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Potiguariana Digital Experincias de Educao Popular Movimento de Natal - Igreja Catlica RN O Trabalho Pastoral da Igreja Catlica no RN 3i3q1z

A Verdadeira Histria da Indstria Txtil Serid contada pelos seus prprios operrios – Livreto Mimeografado 1984
“No asfalto uma rosa brotou e sobre uma fenda abriu-se em tenda”
A Comisso Justia e Paz acompanha solidrio movimento operrios da Serid, CJP 1984

De P no Cho | 40 Horas de Angicos | Movimento de Natal | CEBs no ES | Potiguariana

Padre Joo Maria | Padre Monte | D. Eugnio Sales | D. Nivaldo Monte | Mons. Expedito Medeiros | Histria Igreja RN | Ao Catlica | A Ordem | Movimento de Natal | Escola Servio Social l Emissora de Educao Rural | Sindicalismo | MEB | SAR | Educao Poltica | Justia e Paz

A VERDADEIRA HISTRIA DA INDSTRIA TXTIL SERID CONTADA PELOS SEUS OPERRIOS

O COMEO DA CRISE

POLCIA FEDERAL, DOPS, PAE...

A CANOA FURADA

A VERDADEIRA HISTRIA DA INDSTRIA TXTIL SERID CONTADA PELOS SEUS OPERRIOS

Rosa Tenda
“No asfalto uma rosa
Brotou
e sobre uma fenda
abriu-se em tenda”


H quase 10 meses, nossos irmo operrios da Ind. Txtil Serid, esto sem receber salrios, ando necessidades, sem ver o seu problema resolvido. Por isso, desde o dia 27/09/84, cerca de 400 operrios acamparam em frente ao Ducal Palace Hotel, em pleno centro da cidade de Natal, rua Joo Pessoa, tentando chamar a ateno da populao das entidades e dos polticos, sobre sua dramtica situao e pressionar o governo e a empresa a resolverem essa questo A COMISSO PONTIFCIA DE JUSTIA E PAZ, esteve l, junto aos operrios, entrevistando-os, para saber e divulgar a realidade de todo o movimento. Os operrios falaram e o seu grito acusa muita gente: desde os parlamentares, o sindicato da categoria, as entidades sindicais que dizem defender o trabalhador, at o Governador do Estado. A entrevista foi no dia 07/10/84.

A COMISSO JUSTIA E PAZ
ACOMPANHA SOLIDRIO MOVIMENTO
OPERRIOS DA SERID


COMISSO PONTIFCIA JUSTIA E PAZ: Como que comeou essa histria toda, que resultou, nesse acampamento de vocs, aqui em frente ao Hotel Ducal?

OPERRIO: uma histria muito longa, que comeou com o grupo UEB, que Alusio Alves, juntamente com o General Afonso de Albuquerque Lima e seu irmo Jos Lus, trouxeram para Natal. Depois, esse grupo transformou-se no grupo IRSA e era composto da Indstria Txtil Serid, o Hotel Ducal, a Sparta Confeces, a Incarton, o Caf Alpha, do Rio de Janeiro, a Sparta Rio, uma Corretora e tambm um escritrio em Nova York. No sabemos o porqu dessa transformao, s sbados que, a partir de 1982, misteriosamente, Alusio Alves deixou de ser acionista, vendendo os 25% de aes que ele tinha, no se sabe pra quem. Mas, desde maio de 1981 comearam a atrasar os recolhimentos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Servio) e do INPS, alm das prestaes da casa prpria, que descontavam da gente, mas os salrios do pessoal comearam a atrasar mesmo a partir de maio de 1983.

COMISSO: Na poca do maior pique, quantos operrios trabalhavam na Serid?

OPERRIO: Cerca de 1.300 funcionrios, nos setores de Fiao, Tecelagem, Acabamento e istrao da fbrica. Ento, primeiro eles desativaram a Fiao e aos poucos foram desativando os outros setores, numa tentativa, cremos, de desmobilizar o pessoal. E como o Diretor istrativo, Garibaldi Alves, irmo de Alusio, a fbrica funcionava como uma espcie de Comit Eleitoral, porque os empregados da Serid eram, na maioria, o pessoal das fazendas dos Alves no interior, em Angicos, Pedro Avelino, Lages, Afonso Bezerra, etc. e predominava aquela relao de paternalismo, o pessoal no fazia greve, no protestavam, em considerao a seu Garibaldi, acreditando nas promessas. Tanto isso verdade que os Alves acabaram ganhando a eleio em So Gonalo do Amarante, municpio onde se situa a Serid e outras empresas deles.

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O COMEO DA CRISE

COMISSO: E depois, o que houve?

OPERRIO: A, quando a crise se tornou patente mesmo, o pessoal estava praticamente desarticulado e o Sr. Garibaldi nos enrolando, dizendo que a fbrica voltaria a funcionar em uma semana, ou no mximo em 15 dias. Depois foi criada uma comisso s de Chefes, que, junto com o pessoal do sindicato tentou mandar documento para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social), maior credor da Serid, cobrando uma soluo para o problema da Serid. Como no vinha soluo, o pessoal comeou a participar. Ns conseguimos furar as reunies e cobrar da diretoria de nosso sindicato uma posio mais atuante, pois estvamos sendo enganados. Por sinal, essa diretoria do sindicato foi eleita pelos patres, sempre fez o jogo deles, nunca procurou mobilizar a categoria pra lutar. Ento, comeamos a lutar pra descobrir a verdade, e comeamos a nos mobilizar.

COMISSO: E qual foi a deciso que vocs tomaram?

OPERRIO: - Bem, em 1 de maio deste ano, fizemos uma eata com mais ou menos 400 operrios, at a Federao e cobramos do Governo do Estado uma posio, pois j estvamos com 5 meses de salrios atrasados e no tnhamos nem mais a cantina. (quando o pagamento comeou a atrasar, eles liberaram a cantina pra gente fazer uma feira no valor de 25% do salrio, por quinzena). Ento, o Governador se comprometeu de pblico a resolver a questo. A Rede Globo garantiu que ia fazer uma reportagem sobre o nosso caso o ficamos, no dia 3 de maio,uns 200 operrios esperando a Globo, com faixas, cartazes, etc., mas nada, ela no apareceu. A diretoria da Serid pediu pra diretoria do sindicato desarticular o nosso pessoal que tava na portaria da fbrica, mas resolvemos entrar na empresa e s sair com uma soluo. Ai conseguimos a liberao de 20 milhes pra pagar a cantina o a gente poder fazer feira. E de l pra c, o governo do estado, vendo a presso que fazamos, resolveu liberar uma cesta de alimentos duas vezes ao ms.

“NESSA ALTURA J NO TINHAMOS COMO PRESTAR ASSISTNCIA
FAMLIA E NOSSOS FILHOS, OPERADOS, ESTAVAM MORRENDO”


COMISSO: E essa cesta, como que vinha?

OPERRIO: Essa feira no era suficiente, pois faltava muita coisa. S vinha mesmo, para as crianas, dois quilos de leite, feijo, farinha, acar, caf arroz e sabo. Ficamos tambm sem ter onde morar, pois quem tinha casa alugada estava sendo despejado. gua e luz tavam congeladas, mas a gente sabe que vo logo cortar, n? e tinha problemas de doenas, a gente no tinha como prestar assistncia a famlia e os filhos da gente, operados, tavam morrendo. A, fizemos uma assemblia geral, pois a gente via que a diretoria do sindicato no tava com coragem de entrar na luta pra resolver. Formamos uma comisso, quando resolvemos ar 45 dias fazendo piquete em frente fbrica. Essa comisso foi ao Rio e teve a promessa do BNDES de que ia sair uma indenizao pra todos os funcionrios, no dia 30 de setembro. Como essa indenizao no saiu, o pessoal resolveu se unir mais e partir para uma nova luta.

COMISSO: Na 1 fase do movimento, houve a mobilizao. Depois esse 1 piquete, defronte Serid; qual a repercusso dele na opinio pblica? Porqu esse movimento atual est sendo eficaz do que o piquete em frente fbrica?

OPERRIO: O 1 piquete no foi muito positivo porque a fbrica estava praticamente fechada, o patro pouco se lixando pra isso, pois no tinha mais produo, mais tecido pra vender, no tinha mais lucro. Se tivssemos nos articulado e mobilizado quando ainda estvamos produzindo, acho que a questo estaria resolvia. Mas, se do lado econmico, no conseguimos nada, foi bom porque, politicamente, a categoria evoluiu, o pessoal se uniu mais, luta mais. Outro ponto, foi que ns amos 45 dias em frente fbrica e no houve muita repercusso porque ela muito afastada de Natal e a prpria imprensa no colocou a coisa corretamente. E a gente no tem um jornal que mostre claramente a nossa luta. O prprio espao na rdio era limitado. S conseguimos dizer o que sentamos na Rdio Rural, no programa da Comisso de Justia e Paz, no programa “Maioria” e no “Olho da cidade”. As matrias pras outras rdios saam filtradas, elas no divulguem a nossa posio, o que a gente tava pensando.

COMISSO: Que dizer que, nesta 1 fase, fora a Emissora de Educao Rural, o resto da imprensa (os outros jornais e rdios e a televiso), no emitem nada?

OPERRIO: - Olha, saa alguma coisa na Rdio Trairi e no Dirio de Natal, mas a Tribuna do Norte e a Rdio Cabugi, por ser do Grupo Alves, tendo um irmo de Alusio na direo da Serid, nunca divulgaram nada, nunca deram uma nota sequer, durante os 45 dias de piquete. Quanto televiso, a atuao dela foi at engraada, veja s o que eles aprontaram com a gente: A TV-U nem apareceu por l. A Globo, que tinha garantido aparecer, chegou pegando carona na vinda de Maluf, recentemente, pra fazer a reportagem com a gente. Demos a entrevista e ficamos sabendo que tudo saiu cortado, que ns denunciamos nossa situao, o caso do BNDES, o caso das autoridades e nada disso foi apresentado. E a TV Manchete, queria porque queria, que ns trabalhadores dissssemos que estvamos apoiando Maluf. Mas ns dissemos o que achamos, que o Maluf veio aqui pra fazer o que do interesse dele, ele veio comprar os deputados para o Colgio Eleitoral.

“A SERID DEVE S COHAB, DE PRESTAES ATRASADAS,
CERCA DE CR$ 91 MILHES DE CRUZEIROS”

COMISSO: E como que foi essa 2 fase, a vinda de vocs aqui pra frente do Ducal?

OPERRIO: - Bem primeiro teve o seguinte: quando a gente tava em frente fbrica, viajaram companheiros nossos para o Rio e vieram com uma resposta do BNDES, que teramos direito a 3 vales, sendo 1 de Cr$ 100 mil e outros de Cr$ 50 mil e o que a fbrica seria reativada. E tambm, como j dissemos, que o pessoal que entrasse com o pedido de demisso, no dia 30 de setembro receberia indenizao, FGTS atrasado, etc.

COMISSO: E aquelas prestaes da COHAB, que no do mais ou menos Cr$ 91 milhes, como ficam?

OPERRIO: , eles descontavam da gente e no recolhiam, as prestaes da COHAB, que esto mais ou menos nesse valor, o INPS e a contribuio sindical, alm do FGTS, Olha, isso tudo a, ta atrasado desde maio de 1981. Mas a gente sentiu que a coisa tava meio furada, no havia documento do BNDES confirmando aquilo, ento a gente tentou fazer uma assemblia, mas a diretoria do sindicato no quis assumir a luta, infelizmente, dizendo que devamos esperar at 30 de setembro, a data que o Banco tinha marcado, segundo informaes. Mas, ento, resolvemos convocar e realizar uma assemblia na 4 feira da semana ada (dia 26.09). A proposta da diretoria foi de entrar com uma ao na justia, mas a justia muito morosa, n? democracia de 4 a 5 anos pra resolver e at l muita gente j teria morrido de fome, como alis, alguns j morreram, n? A, surgiu a proposta de bloquearmos o Hotel Ducal. A diretoria do sindicato disse “que no tinha as costas pra levar pancada”, mas exigimos a sua presena, pois o sindicato somos ns todos. Ento, ela veio, mas est pouco atuante. Decidimos, assim, sair, s 8 horas da manh, de 5 feira, dia 27.09, da fbrica a p para o Ducal. E aqui estamos.

COMISSO: J tivemos, por aqui, a greve dos professores universitrios, a dos professores da rede secundria, a outras e a gente viu que no conseguiram mobilizar tanto a opinio pblica, desde o incio, observou esse movimento dos operrios da Serid?

OPERRIO: Notamos que este movimento tornou-se mais amplo, mais divulgado e assim recebemos o apoio de toda a populao, da Igreja, da Comisso Pontifcia de Justia e Paz, do CENTRU (Centro de Treinamento do Trabalhador Rural), etc. Sentimos que o povo ta sempre unido com a questo do trabalhador e temos conseguido o apoio de toda a comunidade, nesse movimento que marca, vamos dizer, a histria do trabalhador brasileiro no estado.

OPERRIO: - E ns vemos tambm, que h uma diferena entre nosso movimento e o movimento dos canavieiros, dos professores. A gente entende o seguinte: as greves deles j esto mais a nvel poltico, esto mais avanados, porque aqueles companheiros esto lutando contra a explorao, por melhores salrios, enquanto ns, da Serid, no questionamos agora a explorao, embora tambm sejamos explorados; estamos lutando pra voltarmos a trabalhar.

OPERRIO: Nosso movimento foi forado pelo nossa patro, que, alis o mesmo do Ducal. A populao nos ajudou bastante, estamos tendo um grande respeito do povo de Natal e o movimento est sendo bem divulgado. Conseguimos um carro de som e todo mundo teve oportunidade de conhecer nosso problema. Estamos h muito tempo sem dinheiro e h casos de companheiros que j perderam filhos, os filhos morreram de fome. E a gente ta tendo o apoio at da Maonaria. ............. pra danado: da Igreja at a maonaria.

COMISSO: E os donativos, tm aparecido pra vocs?

OPERRIO: A Igreja Sta. Terezinha ta recebendo e trazendo donativos. O pessoal t divulgando nas missas e pede o apoio da comunidade. Temos recebido batata, feijo, farinha leite, comida pro pessoal. Estamos recebendo doaes dos trabalhadores rurais de Lagoa Salgada, de Poo Branca, etc. Tambm os estudantes esto se mobilizando nos colgios e trazendo pra c. E tem o pessoal que a, conversa e faz sua doao. O pessoal da Pastoral operria tambm nos apia. Apareceu tambm uma barraca, dando uma fora grande gente, pois ficar o tempo todo no sol duro.

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POLCIA FEDERAL, DOPS, PAE...

COMISSO: Ns sabemos que no primeiro dia de vocs aqui, apareceu uma coisa chamada PELOTO DE ATIVIDADES ESPECIAIS ( PAE ), que um peloto sem identificao, o pessoal praticamente dos grupos de extermnio, como bem denunciou em documento recante da Comisso de Justia e Paz. Quer dizer, o pessoal da barra pesada, n? e tinha tambm ces, bombas de gs lacrimogneo, etc. Como foi essa confuso toda?
_____________________

OPERRIO: O pessoal tava a, muito tenso, menos os operrios, pois estamos conscientes e no ultraaremos o que ficou decidido na assemblia. Nessa proposta a de um ato pblico e do acampamento pacfico. Mas o PAE tava aqui, bem montado, bem equipado, armado cem escopeta e tudo pra defender o Ducal, mas sentiram que estamos reivindicando um direito, pacificamente e no houve problemas, com ele.

OPERRIO: A gente v que quando o trabalhador se organiza pra lutar pelos seus direitos. Em contrapartida aparece o poder do patro. Por que fomos ameaados? Como que ele consegue arranjar o dinheiro (muito mais do que nos deve) e a influncia pra comprar autoridades, enfim, a prpria polcia pra nos reprimir, nos dar pancada? Tivemos momentos difceis aqui. Fomos gentilmente solicitados a entrar no Ducal: quando ns chegamos l dentro, tinha uns 30 a 40 policiais, querendo nos intimidar. Quando fomos pro lado da praia, com o carro de som, pra denunciar o que ta havendo, um carro da Polcia Federal, do DOPS, nem seguiu o comeou a parar o carro deles ao lado do nosso, como se tivssemos medo de denunciar. Mas ns no temos medo de nada, queremos dizer a verdade. Mas a gente v que as autoridades, a justia, que deviriam estar do nosso lado, esto ao lado do patro, ajudando-o a engordar seus bolsos e massacrando o trabalhador. E nossa luta justamente para unir o trabalhador, pra que ele d a volta por cima e acabe com essa mania de ficar sempre omisso, a esperar. O trabalhador tem mais o que se unir e ir luta pra acabar com essa falta de vergonha: as autoridades sempre protegem o patro, deixando o trabalhador sempre no meio da rua.

COMISSO: E o que vocs acharam mais difcil inicialmente, aqui?

OPERRIO: Um dos maiores problemas que tivemos foi com o Sr. Jlio Csar, diretor do Hotel. Ele queria, sozinho, nos tirar de qualquer forma daqui. Mas criamos coragem e no abrimos ... ele, mesmo quando ele telefonou pro Governador (umas 40 vezes), pedindo reforos policiais pra nos arrancar daqui. Depois, ele fez algumas entrevistas, querendo nos intimidar, com os policiais do DOPS, advogados, etc. Mas ns, em nossa pequenez, fomos fortes na palavra, no abrimos. A ele chegou concluso que era melhor deixar de nos perseguir.

“OS NOSSOS PARLAMENTARES SO UMA PIADA, SO OS
JUSTOS VERSSIMOS E OS CASCATINHAS DA VIDA”

COMISSO: E a atuao dos nossos parlamentares, os chamados homens do povo, como anda? Seria bom a gente dar uma viso geral nisso e depois falar de partido por partido, n?

OPERRIO: Esses chamados homens do povo, mesmo no tm nada. muito fcil irem Assemblia (deles, claro), dizer-se solidrio com o trabalhador da Serid. O que a gente nota que nossa gua, do nosso caldo do feijo (embora vomite l fora), pra ganhar nosso voto. Mas, quando chega a hora do pique, que a gente t precisando dele, ele mostra o que , que est se lixando pro nosso problema. Quer defender o lado dele, continuar o poder, defender o poder. Estiveram poucos parlamentares a, alguns do PMDB, outros do PDS, dizendo que tavam solidrios com o trabalhador, mas que no vieram pra praa pblica colocar isso a, nem realizaram nada na prtica. A gente tem notado que quem est acompanhando a gente, sempre dando fora aqui o representante do Partido dos Trabalhadores, o PT, inclusive na parte material, porque os parlamentares dos outros partidos dizem que esto do nosso lado, mas at agora no fizeram nada por ns.

COMISSO: Mas, no tem nenhum parlamentar que vocs pudessem citar, que, de alguma forma manifestou-se sobre o movimento de vocs?

OPERRIO: Bem, o nico parlamentar que puxou a questo na Assemblia foi o Deputado Hermano Paiva, do PMDB. Agora teve um outro poltico, que foi tirado da barbearia do Ducal, porque ns fomos at l (risos). Ele tava l dentro fazendo a barba e o cabelo pra receber o Maluf, ontem. Ento a gente citou que o ex-governador Lavoisier Maia tava ali no Ducal e ns queramos que ele viesse de pblico colocar a solidariedade para com os trabalhadores da Serid. A ele citou o seguinte: “que que vocs fizeram que me descobriram?”

COMISSO: Sim, e o que vocs tinham mais a dizer, sobre isso?

OPERRIO: Olha, vrias vezes fomos Assemblia. Enviamos documentos, inclusive alguns assinados por 34 entidades sindicais e associaes de classe, e o que ns vimos ou ouvimos? O prprio deputado Kleber Bezerra disse que eles no tinham fora pra lutar pelo trabalhador, que a Assemblia no tinha fora. Mas em contrapartida, esse mesmo deputado, Kleber Bezerra, colocou o problema da NOVA AMRICA, fbrica de tecidos no Rio de Janeiro, mais grave que o nosso. O que a gente estranha que esse parlamentar foi eleito pra defender o povo do Rio Grande do Norte e no defende. Fica se preocupando com problemas do Rio, abandonando o nosso.

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A CANOA FURADA

OPERRIO: E tambm ns cobramos do prprio Garibaldi Alves Filho, o porqu da omisso dele, o porqu da no atuao nesse assunto. Ele se desculpou e disse que ainda no havia atuado, porque o pai dele diretor da Serid ele ficou assim, vamos dizer, com medo de denunciar na Assemblia, com medo dos outros colegas da Assemblia e da prpria Cmara de Vereadores. Isso foi no Gabinete dele. E tem tambm um determinado vereador, que veio aqui em frente ao Ducal e pediu que fssemos em comisso, que ele iria denunciar na Cmara. Ento, ns perguntamos: olha, ns vamos, mas teremos direito a vs? Porque quem entende de Serid somos ns, vocs no esto nem a, solidrios com o nosso drama. E isso assim mesmo, mas o que sentimos foi que o mesmo que acontece com os outros parlamentares: s dizem que esto solidrios e do o apoio moral, n? O que vimos era que o nobre vereador quis, mais uma vez, fazer demagogia, aparecer, faturar em cima, pois o nosso caso est perto do desfeche, do fim. justamente o que vimos: os nossos parlamentares so piadas. Os Justos Verssimos e os Cascatinhas da vida, que temos por a. (personagens do programa de Televiso do Chico Ansio).

COMISSO: Quer dizer que a opinio de vocs sobre a atuao dos parlamentares e essa?

OPERRIO: Eles foram eleitos para defender o povo, mas isso no acontece na realidade. Eu no sei at que ponto eles entendem o que ser solidrio. Pra ns, solidariedade estar, realmente do lado do operrio, na luta. isso que ser solidrio.

OPERRIO: Bem, a gente s v palavras. E palavras no enche barriga. De palavra em palavra que se ou tanto tempo nessa situao e nos levou a isso. Ns necessitamos de apoio do nossos parlamentares, mas, infelizmente, s tem palavras dentro dos gabinetes e promessas que nos trazem. E a verdade que durante todo esse tempo, no teve nenhum parlamentar a dar sua palavra em pblico, porque seriam palavras mentirosas. Eles viriam falar aqui, mas como s falam mentiras, eles no vm aqui, porque l nos gabinetes so eles que sabem, ento eles falam l. Vejam, apesar de ns termos convidado tanto que j estamos cansados, eles, at ......., 11 dias de batalha aqui, no apareceram. Quem tem aparecido so as entidades da classe trabalhadora, que nos tem dado esforo bastante.

OPERRIO: Sim, o que a gente v tambm, que se tem comentado por a PE que o Governador Jos Agripino tem dado apoio a ns. Mas sabemos que isso uma questo poltica e a nvel local. Ele parece no querer tocar no problema, por conta dos Alves na empresa. Ele no coloca o apoio dele, do pblico, no quer jogar o pblico contra os Alves. E esses, tanto o deputado Federal Henrique Eduardo, como Garibaldi Filho, no falaram nada, nenhum pronunciamento a respeito. E, em contrapartida, eles no podem dizer que o governador est alimentando grevistas, porque eles so aliados. Numa viso mais ampla, vemos que a divergncia deles s a nvel local, mas, l fora, na poltica nacional, eles so aliados, porque esto todos no mesmo barco, enquanto os trabalhadores da Serid, esto numa canoa furada ao sabor dos ventos polticos, n?

OPERRIO: A atuao do governador parecida com a viso do nosso sindicato. aquela viso da extenso do INPS, que o sindicato seja isso. Mas ns entendemos que o sindicato no isso ele tem que ir frente, luta, combater. E justamente a que eu fao a comparao com o governador, nosso lance de proteo, de ajuda. Ns fomos vrias vezes procur-lo, cobrar dele uma posio mais enrgica e notamos um esfriamento. A gente nota que tudo isso jogo de interesses, jogo poltico. O trabalhador est sendo usado e no ajudado.

“O DUCAL CONTRATOU AT SEGURANAS PARTICULARES
DO BERNARDO PRA NOS PROVOCAR, NOITE”.

COMISSO: Os jornais de Natal divulgaram que os funcionrios do Hotel Ducal estavam querendo entrar com uma ao, mandado de segurana, alguma coisa, pra continuarem trabalhando. Ou seja, pelo que a imprensa colocou, eles estariam contra o movimento de vocs. Poucos dias depois, a gente v nos jornais que no foi bem assim. Qual a verdadeira histria?

OPERRIO: - Bem, no incio eles foram solidrios com o nosso movimento. Eles nos deram vrias informaes sobre a chegada de nibus de turistas pro hotel. E ns at chegamos a desviar em dois nibus que traziam a Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Jorge Ben e a Banda do Z Prontinho, que viram dar um show em natal. eles iam se hospedar no Ducal. Ento os funcionrios nos ............ , dizendo: “no saiam da, fiquei a, que vocs vo conseguir”. Ento, ns achamos que essa posio divulgada na imprensa, no a dos trabalhadores, mais uma vez tem o dedo do patro por trs disso, atravs do Daniel Kittel e do Jlio Csar (Gerente e Diretor do Ducal). Atravs da associao dos funcionrios do Ducal, eles tentaram jogar a opinio pblica contra ns, pra justificar a represso e pra que no tivssemos o apoio da comunidade. Contrataram, at quatro seguranas do Bernardo, que ficaram na 2 feira provocando o pessoal, noite, quando tem menos gente pra ver encrenca, pra desarticular nosso movimento.

COMISSO: E o que vocs fizeram, ento?

OPERRIO: - Ns, como estamos conscientes do que queremos, no respondemos s agresses e aos insultos. E na 3 feira, fomos falar com o Daniel, que tambm da Associao dos Funcionrios do Ducal, colocamos as coisas em pratos limpos e tudo ficou resolvido, eles entenderam tudo, desativaram a segurana interna.

OPERRIO: - Uma coisa que a gente v nisso tudo que quem tem menos fora o sindicato, e presidente do nosso sindicato tem pouca fora. Ele tentou fugir, mas encorajamos ele atravs de nossa fora e conseguimos traz-lo frente. Mas, no 2 dia, no sei se por medo do patro ou o que era, ele fugiu alegando estar com a perna doente, que ia enfaixar. Ns fizemos presso sobre ele e ele voltou, est nossa frente. Depois, ele foi para o Rio, deixando a carga sempre do nosso lado e apesar de tudo, ns viemos assumindo e estamos esperando uma boa resposta, quando ele voltar. Quem faz o sindicato so os operrios, ns que somos a fora.

OPERRIO: - Ele (o presidente do sindicato) no tem iniciativa e preciso que frente do sindicato tenha algum com muito iniciativa.

OPERRIO: H uma certa divulgao da imprensa sobre o nosso movimento, e bom deixar claro que essa luta, a vitria ser alcanada pela classe trabalhadora. Quer dizer, quem conseguiu foi o trabalhador unido, a fora do trabalhador. No o que a imprensa vem colocando, que o deputado Henrique Eduardo t falando com o presidente, t no BNDES, que o prprio Alusio est preocupado, est atuando, pois ns sabemos que esses dois nunca se preocuparam com o problema da Serid, pelo contrrio, sempre preocuparam em abafar, porque eles tm um parente l, o Diretor istrativo, Garibaldi Alves. Eles no tm interesse, se tivessem tinham fora para atuar. Alusio Alves, por exemplo, tai com sua diretoriazinha no BEMGE (Banco do Estado de Minas Gerais, assessor do Tancredo Neves e assim ele vai vivendo usando a classe trabalhadora.

COMISSO: E agora, como que ficam as coisas?

OPERRIO: Bem, que fique claro, tambm, que caso atinjamos nossos objetivos, no foi a vitria do A, B ou C, ou daqueles que colocam de pblico a questo puxando a brasa pra sua sardinha, pois h quase 10 meses que estamos sem receber salrios e ningum, nenhum parlamentar se tocou. Fomos ns, os trabalhadores, unidos que viemos rua gritar o nosso grito est encontrando eco por toda a parte da populao, por parte das entidades sindicais. Ns encaminhamos, h uns dois meses, pra todos os parlamentares do estado, tanto do PDS como do PMDB, e no houve nenhum pronunciamento na Cmara. Somente o deputado Antnio Camara fez um pronunciamento, quando recebeu um documento da Comisso de Justia e Paz.

OPERRIO: E todo esse dilema vai ser resolvido no Rio. Porque o poder sai de l e no daqui? Ser que o governo daqui no tem poder de ir frente? Ser que a gente tem do esperar que o poder venha de l? Ser que o governo daqui no tem condio de resolver?

OPERRIO: Ns ouvimos os parlamentares declararam que no tinham condies de resolver esse problema. E eles esto sabendo do problema, do assunto, como chegou a isso, a essa explorao. No primeiro o que demos, lembrei-me de Dom Nivaldo Monte e me dirigi at o chefe da Igreja, que nos orientou bastante e assim a sociedade comeou a dar apoio. E ns estamos conseguindo atravs de nossa unio, porque os nossos superiores no participam. So pouqussimas as pessoas importantes, homens que estudaram, que vm participar. Ns no temos cultura, apenas fomos movidos a trabalhar naquelas mquinas. E nenhum parlamentar veio aqui, no nosso microfone, usar nosso carro de som, at hoje, pra falar que tava do nosso lado. Ento agente v que no existe oposio no Rio Grande do Norte, o que existe so os polticos tando do PSD quanto do PMDB, comprometido com o dinheiro, com os patres. Ele no vem falar aqui, porque fica pensando no cargo seguinte, quer se eleger mais uma vez. um interesseiro.

“A CONCLAT, A INTERSINDICAL E ALGUNS SINDICATOS
NO COMPARECERAM. DEVE SER POR CAUSA DO RACHA”

COMISSO: A gente poderia fazer uma reflexo sobre a questo da organizao em qualquer tipo de movimento. Qual a idia de vocs sobre a questo da organizao popular?

OPERRIO: No primeiro momento, a gente sentiu que o trabalhador se une quando tem uma questo crucial, que no nosso caso foi a fome. Agora, isso foi importante, pois o trabalhador est despertando para uma viso mais politizada, se unindo e combatendo mais. Sabe que o sapato t apertado, sabe que t ficando doente o que preciso lutar. A gente tem aqui os sindicatos e apoio de vrias entidades sindicais e poucas se mostraram a favor realmente da nossa luta. a Conclat (Coordenao Nacional das Classes Trabalhadoras), a Intersindical (entidade que congrega alguns sindicatos de Natal) e outros sindicatos, no ficaram a nosso favor. Porque hoje tem um racha no movimento sindical e na hora em que a gente chama pra unificao da luta, a dos txteis da Serid, a dos canavieiros a dos bancrios, esse pessoal que defendia a unidade do movimento sindical, no puxou essa questo, dizendo que a questo devia ser tratada separadamente, quando foi elaborada uma nota de apoio da luta dos canavieiros. E conclumos, tambm, que o pessoal que t frente do sindicato no tem compromisso com a categoria. Mas no nosso caso, sentimos que agora ele est despertando e possivelmente no prximo ano teremos frente, uma diretoria combativa.

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