Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
Direitos Humanos
Desejos Humanos
Educao EDH
Cibercidadania
Memria Histrica
Arte e Cultura
Central de Denncias
Banco de Dados
MNDH Brasil
ONGs Direitos Humanos
ABC Militantes DH
Rede Mercosul
Rede Brasil DH
Redes Estaduais
Rede Estadual RN
Mundo Comisses
Brasil Nunca Mais
Brasil Comisses
Estados Comisses
Comits Verdade BR
Comit Verdade RN
Rede Lusfona
Rede Cabo Verde
Rede Guin-Bissau
Rede Moambique

Retaliao? O Brasil fica fora 481k1h

Paulo Srgio Pinheiro*

Artigo publicado na Folha de So Paulo de 23 de setembro de 2001

As cenas de horror em Manhattan foram repetidas e repetidas envolta num mantra carregado de kitsch patritico e religioso que parece eliminar a poltica das mentes. Na apoteose da unidade americana, no Capitlio, o presidente Bush recitou frmulas encantatrias, preparando o povo americano e o mundo para as mortes de soldados na guerra que logo comear.

no mnimo liberdade potica pretender que os EUA corporifiquem o bem. Eles tm um estilo especial de atuar ria comunidade dos Estados; respeitam, cobram o respeito ou desrespeitam o direito internacional segundo sua convenincia prpria.

Continuar chamando os terroristas de loucos e maus (provavelmente so uma coisa ou outra - ou as duas) pode ajudar a extravasar a dor, mas pouco ajuda a entender. O governo americano e as antigas potncias coloniais da Europa tendem a subestimar os adversrios das sociedades tradicionais que mal conhecem ou entendem. Mas os atentados deixaram claro um tal grau de planificao e organizao, conexo de redes, logstica e capacidade de antecipao longe de qualquer improvisao, como lembrou Franois Heisbourg, da Fundao de Pesquisas Estratgicas.

No foi o combate das trevas contra a luz. O conflito no entre culturas. Se choque de civilizaes houve, este ocorreu principalmente com a ecloso dos imperialismos europeus na frica e na sia, no sculo 19. No estamos diante de um conflito com o mundo muulmano: os terroristas no am de faces minoritrias, que tm grande audincia (ajudada pela poltica externa norte-americana) nas sociedades islmicas, corri agendas prprias no mundo islmico e com alguma capacidade de estrago, mas com limitada viabilidade histrica. O futuro no ser deles.

Propor uma cruzada ou arrogar-se uma misso de justia infinita, que at agora pensvamos estar no mbito de Deus - ou Allah -, indicam um desconhecimento do mundo. O chamado campo islmico chamado por divises e contradies insolveis.

Satanizar Osama bin Laden e fantasiar que sua eliminao v colocar um fim ao terrorismo pura iluso. Igual a pensar que as capturas de Carlos, o chacal, e de Pablo Escobar seriam o fim do terrorismo e do narcotrfico. A rede de terrorismo vai muito alm do bando de Bin Laden: est sendo financiada por ativa captao de fundos nos regime fundamentalista muulmano da Arbia Saudita e em outros regimes da pennsula arbica, lembro Edward Luttwak. Esses fundos so irrigados atravs dos sistema financeiros internacionais com ramificaes em todos os continentes. As redes de terrorismo ultraam os Estados, mas se baseiam neles.

Nada do que foi dito aqui serve para escusar o megaataque aos direitos humanos das vtimas da barbrie. Vtimas jamais devem ser culpadas por nada. O dever de todos os pases, inclusive ns aqui embaixo, no Sul, repudiar os atentados, qualquer atentado. Nada justifica o terror. Antes de ar guerra, haveria muito que fazer em termos de inteligncia e diplomacia.

Mas o imprio requer vingana. A mobilizao americana para a sua cruzada servir apenas para estancar o desejo de vingana suscitado na sociedade americana pelo presidente Bush. Mais eletivas seriam presses diplomticas e econmicas, a identificao e o desmantelamento das redes e a destruio dos campos de treinamento nos santurios que vrios pases asseguram. Aes militares cirrgicas sero inteis: melhor seria usar a oportunidade para desarmar a infra-estrutura do terrorismo no Ocidente e no Oriente Mdio.

O Brasil, paradoxalmente, poder ser mais influente quanto mais guardar o distanciamento do triunfalismo guerreiro dos EUA. O Brasil e a Amrica Latina tm uma situao peculiar. Estamos aqui na Amrica Latina, Como O cientista poltico e atualmente embaixador da Frana no Brasil, Alain Rouqui, chamou com muita felicidade de Extremo Ocidente. Estamos numa posio mpar para ouvir o clamor dos deserdados da Terra e sermos interlocutores vlidos para o Norte.

O Estado brasileiro tem densidade suficiente na comunidade internacional pata recusar o ultimato imperial ou vocs esto conosco ou vocs esto com os terroristas. O Brasil deve lembrar aos cruzados do Norte que a ONU tem uma posio nica para a construo de unia coalizo universal e para assegurar a legitimidade global para a luta de longo prazo contra o terrorismo.

Se os EUA e os pases europeus forem para a guerra, como tudo indica, que o governo do Brasil diga s claras, como implorava Paulo Evaristo Cardeal Arns, do alto de seus luminosos e intimoratos 80 anos, que recusamos nos associar a expedies punitivas militares de retaliao. O Estado brasileiro no pode coonestar ataques militares, verdadeiras aes de terrorismo de Estado, contra populaes pobres e famintas do Afeganisto ou de qualquer outro pais.

Estamos ao lado do governo e da sociedade americana enquanto choram e pranteiam seus mortos. Na vingana e na retaliao contra mulheres, idosos, crianas, miserveis e inocentes, devemos ficar fora e longe.

*Professor de cincia poltica e coordenador do Ncleo de Estudos da Violncia da USP, relator da ONU para o Mayanmar e membro da Subcomisso de Promoo e Proteo dos Direitos Humanos da organizao.

Desde 1995 dhnet-br.informativomineiro.com Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: [email protected] Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Not
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
Hist
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Mem
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multim