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ALM DA LENDA 6r1j6i

PEA TEATRAL CIGANA, EM UM ATO

Estria Curitiba abril de 2000

Texto:
Claudio Iovanovitch [cigano matchuaia]
Direo:
Neiva Camargo [cigana; esposa de Claudio Iovanovitch]
Elenco:
Slvio Almeida Nuno (narrador)
Luci Frana dana hind (indiana)
Patrcia Casquilha dana egpcia (dana do ventre)
Tereza Berger dana espanhola (flamenca)
Juliana Gouvia dana cigana
Tatiane Iovanovitch cigana sombra
Grazieli Iovanovitch cigana sombra

+++++

[Abertura da cena, com dana indiana (hind); seguem narrao gravada e cena com Nuno tentando, em vo, sair da barraca (transparente), que o aprisiona, aps o que ele inicia seu monlogo:]

Qual meu nome?
- Nuno.

De onde venho?
- No sei.

O que fao?
- Vivo.

No que acredito?
- Em tudo.

Qual a minha raa?
- Humana.

O que fiz?
- No, no invadi, no saquei, no expulsei e nem escravizei ningum.
- No matei em nome de Deus.
- Nos mataram em nome de Deus.

De onde vim?
- Na inquisio espanhola nossas mulheres foram mortas como bruxas, os homens foram enviados para as gals e suas orelhas cortadas. O ltimo refgio para um perseguido era a igreja. Mas no para o cigano que mesmo dentro da casa de Deus, no encontrou abrigo. No holocausto no somos nem citados, mas 500 mil ciganos foram mortos. No julgamento de Nuremberg nenhum cigano foi chamado para falar da nossa dor. Entendemos que isto no foi obra de Deus e sim dos homens, que na sua ganncia pelo poder deturparam a palavra de Deus.

[Entra a bailarina egpcia, aps cuja dana Nuno declama Sou Gitano; fundo musical extrado de Carmina Burana, de Carl Orf]

Sou Gitano

Que horizonte este que rasgo todos os dias
com minhas pegadas,
com as rodas do meu carroo?
Que corao nmade me impulsiona, me guia?
Que ponto cardeal guia a agulha da minha bssola?
Meu sangue no conhece outros caminhos,
seno todos os caminhos do desconhecido.
Meu mundo todo mundo,
e as fronteiras so riscos em mapas que no existem.
Sou gitano, sou meu norte, meu sul, meu leste e meu oeste.
Sou gitano, e o meu mundo velho conhecido dos meus olhos.
E Novo Mundo amanh e sempre.
Meu pai, meu av, meu tio,
com suas msicas e anis,
cruzaram a terra em xis,
na ida e na volta
deixando em cada outeiro bero e jazigo.
Nova pirmide erguida a cada instncia,
vindo de egpcias areais que meus olhos ferrabrases poliram.
Plux meu rumo, atlante meu aminhar.
Sou gitano, e meu canto vida,
minha guitarra lamenta e coma.
Minha alma trs vidrilho e medalhitas.
Traz esporas, traz touradas, banderilhas.
Meu ancinhar procura mais que ouro.
Quero a farroma e a festa, e no o ouro dos prncipes da terra.
Meu canto no faz reparo a damas ou meretrizes.
O fandango madrao ou vibrante
o sino que respalda minha igreja.
Minha hstia o po sarraceno,
meu purgatrio o jejum,
meu pecado nenhum.
No h quem mate por mim,
no h quem viva por mim.

Que crime cometi?
No estar na Histria?
Qual? Na sua Histria?

- Na sua Histria fomos expulsos, perseguidos e mortos, sem ao menos saber por qu. Nos seus livros somos sinnimos de errantes, vadios e trapaceiros.

- A cultura do ter tem que respeitar quem quer apenas ser. Um Estado no s um pedao de cho, muito mais que isso. a forma de ser de cada um. o seu costume, o seu pensamento. Preservar a cultura no fazer uma esttua jorrando gua. A minha cultura a minha Histria. E a sua Histria no entende a minha cultura.

- Mas eu tenho a minha Histria.
Mas participamos tambm da sua Histria,
nas embarcaes sobre os rios e mares que vocs cruzaram.

[Em gravao, declamada uma poesia, em espanhol, sobre as embarcaes nas gals. Depois Nuno continua:]

- A sua bandeira no mais bonita do que a dele. O seu hino to bonito quanto o dele.

A globalizao que vocs impem enfiada goela abaixo apenas com o propsito econmico. A nossa globalizao o nosso costume, a nossa cultura. Na globalizao de vocs, vocs ouvem a mesma msica, cheiram o mesmo perfume, comem o mesmo sanduche e calam o mesmo tnis. Tudo isso para ganhar mais dinheiro.

Claro que fomos omissos, o nosso annimato deixou os seus famosos Brahms, Liszt ouviram nossas msicas e se apoderaram. At as nossas danas, dizem que so suas.

[Entra em cena a danarina flamenca, aps cuja dana Nuno continua:]

- No, no estamos na sua Histria.
No, no sabemos desenhar suas letras.
O seu calendrio no o meu.
A sua geografia no a minha.
No entendemos a sua lngua,
mas procuramos aprender.
Sim, somos os ndios da Europa.
Nossa Histria est na nossa memria,
na nossa msica e na nossa dana.
Nossa fala no tem desenhos.
A nossa lngua nossa Ptria.
E nossa lngua todas as lnguas.
Quando estamos alegres ou tristes, danamos.

[Entra em cena a danarina cigana, ao som de um tzards, aps o que Nuno continua:]

- No queremos o ouro nem as terras dos reis, pois quando se morre talvez tenha sido melhor ter sido cigano do que rei.

Ns refletimos a sua liberdade, a sua esperana no amanh .....

Viva cada dia percebendo o que a natureza lhe oferece.

A cada amanhecer voc tem diante dos seus olhos um espetculo maravilhoso e que muitas vezes voc nem v.

No somos s um sonho, ns participamos da sua Histria, sem armas ou fazendo guerras, mas na alegria, na msica, na dana, pois todos vocs tm um pouco de ciganos.

[Entram em cena a danarina cigana principal, e mais duas ciganas co-adjuvantes, executando danas ciganas, aps o que Nuno continua:]

- Os olhos azuis brilham tanto quanto os olhos verdes, ou at os olhos negros. At derramam lgrimas iguais!

Vocs dividem as pessoas em cores!!!
Brancos, amarelos, vermelhos e negros.
Dividir as pessoas em cores .............
Seria como se ns quisssemos dividi-los por msica, ou por dana.
Que estupidez ........ !

Eu acho todas as cores lindas; todas juntas formam um grande arco-iris.

A glria, a fama para ns, no importante, pois queremos SER e no apenas TER.

QUEREMOS APENAS SER LIVRES, LIVRES COMO O AR, LIVRES COMO O VENTO, LIVRES COMO AS ESTRELAS NO FIRMAMENTO.

[Nuno rompe a parede da barraca e, finalmente, est livre. Entra inicialmente a danarina cigana que com ele dana, ao som de uma msica dos Gypsy Kings; depois entram em cena as duas outras ciganas, e finalmente todo o elenco da pea. ]

FIM 541bs

Para a exibio desta pea (cerca de 40 minutos) em outras cidades, contate:

Claudio Iovanovitch
Rua Dom Orione 836
Santa Quitria
80310-250 Curitiba PR
Fone: 0xx41.244.5381

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