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DA
INUTILIDADE DA PENA DE MORTE 5s23i
Paulo
Srgio Pinheiro
Membro
da Comisso Teotnio Vilela para as prises
E conselheiro da Comisso Justia e Paz de So Paulo.
6h4u48
O
aumento da criminalidade organizada e profissional, os
dramticos casos de assassinatos que se sucedem como
numa guerra civil aumentam a nsia paranica de maior
segurana. E para o grupo que cada vez aumenta mais de
criminosos condenados a largos perodos de recluso,
os perigosos que provocam dificuldades para a
disciplina e para o controle, as reformas liberais no
conseguem propor nada. A no ser separ-los e isol-los.
Para esse tipo de delinqentes, as prises confirmam
sua vocao inicial de se converterem em depsitos
para seres humanos, lugares onde as pessoas ficam
detidas at que a sociedade decida o que fazer (ou o
que no fazer) com elas. No de se espantar que
diante dessa presso do medo, do aumento dos condenados
irrecuperveis (como se os outros hspedes da
priso pudessem ser graas reeducao que ali
recebem) que a pena de morte receba um favor to grato
entre as solues para o problema do crime e a mdio
e longo prazo. J que as prises so depsitos a
custo do errio pblico, para que aumentar as despesas
com mais irrecuperveis? uma deduo natural
dentro da lgica destrutiva das condies atuais do
sistema penitencirio.
As
discusses sobre a pena de morte antiga. Os
argumentos ticos e as motivaes pragmticas so
cruzadas h dcadas. E no h outro jeito seno
percorrermos com mais insistncia, alargando o debate,
esses argumentos. Tentando retirar da discusso todo o
emocionalismo com que seus defensores defendem sua
causa. A pergunta principal que deve ser feita saber
se nos pases em que a pena de morte foi introduzida
houve algum efeito em relao criminalidade
macabra, como os homicdios.
A
concluso generalizada das pesquisas em mbito
internacional no haver indcios claros que a abolio
da pena de morte provocasse um aumento da taxa de homicdio
ou naqueles pases onde ela foi reintroduzida ocorresse
uma queda nessa faixa. No h igualmente indicao
clara nas pesquisas que a ameaa da execuo a
eficaz intimao a que se referem os defensores
da pena de morte seja mais eficaz que a ameaa de
punio, da priso imediata.
Agora
mesmo, num estudo publicado este ano sobre a morte
como punio na Amrica, 1864-1962, William J.
Bowers reviu todo o acumulado emprico referente ao
argumento que defende a pena de morte como dissuasria
do crime. Como outros tantos antes dele, insiste que no
h dados comprovando que as execues evitam mais
crimes do que condenaes mximas priso. E
paradoxalmente afirma que a pena de morte na verdade,
parece aumentar a taxa de homicdio ao inspirar
assassinos potenciais a se identificar com o Estado, e
suas vtimas como rus que devem ser punidos. Olhando
para trs, atravs dos dados reexaminados da experincia
norte-americana, parece claro que a taxa de assassinatos
era menor durante aos anos de abolio da pena de
morte em vrios Estados do que nos perodos em que ela
estava em vigor. No perodo posterior 2 Guerra
Mundial, em que a pena de morte se tornara menos popular
e que vrios Estados a aboliram, a taxa americana de
homicdios permaneceu quase estacionria, nunca indo
alm de 6,4 por 100 mil pessoas.
A
experincia histrica dos pases que ainda tm ou
que aboliram a pena de morte deve ser revista mais
intensamente do que foi agora. E ser uma pea
importante no debate pblico para avaliarmos a eficcia
da pena de morte, para os que no se convencem do
argumento tico, que parece pondervel no caso
brasileiro. preciso quebrar a cadeia da violncia em
que estamos presos pelo menos h vinte anos. Nessas
duas dcadas especialmente a principal resposta que foi
dada ao crime foi a violncia. hora de romper essa
cadeia.
Essa
argumentao tem o dom de irritar aqueles que se
preocupam com solues imediatas. Romper essa cadeia
da violncia diante dos assassinatos dos colunveis e
do povo na periferia seria pura poesia, defesa dos
criminosos at. Infelizmente, do mesmo modo que um
debate srio deve levar em conta a experincia dos
outros pases, temos de levar tambm a nossa recente.
Nada tem adiantado as milhares de mortes que foram
realizadas por policiais em plena ao rompendo
recordes internacionais na rea. No h nenhum pas
do mundo, levadas em conta populao e taxa de
criminalidade, em que tantos criminosos e suspeitos
sejam mortos sem processo diariamente. Ou em que a morte
de condenados de justia tenha sido to banalizada
como os assassinatos e as mortes nas prises.
No
se trata com essa preocupao de ter um especial
carinho pelos criminosos. Se interromper o banho de
sangue da execuo de criminosos e suspeitos,
complementar a sangueira dos assassinatos, inclusive dos
policiais, cometidos pelos criminosos, no for por si s
atraente, enfrentemos o argumento utilitrio: mais
sangue no adianta mais. A criminalidade continua impvida
e firme apesar dos cadveres. Legalizar essas execues
no teria conseqncia melhor. Hoje, quando, graas
a escalada incompetente da violncia, durante o regime
autoritrio, os criminosos preferem matar a ser presos,
a expectativa de uma pena de morte depois no iria
dissuadi-los do crime.
A
questo da pena de morte fastidiosa e interminvel.
O clamor popular, no entanto, nos obriga a enfrentar de
frente essa reivindicao, conseqncia direta da
barbrie e a incria que foram a poltica contra
implantada pelo autoritarismo. O resultado boa parte
da populao acreditando que armazenando armas e
revidando os assassinatos com execues legais estar
a salvo em seus lares. A defesa da pena de morte tem o
dom de obscurecer todos os dados do problema. Tentemos
fazer irromper, ao lado da revolta contra os criminosos
e do medo, uma avaliao mais serena e realista em
relao luta contra o crime. A democracia exige que
pensemos e implantemos j polticas alternativas. Caso
contrrio, cmaras de gs, cadeiras eltricas,
forcas, injees de veneno, nessa situao de
degenerescncia social e desrespeito lei, sero de
pouca valia. Fornos crematrios, beneficiando-se do
avano da tecnologia, sero logo, ilusoriamente, mais
atraentes.
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