estado e a doutora Moema de Brito Barbosa, representante
no Rio Grande do Norte do Conselho Regional de Psicologia.
Desta reunio
surgiram, entre outras, as propostas de desengavetar todos os
processos criminais e trabalhistas de funcionrios demitidos
por justa causa no Hospital Mlton Marinho por ter denunciado
aquela entidade, de fiscalizar permanentemente aquela unidade
sanitria e de exigir a volta do Dr. Epitcio, com seus trabalhos
psiquitricos, ao CAPS de Caic.
Durante
a Conferncia do dia seguinte, a plenria aprovou uma moo
de solidariedade ao Dr. Epitcio e militante Neuzanete Costa
pelos seus esforos em denunciar as atrocidades promovidas pelo
sistema manicomial no Serid e por propor caminhos alternativos
a este modelo ineficaz, ineficiente, violento e contrrio aos
Direitos Humanos.
Na
noite da quinta-feira, no auditrio do Hotel Vila do Prncipe,
foi realizado na presena de Perly Cirpiano o lanamento em
Caic e no Serid do jornal Tecido Social impresso, na
frente de uma platia de mais de 80 pessoas, em grande parte
entusiasmadas com a idia de poder participar ativamente da
rede estadual de informaes sobre Direitos Humanos que o jornal
representa. Durante o evento, o Corregedor Geral da Defesa Social
do RN, Tertuliano Cabral, entregou ao Prefeito da cidade, Roberto
Germano (PSB), em nome da Caravana de Direitos Humanos, um kit
com cerca de 40 livros sobre Direitos Humanos destinado Biblioteca
Pblica Municipal.
Na manh
da sexta-feira, dia 26, o plenrio do Centro Pastoral Dom Wagner,
lotado, foi cenrio da animadssima I Conferncia Regional de
Direitos Humanos do Serid, da qual participaram mais de 200
pessoas e que se concluiu com centenas de encaminhamentos.
Na entrada
do plenrio, o artista plstico Ded de Carnaba, vindo da sua
natal Carnaba dos Dantas a convite da Caravana de Direitos
Humanos, colocou uma impactante instalao sobre prostituio
infantil, carregada de smbolos e metforas, que comoveu muitos
participantes da Conferncia.
Do mesmo
jeito, a imprevista apresentao teatral de um policial militar,
excelentemente interpretada, emocionou todos os participantes
e, alm de ganhar que a inteira platia se levantasse e batesse
palmas durante vrios minutos, obteve de Perly Cirpiano o comprometimento
a viabilizar a ida do artista a Braslia para atuar na inaugurao
da IX Conferncia Nacional de Direitos Humanos, em junho.
Entre
as centenas de propostas encaminhadas pelos rgos de proteo
dos Direitos Humanos presentes na Conferncia destacamos, entre
outras, as da ONG Rosa dos Ventos, primeira organizao
de homossexuais do Serid e uma das primeiras do interior do
Estado, que prevm a criao do Conselho Municipal de Defesa
da Igualdade Racial, a realizao de campanhas educativas nas
escolas contra a disciminao de qualquer tipo e a presso para
que sejam incorporadas no currculo da rede escolar pblica
e privada as disciplinas Educao para a Cidadania e Educao
Moral e Cvica.
Tambm
destacamos, entre as propostas gerais, a da criao do Conselho
Municipal de Direitos Humanos, segundo os princpios da Conferncia
de Paris, a articulao entre os Conselhos de Direitos Humanos
da regio e entre eles e os do resto do Estado e a criao de
um rgo pblico no Executivo Municipal para trabalhar, se articulando
com as demais Secretarias e a sociedade civil organizada, polticas
pblicas para a promoo, proteo e reparao dos Direitos
Humanos.
Todos os
momentos da Caravana de Direitos Humanos de Caic foram filmados
por uma equipe especializada que, com o material gerado, produzir
um filme de cinco minutos e um spot de dois. Estes sero divulgados
na TV Cmara e na TV Educativa para que nos outros Estados se
tenha noo do que esto sendo as Caravanas de Direitos Humanos
do Rio Grande do Norte.
Redao
de Tecido Social
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