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Educao em Direitos Humanos

Projecto 1h6xf

Integrao do ensino dos direitos humanos, cidadania e cultura da paz nos currculos de Cabo verde

Programa e Guia para os Educadores

Nvel de Ensino: Pr escolar

Abril 2005

INTRODUO

1 Aspectos de enquadramento e justificao

A Lei de Bases do Sistema Educativo cabo-verdiano (lei n. 103/III/90) reconhece a importncia da educao pr-escolar, salientando aspectos como o desenvolvimento equilibrado das potencialidades da criana, contribuindo para o processo de socializaoe o desenvolvimento de comportamentos reflectidos e responsveis, na integrao social e escolar das crianas dos 3 aos 6 anos [1] .

Estes objectivos de aprendizagem encontram fundamento em dados da psicologia, que referem o desenvolvimento das capacidades sociais a par das cognitivas e emocionais. portanto necessrio (e importante) trabalhar valores e atitudes, desde o incio do percurso educativo, altura em que as crianas alargam consideravelmente o seu ambiente social, acrescentando ao contexto familiar o contexto do jardim de infncia.

Em consonncia com a Lei de Bases, as Orientaes Curriculares do igual nfase ao desenvolvimento integral da criana, a partir de quatro reas de contedo: Desenvolvimento Pessoal e Social, Comunicao e Expresso, rea Expressiva e Conhecimento do Mundo.

Importa salientar, uma vez que consideramos que relevante, a concepo de um currculo desenvolvido em reas de contedo. As reas so espaos flexveis e alargados, onde se articulam saberes e vivncias, possibilitando situaes de aprendizagem numa perspectiva global e integrada.

Tendo em conta o que acabamos de referir, a questo saber como podemos enquadrar a integrao do novo programa de direitos humanos, cidadania e cultura da paz, no ensino pr-escolar.

Dada a natureza e o carcter transversal dos seus contedos, pensamos que podem (e devem) ser trabalhados em todas as reas, tanto em situaes de aprendizagem planificadas como informalmente, ao nvel das atitudes e dos procedimentos, que todos desenvolvemos sempre que estamos em situao de relao e interaco com os outros.

Podem ser abordados, de modo particular, na rea de Desenvolvimento Pessoal e Social, visto muitos dos seus contedos se situarem no mesmo campo de finalidades e objectivos e, por isso, poderem ser trabalhados de forma integrada e complementar, nomeadamente, os valores pessoais, de autonomia e responsabilidade e os valores relacionais de ateno ao outro, respeito, cooperao e solidariedade.

O que justifica ento este novo programa? Pelo menos dois objectivos fundamentais: por um lado, a existncia de temas e questes especficas de direitos humanos, cidadania e cultura da paz - que necessrio definir e enquadrar; por outro, a importncia de trabalhar esses valores, atitudes e comportamentos interpessoais e sociais na perspectiva do ser humano, da participao cvica e da resoluo pacfica dos problemas , portanto, necessria uma particular ateno sua abordagem pedaggica.

Vemos que h enquadramento legislativo, justificao pedaggica e espao curricular para a sua integrao, coloca-se, no entanto, o problema da sua definio e do seu desenvolvimento pedaggico. Ser muito importante a construo de um programa com rigor conceptual e metodolgico, aberto e flexvel, que constitua, para os educadores, um importante quadro referencial, capaz de os ajudar a clarificar conceitos e a perspectivar prticas motivadoras.

2 - Princpios orientadores da definio e do desenvolvimento do programa

Consistncia interna entre contedos, objectivos, gerais e especficos, e situaes de aprendizagem propostas;

Abordagem integrada dos temas de direitos humanos, cidadania e cultura da paz, salientando as suas relaes e implicaes, numa perspectiva transversal e global, em conformidade com as orientaes curriculares;

Metodologias consistentes com os princpios da interaco e da construo de novas aprendizagens, tendo presente que as crianas adquirem novos conhecimentos, com base nas experincias e saberes que possuem, em interaco permanente com o que as rodeia explorando, experimentando, descobrindo e vivenciando.

Compreender que tm, tal como todos os outros, qualidades que s pertencem s pessoas, com as quais nascemos e que devemos poder desenvolver;

Comear a construir a noo de direito, compreendendo que h coisas sem as quais no podem viver bem e felizes e que, por serem necessrias, devem ser asseguradas;

Compreender que no podemos viver sem os outros, sem nos relacionarmos e interagirmos com eles;

Conhecer os seus direitos partindo de si e das suas necessidades, identificando na comunidade as instituies que os devem assegurar;

Adquirir sensibilidade prtica e ao respeito pelos direitos, de modo a construirmos uma sociedade com menos conflitos e onde se respeitem as regras.

Programa

Temas

Objectivos

Situaes de aprendizagem/Proposta de Actividades

1.

Eu...

- Sou capaz: de pensar, falar, ter ideias, imaginar, fazer coisas, rir, chorar ...;

- h coisas de que preciso/tenho o direito a ter (famlia, cuidados, proteco, alimentos ...); - h coisas que desejo/era bom ter (um carrinho elctrico, ...).

- Desenvolver a capacidade de se valorizar a si prprio;

- Descobrir que tm capacidades, tal como todos os outros meninos e pessoas;

- Compreender que pode sempre fazer mais coisas, porque pensa e aprende coisas novas;

- Identificar o direito com uma coisa mesmo necessria sua vida;

- Distinguir as necessidades dos desejos;

- Desenvolver a confiana em si mesmo, a autonomia e a responsabilidade

- Dilogo com os alunos; reunies em crculo;

- Explorao de situaes reais ou hipotticas; questionar sobre as boas qualidades dos amigos, dos pais, dos avs, etc.;

- apontar diferenas entre as pessoas e os animais; enumerar as qualidades que s as pessoas tm falar, pensar, escutar, ajudar, rir,)

- Relato e explorao de pequenas histrias;

- Jogos para relacionar as necessidades com os direitos, partindo de situaes concretas;

- Recordar situaes em que algum as fez rir; chorar, sentir felizes, aborrecidas, tristes, (explorar sentimentos humanos)

...

2.

Vivo com os outros ...

A minha famlia; os meus vizinhos; os meus amigos; os meus colegas; ...

Em ...

casa, na escola, na rua, na praa, no mercado, na catequese, na igreja, no campo de futebol, no posto mdico,

- Identificar as pessoas da famlia mais prximas;

- Compreender a importncia da famlia e do amor dos pais;

- Relacionar determinados momentos familiares com sentimentos partilhados;

- Compreender a importncia de ter amigos;

- Aprender que os amigos se devem respeitar e cuidar;

- Compreender que vivemos com os outros em diferentes contextos;

- Relacionar esses contextos com instituies da sociedade

- Desenvolver valores como a amizade, a interajuda, o respeito, o cuidado, a cooperao, a estima

- dilogo sobre situaes familiares (nascimento de irmos/alegria; visitas de familiares, etc.);

- desenhar a prpria famlia e os momentos de vida em familiar;

- explorar os diferentes papis (da me, do pai, dos irmos;);

- contar histrias que permitam trabalhar valores interpessoais (amizade, interajuda, respeito, solidariedade, cooperao);

- jogos de papis sobre momentos de encontro, partida, discusso, ternura, ;

- explorar os valores da amizade, atravs de histrias, situaes quotidianas, imagens (ser simptico, ajudar, querer bem, contar segredos, convidar,);

- Criar e descrever amigos imaginrios (nome, pas, famlia, idade, brinquedos, )

...

3.

Conheo os meus direitos ...

no posso deixar de ter um nome; um pas; uma lngua; uma famlia; cuidados; proteco; alimentos, roupa, casa; educao; brinquedos, ...

Sei que eles dependem...

de mim; da minha famlia; do jardim infantil; do posto mdico; do hospital; da polcia; dos bombeiros ...

- Ir desenvolvendo a noo de ter direitos;

- Identificar capacidades prprias que tm a ver com direitos individuais;

- Identificar aspectos da sua vivncia que tm a ver com direitos sociais, econmicos e culturais;

- Compreender que os direitos dependem das instituies;

- Relacionar os seus direitos com as respectivas instituies;

- explorao de materiais construdos com base na Conveno dos Direitos da Criana,

- Dilogo com as crianas: o que que vocs precisam para viver bem e felizes? (ex. famlia, comida, casa, roupa, sapatos, vesturio, .,);

- Trabalhar situaes de direitos da criana partindo de histrias; situaes vividas observadas ou imaginadas;

- Descrever gravuras, imagens com situaes de direitos violados;

- explorar jogos

- fazer jogos de papis;

- Visitas de estudo a instituies;

( a rever e a completar...)

4.

Vivo os direitos ...

- dou opinies (falo, dou sugestes ...); participo nas escolhas (tarefas, regras, ..; ); - ajudo a resolver os problemas (quando h brigas, chamam nomes a algum ...); cumpro regras (da sala, do recreio, de casa, ...); colabora com os outros; trabalhos em grupo; ....

Construo a paz ...

Situaes/problemas vividas no jardim infantil; problemas de direitos humanos (o menino que trabalha antes de ir para a escola, o menino que sofre maus tratos; o velho que pede esmola na esquina da rua; os gritos l em casa; menino discriminado; o senhor que precisa de comprar remdios e no tem dinheiro ...)

- Desenvolver a capacidade de por em prtica os direitos;

- Compreender a importncia da participao nas decises que tm a ver com os interesses de todos;

- Compreender que possvel sempre resolver as coisas a bem;

- Perceber que necessrio cumprir regras, respeitar e ajudar os outros para construi o bem estar de todos;

- Compreender que precisamos resolver pacificamente os problemas;

- Ser capaz de procurar ajudas para resolver os problemas;

- Perceber que precisamos reunir esforos para resolver os problemas

- explorar situaes concretas que levem tomada de atitudes e a aces;

- construir regulamentos simples;

- Explorar situaes de resoluo de problemas;

- executar tarefas em colaborao;

- explorar jogos de regras e atitudes

- ler e explorar com as crianas pequenas histria sobre os casos de violao dos direitos humanos que pretendemos abordar;

- em reunies em crculo procurar solues, levar as crianas a escolher a melhor soluo;

- fazer desejos, para fazer um ;

- inventar recados para mandar para as pessoas que deviam ajudar a resolver o problema e no ajudaram:

GUIA DE APOIO AO EDUCADOR

INTRODUO

O objectivo fundamental deste guia ajudar as educadoras a implementar com sucesso um programa de direitos humanos, cidadania e cultura da paz, tanto ao nvel dos conhecimentos fundamentais como do trabalho pedaggico a desenvolver.

Apresentaremos, atravs duma abordagem clara e vel, os diferentes pontos do programa, desde os temas e questes a abordar, s metodologias, actividades e materiais a utilizar e a construir.

Ser estruturado em cinco pontos:

Explicitao de conceitos e enquadramento dos temas

Estratgias metodolgicas

Sugesto de actividades

proposta de materiais a construir

Recursos

No primeiro ponto, faremos a apresentao dos temas e questes do programa, explicitando-os e fornecendo pistas para os enquadrar e desenvolver. No segundo ponto, apresentaremos os princpios do trabalho pedaggico e apresentaremos de forma sucinta as metodologias que consideramos adequadas para trabalhar os direitos humanos, a cidadania e a cultura da paz com as crianas do ensino pr escolar. No terceiro ponto, faremos a sugesto de actividades possveis de poder ser aplicadas em diferentes situaes e a propsito de diferentes temas. No quarto ponto, faremos referncia a materiais e recursos

Como deve ser usado o guia

Alguns pressupostos devem ser tidos em conta

- O domnio global quer do programa quer do guia. Deve a educadora conhecer todos os aspectos, potencialidades e possveis lacunas para que possa rentabilizar o material e as informaes colocadas sua disposio;

- Considerar o guia como um auxiliar do trabalho, em complementaridade permanente com o programa, tendo em conta os princpios orientadores, os objectivos, os contedos e as sugestes de actividades.

os para trabalhar os temas e questes

- Para qualquer tema que pretenda trabalhar com as crianas a educadora encontra no primeiro ponto algumas noes e informaes, que pode, obviamente, completar com pesquisa autnoma recorrendo quinto 5 onde encontra a indicao de recursos;

- Escolhido o tema ou questo, deve pensar quais as melhores metodologias para o abordar. No segundo ponto, encontra no apenas a explicitao dos princpios que devem orientar o seu trabalho pedaggico mas tambm a descrio das estratgias de modo a desenvolv-las adequadamente;

- A seguir pode procurar sugesto de actividades no terceiro ponto, podendo utilizar as indicadas, adaptando-as se necessrio ao seu grupo, construindo outras similares, etc.

- No quarto ponto encontra ideias para a construo de materiais.

1 EXPLICITAO DE CONCEITOS E ENQUADRAMENTO DOS TEMAS

Os conceitos sero explicitados por rea de contedo, em conformidade com o programa. O critrio foi colocarmo-nos no papel da educadora e pensar os temas e as questes em funo dos meninos, referindo mesmo estratgias e situaes de aprendizagem.

1.1 Eu ...

Neste ponto, a preocupao fundamental levar as crianas a conhecer e a valorizar as qualidades prprias das pessoas, reconhecendo o que necessrio ao seu desenvolvimento e relacionando estas necessidades com os direitos humanos. Os valores fundamentais a trabalhar so a confiana em si prprio, a autonomia e a responsabilidade.

- Sou capaz o objectivo compreender que todos temos capacidades

As crianas devem aperceber-se que tm capacidades naturais, tal como a me e o pai, os irmos, os amigos, os avs, etc., e que precisam de as desenvolver. Todos podemos pensar, falar, criar, imaginar, inventar, resolver problemas e ir procura de solues. Todos temos essas qualidades, mas precisamos de as desenvolver, pouco a pouco, com a ajuda das pessoas com quem vivemos e estamos.

Explorar com as crianas as questes da comunicao e da linguagem, por exemplo, a importncia dos nomes, para nomear os objectos e poder falar deles, relacionando-os consigo prprio e com as outras pessoas. O simples identificar e relacionar so j tarefas do pensar que cada um vai poder realizar cada vez melhor. Explorar igualmente a capacidade de criar e fazer coisas novas - cumprimentar, desenhar, colaborar, ajudar a cuidar do jardim, da casa, etc.

Aprender coisas novas no apenas para as crianas, todos aprendemos ao longo da vida, nunca deixamos de aprender. Os avs tambm aprendem coisas novas, eles prprios podem ensinar alguma coisa aos avs por exemplo, a msica ou o jogo que aprenderam - mas claro que eles tm muito mais para lhes ensinar, tal como os pais e a educadora, porque vivem h mais tempo, so mais crescidos, mais velhos. Vamos aprendendo medida que vivemos e aprendemos sempre uns com os outros, quando estamos juntos e conversamos, quando ouvimos histrias, quando brincamos, quando vemos televiso, etc. Ningum pode dizer eu sei tudo, mas todos podem dizer eu sou capaz de aprender mais.

- H coisas que preciso - o objectivo compreender as necessidades humanas

As crianas, e todas as pessoas, para continuarem a aprender, a viver bem e a ser felizes tm necessidade de algumas coisas. Coisas to importantes que se no as tivermos pomos em causa a sade, a segurana e at a prpria vida.

Levar as crianas a compreender que todos precisamos dos cuidados da famlia, dos amigos, dos mdicos, dos professores, etc., mas que elas precisam de cuidados especiais por serem pequeninas, fazer-lhes notar que at j precisaram mais do que agora, quando eram bebs e algum tinha de lhes dar a comida, de os vestir, etc. Ao crescerem, comeam a fazer coisas sozinhas, ainda poucas mas que iro aumentando na medida em que forem capazes de realizar novas tarefas, ganhando autonomia e confiana em si prprias.

Precisam tambm de alimentos, vesturio, brinquedos, educao e cuidados mdicos - aqui podem ser trabalhados os direitos sociais como o emprego dos pais, de onde vem o dinheiro para comprarem alimentos, medicamentos, etc.

Tudo isto que necessrio ao crescimento e ao desenvolvimento de qualquer ser humano pertence (e deve ser dado) a todas as pessoas, desde os bebs mais pequeninos aos avs mais velhinhos, vivam onde viverem.

- H coisas que tenho o direito a ter - o objectivo perceber que as necessidades humanas so direitos humanos

Levar a criana a compreender que tudo aquilo de que precisa famlia, alimentos, vesturio, casa, escola, brinquedos, tempo para brincar, ir igreja, associao, casa dos avs, etc. so direitos dela.

O conceito de direito , porventura, muito difcil de explicar a crianas desta idade, mas no h outra maneira seno, sem alterar o seu significado, falar deles de forma simples e vel, com exemplos concretos, com imagens, histrias, etc. Por exemplo, podemos dizer-lhe: ter um direito receber uma coisa que j te pertence, uma coisa que tua, e que algum est encarregue de te dar, podem ser os pais, os professores, os avs, os mdicos, etc. Os que esto encarregues no podem esquecer-se, tm de fazer tudo para te darem o que te pertence, para cuidarem bem de ti.

Imagina que tinhas de cuidar de uma flor, muito pequenina, fininha, mas com uma raiz forte, o que que tu deves fazer para cuidar bem dela, para que venha a ser uma flor bonita e perfumada? Tens de plant-la em terra boa, reg-la e deix-la apanhar sol (mas no muito, para no se queimar). Tal como a flor, tens direito a cuidados para cresceres bem e forte, sem eles podem acontecer coisas desagradveis, no caso da tua flor, podia murchar ou crescer muito fraquinha. Tu achas que podes descuidar-te em relao tua flor? Acho que no. Tambm os pais, os professores, os mdicos, os avs, etc., no podem descuidar-se em relao a ti.

A educadora pode explorar com histrias simples outras necessidades/direitos relativas aos alimentos, roupa, famlia, s brincadeiras, aos mimos dos pais, s vacinas, etc.

- H coisas que desejo ter - o objectivo compreender a diferena entre necessidades e desejos humanos

A educadora deve mostrar que nem tudo o que queremos e temos vontade de ter necessrio ao crescimento saudvel e feliz a que todas as crianas tm direito. Podem comear por conversar com elas sobre o que gostariam muito de ter, as coisas que gostavam de pedir aos pais, no dia de anos, no Natal, etc. Aos pedidos das crianas por exemplo, um jogo, um casaco, uns tnis, uma boneca, ...- a educadora vai fazendo notar o que mesmo necessrio, o que pode ser substitudo por outra coisa e o que desnecessrio, mesmo sendo coisas que desejem.

Nem sempre o que desejamos uma necessidade e por isso se os pais no podem comprar no compram, se no podemos ter no temos. Por exemplo, no precisamos ter uma bola muito cara, basta uma bola vulgar e amigos para jogar. Valorizar o que se tem e o que efectivamente necessrio, procurando mostrar a questo das prioridades - pode comear aqui a educao para o consumo, no podemos ter o brinquedo anunciado na televiso, mas temos outro que faz as mesmas vezes, o que necessrio (necessidade/direito) poder brincar.

1.2 Vivo com os outros ...

Neste ponto, a preocupao fundamental da educadora desenvolver nas crianas competncias relacionais e sociais que facilitem o viver em comum. Os valores fundamentais a trabalhar so a amizade, o respeito, o cuidado, a colaborao e a solidariedade.

So conceitos veis, prximos, porque so vividos pelas crianas. Pensamos que importante trabalhar a noo de cuidado [2] , o que significa cuidar e quais os cuidados que cada um necessita. H nestas noes uma dimenso de afectividade, de sensaes e sentimentos, que no podemos deixar de tratar.

Outro aspecto, a ideia de que no podemos viver sozinhos o incio da noo de sociedade e de cidadania. Viver com os outros uma necessidade (um direito humano) e isso significa ser capaz de comunicar, de dialogar e de estar atento para poder participar e ajudar. Podemos desenvolver atitudes como estas: eu estou disponvel para te ouvir, para te contar histrias, para te levar escola, para te ajudar a construir o jogo, etc. Tu ests disponvel para pr a mesa, para me cantares uma cano, para me fazeres um desenho, etc. Tambm muito importante a ideia de criar laos, de nos ligarmos s pessoas, por exemplo, inventando palavras bonitas para dizer me, ao pai, educadora, mandando recados alegres, contando segredos, etc.

Vivemos em espaos sociais, onde h outras pessoas, podem ser familiares, amigos ou simples conhecidos, mas onde, em qualquer dos casos, temos de respeitar regras de convivncia cumprimentar, escutar, pedir licena, agradecer, etc. - devem explorar-se os contextos prximos dos alunos, relacionando-os com as pessoas e as instituies. Na relao entre as pessoas importa identificar o papel de cada um, como se relacionam, se respeitam e ajudam.

Em casa identificar os membros da famlia, os pais, os irmos e os avs; o que fazem, como se relacionam com ele, etc.; no jardim infantil identificar as pessoas, saber o que fazem, partilhar brincadeiras e tarefas com outros meninos e com a auxiliar e a educadora; na rua ou na praa identificar as pessoas que encontra nesses locais, o que fazem l, explorar situaes de brincadeira com os amigos, etc.; no mercado - explorar as vivncias das crianas, por exemplo as idas, saber com quem vo, do que gostam mais, etc.; na igreja saber com quem vo, quem encontram, do que mais gostam mais, etc.; no posto mdico identificar as pessoas que a trabalham, o que fazem, quem cuidam, em que situaes j foram ao posto mdico, etc.

Para alm destes, podem explorar-se outros ambientes sociais relacionados com a vida dos alunos festas tradicionais, romarias, reunies familiares, etc.

Para trabalhar estas questes, podem fazer-se jogos deste tipo: vamos abrir a janela para praa; o que vem?; meninos a brincar, velhos sentados a conversar, uma av com um neto ao colo, dois meninos de bicicleta, ..; vamos abrir a janela para o posto mdico; o que vem?; um menino doente, uma enfermeira a cuid-lo e um pai; vamos abrir a janela para a casa da av. O que vem? (...).

1.3 Conheo os meus direitos ...

Neste ponto, a preocupao da educadora deve ser a de levar as crianas a conhecer e a dar valor a tudo o que precisam para crescerem e viverem bem, tendo em mente os quatro grandes grupos de direitos direito sobrevivncia; direito ao desenvolvimento; direito proteco; e direito participao. [3]

Os direitos devem ser abordados de forma muito simples, sempre ligados a situaes concretas, de preferncia do quotidiano das crianas, sem falar em declaraes, conveno ou artigos. Mas podemos sempre falar das questes, por exemplo da Declarao Universal dos Direitos Humanos, contando uma histria por causa das guerras, de muitos meninos e pessoas sem comida, sem escola, sem casa, etc. os homens que mandavam no mundo fizeram um acordo e criaram leis para proteger a vida das pessoas ...

A criana tem direitos individuais, direito a falar, a dar opinies e a participar dentro das suas possibilidades e sempre com a ajuda dos pais e outros adultos.

Ter um nome muito importante, para que os outros nos possam identificar e referir-se a ns. As crianas aperceber-se-o que para alm do nome prprio tm nomes iguais aos dos irmos que vem do pai e da me - podem explorar-se nomes prprios e familiares. Mostrar tambm a importncia de tratar as pessoas pelo nome - o Joo, o Pedro, a Filipa, etc. Alis, quando conhecemos algum a primeira coisa que queremos saber o nome, para nos podermos relacionar com ela.

Ter um pas onde nascemos e vivemos com a nossa famlia, habitando uma casa, situada no campo ou na cidade. importante reconhecer o nome do pas, da ilha, da cidade, da aldeia ou do bairro. Podem fazer-se jogos, por exemplo, no ptio do jardim infantil desenham-se crculos com o nome das ilhas e depois criam-se laos entre elas, atravs de brincadeiras as crianas aprendem os nomes e referem possveis coisas que conheam, at porque podem ter familiares nessas ilhas. O pas tambm tem uma lngua, alis duas lnguas que as crianas j conhecem e costumam usar, em casa mais o crioulo e no jardim infantil mais o portugus.

Direitos sociais, econmicos e culturais - trabalhar com as crianas noes de direitos ligados alimentao, ao vesturio, educao, sade e aos aspectos culturais.

A criana deve comear a relacionar os direitos. A me e o pai precisam ter um emprego, os pais podem ter diferentes empregos, uns trabalham na agricultura, outros na pesca, outros no turismo, outros nos servios pblicos. Todos precisam de ganhar dinheiro para ter uma casa, comprar alimentos, livros, roupa, cadernos, etc.

Ouvir histrias sobre tradies e costumes populares, sobre a vida de meninos que vivem noutros lugares, so oportunidades para abordar traos da cultura cabo- verdiana mais uma vez a educadora pode criar histrias simples era uma vez um menino que no gostava de cachupa e ento av contou-lhe que ..., outras vezes podem ser histrias sobre o batuque, a seca, as romarias populares, etc. Aprender jogos tradicionais e canes de roda igualmente importante para ouvir falar da vida das pessoas.

Explorar situaes de jogo e brincadeira em que haja regras, participao e cooperao com os outros, sem competio, sem querer chegar em primeiro lugar, apenas querendo fazer bem feito.

A segurana depende dos cuidados que os pais e os outros adultos lhe prestarem mas tambm dele prprio. Podem explorar-se situaes em que a criana pode correr riscos correr sozinho pelas ruas, perder-se no mercado se largar a mo da me ou da av, sair de casa sem ordem da me, levar um balde de gua ou um saco de compras muito pesados, mexer em aparelhos elctricos, brincar com fsforos, etc.

Sei que os meus direitos dependem...

A preocupao da educadora deve ser a de mostrar s crianas que os seus direitos dependem dos pais e das instituies e s vezes delas prprias.

Trabalhar com as crianas cada um dos direitos relacionando-os com a instituio ou as instituies de que dependem. Por exemplo, o nome depende da famlia, podem junto dos pais saber porque que tm aquele nome, quem o escolheu e porqu. Os pais escolhem o nome e vo registar os filhos no registo civil e por isso todos os meninos tm uma cdula. A alimentao, depende dos pais, mas se os pais no tem possibilidades devem procurar ajuda, junto de instituies do Estado, da igreja, etc. A sade depende de cada um, comer alimentos limpos, lavar as mos, beber gua potvel, mas tambm dos pais, dar regras de higiene aos meninos, vacinar, etc.

A ideia explorar situaes da vida das crianas, identificando os direitos e relacionando-os com as instituies.

1.4 Vivo os direitos ...

A educadora deve levar as crianas a compreender que o mais importante viver os direitos e para isso ser possvel devemos ser capazes de ter certas atitudes e fazer certas aces. Os direitos so para se porem em prtica no dia a dia, nos locais onde estamos, nas experincias e situaes que vivemos com os outros, em casa, na escola, na rua, etc.

Praticar os direitos , por exemplo, dar opinies, ouvir as dos outros, escutar, prestar ateno. tambm participar nas escolhas por exemplo, na cor do caderno que vai comprar com a me, na roupa que vai vestir, na ida ou no a casa da av, na escolha do jogo que vai jogar, nas tarefas que tem de realizar, etc.

Viver os direitos sentir-se cuidada, poder alimentar-se, vestir-se, viver numa casa com as condies necessrias, ir ao mdico quando est doente, ir ao jardim infantil, etc.

...construo a paz

Levar a criana a compreender que para l disto tudo, para viver bem e feliz necessrio viver em ambientes tranquilos, sem gritos, sem pontaps, sem problemas. Para que isso acontea todos temos que fazer alguma coisa, pois muitos meninos vivem em situaes de medo, de descuido e insegurana e por isso no podem ser felizes.

Podem explorar-se situaes conflituais do dia a dia do jardim infantil, procurando que as crianas percebam a quem devem pedir ajuda e o que podem e devem fazer para viverem em paz, contentes e amigas.

Seria tambm importante abordar problemas de direitos humanos vividos ou observados pelas crianas, no sobre casos e pessoas que conheam mas a partir de pequenas histrias, que descrevam com clareza a questo que se pretende abordar. [4]

2 - ESTRATGIAS METODOLGICAS

2.1 princpios do trabalho pedaggico

Num programa em que os principais objectivos so a aquisio e o desenvolvimento de competncias, atitudes e valores, ganham especial relevncia as questes pedaggicas. Alguns aspectos importa salientar:

- A qualidade da relao que a educadora estabelecer com o grupo de crianas.

Se o ambiente criado for de segurana, bem-estar, abertura e afectividade, as crianas sentem-se ouvidas, valorizadas, apoiadas e estimuladas, isso leva-as a desenvolver a auto-estima e a confiana em si prprias. As atitudes e as aces da educadora e demais adultos so decisivas, pois a imitao, nesta idade, uma contnua forma de aprendizagem.

- Metodologias de interaco e de construo, com uma forte vertente ldica.

As metodologias a adoptar tm de tornar possvel os objectivos do programa e basear-se nos princpios pedaggicos a enunciados. , portanto, necessrio proporcionar criana situaes de aprendizagem em que possa, permanentemente, interagir com as pessoas e as coisas, com o meio social e fsico que a rodeia. A criana aprende fazendo, brincando, explorando, sempre atravs da sua prpria aco, em situaes de aprendizagem directa, explorando as suas vivncias e tambm as situaes relativas ao quotidiano do jardim infantil, tanto as rotinas dirias como os incidentes que a possam ocorrer.

- Adequao metodolgica, para cada tema e objectivo deve escolher-se a melhor estratgia possvel.

Por exemplo, se o objectivo trabalhar competncias relacionadas com a diversidade, as diferentes culturas e valores, podemos utilizar histrias, jogos de faz de conta, dramatizaes; mas se o objectivo as crianas compreendam que h sempre uma forma pacfica de resolver os problemas, devemos utilizar o dilogo, a explorao de situaes reais ou hipotticas, a resoluo de problemas, a escuta, etc. Contudo, a prtica mostrar-nos- que a abordagem pedaggica, tal como acontece ao nvel dos contedos, tem de ser integrada, utilizando, simultaneamente, vrias estratgias de trabalho, de forma combinada e complementar.

- Trabalho significativo, as crianas devem perceber o seu valor, para que serve, o que podem desenvolver, modificar e fazer melhor. Para tal deve partir da realidade das prprias crianas, dos costumes, tradies, regras, modos de vida e de estar relacionadas com o seu meio familiar e social.

- Uma perspectiva globalizante, permitindo criana explorar diferentes possibilidades, fazer diferentes escolhas, ter atitudes e praticar aces, com tempo e espao para explorar, associar, combinar e desenvolver a sua relao com os outros, com as pessoas e com o meio, assim, que vai desenvolvendo valores.

2.2 - Descrio sumria das metodologias a desenvolver

Com base nestes princpios, que podem e devem orientar a prtica pedaggica, consideramos que algumas das estratgias e actividades mais importantes para trabalhar os direitos humanos, a cidadania e a cultura da paz com as crianas do ensino pr-escolar so as que a seguir se apresentam.

O dilogo/a conversao

uma estratgia sempre presente em todas as situaes de aprendizagem, muito importante para facilitar a interaco e a comunicao. As conversas podem ser sobre a vida das crianas, da famlia, dos amigos, mas tambm sobre os seus sonhos, os seus desejos e as suas vivncias. Podem mesmo criar-se situaes em que a conversa seja o principal objectivo pedaggico a atingir, considerada como um contedo de aprendizagem, desenvolvida a partir duma histria, duma observao, etc. Este tipo de actividade, permite s crianas partilhar dvidas, curiosidades, descobrir sentimentos, valores, atitudes e comportamentos. O dilogo permite ainda trabalhar regras e atitudes de interaco social: saber ouvir, estar atento, escutar, seguir a comunicao, pedir para intervir, para responder, etc.

Trabalho de grupo

uma estratgia importante porque, ao executarem tarefas comuns, as crianas podem partilhar esforos, habilidades e vontades. Nesta participao, desenvolvem a cooperao, a inter-ajuda, o sentimento e o significado de pertena a um grupo aspectos importantes, por exemplo, na cidadania. A educadora deve propiciar trabalhos de grupo em diferentes espaos sociais, criando condies e facilitando materiais.

Contar histrias

Uma estratgia fundamental para qualquer tipo de aprendizagem, na medida em que permite criana, com a ajuda da educadora, questionar determinados comportamentos e atitudes e atravs disso posicionar-se em relao a situaes e valores humanos, aspectos importantes para o seu desenvolvimento e crescimento interior. So uma importante oportunidade para conhecer outras culturas, ter o com outras realidades sem a presso de situaes e de vivncias prximas.

Explorar situaes

Uma estratgia til e adequada para trabalhar valores, atitudes e comportamentos. As crianas, em dilogo com as educadoras, vo elaborando as suas percepes (percebendo o que vem, observam, ouvem ou manipulam) construindo a sua prpria compreenso das coisas. So momentos para cada um pode falar, dizer o que pensa, marcando as diferenas - aspecto decisivo na construo da identidade.

As situaes podem ser as do dia a dia, muitas vezes resultantes de atitudes de oposio ou conflito disputa pelo mesmo brinquedo, pelo mesmo espao, briga por um lugar, etc. mas tambm podem ser imaginadas, criadas pelo educador ou pela prpria criana.

O objectivo procurar compreender o que se a, quem est envolvido, se h ou no diferentes solues e diferentes modos de actuar.

Explorar imagens

Seleccionar, de forma criteriosa e adequada, a este nvel etrio, um conjunto de imagens (fotografias, desenhos ou gravuras) de modo a poderem ser trabalhadas em diferentes situaes e sobre os mais variados temas de direitos humanos, cidadania e cultura da paz.

As imagens devem ser sempre enquadradas pelo educador, falar da situao apresentada, das suas causas e consequncias levando as crianas a observar, a descrever e se possvel a falar dos sentimentos, das necessidades, dos direitos, das solues, etc. Podemos partir de perguntas como esta: O que que vs na gravura? J alguma vez tinhas visto uma coisa assim? O menino est alegre ou triste? O que que achas que lhe aconteceu? Falta-lhe alguma coisa importante? O qu?

Jogos simblicos, de descoberta e de regras

O objectivo fazer jogos simples, criados pelas prprias crianas e educadoras, a fim de trabalhar competncias e atitudes interpessoais e sociais, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a imaginao e a criatividade.

Os jogos simblicos podem ser aproveitados para criar situaes de aprendizagem ao nvel das temticas que queremos trabalhar. A capacidade da criana animar objectos e criar situaes de faz de conta parece infindvel e sempre renovada.

Os jogos de descoberta podem lev-la a saber mais sobre determinadas questes relacionadas com os direitos humanos e a cidadania, perguntando, levando-as a ultraar etapas e a resolver situaes.

Constituem oportunidades importantes para valorizar os conhecimentos e as vivncias da criana, a sua vontade de fazer bem, de participar e de construir.

Os jogos de regras so importantes para trabalhar atitudes saber ouvir, saber intervir, esperar pela vez, no interromper, etc.

Resoluo de problemas

uma metodologia boa para trabalhar valores de dilogo, tolerncia e cooperao. O objectivo fundamental ajudar as crianas a compreender que h sempre uma forma pacfica para resolver os problemas e isso a por ouvir os outros, por colaborar, por juntar esforos. Podem trabalhar-se situaes do dia a dia exemplo, dois amigos teus brincam no recreio e tu tambm queres jogar, mas no te deixam. O que que fazes?; Vs meninos a brigar, o que pensas fazer? ....

Fazer de conta/jogos de papis

O faz de conta uma actividade natural na criana, que podemos pedagogicamente explorar. As crianas recriam continuamente a realidade de forma imaginativa e fantasiosa, incorporando as suas vivncias e as suas emoes, agindo em funo duma imagem, dum sentimento, duma pessoa, dum animal, dum objecto, etc.

Este tipo de jogos tem uma enorme importncia na socializao da criana, representam muito bem papis sociais mes e filhas, mdicos e doentes, professores e meninos, polcias e bombeiros, situaes que podem ser aproveitadas de forma estruturada para trabalhar valores, atitudes e comportamentos.

Dramatizao

Representar pequenas histrias, muito simples, com o objectivo de trabalhar os direitos da criana, a cidadania e a resoluo de conflitos. Podem ser histrias tradicionais ou no que de forma clara mas tambm com fantasia e imaginao mostrem o lado mau e bom da vida das crianas, dos adultos e do viver em sociedade. Dramatizar histrias tradicionais, do universo infantil, com temas e questes de direitos humanos, por exemplo de discriminao, injustias, abandono, etc.

Poesias/Canes/Lengalengas

Trabalhar canes que permitam desenvolver atitudes e comportamentos (ex. se eu fosse um peixinho e soubesse nadar mandava a Joana o material arrumar; sentar-se ; ajudar; pedir desculpa; tirar o avental; preparar-se para o almoo; etc.).

Criar pequenas quadras relativas aos direitos humanos e participao e music-las. Aliar as canes mmica, ao movimento e drama.

Expresso plstica

Qualquer tema, seja sobre conhecimentos, valores, atitudes o comportamentos, pode ser trabalhado ao nvel da expresso plstica, atravs do desenho e dos trabalhos manuais, dentro das possibilidades que as crianas desta idade apresentam.

Participao na comunidade/visitas de estudo

Criar situaes de aprendizagem em diferentes espaos de sociabilizao, por exemplo visitando instituies, participando em festas escolares, do bairro, da cidade, nas brincadeiras da rua, nas actividades da associao, nas feiras, etc.

Promover actividades entre instituies, jardins de infncia, escolas, autarquias, - comemorao do dia mundial da criana, por exemplo.

Elaborar regulamentos

So muito importantes para trabalhar a relao entre direitos e responsabilidades. H muitas regras que podem ser discutidas com as crianas, ao nvel das atitudes, da resoluo dos conflitos, do uso dos materiais e do espao. A criana deve pronunciar-se, exprimir a sua opinio, a educadora deve coorden-la a com a dos outros e procurar chegar a regras comuns. Deste modo, vai compreendendo a importncia e a necessidade das regras, quando vivemos juntos e partilhamos os mesmos espaos.

As regras devem ser claras e transparentes e ser cumpridas, quem no cumpre dever ter uma sano coerente, por exemplo, o menino destruiu as tintas, a sano no pode ser no ir ao recreio, mas sim ficar sem pintar, haver reciprocidade.

3 - SUGESTO DE ACTIVIDADES

A inteno fornecer s educadoras exemplos de actividades que possam utilizar em situao educativa e, ao mesmo tempo, serem sugestes para a construo de outras semelhantes, adaptadas ao grupo de crianas, sobretudo s suas vivncias e ao que so capazes de compreender.

Situaes a explorar:

1 Imagina que o teu amigo Pedro tem um carrinho de que gostas muito e com o qual queres brincar. O que deves fazer? Pedes o carrinho ao Pedro com simpatia, com cuidado? Fazes um acordo com ele, emprestas-lhe um brinquedo teu?; Pedes-lhe para brincarem os dois?; Ameaas o Pedro se ele no te emprestar o carrinho?; Vais pedir ajuda me, educadora?;

2 A Joana zangou-se com o irmo, ralhou com ele e chamou-lhe de nomes. O que que tu achas do comportamento da Joana? O que achas que ela deve fazer? Tu costumas pedir desculpa? E a ti costumam pedir-te desculpa? Quem? O que que tu achas dos pedidos de desculpa?;

3 O Joo arrancou uma flor, sem querer, no ptio da escola. Achas que o menino deve dizer educadora o que aconteceu? O que que tu fazias? ; Achas que o Joo vai ser castigado? Porqu? Se o Joo tivesse arrancado por querer, o que que tu achavas? ; .

Podem ser criadas, de forma imaginativa e ldica outras muitas situaes, que permitam explorar os temas que a educadora pretende trabalhar.

Jogos de papis

So jogos para trabalhar valores, atravs deles possvel desenvolver competncias que conduzam a determinadas atitudes. Explorar relaes interpessoais e sociais envolvendo instituies e direitos.

- Se eu fosse um pai ia levar os meus filhos ao jardim infantil, brincava e jogava bola com eles; trabalhava muito para ganhar dinheiro para eles, no os deixava abandonados, levava os meus filhos ao mdico se tivessem febre, queria saber onde os meus filhos andavam, );

Se eu fosse um polcia ajudava as pessoas, no ava multas, ensinava-as a portarem-se bem, ;

Se eu fosse um amigo contava segredos, ajudava, convidava para a festa de anos...);

Se eu encontrasse um tesouro construa escolas para os meninos, arranjava muitos empregos, distribua pelas pessoas mais pobres, arranjava maneira de construir hospitais, jardins, comprava jogos e brinquedos para todas as crianas, ;

Se eu fosse um rei ou um presidente...; Se eu mandasse na escola ..., etc.

Podem criar-se as mais diversas situaes e explor-las na medida dos conhecimentos, das capacidades e da compreenso das crianas, tendo sempre presente a perspectiva dos direitos humanos.

Sequncias de imagens simples para reconstruir histrias

Os puzzles dos direitos - construir e montar puzzles simples. Podem-se construir com muita facilidade, basta duas fotocpias do mesmo desenho, gravura, cartaz, etc.; colam-se em cartolina para ficarem mais resistentes; recorta-se uma delas em peas de puzzle e colocam-se dentro de um envelope. Os meninos podem explorar os puzzles em grupo, a pares, etc.

A arca dos direitos

As crianas colocam dentro de uma caixa objectos seus - material escolar, brinquedos, roupas calado, etc. -; fecha-se a caixa e por uma frestazinha tira-se sorte um objecto qualquer dos que esto na arca; as crianas identificam o objecto; relacionam-no com o direito respectivo; pode tambm relacion-lo com a instituio que deve assegurar esse direito; e, por fim, podem falar sobre a violao desse direito (ex.: a criana tira um lpis diz: um lpis, serve para escrever e desenhar, na escola, todas as crianas devem ter lpis e poderem ir escola, os meninos que no tem lpis no podem desenhar ).

O menino do chapu mgico

A magia do chapu permite resolver situaes de direitos humanos; h diferentes intervenientes que dramatizam situaes e fazem pequenos jogos de papis (exemplos: - tenho o meu filho muito doente e no tenho dinheiro para o levar ao mdico; - espere a que eu vou tentar resolver o seu problema por magia, aparece uma ambulncia, bombeiros; um hospital e uma mdico e um enfermeiro, ...);

- Encontrei este menino abandonado, sozinho na rua; - eu vou ver o que eu posso fazer - por magia, aparece uma senhora que o leva para uma famlia, depois aparece uma pessoa que o quer adoptar e proteger, ); ...

Tocar o cu

Jogo colectivo, em crculo, em que a educadora explora situaes simples que envolvam a tomada de atitudes a favor da paz, mostrando que quando todos se empenham, cooperam e se esforam possvel encontrar as solues e viver em paz e harmonia, como se tocssemos o cu. (rever)

A cidade dos direitos

Jogo para relacionar os direitos humanos com as instituies. Temos dez cartes com instituies (uma escola; uma casa; um hospital; um jardim infantil; uma igreja; uma biblioteca; um parque infantil; uma famlia, amigos, brincadeiras); as crianas podem escolher os cartes e falar sobre eles; cada carto pode ter atrs um procedimento que o educadora l e o menino tem que cumprir (exemplo: tens dizer a um colega que gosta dele; tens de pedir desculpa; cumprimentar uma pessoa, ...)

Exemplo de histrias simples que as educadoras podem explorar

Apresentamos duas histrias com questes de direitos humanos, a partir destes exemplos a educadora poder criar, recolher ou reinventar outras mais, mesmo dos contos tradicionais.

- Os ovos misteriosos da Lusa Ducla Soares [5]

Era uma vez uma galinha que cansada de pr ovos e no poder ter nenhum filho, pois todos os dias a dona lhe tirava o ovo do ninho, resolveu fugir para a mata.

Fez um ninho muito bem feito, ps um ovo e foi procura de comida. Quando regressou, verificou que no tinha apenas um ovo mas cinco ovos de cores e tamanhos diferentes. ado algum tempo, os ovos comeam a estar, nasceu primeiro um papagaio, depois uma serpente, a seguir uma avestruz, um crocodilo e finalmente o pintainho. Afinal o que era aquilo, seriam todos filhos dela? To diferentes? O que iria ela fazer agora?

Pensou e resolveu cuidar de todos igualmente. Mas muitos problemas ia ter de ar, o papagaio voava e ela no sabia voar, o serpente metia-se nos buracos e ela era gorda de mais para l caber, o crocodilo nadava e ela no sabia nadar, a avestruz, comia, comia, e ela no tinha tanta comida. Mas, mesmo com estas dificuldades, cuidava e tratava de todos.

Um dia chegou floresta um rapaz que resolveu apanhar o pinto para comer. Quando os irmos viram o pinto em perigo, todos se uniram para o defender. A serpente mostrou o seu veneno e preparou-se para picar o menino e o crocodilo abriu a boca pronto para o comer. O menino com medo fugiu, ento o papagaio comeou a cantar para chamar a ateno de um polcia que veio ver o que se ava, enquanto a avestruz corria atrs do menino, este, atrapalhado, deixou cair o pinto que levava debaixo do brao. O pinto subiu para as costas da irm avestruz e foram para casa festejar. A me fez um bolo muito bonito, com cinco andares, milho para o frango, peixe para o crocodilo, fruta para o papagaio, ratos para a serpente e pregos e berlindes para a avestruz. Comem, divertem-se, sentem-se e cuidam-se como irmos e vivem felizes.

Este um resumo da histria que permita educadora diferentes exploraes, trabalhando valores, temas e questes ligadas diversidade, no-discriminao, pluralidade de culturas, etc.

A menina do avental mgico, de Conceio Lopes

Uma menina ouve os pais falar sobre a paz, mas no compreende. Sai para o quintal com um aventar enrolado na mo. De repente, o avental comea a escorregar, a abrir-se e a deixar sair sons, o som do piano, do beb que ri, do mar, da flauta, do xilofone, etc. Vai ouvindo, ouvindo, at que os sons se juntam numa linda orquestra, afinada, onde nada est fora do lugar, onde todos participam e colaboram para fazerem uma bela melodia, suave, boa e terna. Ento, a menina entende o que a paz: uma msica onde todos os instrumentos, sem desafinarem, do o melhor de si.

Esta histria - aqui muito resumida - permite educadora trabalhar a noo de paz e dos sentimentos que experimentamos quando vivemos em harmonia, querendo todos fazer o melhor possvel.

O livro dos direitos [6]

O livro tem 20 pequenas histrias, relatando casos de violao de direitos humanos, significativas para os meninos dos jardins de infncia, descritas de forma simples e clara, expondo problemas de direitos humanos. So sempre trabalhadas com o grupo dos alunos, mas depois os alunos podem levar a histria para casa e procurar, junto dos pais, dos irmos, encontrar solues.

1 O menino que todos os dias trabalha antes de ir para a escola

2 O menino que sofre maus tratos

3 O velho que pede esmola na esquina da rua

4 Os gritos l em casa, sobre violncia domstica

5 O menino discriminado por no ter sapatilhas

6 - O senhor que precisa de comprar remdios e no tem dinheiro

7 Os imigrantes que vem de longe vendendo objectos pela cidade

8 A menina que tem os pais em Portugal e quer ir ter com eles

9- O menino que no tem casa e vive na rua

10 A horta no tem alimentos, o problema da seca

11 A menina que no foi convidada para os anos por ser muito pobre

12 O menino que no atravessou na adeira

13 O menino que ficou doente por beber gua contaminada

14 Meninos que fogem do cheiro amontoado na cidade

15 A me que despedida e no consegue arranjar emprego

16 O pai que abandona os filhos e a me no sabe como arranjar dinheiro para eles

17 O menino doente porque no foi vacinado

18 As crianas que no tem carto do mdico, no podem ser atendidas

19 A festa, onde os catlicos, os protestantes, do as mos

20 A av que vive sozinha

Exemplo de poesias que podem ser trabalhadas

A educadora deve seleccionar, inventar com os alunos poesias sobre os direitos humanos que depois pode trabalhar.

A Paz

as guerras

a acabarem.

os pssaros

a voarem

a criana a brincar

Sem os pais a ralharem

A paz

a riqueza

que vive na natureza

E tambm

o sol a brilhar

E o mar a

acabar

(Jos Ricardo, 9 anos in Um mundo de crianas, Oikos-Unicef)

Gosto de ti

Vento ou e disse:

Gosto de ti

E a flor abriu-se em ptalas

de todas as cores.

A onda ou e disse:

Gosto de ti

E na praia a areia

Ficou muito lisa

(...)

O sol ou e disse:

Gosto de ti

E o trigo muito loiro

Acenou com as espigas maduras.

O amigo ou e disse:

Gosto de ti

E o corao

Ficou a danar de alegria.

(Leonor Santa Rita, in Gosto de ti)

4 PROPOSTA DE MATERIAIS A CONSTRUIR

A ideia deste captulo tem como justificao os princpios pedaggicos enunciados, j enunciados. A constatao de que as crianas precisam de ter materiais para interagir, para construir vivncias e conhecimentos. Da a ideia de propor a construo de um conjunto de materiais que possam ajudar a aco da educadora.

Devem adequar-se aos contedos do programa direitos humanos, cidadania e cultura da paz , s metodologias envolvidas e s actividades que se pretendem desenvolver. Portanto, quando planeamos a construo dum material, temos de pensar o que e como vamos trabalhar. *

Materiais possveis, alguns deles j referidos nas actividades

- Os nossos direitos

Adaptar, usando uma linguagem simples, os 10 princpios fundamentais da Declarao dos Direitos da Criana (1959) igualdade todas as crianas do mundo so iguais, no importa a cor, o sexo, a religio, ; 2 - proteco especial para o seu desenvolvimento fsico, intelectual e moral; 3 - ter um nome e uma nacionalidade; 4 ter segurana e cuidados especiais antes e depois de nascer; 5 6 7 educao, o direito a ir escola; 8 ser protegida e socorrida em 1 lugar (rever e completar)

Criar para cada um uma pequena histria e um cartaz (tamanho A3)

O jogo dos direitos/tipo jogo da glria

O jogo vai permitir criana reconhecer direitos, trabalhar atitudes, etc.

Direitos humanos em aco/o livro dos direitos

Jogo para trabalhar a resoluo de problemas de direitos humanos, agindo, procurando ajudas e solues.

Recolha de histrias, poesias, lengalengas, que tratem questes de direitos humanos.

Construo de fantoches

Construir fantoches com meninos diferentes (um negro, um branco, um ndio, um chins) para viverem juntos situaes, experincias, etc.

Recolha de msicas e canes/gravar uma cassete

Canes recolhidas, adaptadas, criadas sobre os temas. Gravao de uma cassete.

(*se houver oportunidade, ser desenvolvido um projecto para a construo destes materiais, que seriam reunidos numa maleta pedaggica)

5 - MATERIAIS E RECURSOS

(incluir bibliografia, sites, .... )

Anexos:

os princpios fundamentais da Conveno dos direitos da criana

a verso simplificada da Conveno dos direitos da criana

A verso simplificada da DUDH



[1] (colocar a referncia bibliogrfica)

[2] Histrias como a da for podem ser criadas e trabalhadas.

[3] Estes grupos de direitos, com que todos os outros direitos se relacionam correspondem aos princpios fundamentais da Conveno dos Direitos da Criana (CDC).

[4] Estes casos faro parte do Livro dos direitos (material a construir).

[5] O livro tem imagens muito sugestivas, que podem ser um material excelente para ser explorado com os alunos.

[6] Este material inspira-se na caderneta Direitos humanos em aco, Conceio Lopes e Alice Vieira,Civitas Aveiro, 2003. Nem todos os caso podem ser adaptados realidade e aos problemas de direitos humanos vividos ou observados pelas crianas cabo-verdianas, por isso foram criados histrias novas.


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