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Introduo
Apesar da transio democrtica, apesar da Lei das
Execues Penais, apesar da nova Constituio Federal,
continua sendo urgente defender e promover os direitos dos
presos.
consenso comum que a democracia exige a cidadania, isto ,
requer que as pessoas sejam respeitadas como cidados, em
absoluta igualdade de direitos, sem qualquer discriminao
resultante das condies sociais diferenciadas.
No
Brasil, pessoas e grupos sociais so constantemente
?
discriminados com a negao dos seus mais elementares
direitos. uma das camadas mais expostas a toda espcie de
vexames a populao carcerria. O preso, na prtica,
tido como algum que no mais cidado e
jamais voltar a ser. Dentro da priso, com a perda da
liberdade, ele despojado da sua personalidade e do
respeito devido a todo ser humano. Deixa de ser pessoa e
a a ser fichado e tratado como nmero. Como nmero,
pode ser empilhado e jogado em qualquer lugar. No pode
reclamar porque nmero no tem voz. Se reclama, ningum
ouve. Se morre, ningum lamenta. Se sobrevive, ningum
sabe o que fazer dele, se no us-lo para a corrupo,
para o comrcio ilcito e o crime organizado.
Sua
famlia, quando existe, famlia de bandido, no
merece respeito. O preso s recebe um pouco de ateno
quando tem algum dinheiro para agradar ou corromper.
No
tem mais cidade, no tem mais razes. Fica merc das
autoridades que podem transferi-lo sem qualquer considerao
por seus vnculos de amizade, parentesco ou cidadania.
No
trabalha, nem lhe dado trabalhar porque o sistema o
declara vagabundo e o quer assim.
Estes
e outros incontveis vexames continuam acontecendo apesar
da promulgao da Lei das Execues Penais, que no
apenas impe deveres ao preso, mas assegura amplos
direitos e garantias sua condio de detento.
Infelizmente
juizes, promotores e autoridades carcerrias ignoram e
pisoteiam essa Lei. Urge faz-la respeitar em todo o
sistema carcerrio. Por isso, a nova edio do Manual
dos Direitos dos Presos faz constante referncia a essas
normas que garantem ao preso o direito e o exerccio da
sua cidadania.
O
Manual quer ser um alerta contra o abuso de poder que se
alastrou em todo o sistema prisional. Quer ser um convite
para que a socieda?de civil penetre nos crceres e faa
irromper dentro deles a democracia e a cidadania. Quer
dizer, ao preso e aos seus familiares que depende deles a
iniciativa para que se implantem os conselhos de
comunidade previstos na Lei de Execues Penais com o
objetivo de defender e promover seus direitos. quer
afirmar que estes conselhos no so do governo, dos
juizes, das autoridades carcerrias, mas da sociedade e
do prpria preso. Quer proclamar com veemncia que a
pena de excluso s faz o preso perder o direito de ir e
vir. Nada mais. Esta pena no o transforma em um objeto.
Em tudo, ele um cidado como os demais e como tal deve
ser tratado. E aquele que desrespeita os seus direitos,
seja ele magistrado, promotor, autoridade policial ou
carcerria, torna-se ru e como tal deve ser punido.
Por
esta razo o Organizao Comunitria pelos Direitos do
Preso apresenta a todos os interessados este Manual.
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