Projecto 1h6xf
Integrao
do ensino dos direitos humanos,
cidadania e cultura da paz nos
currculos de Cabo verde
Programa
e Guia para os Educadores
Nvel
de Ensino: Pr escolar
Abril
2005
INTRODUO
1
Aspectos de enquadramento e
justificao
A
Lei de Bases do Sistema Educativo
cabo-verdiano (lei n. 103/III/90)
reconhece a importncia da educao
pr-escolar, salientando aspectos
como o desenvolvimento equilibrado
das potencialidades da criana,
contribuindo para o processo de
socializaoe o desenvolvimento
de comportamentos reflectidos
e responsveis, na integrao
social e escolar das crianas
dos 3 aos 6 anos.
Estes
objectivos de aprendizagem encontram
fundamento em dados da psicologia,
que referem o desenvolvimento
das capacidades sociais a par
das cognitivas e emocionais.
portanto necessrio (e importante)
trabalhar valores e atitudes,
desde o incio do percurso educativo,
altura em que as crianas alargam
consideravelmente o seu ambiente
social, acrescentando ao contexto
familiar o contexto do jardim
de infncia.
Em
consonncia com a Lei de Bases,
as Orientaes Curriculares do
igual nfase ao desenvolvimento
integral da criana, a partir
de quatro reas de contedo: Desenvolvimento
Pessoal e Social, Comunicao
e Expresso, rea Expressiva e
Conhecimento do Mundo.
Importa
salientar, uma vez que consideramos
que relevante, a concepo de
um currculo desenvolvido em reas
de contedo. As reas so espaos
flexveis e alargados, onde se
articulam saberes e vivncias,
possibilitando situaes de aprendizagem
numa perspectiva global e integrada.
Tendo
em conta o que acabamos de referir,
a questo saber como podemos
enquadrar a integrao do novo
programa de direitos humanos,
cidadania e cultura da paz, no
ensino pr-escolar.
Dada
a natureza e o carcter transversal
dos seus contedos, pensamos que
podem (e devem) ser trabalhados
em todas as reas, tanto em situaes
de aprendizagem planificadas como
informalmente, ao nvel das atitudes
e dos procedimentos, que todos
desenvolvemos sempre que estamos
em situao de relao e interaco
com os outros.
Podem
ser abordados, de modo particular,
na rea de Desenvolvimento Pessoal
e Social, visto muitos dos seus
contedos se situarem no mesmo
campo de finalidades e objectivos
e, por isso, poderem ser trabalhados
de forma integrada e complementar,
nomeadamente, os valores pessoais,
de autonomia e responsabilidade
e os valores relacionais de ateno
ao outro, respeito, cooperao
e solidariedade.
O
que justifica ento este novo
programa? Pelo menos dois objectivos
fundamentais: por um lado, a existncia
de temas e questes especficas
de direitos humanos, cidadania
e cultura da paz - que necessrio
definir e enquadrar; por outro,
a importncia de trabalhar esses
valores, atitudes e comportamentos
interpessoais e sociais na perspectiva
do ser humano, da participao
cvica e da resoluo pacfica
dos problemas , portanto, necessria
uma particular ateno sua abordagem
pedaggica.
Vemos
que h enquadramento legislativo,
justificao pedaggica e espao
curricular para a sua integrao,
coloca-se, no entanto, o problema
da sua definio e do seu desenvolvimento
pedaggico. Ser muito importante
a construo de um programa com
rigor conceptual e metodolgico,
aberto e flexvel, que constitua,
para os educadores, um importante
quadro referencial, capaz de os
ajudar a clarificar conceitos
e a perspectivar prticas motivadoras.
2
- Princpios orientadores da definio
e do desenvolvimento do programa
Consistncia
interna entre contedos, objectivos,
gerais e especficos, e situaes
de aprendizagem propostas;
Abordagem
integrada dos temas de direitos
humanos, cidadania e cultura da
paz, salientando as suas relaes
e implicaes, numa perspectiva
transversal e global, em conformidade
com as orientaes curriculares;
Metodologias
consistentes com os princpios
da interaco e da construo
de novas aprendizagens, tendo
presente que as crianas adquirem
novos conhecimentos, com base
nas experincias e saberes que
possuem, em interaco permanente
com o que as rodeia explorando,
experimentando, descobrindo e
vivenciando.
Compreender
que tm, tal como todos os outros,
qualidades que s pertencem s
pessoas, com as quais nascemos
e que devemos poder desenvolver;
Comear
a construir a noo de direito,
compreendendo que h coisas sem
as quais no podem viver bem e
felizes e que, por serem necessrias,
devem ser asseguradas;
Compreender
que no podemos viver sem os outros,
sem nos relacionarmos e interagirmos
com eles;
Conhecer
os seus direitos partindo de si
e das suas necessidades, identificando
na comunidade as instituies
que os devem assegurar;
Adquirir
sensibilidade prtica e ao respeito
pelos direitos, de modo a construirmos
uma sociedade com menos conflitos
e onde se respeitem as regras.
Programa
Temas |
Objectivos |
Situaes
de aprendizagem/Proposta
de Actividades |
1.
Eu...
-
Sou capaz: de pensar,
falar, ter ideias, imaginar,
fazer coisas, rir, chorar
...;
-
h coisas de que preciso/tenho
o direito a ter (famlia,
cuidados, proteco, alimentos
...); - h coisas que
desejo/era bom ter (um
carrinho elctrico, ...).
|
-
Desenvolver a capacidade
de se valorizar a si prprio;
-
Descobrir que tm capacidades,
tal como todos os outros
meninos e pessoas;
-
Compreender que pode sempre
fazer mais coisas, porque
pensa e aprende coisas
novas;
-
Identificar o direito
com uma coisa mesmo necessria
sua vida;
-
Distinguir as necessidades
dos desejos;
-
Desenvolver a confiana
em si mesmo, a autonomia
e a responsabilidade |
-
Dilogo com os alunos;
reunies em crculo;
-
Explorao de situaes
reais ou hipotticas;
questionar sobre as boas
qualidades dos amigos,
dos pais, dos avs, etc.;
-
apontar diferenas entre
as pessoas e os animais;
enumerar as qualidades
que s as pessoas tm
falar, pensar, escutar,
ajudar, rir,)
-
Relato e explorao de
pequenas histrias;
-
Jogos para relacionar
as necessidades com os
direitos, partindo de
situaes concretas;
-
Recordar situaes em
que algum as fez rir;
chorar, sentir felizes,
aborrecidas, tristes,
(explorar sentimentos
humanos)
... |
2.
Vivo
com os outros ...
A
minha famlia; os meus
vizinhos; os meus amigos;
os meus colegas; ...
Em
...
casa,
na escola, na rua, na
praa, no mercado, na
catequese, na igreja,
no campo de futebol, no
posto mdico, |
-
Identificar as pessoas
da famlia mais prximas;
-
Compreender a importncia
da famlia e do amor dos
pais;
-
Relacionar determinados
momentos familiares com
sentimentos partilhados;
-
Compreender a importncia
de ter amigos;
-
Aprender que os amigos
se devem respeitar e cuidar;
-
Compreender que vivemos
com os outros em diferentes
contextos;
-
Relacionar esses contextos
com instituies da sociedade
-
Desenvolver valores como
a amizade, a interajuda,
o respeito, o cuidado,
a cooperao, a estima |
-
dilogo sobre situaes
familiares (nascimento
de irmos/alegria; visitas
de familiares, etc.);
-
desenhar a prpria famlia
e os momentos de vida
em familiar;
-
explorar os diferentes
papis (da me, do pai,
dos irmos;);
-
contar histrias que permitam
trabalhar valores interpessoais
(amizade, interajuda,
respeito, solidariedade,
cooperao);
-
jogos de papis sobre
momentos de encontro,
partida, discusso, ternura,
;
-
explorar os valores da
amizade, atravs de histrias,
situaes quotidianas,
imagens (ser simptico,
ajudar, querer bem, contar
segredos, convidar,);
-
Criar e descrever amigos
imaginrios (nome, pas,
famlia, idade, brinquedos,
)
... |
3.
Conheo
os meus direitos ...
no
posso deixar de ter um
nome; um pas; uma lngua;
uma famlia; cuidados;
proteco; alimentos,
roupa, casa; educao;
brinquedos, ...
Sei
que eles dependem...
de
mim; da minha famlia;
do jardim infantil; do
posto mdico; do hospital;
da polcia; dos bombeiros
... |
-
Ir desenvolvendo a noo
de ter direitos;
-
Identificar capacidades
prprias que tm a ver
com direitos individuais;
-
Identificar aspectos da
sua vivncia que tm a
ver com direitos sociais,
econmicos e culturais;
-
Compreender que os direitos
dependem das instituies;
-
Relacionar os seus direitos
com as respectivas instituies;
|
-
explorao de materiais
construdos com base na
Conveno dos Direitos
da Criana,
-
Dilogo com as crianas:
o que que vocs precisam
para viver bem e felizes?
(ex. famlia, comida,
casa, roupa, sapatos,
vesturio, .,);
-
Trabalhar situaes de
direitos da criana partindo
de histrias; situaes
vividas observadas ou
imaginadas;
-
Descrever gravuras, imagens
com situaes de direitos
violados;
-
explorar jogos
-
fazer jogos de papis;
-
Visitas de estudo a instituies;
(
a rever e a completar...)
|
4.
Vivo
os direitos ...
-
dou opinies (falo, dou
sugestes ...); participo
nas escolhas (tarefas,
regras, ..; ); - ajudo
a resolver os problemas
(quando h brigas, chamam
nomes a algum ...); cumpro
regras (da sala, do recreio,
de casa, ...); colabora
com os outros; trabalhos
em grupo; ....
Construo
a paz ...
Situaes/problemas
vividas no jardim infantil;
problemas de direitos
humanos (o menino que
trabalha antes de ir para
a escola, o menino que
sofre maus tratos; o velho
que pede esmola na esquina
da rua; os gritos l em
casa; menino discriminado;
o senhor que precisa de
comprar remdios e no
tem dinheiro ...) |
-
Desenvolver a capacidade
de por em prtica os direitos;
-
Compreender a importncia
da participao nas decises
que tm a ver com os interesses
de todos;
-
Compreender que possvel
sempre resolver as coisas
a bem;
-
Perceber que necessrio
cumprir regras, respeitar
e ajudar os outros para
construi o bem estar de
todos;
-
Compreender que precisamos
resolver pacificamente
os problemas;
-
Ser capaz de procurar
ajudas para resolver os
problemas;
-
Perceber que precisamos
reunir esforos para resolver
os problemas |
-
explorar situaes concretas
que levem tomada de
atitudes e a aces;
-
construir regulamentos
simples;
-
Explorar situaes de
resoluo de problemas;
-
executar tarefas em colaborao;
-
explorar jogos de regras
e atitudes
-
ler e explorar com as
crianas pequenas histria
sobre os casos de violao
dos direitos humanos que
pretendemos abordar;
-
em reunies em crculo
procurar solues, levar
as crianas a escolher
a melhor soluo;
-
fazer desejos, para fazer
um ;
-
inventar recados para
mandar para as pessoas
que deviam ajudar a resolver
o problema e no ajudaram:
|
GUIA
DE APOIO AO EDUCADOR
INTRODUO
O
objectivo fundamental deste guia
ajudar as educadoras a implementar
com sucesso um programa de direitos
humanos, cidadania e cultura da
paz, tanto ao nvel dos conhecimentos
fundamentais como do trabalho
pedaggico a desenvolver.
Apresentaremos,
atravs duma abordagem clara e
vel, os diferentes pontos
do programa, desde os temas e
questes a abordar, s metodologias,
actividades e materiais a utilizar
e a construir.
Ser
estruturado em cinco pontos:
Explicitao
de conceitos e enquadramento dos
temas
Estratgias
metodolgicas
Sugesto
de actividades
proposta
de materiais a construir
Recursos
No
primeiro ponto, faremos a apresentao
dos temas e questes do programa,
explicitando-os e fornecendo pistas
para os enquadrar e desenvolver.
No segundo ponto, apresentaremos
os princpios do trabalho pedaggico
e apresentaremos de forma sucinta
as metodologias que consideramos
adequadas para trabalhar os direitos
humanos, a cidadania e a cultura
da paz com as crianas do ensino
pr escolar. No terceiro ponto,
faremos a sugesto de actividades
possveis de poder ser aplicadas
em diferentes situaes e a propsito
de diferentes temas. No quarto
ponto, faremos referncia a materiais
e recursos
Como
deve ser usado o guia
Alguns
pressupostos devem ser tidos em
conta
-
O domnio global quer do programa
quer do guia. Deve a educadora
conhecer todos os aspectos, potencialidades
e possveis lacunas para que possa
rentabilizar o material e as informaes
colocadas sua disposio;
-
Considerar o guia como um auxiliar
do trabalho, em complementaridade
permanente com o programa, tendo
em conta os princpios orientadores,
os objectivos, os contedos e
as sugestes de actividades.
os
para trabalhar os temas e questes
-
Para qualquer tema que pretenda
trabalhar com as crianas a educadora
encontra no primeiro ponto algumas
noes e informaes, que pode,
obviamente, completar com pesquisa
autnoma recorrendo quinto 5 onde
encontra a indicao de recursos;
-
Escolhido o tema ou questo, deve
pensar quais as melhores metodologias
para o abordar. No segundo ponto,
encontra no apenas a explicitao
dos princpios que devem orientar
o seu trabalho pedaggico mas
tambm a descrio das estratgias
de modo a desenvolv-las adequadamente;
-
A seguir pode procurar sugesto
de actividades no terceiro ponto,
podendo utilizar as indicadas,
adaptando-as se necessrio ao
seu grupo, construindo outras
similares, etc.
-
No quarto ponto encontra ideias
para a construo de materiais.
1
EXPLICITAO DE CONCEITOS E
ENQUADRAMENTO DOS TEMAS
Os
conceitos sero explicitados por
rea de contedo, em conformidade
com o programa. O critrio foi
colocarmo-nos no papel da educadora
e pensar os temas e as questes
em funo dos meninos, referindo
mesmo estratgias e situaes
de aprendizagem.
1.1
Eu ...
Neste
ponto, a preocupao fundamental
levar as crianas a conhecer
e a valorizar as qualidades prprias
das pessoas, reconhecendo o que
necessrio ao seu desenvolvimento
e relacionando estas necessidades
com os direitos humanos. Os valores
fundamentais a trabalhar so a
confiana em si prprio, a autonomia
e a responsabilidade.
-
Sou capaz o objectivo
compreender que todos temos
capacidades
As
crianas devem aperceber-se que
tm capacidades naturais, tal
como a me e o pai, os irmos,
os amigos, os avs, etc., e que
precisam de as desenvolver. Todos
podemos pensar, falar, criar,
imaginar, inventar, resolver problemas
e ir procura de solues. Todos
temos essas qualidades, mas precisamos
de as desenvolver, pouco a pouco,
com a ajuda das pessoas com quem
vivemos e estamos.
Explorar
com as crianas as questes da
comunicao e da linguagem, por
exemplo, a importncia dos nomes,
para nomear os objectos e poder
falar deles, relacionando-os consigo
prprio e com as outras pessoas.
O simples identificar e relacionar
so j tarefas do pensar que
cada um vai poder realizar cada
vez melhor. Explorar igualmente
a capacidade de criar e fazer
coisas novas - cumprimentar, desenhar,
colaborar, ajudar a cuidar do
jardim, da casa, etc.
Aprender
coisas novas no apenas para
as crianas, todos aprendemos
ao longo da vida, nunca deixamos
de aprender. Os avs tambm aprendem
coisas novas, eles prprios podem
ensinar alguma coisa aos avs
por exemplo, a msica ou o jogo
que aprenderam - mas claro que
eles tm muito mais para lhes
ensinar, tal como os pais e a
educadora, porque vivem h mais
tempo, so mais crescidos, mais
velhos. Vamos aprendendo medida
que vivemos e aprendemos sempre
uns com os outros, quando estamos
juntos e conversamos, quando ouvimos
histrias, quando brincamos, quando
vemos televiso, etc. Ningum
pode dizer eu sei tudo, mas
todos podem dizer eu sou capaz
de aprender mais.
-
H coisas que preciso -
o objectivo compreender as necessidades
humanas
As
crianas, e todas as pessoas,
para continuarem a aprender, a
viver bem e a ser felizes tm
necessidade de algumas coisas.
Coisas to importantes que se
no as tivermos pomos em causa
a sade, a segurana e at a prpria
vida.
Levar
as crianas a compreender que
todos precisamos dos cuidados
da famlia, dos amigos, dos mdicos,
dos professores, etc., mas que
elas precisam de cuidados especiais
por serem pequeninas, fazer-lhes
notar que at j precisaram mais
do que agora, quando eram bebs
e algum tinha de lhes dar a comida,
de os vestir, etc. Ao crescerem,
comeam a fazer coisas sozinhas,
ainda poucas mas que iro aumentando
na medida em que forem capazes
de realizar novas tarefas, ganhando
autonomia e confiana em si prprias.
Precisam
tambm de alimentos, vesturio,
brinquedos, educao e cuidados
mdicos - aqui podem ser trabalhados
os direitos sociais como o emprego
dos pais, de onde vem o dinheiro
para comprarem alimentos, medicamentos,
etc.
Tudo
isto que necessrio ao crescimento
e ao desenvolvimento de qualquer
ser humano pertence (e deve ser
dado) a todas as pessoas, desde
os bebs mais pequeninos aos avs
mais velhinhos, vivam onde viverem.
-
H coisas que tenho o direito
a ter - o objectivo perceber
que as necessidades humanas so
direitos humanos
Levar
a criana a compreender que tudo
aquilo de que precisa famlia,
alimentos, vesturio, casa, escola,
brinquedos, tempo para brincar,
ir igreja, associao, casa
dos avs, etc. so direitos
dela.
O
conceito de direito , porventura,
muito difcil de explicar a crianas
desta idade, mas no h outra
maneira seno, sem alterar o seu
significado, falar deles de forma
simples e vel, com exemplos
concretos, com imagens, histrias,
etc. Por exemplo, podemos dizer-lhe:
ter um direito receber uma
coisa que j te pertence, uma
coisa que tua, e que algum
est encarregue de te dar, podem
ser os pais, os professores, os
avs, os mdicos, etc. Os que
esto encarregues no podem esquecer-se,
tm de fazer tudo para te darem
o que te pertence, para cuidarem
bem de ti.
Imagina
que tinhas de cuidar de uma flor,
muito pequenina, fininha, mas
com uma raiz forte, o que que
tu deves fazer para cuidar bem
dela, para que venha a ser uma
flor bonita e perfumada? Tens
de plant-la em terra boa, reg-la
e deix-la apanhar sol (mas no
muito, para no se queimar). Tal
como a flor, tens direito a cuidados
para cresceres bem e forte, sem
eles podem acontecer coisas desagradveis,
no caso da tua flor, podia murchar
ou crescer muito fraquinha. Tu
achas que podes descuidar-te em
relao tua flor? Acho que no.
Tambm os pais, os professores,
os mdicos, os avs, etc., no
podem descuidar-se em relao
a ti.
A
educadora pode explorar com histrias
simples outras necessidades/direitos
relativas aos alimentos, roupa,
famlia, s brincadeiras, aos
mimos dos pais, s vacinas, etc.
-
H coisas que desejo ter -
o objectivo compreender a diferena
entre necessidades e desejos humanos
A
educadora deve mostrar que nem
tudo o que queremos e temos vontade
de ter necessrio ao crescimento
saudvel e feliz a que todas as
crianas tm direito. Podem comear
por conversar com elas sobre o
que gostariam muito de ter, as
coisas que gostavam de pedir aos
pais, no dia de anos, no Natal,
etc. Aos pedidos das crianas
por exemplo, um jogo, um casaco,
uns tnis, uma boneca, ...- a
educadora vai fazendo notar o
que mesmo necessrio, o que
pode ser substitudo por outra
coisa e o que desnecessrio,
mesmo sendo coisas que desejem.
Nem
sempre o que desejamos uma necessidade
e por isso se os pais no podem
comprar no compram, se no podemos
ter no temos. Por exemplo, no
precisamos ter uma bola muito
cara, basta uma bola vulgar e
amigos para jogar. Valorizar o
que se tem e o que efectivamente
necessrio, procurando mostrar
a questo das prioridades - pode
comear aqui a educao para o
consumo, no podemos ter o brinquedo
anunciado na televiso, mas temos
outro que faz as mesmas vezes,
o que necessrio (necessidade/direito)
poder brincar.
1.2
Vivo com os outros ...
Neste
ponto, a preocupao fundamental
da educadora desenvolver nas
crianas competncias relacionais
e sociais que facilitem o viver
em comum. Os valores fundamentais
a trabalhar so a amizade, o respeito,
o cuidado, a colaborao e a solidariedade.
So
conceitos veis, prximos,
porque so vividos pelas crianas.
Pensamos que importante trabalhar
a noo de cuidado, o que significa cuidar e quais
os cuidados que cada um necessita.
H nestas noes uma dimenso
de afectividade, de sensaes
e sentimentos, que no podemos
deixar de tratar.
Outro
aspecto, a ideia de que no
podemos viver sozinhos o incio
da noo de sociedade e de cidadania.
Viver com os outros uma necessidade
(um direito humano) e isso significa
ser capaz de comunicar, de dialogar
e de estar atento para poder participar
e ajudar. Podemos desenvolver
atitudes como estas: eu estou
disponvel para te ouvir, para
te contar histrias, para te levar
escola, para te ajudar a construir
o jogo, etc. Tu ests disponvel
para pr a mesa, para me cantares
uma cano, para me fazeres um
desenho, etc. Tambm muito
importante a ideia de criar laos,
de nos ligarmos s pessoas, por
exemplo, inventando palavras bonitas
para dizer me, ao pai, educadora,
mandando recados alegres, contando
segredos, etc.
Vivemos
em espaos sociais, onde h outras
pessoas, podem ser familiares,
amigos ou simples conhecidos,
mas onde, em qualquer dos casos,
temos de respeitar regras de convivncia
cumprimentar, escutar, pedir
licena, agradecer, etc. - devem
explorar-se os contextos prximos
dos alunos, relacionando-os com
as pessoas e as instituies.
Na relao entre as pessoas importa
identificar o papel de cada um,
como se relacionam, se respeitam
e ajudam.
Em
casa identificar os membros
da famlia, os pais, os irmos
e os avs; o que fazem, como se
relacionam com ele, etc.; no jardim
infantil identificar as
pessoas, saber o que fazem, partilhar
brincadeiras e tarefas com outros
meninos e com a auxiliar e a educadora;
na rua ou na praa
identificar as pessoas que
encontra nesses locais, o que
fazem l, explorar situaes de
brincadeira com os amigos, etc.;
no mercado - explorar as
vivncias das crianas, por exemplo
as idas, saber com quem vo, do
que gostam mais, etc.; na igreja
saber com quem vo, quem
encontram, do que mais gostam
mais, etc.; no posto mdico
identificar as pessoas
que a trabalham, o que fazem,
quem cuidam, em que situaes
j foram ao posto mdico, etc.
Para
alm destes, podem explorar-se
outros ambientes sociais relacionados
com a vida dos alunos festas
tradicionais, romarias, reunies
familiares, etc.
Para
trabalhar estas questes, podem
fazer-se jogos deste tipo: vamos
abrir a janela para praa; o que
vem?; meninos a brincar, velhos
sentados a conversar, uma av
com um neto ao colo, dois meninos
de bicicleta, ..; vamos abrir
a janela para o posto mdico;
o que vem?; um menino doente,
uma enfermeira a cuid-lo e um
pai; vamos abrir a janela para
a casa da av. O que vem? (...).
1.3
Conheo os meus direitos ...
Neste
ponto, a preocupao da educadora
deve ser a de levar as crianas
a conhecer e a dar valor a tudo
o que precisam para crescerem
e viverem bem, tendo em mente
os quatro grandes grupos de direitos
direito sobrevivncia; direito
ao desenvolvimento; direito
proteco; e direito participao.
Os
direitos devem ser abordados de
forma muito simples, sempre ligados
a situaes concretas, de preferncia
do quotidiano das crianas, sem
falar em declaraes, conveno
ou artigos. Mas podemos sempre
falar das questes, por exemplo
da Declarao Universal dos Direitos
Humanos, contando uma histria
por causa das guerras, de muitos
meninos e pessoas sem comida,
sem escola, sem casa, etc. os
homens que mandavam no mundo fizeram
um acordo e criaram leis para
proteger a vida das pessoas ...
A
criana tem direitos individuais,
direito a falar, a dar
opinies e a participar
dentro das suas possibilidades
e sempre com a ajuda dos pais
e outros adultos.
Ter
um nome muito importante,
para que os outros nos possam
identificar e referir-se a ns.
As crianas aperceber-se-o que
para alm do nome prprio tm
nomes iguais aos dos irmos que
vem do pai e da me - podem explorar-se
nomes prprios e familiares. Mostrar
tambm a importncia de tratar
as pessoas pelo nome - o Joo,
o Pedro, a Filipa, etc. Alis,
quando conhecemos algum a primeira
coisa que queremos saber o nome,
para nos podermos relacionar com
ela.
Ter
um pas onde nascemos e
vivemos com a nossa famlia,
habitando uma casa, situada no
campo ou na cidade. importante
reconhecer o nome do pas, da
ilha, da cidade, da aldeia ou
do bairro. Podem fazer-se jogos,
por exemplo, no ptio do jardim
infantil desenham-se crculos
com o nome das ilhas e depois
criam-se laos entre elas, atravs
de brincadeiras as crianas aprendem
os nomes e referem possveis coisas
que conheam, at porque podem
ter familiares nessas ilhas. O
pas tambm tem uma lngua,
alis duas lnguas que as crianas
j conhecem e costumam usar, em
casa mais o crioulo e no
jardim infantil mais o portugus.
Direitos
sociais, econmicos e culturais
- trabalhar com as crianas
noes de direitos ligados alimentao,
ao vesturio, educao, sade
e aos aspectos culturais.
A
criana deve comear a relacionar
os direitos. A me e o pai precisam
ter um emprego, os pais podem
ter diferentes empregos, uns trabalham
na agricultura, outros na pesca,
outros no turismo, outros nos
servios pblicos. Todos precisam
de ganhar dinheiro para ter uma
casa, comprar alimentos, livros,
roupa, cadernos, etc.
Ouvir
histrias sobre tradies e costumes
populares, sobre a vida de meninos
que vivem noutros lugares, so
oportunidades para abordar traos
da cultura cabo- verdiana mais
uma vez a educadora pode criar
histrias simples era uma vez
um menino que no gostava de cachupa
e ento av contou-lhe que ...,
outras vezes podem ser histrias
sobre o batuque, a seca, as romarias
populares, etc. Aprender jogos
tradicionais e canes de roda
igualmente importante para ouvir
falar da vida das pessoas.
Explorar
situaes de jogo e brincadeira
em que haja regras, participao
e cooperao com os outros, sem
competio, sem querer chegar
em primeiro lugar, apenas querendo
fazer bem feito.
A
segurana depende dos cuidados
que os pais e os outros adultos
lhe prestarem mas tambm dele
prprio. Podem explorar-se situaes
em que a criana pode correr riscos
correr sozinho pelas ruas, perder-se
no mercado se largar a mo da
me ou da av, sair de casa sem
ordem da me, levar um balde de
gua ou um saco de compras muito
pesados, mexer em aparelhos elctricos,
brincar com fsforos, etc.
Sei
que os meus direitos dependem...
A
preocupao da educadora deve
ser a de mostrar s crianas que
os seus direitos dependem dos
pais e das instituies e s vezes
delas prprias.
Trabalhar
com as crianas cada um dos direitos
relacionando-os com a instituio
ou as instituies de que dependem.
Por exemplo, o nome depende da
famlia, podem junto dos pais
saber porque que tm aquele
nome, quem o escolheu e porqu.
Os pais escolhem o nome e vo
registar os filhos no registo
civil e por isso todos os meninos
tm uma cdula. A alimentao,
depende dos pais, mas se os pais
no tem possibilidades devem procurar
ajuda, junto de instituies do
Estado, da igreja, etc. A sade
depende de cada um, comer alimentos
limpos, lavar as mos, beber gua
potvel, mas tambm dos pais,
dar regras de higiene aos meninos,
vacinar, etc.
A
ideia explorar situaes da
vida das crianas, identificando
os direitos e relacionando-os
com as instituies.
1.4
Vivo os direitos ...
A
educadora deve levar as crianas
a compreender que o mais importante
viver os direitos e para isso
ser possvel devemos ser capazes
de ter certas atitudes e fazer
certas aces. Os direitos so
para se porem em prtica no dia
a dia, nos locais onde estamos,
nas experincias e situaes que
vivemos com os outros, em casa,
na escola, na rua, etc.
Praticar
os direitos , por exemplo, dar
opinies, ouvir as dos outros,
escutar, prestar ateno. tambm
participar nas escolhas por
exemplo, na cor do caderno que
vai comprar com a me, na roupa
que vai vestir, na ida ou no
a casa da av, na escolha do jogo
que vai jogar, nas tarefas que
tem de realizar, etc.
Viver
os direitos sentir-se cuidada,
poder alimentar-se, vestir-se,
viver numa casa com as condies
necessrias, ir ao mdico quando
est doente, ir ao jardim infantil,
etc.
...construo
a paz
Levar
a criana a compreender que para
l disto tudo, para viver bem
e feliz necessrio viver em
ambientes tranquilos, sem gritos,
sem pontaps, sem problemas. Para
que isso acontea todos temos
que fazer alguma coisa, pois muitos
meninos vivem em situaes de
medo, de descuido e insegurana
e por isso no podem ser felizes.
Podem
explorar-se situaes conflituais
do dia a dia do jardim infantil,
procurando que as crianas percebam
a quem devem pedir ajuda e o que
podem e devem fazer para viverem
em paz, contentes e amigas.
Seria
tambm importante abordar problemas
de direitos humanos vividos ou
observados pelas crianas, no
sobre casos e pessoas que conheam
mas a partir de pequenas histrias,
que descrevam com clareza a questo
que se pretende abordar.
2
- ESTRATGIAS METODOLGICAS
2.1
princpios do trabalho pedaggico
Num
programa em que os principais
objectivos so a aquisio e o
desenvolvimento de competncias,
atitudes e valores, ganham especial
relevncia as questes pedaggicas.
Alguns aspectos importa salientar:
-
A qualidade da relao
que a educadora estabelecer com
o grupo de crianas.
Se
o ambiente criado for de segurana,
bem-estar, abertura e afectividade,
as crianas sentem-se ouvidas,
valorizadas, apoiadas e estimuladas,
isso leva-as a desenvolver a auto-estima
e a confiana em si prprias.
As atitudes e as aces da educadora
e demais adultos so decisivas,
pois a imitao, nesta
idade, uma contnua forma de
aprendizagem.
-
Metodologias de interaco
e de construo, com uma forte
vertente ldica.
As
metodologias a adoptar tm de
tornar possvel os objectivos
do programa e basear-se nos princpios
pedaggicos a enunciados. ,
portanto, necessrio proporcionar
criana situaes de aprendizagem
em que possa, permanentemente,
interagir com as pessoas e as
coisas, com o meio social e fsico
que a rodeia. A criana aprende
fazendo, brincando, explorando,
sempre atravs da sua prpria
aco, em situaes de aprendizagem
directa, explorando as suas vivncias
e tambm as situaes relativas
ao quotidiano do jardim infantil,
tanto as rotinas dirias como
os incidentes que a possam ocorrer.
-
Adequao metodolgica,
para cada tema e objectivo deve
escolher-se a melhor estratgia
possvel.
Por
exemplo, se o objectivo trabalhar
competncias relacionadas com
a diversidade, as diferentes culturas
e valores, podemos utilizar histrias,
jogos de faz de conta, dramatizaes;
mas se o objectivo as crianas
compreendam que h sempre uma
forma pacfica de resolver os
problemas, devemos utilizar o
dilogo, a explorao de situaes
reais ou hipotticas, a resoluo
de problemas, a escuta, etc. Contudo,
a prtica mostrar-nos- que a
abordagem pedaggica, tal como
acontece ao nvel dos contedos,
tem de ser integrada, utilizando,
simultaneamente, vrias estratgias
de trabalho, de forma combinada
e complementar.
-
Trabalho significativo,
as crianas devem perceber o seu
valor, para que serve, o que podem
desenvolver, modificar e fazer
melhor. Para tal deve partir da
realidade das prprias crianas,
dos costumes, tradies, regras,
modos de vida e de estar relacionadas
com o seu meio familiar e social.
-
Uma perspectiva globalizante,
permitindo criana explorar
diferentes possibilidades, fazer
diferentes escolhas, ter atitudes
e praticar aces, com tempo e
espao para explorar, associar,
combinar e desenvolver a sua relao
com os outros, com as pessoas
e com o meio, assim, que vai
desenvolvendo valores.
2.2
- Descrio sumria das metodologias
a desenvolver
Com
base nestes princpios, que podem
e devem orientar a prtica pedaggica,
consideramos que algumas das estratgias
e actividades mais importantes
para trabalhar os direitos humanos,
a cidadania e a cultura da paz
com as crianas do ensino pr-escolar
so as que a seguir se apresentam.
O
dilogo/a conversao
uma estratgia sempre presente
em todas as situaes de aprendizagem,
muito importante para facilitar
a interaco e a comunicao.
As conversas podem ser sobre a
vida das crianas, da famlia,
dos amigos, mas tambm sobre os
seus sonhos, os seus desejos e
as suas vivncias. Podem mesmo
criar-se situaes em que a conversa
seja o principal objectivo pedaggico
a atingir, considerada como um
contedo de aprendizagem, desenvolvida
a partir duma histria, duma observao,
etc. Este tipo de actividade,
permite s crianas partilhar
dvidas, curiosidades, descobrir
sentimentos, valores, atitudes
e comportamentos. O dilogo permite
ainda trabalhar regras e atitudes
de interaco social: saber ouvir,
estar atento, escutar, seguir
a comunicao, pedir para intervir,
para responder, etc.
Trabalho
de grupo
uma estratgia importante porque,
ao executarem tarefas comuns,
as crianas podem partilhar esforos,
habilidades e vontades. Nesta
participao, desenvolvem a cooperao,
a inter-ajuda, o sentimento e
o significado de pertena a um
grupo aspectos importantes,
por exemplo, na cidadania. A educadora
deve propiciar trabalhos de grupo
em diferentes espaos sociais,
criando condies e facilitando
materiais.
Contar
histrias
Uma
estratgia fundamental para qualquer
tipo de aprendizagem, na medida
em que permite criana, com
a ajuda da educadora, questionar
determinados comportamentos e
atitudes e atravs disso posicionar-se
em relao a situaes e valores
humanos, aspectos importantes
para o seu desenvolvimento e crescimento
interior. So uma importante oportunidade
para conhecer outras culturas,
ter o com outras realidades
sem a presso de situaes e de
vivncias prximas.
Explorar
situaes
Uma
estratgia til e adequada para
trabalhar valores, atitudes e
comportamentos. As crianas, em
dilogo com as educadoras, vo
elaborando as suas percepes
(percebendo o que vem, observam,
ouvem ou manipulam) construindo
a sua prpria compreenso das
coisas. So momentos para cada
um pode falar, dizer o que pensa,
marcando as diferenas - aspecto
decisivo na construo da identidade.
As
situaes podem ser as do dia
a dia, muitas vezes resultantes
de atitudes de oposio ou conflito
disputa pelo mesmo brinquedo,
pelo mesmo espao, briga por um
lugar, etc. mas tambm podem
ser imaginadas, criadas pelo educador
ou pela prpria criana.
O
objectivo procurar compreender
o que se a, quem est envolvido,
se h ou no diferentes solues
e diferentes modos de actuar.
Explorar
imagens
Seleccionar,
de forma criteriosa e adequada,
a este nvel etrio, um conjunto
de imagens (fotografias, desenhos
ou gravuras) de modo a poderem
ser trabalhadas em diferentes
situaes e sobre os mais variados
temas de direitos humanos, cidadania
e cultura da paz.
As
imagens devem ser sempre enquadradas
pelo educador, falar da situao
apresentada, das suas causas e
consequncias levando as crianas
a observar, a descrever e se possvel
a falar dos sentimentos, das necessidades,
dos direitos, das solues, etc.
Podemos partir de perguntas como
esta: O que que vs na gravura?
J alguma vez tinhas visto uma
coisa assim? O menino est alegre
ou triste? O que que achas que
lhe aconteceu? Falta-lhe alguma
coisa importante? O qu?
Jogos
simblicos, de descoberta e de
regras
O
objectivo fazer jogos simples,
criados pelas prprias crianas
e educadoras, a fim de trabalhar
competncias e atitudes interpessoais
e sociais, desenvolvendo, ao mesmo
tempo, a imaginao e a criatividade.
Os
jogos simblicos podem ser aproveitados
para criar situaes de aprendizagem
ao nvel das temticas que queremos
trabalhar. A capacidade da criana
animar objectos e criar situaes
de faz de conta parece infindvel
e sempre renovada.
Os
jogos de descoberta podem lev-la
a saber mais sobre determinadas
questes relacionadas com os direitos
humanos e a cidadania, perguntando,
levando-as a ultraar etapas
e a resolver situaes.
Constituem
oportunidades importantes para
valorizar os conhecimentos e as
vivncias da criana, a sua vontade
de fazer bem, de participar e
de construir.
Os
jogos de regras so importantes
para trabalhar atitudes saber
ouvir, saber intervir, esperar
pela vez, no interromper, etc.
Resoluo
de problemas
uma metodologia boa para trabalhar
valores de dilogo, tolerncia
e cooperao. O objectivo fundamental
ajudar as crianas a compreender
que h sempre uma forma pacfica
para resolver os problemas e isso
a por ouvir os outros, por
colaborar, por juntar esforos.
Podem trabalhar-se situaes do
dia a dia exemplo, dois amigos
teus brincam no recreio e tu tambm
queres jogar, mas no te deixam.
O que que fazes?; Vs meninos
a brigar, o que pensas fazer?
....
Fazer
de conta/jogos de papis
O
faz de conta uma actividade
natural na criana, que podemos
pedagogicamente explorar. As crianas
recriam continuamente a realidade
de forma imaginativa e fantasiosa,
incorporando as suas vivncias
e as suas emoes, agindo em funo
duma imagem, dum sentimento, duma
pessoa, dum animal, dum objecto,
etc.
Este
tipo de jogos tem uma enorme importncia
na socializao da criana, representam
muito bem papis sociais mes
e filhas, mdicos e doentes, professores
e meninos, polcias e bombeiros,
situaes que podem ser aproveitadas
de forma estruturada para trabalhar
valores, atitudes e comportamentos.
Dramatizao
Representar
pequenas histrias, muito simples,
com o objectivo de trabalhar os
direitos da criana, a cidadania
e a resoluo de conflitos. Podem
ser histrias tradicionais ou
no que de forma clara mas tambm
com fantasia e imaginao mostrem
o lado mau e bom da vida das crianas,
dos adultos e do viver em sociedade.
Dramatizar histrias tradicionais,
do universo infantil, com temas
e questes de direitos humanos,
por exemplo de discriminao,
injustias, abandono, etc.
Poesias/Canes/Lengalengas
Trabalhar
canes que permitam desenvolver
atitudes e comportamentos (ex.
se eu fosse um peixinho e soubesse
nadar mandava a Joana o material
arrumar; sentar-se ; ajudar; pedir
desculpa; tirar o avental; preparar-se
para o almoo; etc.).
Criar
pequenas quadras relativas aos
direitos humanos e participao
e music-las. Aliar as canes
mmica, ao movimento e drama.
Expresso
plstica
Qualquer
tema, seja sobre conhecimentos,
valores, atitudes o comportamentos,
pode ser trabalhado ao nvel da
expresso plstica, atravs do
desenho e dos trabalhos manuais,
dentro das possibilidades que
as crianas desta idade apresentam.
Participao
na comunidade/visitas de estudo
Criar
situaes de aprendizagem em diferentes
espaos de sociabilizao, por
exemplo visitando instituies,
participando em festas escolares,
do bairro, da cidade, nas brincadeiras
da rua, nas actividades da associao,
nas feiras, etc.
Promover
actividades entre instituies,
jardins de infncia, escolas,
autarquias, - comemorao do dia
mundial da criana, por exemplo.
Elaborar
regulamentos
So
muito importantes para trabalhar
a relao entre direitos e responsabilidades.
H muitas regras que podem ser
discutidas com as crianas, ao
nvel das atitudes, da resoluo
dos conflitos, do uso dos materiais
e do espao. A criana deve pronunciar-se,
exprimir a sua opinio, a educadora
deve coorden-la a com a dos outros
e procurar chegar a regras comuns.
Deste modo, vai compreendendo
a importncia e a necessidade
das regras, quando vivemos juntos
e partilhamos os mesmos espaos.
As
regras devem ser claras e transparentes
e ser cumpridas, quem no cumpre
dever ter uma sano coerente,
por exemplo, o menino destruiu
as tintas, a sano no pode ser
no ir ao recreio, mas sim ficar
sem pintar, haver reciprocidade.
3
- SUGESTO DE ACTIVIDADES
A
inteno fornecer s educadoras
exemplos de actividades que possam
utilizar em situao educativa
e, ao mesmo tempo, serem sugestes
para a construo de outras semelhantes,
adaptadas ao grupo de crianas,
sobretudo s suas vivncias e
ao que so capazes de compreender.
Situaes
a explorar:
1
Imagina que o teu amigo Pedro
tem um carrinho de que gostas
muito e com o qual queres brincar.
O que deves fazer? Pedes o carrinho
ao Pedro com simpatia, com cuidado?
Fazes um acordo com ele, emprestas-lhe
um brinquedo teu?; Pedes-lhe para
brincarem os dois?; Ameaas o
Pedro se ele no te emprestar
o carrinho?; Vais pedir ajuda
me, educadora?;
2
A Joana zangou-se com o irmo,
ralhou com ele e chamou-lhe de
nomes. O que que tu achas do
comportamento da Joana? O que
achas que ela deve fazer? Tu costumas
pedir desculpa? E a ti costumam
pedir-te desculpa? Quem? O que
que tu achas dos pedidos de
desculpa?;
3
O Joo arrancou uma flor, sem
querer, no ptio da escola. Achas
que o menino deve dizer educadora
o que aconteceu? O que que tu
fazias? ; Achas que o Joo vai
ser castigado? Porqu? Se o Joo
tivesse arrancado por querer,
o que que tu achavas? ; .
Podem
ser criadas, de forma imaginativa
e ldica outras muitas situaes,
que permitam explorar os temas
que a educadora pretende trabalhar.
Jogos
de papis
So
jogos para trabalhar valores,
atravs deles possvel desenvolver
competncias que conduzam a determinadas
atitudes. Explorar relaes interpessoais
e sociais envolvendo instituies
e direitos.
-
Se eu fosse um pai ia levar
os meus filhos ao jardim infantil,
brincava e jogava bola com eles;
trabalhava muito para ganhar dinheiro
para eles, no os deixava abandonados,
levava os meus filhos ao mdico
se tivessem febre, queria saber
onde os meus filhos andavam, );
Se
eu fosse um polcia ajudava as
pessoas, no ava multas, ensinava-as
a portarem-se bem, ;
Se
eu fosse um amigo contava segredos,
ajudava, convidava para a festa
de anos...);
Se
eu encontrasse um tesouro construa
escolas para os meninos, arranjava
muitos empregos, distribua pelas
pessoas mais pobres, arranjava
maneira de construir hospitais,
jardins, comprava jogos e brinquedos
para todas as crianas, ;
Se
eu fosse um rei ou um presidente...;
Se eu mandasse na escola ...,
etc.
Podem
criar-se as mais diversas situaes
e explor-las na medida dos conhecimentos,
das capacidades e da compreenso
das crianas, tendo sempre presente
a perspectiva dos direitos humanos.
Sequncias
de imagens simples para reconstruir
histrias
Os
puzzles dos direitos - construir
e montar puzzles simples. Podem-se
construir com muita facilidade,
basta duas fotocpias do mesmo
desenho, gravura, cartaz, etc.;
colam-se em cartolina para ficarem
mais resistentes; recorta-se uma
delas em peas de puzzle e colocam-se
dentro de um envelope. Os meninos
podem explorar os puzzles em grupo,
a pares, etc.
A
arca dos direitos
As
crianas colocam dentro de uma
caixa objectos seus - material
escolar, brinquedos, roupas calado,
etc. -; fecha-se a caixa e por
uma frestazinha tira-se sorte
um objecto qualquer dos que esto
na arca; as crianas identificam
o objecto; relacionam-no com o
direito respectivo; pode tambm
relacion-lo com a instituio
que deve assegurar esse direito;
e, por fim, podem falar sobre
a violao desse direito (ex.:
a criana tira um lpis diz:
um lpis, serve para escrever
e desenhar, na escola, todas as
crianas devem ter lpis e poderem
ir escola, os meninos que no
tem lpis no podem desenhar ).
O
menino do chapu mgico
A
magia do chapu permite resolver
situaes de direitos humanos;
h diferentes intervenientes que
dramatizam situaes e fazem pequenos
jogos de papis (exemplos: - tenho
o meu filho muito doente e no
tenho dinheiro para o levar ao
mdico; - espere a que eu vou
tentar resolver o seu problema
por magia, aparece uma ambulncia,
bombeiros; um hospital e uma mdico
e um enfermeiro, ...);
-
Encontrei este menino abandonado,
sozinho na rua; - eu vou ver o
que eu posso fazer - por magia,
aparece uma senhora que o leva
para uma famlia, depois aparece
uma pessoa que o quer adoptar
e proteger, ); ...
Tocar
o cu
Jogo
colectivo, em crculo, em que
a educadora explora situaes
simples que envolvam a tomada
de atitudes a favor da paz, mostrando
que quando todos se empenham,
cooperam e se esforam possvel
encontrar as solues e viver
em paz e harmonia, como se tocssemos
o cu. (rever)
A
cidade dos direitos
Jogo
para relacionar os direitos humanos
com as instituies. Temos dez
cartes com instituies (uma
escola; uma casa; um hospital;
um jardim infantil; uma igreja;
uma biblioteca; um parque infantil;
uma famlia, amigos, brincadeiras);
as crianas podem escolher os
cartes e falar sobre eles; cada
carto pode ter atrs um procedimento
que o educadora l e o menino
tem que cumprir (exemplo: tens
dizer a um colega que gosta dele;
tens de pedir desculpa; cumprimentar
uma pessoa, ...)
Exemplo
de histrias simples que as educadoras
podem explorar
Apresentamos
duas histrias com questes de
direitos humanos, a partir destes
exemplos a educadora poder criar,
recolher ou reinventar outras
mais, mesmo dos contos tradicionais.
-
Os ovos misteriosos da
Lusa Ducla Soares
Era
uma vez uma galinha que cansada
de pr ovos e no poder ter nenhum
filho, pois todos os dias a dona
lhe tirava o ovo do ninho, resolveu
fugir para a mata.
Fez
um ninho muito bem feito, ps
um ovo e foi procura de comida.
Quando regressou, verificou que
no tinha apenas um ovo mas cinco
ovos de cores e tamanhos diferentes.
ado algum tempo, os ovos comeam
a estar, nasceu primeiro um papagaio,
depois uma serpente, a seguir
uma avestruz, um crocodilo e finalmente
o pintainho. Afinal o que era
aquilo, seriam todos filhos dela?
To diferentes? O que iria ela
fazer agora?
Pensou
e resolveu cuidar de todos igualmente.
Mas muitos problemas ia ter de
ar, o papagaio voava e ela
no sabia voar, o serpente metia-se
nos buracos e ela era gorda de
mais para l caber, o crocodilo
nadava e ela no sabia nadar,
a avestruz, comia, comia, e ela
no tinha tanta comida. Mas, mesmo
com estas dificuldades, cuidava
e tratava de todos.
Um
dia chegou floresta um rapaz
que resolveu apanhar o pinto para
comer. Quando os irmos viram
o pinto em perigo, todos se uniram
para o defender. A serpente mostrou
o seu veneno e preparou-se para
picar o menino e o crocodilo abriu
a boca pronto para o comer. O
menino com medo fugiu, ento o
papagaio comeou a cantar para
chamar a ateno de um polcia
que veio ver o que se ava,
enquanto a avestruz corria atrs
do menino, este, atrapalhado,
deixou cair o pinto que levava
debaixo do brao. O pinto subiu
para as costas da irm avestruz
e foram para casa festejar. A
me fez um bolo muito bonito,
com cinco andares, milho para
o frango, peixe para o crocodilo,
fruta para o papagaio, ratos para
a serpente e pregos e berlindes
para a avestruz. Comem, divertem-se,
sentem-se e cuidam-se como irmos
e vivem felizes.
Este
um resumo da histria que permita
educadora diferentes exploraes,
trabalhando valores, temas e questes
ligadas diversidade, no-discriminao,
pluralidade de culturas, etc.
A
menina do avental mgico,
de Conceio Lopes
Uma
menina ouve os pais falar sobre
a paz, mas no compreende. Sai
para o quintal com um aventar
enrolado na mo. De repente, o
avental comea a escorregar, a
abrir-se e a deixar sair sons,
o som do piano, do beb que ri,
do mar, da flauta, do xilofone,
etc. Vai ouvindo, ouvindo, at
que os sons se juntam numa linda
orquestra, afinada, onde nada
est fora do lugar, onde todos
participam e colaboram para fazerem
uma bela melodia, suave, boa e
terna. Ento, a menina entende
o que a paz: uma msica onde
todos os instrumentos, sem desafinarem,
do o melhor de si.
Esta
histria - aqui muito resumida
- permite educadora trabalhar
a noo de paz e dos sentimentos
que experimentamos quando vivemos
em harmonia, querendo todos fazer
o melhor possvel.
O
livro dos direitos
O
livro tem 20 pequenas histrias,
relatando casos de violao de
direitos humanos, significativas
para os meninos dos jardins de
infncia, descritas de forma simples
e clara, expondo problemas de
direitos humanos. So sempre trabalhadas
com o grupo dos alunos, mas depois
os alunos podem levar a histria
para casa e procurar, junto dos
pais, dos irmos, encontrar solues.
1
O menino que todos os dias trabalha
antes de ir para a escola
2
O menino que sofre maus tratos
3
O velho que pede esmola na esquina
da rua
4
Os gritos l em casa, sobre
violncia domstica
5
O menino discriminado por no
ter sapatilhas
6
- O senhor que precisa de comprar
remdios e no tem dinheiro
7
Os imigrantes que vem de longe
vendendo objectos pela cidade
8
A menina que tem os pais em
Portugal e quer ir ter com eles
9-
O menino que no tem casa e vive
na rua
10
A horta no tem alimentos, o
problema da seca
11
A menina que no foi convidada
para os anos por ser muito pobre
12
O menino que no atravessou
na adeira
13
O menino que ficou doente por
beber gua contaminada
14
Meninos que fogem do cheiro
amontoado na cidade
15
A me que despedida e no
consegue arranjar emprego
16
O pai que abandona os filhos
e a me no sabe como arranjar
dinheiro para eles
17
O menino doente porque no foi
vacinado
18
As crianas que no tem carto
do mdico, no podem ser atendidas
19
A festa, onde os catlicos,
os protestantes, do as mos
20
A av que vive sozinha
Exemplo
de poesias que podem ser trabalhadas
A
educadora deve seleccionar, inventar
com os alunos poesias sobre os
direitos humanos que depois pode
trabalhar.
A
Paz
as guerras
a
acabarem.
os pssaros
a
voarem
a criana a brincar
Sem
os pais a ralharem
A
paz
a riqueza
que
vive na natureza
E
tambm
o
sol a brilhar
E
o mar a
acabar
(Jos
Ricardo, 9 anos in Um
mundo de crianas,
Oikos-Unicef) |
Gosto
de ti
Vento
ou e disse:
Gosto
de ti
E
a flor abriu-se em ptalas
de
todas as cores.
A
onda ou e disse:
Gosto
de ti
E
na praia a areia
Ficou
muito lisa
(...)
O
sol ou e disse:
Gosto
de ti
E
o trigo muito loiro
Acenou
com as espigas maduras.
O
amigo ou e
disse:
Gosto
de ti
E
o corao
Ficou
a danar de alegria.
(Leonor Santa Rita, in
Gosto de ti) |
4
PROPOSTA DE MATERIAIS A CONSTRUIR
A
ideia deste captulo tem como
justificao os princpios pedaggicos
enunciados, j enunciados. A constatao
de que as crianas precisam de
ter materiais para interagir,
para construir vivncias e conhecimentos.
Da a ideia de propor a construo
de um conjunto de materiais que
possam ajudar a aco da educadora.
Devem
adequar-se aos contedos do programa
direitos humanos, cidadania
e cultura da paz , s metodologias
envolvidas e s actividades que
se pretendem desenvolver. Portanto,
quando planeamos a construo
dum material, temos de pensar
o que e como vamos
trabalhar. *
Materiais
possveis, alguns deles j referidos
nas actividades
-
Os nossos direitos
Adaptar,
usando uma linguagem simples,
os 10 princpios fundamentais
da Declarao dos Direitos da
Criana (1959) igualdade todas
as crianas do mundo so iguais,
no importa a cor, o sexo, a religio,
; 2 - proteco especial para
o seu desenvolvimento fsico,
intelectual e moral; 3 - ter um
nome e uma nacionalidade; 4
ter segurana e cuidados especiais
antes e depois de nascer; 5
6 7 educao, o direito a
ir escola; 8 ser protegida
e socorrida em 1 lugar (rever
e completar)
Criar
para cada um uma pequena histria
e um cartaz (tamanho A3)
O
jogo dos direitos/tipo
jogo da glria
O
jogo vai permitir criana reconhecer
direitos, trabalhar atitudes,
etc.
Direitos
humanos em aco/o livro dos direitos
Jogo
para trabalhar a resoluo de
problemas de direitos humanos,
agindo, procurando ajudas e solues.
Recolha
de histrias, poesias, lengalengas,
que tratem questes de direitos
humanos.
Construo
de fantoches
Construir
fantoches com meninos diferentes
(um negro, um branco, um ndio,
um chins) para viverem juntos
situaes, experincias, etc.
Recolha
de msicas e canes/gravar uma
cassete
Canes
recolhidas, adaptadas, criadas
sobre os temas. Gravao de uma
cassete.
(*se
houver oportunidade, ser desenvolvido
um projecto para a construo
destes materiais, que seriam reunidos
numa maleta pedaggica)
5
- MATERIAIS E RECURSOS
(incluir
bibliografia, sites, .... )
Anexos:
os
princpios fundamentais da Conveno
dos direitos da criana
a
verso simplificada da Conveno
dos direitos da criana
A
verso simplificada da DUDH