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Memorial Online Mrcia de Albuquerque Dirios 1973-1974 6y2g5d

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Cmplices, sempre cmplices
Perly Cipriano e Nilmrio Miranda

Dra. Mrcia Albuquerque foi uma pessoa que marcou poca pelo seu empenho, competncia e engajamento na luta poltica na defesa de perseguidos polticos e seus familiares, alm de sua dedicao corajosa sem objetivos econmicos ou projeo pessoal. Ela se envolvia com tamanha dedicao que s vezes se confundia com os problemas pessoais e familiares como se fosse da famlia. Um de ns (Perly) foi defendido por Dra. Mrcia embora no pudesse pagar um centavo por seu trabalho, da mesma maneira que centenas de outros perseguidos e perseguidas polticas. Ela sofreu presses polticas, ameaas e prises durante sua atuao na defesa de seus clientes durante a ditadura militar. Eram perseguidos polticos de vrios estados da federao, diversas condies sociais e variadas organizaes polticas num tempo em que se opor a arbitrariedades e truculncia era um risco constante, profissional, pessoal e familiar.


Sua trajetria de vida, trilhando este campo minado em que abundavam as perseguies polticas e as prises, era lidar com pessoas que haviam sofrido torturas fsicas e psicolgicas, que estavam marcadas nos seus corpos e almas, e tambm com os familiares, amigos ou colegas de trabalho que avam por aqueles martrios; ouvir os lamentos trgicos de mes, pais, irmos, amigos, desesperados pelos assassinatos dos quais se inteiravam ou pelo desespero de no saber se seus entes queridos estavam mortos ou desaparecidos, se poderiam ter pelo menos a certeza da dolorosa informao de que tal pessoa estava morta e que seu corpo poderia ser sepultado, ainda que mutilado pelos torturadores que ela encontrava no dia a dia ou que ameaavam fazer com ela o que faziam com suas vtimas; apaziguar o choro de mes aos gritos ou sem fora para expelir mais lgrimas.

Ouvir os relatos das torturas dos sobreviventes daquele inferno era quase uma vitria naquela guerra suja. Ouvir testemunhos ou splicas dos torturados ou dos familiares, s vezes de diferentes famlias, era coisa de todos os dias. Dra. Mrcia sobreviveu para contar parte desta histria trgica depois que morreu. Deixou um dirio que mostra o sofrimento no apenas das pessoas que ela defendia, mas os padecimentos, as dvidas, as dores, os medos, que ela carregava e registrava num dirio, que pode ter incorrees, e mesmo algumas injustias, pois num dirio no se tem o tempo da apurao da verdade e dos fatos, mas apenas o registro do momento que sobrou entre uma dor e outra para dizer: estou viva e foi isto que senti no momento em que escrevo.

Apegar-se a um cliente preso ou a um familiar apegar-se s suas dores e sofrimentos.
Dra. Mrcia deixa um Dirio, raro para quem vive com tamanha intensidade de riscos e em empatia com as dores alheias. Bertolt (Berthold) Brecht dizia no ser fcil ser bom e viver em tempos sombrios ao mesmo tempo... Estes escritos de Mrcia constituem uma espcie de memorial da resistncia democrtica contra a ditadura militar e civil e em favor dos direitos humanos, memorial este composto pelo Dirio, por vrias cartas e por documentos pessoais e aqueles ligados s centenas de processos nos quais atuou. O levantamento da sua atuao profissional e suas lutas em defesa dos presos polticos, inclusive em seus “bastidores”, pode servir de inspirao e polo de aglutinao no apenas no contexto nordestino, mas tambm no mbito nacional, devendo fomentar um amplo trabalho de levantamento retrospectivo da atuao de muitos outros advogados do Brasil, e como importante iniciativa no resgate da memria das lutas contra a ditadura.

Vale salientar que grande parte dos textos da Dra. Mrcia, ora reunidos num mesmo espao crescente, j esteve disponvel “online”, mas ou recentemente por uma ampla reviso editorial que resgatou textos inditos e procurou elucidar agens pouco claras e referncias incompletas, sem prejuzo do o aos originais, que estaro disponveis para consulta nos arquivos da DHnet e em outras bases de dados.

Alm do Dirio ela deixou centenas de cartas recebidas e escritas, onde novamente emerge como sobrevivente de um mundo trgico, que marca definitivamente o corpo e alma de maneira que a vida se funde na dor, se oculta nas lgrimas entre as inalaes de quem est nos estertores da morte. Mrcia foi me amiga e companheira daqueles com quem dividiu seu amor, suas dores, suas dvidas e angstias, sem deixar de acreditar que preciso continuar, ainda que a esperana seja pequena e que as luzes sejam vindas de pequenas frestas por um tempo diminuto.

Dra. Mrcia defendeu centenas de presos e presas polticas, acompanhou e sofreu as dores desses clientes e de seus familiares e, principalmente, defendeu a Democracia e a Liberdade, e no apenas para essas pessoas com quem compartilhava esses momentos sombrios, que no podem ser esquecidos jamais e que foram registrados e resgatados por ela nos momentos em que sua vida, seu trabalho e seu amor, pelo filho Aradin e pelo companheiro Octvio, se confundiam num s existir.

Perly Cipriano militante poltico desde 1960; coordena o Centro Cultural Triplex Vermelho.

Nilmrio Miranda, Assessor Especial de Defesa da Democracia, Memria e Verdade no Ministrio dos Direitos Humanos e da Cidadania do governo Lula



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