Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
Direitos Humanos
Desejos Humanos
Educao EDH
Cibercidadania
Memria Histrica
Arte e Cultura
Central de Denncias
Banco de Dados
MNDH Brasil
ONGs Direitos Humanos
ABC Militantes DH
Rede Mercosul
Rede Brasil DH
Redes Estaduais
Rede Estadual RN
Mundo Comisses
Brasil Nunca Mais
Brasil Comisses
Estados Comisses
Comits Verdade BR
Comit Verdade RN
Rede Lusfona
Rede Cabo Verde
Rede Guin-Bissau
Rede Moambique

ABC dos Novos Direitos e Deveres Dilemas para o Sculo XXI Direitos Globais no Universo em Mutao 4b4i4r

Intifada

Segunda Intifada: herica resistncia do povo palestino!

Todo apoio resistncia do povo palestino! Palestina Livre!

Segunda Intifada: herica resistncia do povo palestino!
H 56 anos o povo palestino luta e resiste bravamente ocupao de seu pas pelo Estado de Israel. A poltica ditatorial racista do Estado de Israel, o sionismo, separa o povo palestino de sua prpria terra, e trata qualquer tentativa de resistncia como “terrorismo”. Apoiado pelo imperialismo dos Estados Unidos, o governo de Ariel Sharon promove o genocdio do povo palestino, e est construindo um muro para segregar os palestinos, isto , est implantando um “apartheid” nos territrios palestinos ocupados, separando as pessoas de seus locais de trabalho, de suas escolas e hospitais, bem como do o gua. Alm disso, o Estado sionista de Israel assassina as lideranas da resistncia popular, e utiliza a mundialmente condenada prtica das punies coletivas, levando o terror e a indignao a toda a populao palestina.

Israel tenta estrangular a economia palestina, obriga o povo palestino a consumir produtos fabricados em Israel e impede o comrcio de produtos palestinos fora dos territrios ocupados. Os palestinos so obrigados, para sobreviver, a buscar trabalho em Israel, ando por todo tipo de humilhaes e recebendo baixos salrios. Hoje 60% dos palestinos vivem abaixo da linha da pobreza, e, em algumas regies, como na faixa de Gaza, o desemprego j atinge 60% da populao.

A ditadura racista de Israel trata os presos polticos palestinos de forma desumana, submetendo-os s torturas e humilhaes, e impedindo seus familiares de visit-los. Nega tambm o direito de defesa, uma vez que muitos so presos sem acusao formal. Mas o povo palestino resiste, e atravs da guerra das pedras, a Intifada, vem demonstrando ao mundo seu herosmo e enorme coragem.

Nos ltimos 4 anos, desde o incio da segunda Intifada, foram assassinados pelo exrcito de ocupao de Israel 3.659 palestinos, dos quais 795 crianas, 245 mulheres e 2.619 homens adultos. Alm desses assassinatos, o exrcito de Israel feriu 27 mil palestinos e mutilou 3.500.

O governo fascista de Ariel Sharon tambm expulsou os palestinos de suas casas e terras: cerca de 7.500 casas de palestinos foram totalmente destrudas, 1 milho de rvores frutferas e oliveiras foram arrancadas, e 30 mil hectares de plantaes, principalmente de trigo, foram envenenadas por herbicidas, levando a fome a grande nmero de pessoas, e ao aumento no preo dos alimentos. Se isso no bastasse, cerca de 224 mil hectares de terras palestinas foram confiscadas pelo estado de Israel, e mais de 73 mil hectares de terras palestinas foram totalmente arrasadas.

Com sua herica resistncia o povo palestino demonstra, sua maneira, com a Intifada e outras formas de luta, que preciso e possvel enfrentar a opresso imperialista, mesmo em condies desiguais, pois a luta popular organizada a condio para a vitria.

^ Subir

Todo apoio resistncia do povo palestino! Palestina Livre!
Marius Schattner
Boletim do CeCAC, ano X, no 4, nov/dez 2004 - verso impressa

A “preparao” da Intifada
Muito antes da famosa visita-provocao de Ariel Sharon Esplanada das Mesquitas, em 28 de setembro de 2000, o exrcito e os servios secretos israelenses j estavam preparados para a ecloso do que viria a ser a (segunda) ’Intifada’

“Mar alta, mar baixa”, o nome de cdigo dado Intifada – desde seu comeo em setembro de 2000 – traduz a idia do exrcito israelense sobre o confronto: um fenmeno natural, inevitvel, sem relao de causa e efeito com a ao do governo. E tambm a idia de que a onda de violncia acabar se quebrando contra a fora de resistncia do exrcito. Basta agentar at o refluxo, at o dia em que o adversrio “perder a esperana de arrancar concesses pela fora”, segundo uma das expresses favoritas dos dirigentes israelenses.

O comando militar afirma ter visto essa onda de fundo vir de longe. “As informaes colhidas e os preparativos realizados nos QG permitiram que no fssemos surpreendidos pelo conflito armado desencadeado pelos palestinos”, assegurou, em dezembro de 2001, o general Moshe Yaalon, ento chefe adjunto do Estado-Maior1. No mais, o Servio de Inteligncia Militar (Aman), que ele dirigia em 1995, teria avisado o primeiro-ministro Yitzhak Rabin que, violando os acordos de Oslo, a Autoridade Palestina no fazia nada para impedir os atentados, sendo que “conhecia os autores, sabia onde se encontravam os esconderijos de armas e avaliava a importncia da ameaa terrorista”. Em outras palavras, o Servio de Inteligncia do exrcito previu, com cinco anos de antecedncia, o fracasso do processo de paz2.
Uma “enorme provocao”

Este sinal de aprovao precisa ser minuciosamente avaliado. No vero de 1995, os servios secretos militares no apontavam, na realidade, “qualquer indcio que permitisse afirmar que Yasser Arafat no estivesse comprometido com o acordo (de Oslo) e com o processo de paz”. Pareceria que, na boa tradio dos servios secretos, o Aman tenha considerado todas as possibilidades, dizendo ao poder o que este tinha vontade de ouvir3.
Mas certos oficiais superiores, efetivamente, deram o alarme antes de outros. No surpreende que fossem os que mais se opunham aos acordos de Oslo de 1993, com os palestinos. Todos eles viram na continuao dos atentados, aps 1993, a prova da duplicidade de um Arafat que continuaria desejando a destruio de Israel por etapas, mesmo que tais ataques fossem perpetrados unicamente, na poca, por grupos islmicos de oposio.
O seu pior cenrio se concretiza em 29 de setembro de 2000, quando se desencadeia a Intifada no dia seguinte visita Esplanada das Mesquitas (Monte do Templo) do chefe da oposio de direita da poca, Ariel Sharon. Alertado de longa data, o exrcito estava preparado para o confronto. To preparado que Yasser Arafat acusaria o chefe do Estado-Maior, Shaul Mofaz, e o primeiro-ministro trabalhista, Ehud Barak, de terem montado uma enorme provocao, em conivncia com Sharon, para acabar com uma Autoridade Palestina cuja legitimidade nunca foi aceita pela direita e por uma parte do exrcito.

A profecia da desgraa
Na realidade, se no existe qualquer prova de que tenha deliberadamente empurrado os palestinos para um confronto, ser que o Estado-Maior fez tudo para o evitar? E quando o fogo pegou, ser que fez tudo para o conter ou, pelo contrrio, o atiou? Ser que no viu nessa prova de fora a oportunidade sonhada de quebrar a Autoridade Palestina, podendo at ir contra um governo trabalhista ainda empenhado (at dezembro de 2001-janeiro de 2002) num ltimo esforo para chegar a um acordo com Arafat?

o que deixa entender o ex-chefe de gabinete de Barak, o advogado Gilead Sheer, um dos principais negociadores com os palestinos. “Uma das concepes dominantes no meio do exrcito era a profecia da desgraa, chamada a se realizar: o confronto se tornava inevitvel, pois os palestinos blefavam, ou mentiam mesmo, e estavam se preparando de armas nas mos”, escreve em seu livro sobre as negociaes. Segundo ele, as orientaes do poder civil para reduzir a tenso com os palestinos no eram seguidas na maioria das vezes: “Os blindados (que entravam na rea palestina) no voltavam para sua posio de origem (…), s um nmero nfimo de operrios palestinos era autorizado a voltar a Israel, as barreiras nas estradas eram mantidas” na Cisjordnia e na Faixa de Gaza. Ele se ergue contra a propenso de certos chefes do exrcito em tomar posies polticas em pblico, ao “se dirigirem diretamente opinio pblica, ando por cima do governo” eleito, principalmente nos ltimos meses do governo de Barak4.

Retomando argumentos clssicos
Trata-se de um fenmeno recorrente num Estado onde o exrcito sempre atuou em funo de seu enorme peso na sociedade: a nica instituio que assume, ao mesmo tempo, tarefas de avaliao (com o Aman, a mais importante das agncias de inteligncia), de planejamento e de execuo. uma instituio que reflete as tendncias gerais do pas e acolhe cada vez mais colonos e nacionalistas religiosos em suas fileiras, embora estes ainda estejam pouco representados na instncia do comando superior. O fenmeno se ampliou durante os ltimos meses, enquanto o pas era dirigido por dois ex-generais, Sharon e o ministro da Defesa, Benyamin Ben Eliezer, cujo ativismo no perde em nada para o dos chefes do exrcito.

Dois chefes sucessivos do Estado-Maior, Mofaz e Yaalon, intervieram, assim, estrondosamente no campo poltico, pregando com exagero a guerra contra a Autoridade Palestina, retomando uma argumentao clssica da direita. Ainda em fevereiro de 2001, antes mesmo que Sharon assumisse suas funes, o general Mofaz classificou a Autoridade Palestina de “entidade terrorista”. Em outubro de 2001, ops-se evacuao de dois bairros da cidade de Hebron (desde ento inteiramente reocupada), o que, no entanto, fora formalmente decidido pelo governo. Na primavera de 2002, exigiu a expulso de Arafat, contra a opinio da maioria do governo e de um certo nmero de especialistas militares.

As relaes entre exrcito e poltica
Quanto ao general Yaalon, ele compara a Intifada a um “cncer” que ameaa a prpria existncia de Israel como Estado judeu, voltando contra os rabes a imagem de um Israel “cncer” na regio. Este cncer tem que ser extirpado de um jeito ou de outro – pessoalmente, Yaalon preconiza uma “quimioterapia”, mas lembra que outros pregam a “amputao”. Alm disso, o novo chefe do Estado-Maior denuncia a retirada israelense do Lbano decidida, em maio de 2000, pelo governo Barak, que teria, em sua opinio, “feito o jogo dos interesses rabes”. Acusa os defensores do compromisso e todos os que criticam a conduta do exrcito de solapar o moral da nao. Afirmaes que provocaram uma forte polmica.

Seguindo o mesmo tipo de raciocnio, o chefe da fora area, general Dan Haloutz justificou, em agosto de 2002, a morte de civis inocentes durante ataques areos “contra terroristas” e se props a “processar por traio” os pacifistas israelenses que ousam acus-lo de crime de guerra.
A questo que se coloca, mais uma vez, a das relaes entre o exrcito e a poltica. Questo que, na verdade, remonta dos acordos de Oslo de agosto de 1993. Em suas memrias, o general de reserva Uri Sagui descreve o constrangimento de um chefe dos servios secretos militares, obrigado a recorrer s suas prprias fontes de informao para ficar sabendo que seu governo est negociando secretamente, em Oslo, com a Organizao de Libertao da Palestina (OLP) e que, contra qualquer expectativa, as negociaes esto prximas de uma concluso. “O primeiro-ministro (Rabin) no me havia informado sobre o que estava acontecendo com o ministro das Relaes Exteriores (Shimon Peres, que supervisionava a negociao), mas consegui ficar sabendo mais graas s minhas fontes e informei o chefe do Estado-Maior, Ehud Barak5”, revela.

Militares pr-paz
O ex-chefe do Aman, no entanto considerado no exrcito como um moderado, lamenta “ter tomado, tarde demais, conhecimento da Declarao de Princpios (do acordo de Oslo) para poder influir sobre ela”. O general Barak estava convencido de que o mecanismo das retiradas militares sucessivas previstas por Oslo jogava contra Israel, na medida em que este dever “entregar territrios sem contrapartida”. Ele classifica o acordo de “queijo suo cheio de buracos”. Quando, na seqncia, foram consultados, os especialistas militares multiplicariam as medidas de segurana para se assegurarem de que as armas da polcia palestina no seriam usadas contra Israel e de que as colnias de povoamento poderiam gozar da segurana necessria, o que permitiria que crescessem num ritmo acelerado.

No podemos deduzir, entretanto, que o comando superior era radicalmente contrrio ao acordo de Oslo, afirma o general de reserva Danny Rostchild. “Alguns oficiais superiores desconfiavam, outros eram contra, outros a favor e, pessoalmente, eu estava encantado”, diz o ex-chefe da istrao militar nos territrios ocupados at 1995.

O sucessor do general Barak como chefe do Estado-Maior de 1995 a 1998, general Amnon Shahak, por exemplo, um defensor convicto dos acordos de Oslo. A exemplo de outros dirigentes militares, considera que os acordos reforam a segurana do pas. Isto o colocaria em conflito com o primeiro-ministro, de direita, Benjamin Netanyahu, que – ironia do destino – acusa, na poca, o alto comando de ingerncia na poltica6. O chefe do Departamento de Segurana Interna - civil - (Shin Beth), almirante de reserva Ami Ayalon, tambm era favorvel ao compromisso com os palestinos. Aps ser reformado, em 2000, defenderia a retirada incondicional dos territrios ocupados.

Negociaes paradoxais
Em contrapartida, os opositores a Oslo contam em suas fileiras com o general Mofaz, chefe do Estado-Maior de 1998 a julho de 2002, e o atual chefe das foras armadas, o general Yaalon que, desde 1995, ocupa postos-chave frente aos palestinos: chefe do Servio de Inteligncia militar, comandante da regio que abrange a Cisjordnia e chefe adjunto do Estado-Maior de 2000 a 2002.
Todavia, mais do que por motivos ideolgicos, por uma viso estreita que o exrcito freia a aplicao de Oslo, segundo Danny Rotschild. Porque, para um militar, os imperativos de segurana “a curto prazo” so mais importantes. Quando os fundamentalistas islmicos lanaram a primeira onda de ataques suicidas em Israel, em 1994, aps o assassinato de cerca de trinta muulmanos em Hebron pelo colono Baruch Goldstein, o exrcito se declarou favorvel ao cerco dos territrios palestinos (embora o Shin Beth tivesse apontado os riscos). O objetivo era deter os atentados em Israel impedindo a entrada de palestinos; porm, o cerco jogava no desemprego mais de 100 mil trabalhadores empregados em Israel e dava um duro golpe credibilidade do processo de paz por parte de uma populao que, no mnimo, esperava dele melhores condies econmicas.

Hesitante, desconfiado e divido em relao aos acordos de Oslo, o exrcito encontrou-se numa situao paradoxal. De um lado, fora encarregado de aplicar o acordo, inclusive sob governos trabalhistas que apostavam na implicao dos militares na negociao para convencer a opinio pblica. De outro, preparava-se para um confronto com os mesmos palestinos que eram seus interlocutores, um confronto que explode, com a abertura de um tnel antigo por Israel, na noite de 23 a 24 de setembro de 1996, sob a cidade velha de Jerusalm, ao longo da Esplanada das Mesquitas. Os muulmanos vem nisso uma ameaa para o terceiro local santo do Isl. eatas, duramente reprimidas, transformam-se em rebelio e, depois, em batalha ordenada com a entrada de policiais palestinos. O exrcito israelense no estava nem um pouco preparado para enfrentar a situao, pois no havia sido informado com antecedncia, pelo primeiro-ministro Netanyahu, sobre o sinal verde para a abertura do tnel. O saldo foi pesado: 80 mortos, dos quais quinze militares israelenses.

Matar a revolta no embrio
“Essa confuso constituiu uma virada. O comando militar no teve mais dvida: a exploso de ira serve a Arafat como meio de presso para obter vantagens na negociao”, declarou o ex-chefe do Departamento Histrico do exrcito, Igal Eyal. A lio disso tudo que “confrontos se reproduziro em maior escala ainda, envolvendo as foras de segurana palestinas, quando as negociaes entrarem numa fase decisiva, ou se os palestinos proclamarem unilateralmente sua independncia7”.

Para o exrcito, os preparativos se intensificariam em julho de 2000, aps o fracasso das negociaes de Camp David e em funo de preparativos no campo do adversrio, principalmente no interior do Fatah. As posies de guarda foram reforadas em redor das colnias, novas tticas foram estudadas, unidades fizeram treinamentos especiais, planos de interveno foram estabelecidos, em particular a operao para toda a Cisjordnia, cujo nome de cdigo era “Campo de Arame Farpado”.

Estes planos ariam a ser aplicados desde o comeo da Intifada. Tratava-se de bater duro, de matar a revolta enquanto era ainda um embrio. O resultado foi um nmero elevado de palestinos mortos nas primeiras semanas de confronto – oito vezes maior que o nmero de israelenses mortos! Dois anos depois, a relao cairia de um para trs, o nmero de mortos israelenses ultraando os 600, em grande parte civis, “contra” mais de 1.800 palestinos mortos.

Um “descontentamento crescente”
No se tratava apenas de preparativos tticos. Foi toda uma concepo do “confronto limitado” que o comando militar elaborou antes mesmo do incio da Intifada. “O comando militar entendeu que no bastava aplicar orientaes – pouco claras e mudando sempre – do poder poltico, mas que deveria interpretar suas inspiraes, como o arquiteto com seu cliente, isto , pensar de modo diferente a luta, introduzir novos conceitos, levar em conta restries internacionais e o peso da opinio pblica”, explica o general de reserva Iri Kahn, um dos responsveis pelo Departamento de Pesquisas Operacionais do exrcito, encarregado da formao e reflexo estratgica dos oficiais superiores.

“O objetivo no ocupar um territrio, retomar o controle das reas autnomas palestinas (seria, porm, o que ocorreria na prtica), menos ainda restabelecer uma istrao militar com todos os encargos que isto representa, mas, sim, provar aos palestinos que a violncia no compensa e se volta contra eles.” Nesse momento, e s ento, Israel deveria apresentar um plano de paz, pois no haveria soluo durvel “sem soluo poltica”.
Essa hora se aproxima, afirma um outro oficial superior da ativa, do Departamento de Planejamento Estratgico do exrcito, que menciona um “descontentamento crescente da populao palestina” em relao sua direo e a Arafat. Ele tambm tem em vista, na hora certa, um acordo poltico cujos contornos ainda no podem ser revelados por Israel. Porm, isto acontecer sem o chefe palestino, que ele acusa de ter lanado deliberadamente uma “verdadeira guerra”, e no um levante popular como parecia ser. Na opinio desse oficial, o exrcito esperava por isso, mas no havia considerado “que a luta durasse tanto tempo, fizesse tantos mortos e provocasse uma onda to sangrenta de atentados suicidas”. A tambm, Arafat, com seu lado irracional, seria o nico culpado.

A “morgue” do comando militar
A explicao vale o que vale. E tem a vantagem de isentar totalmente Israel e seu exrcito de qualquer responsabilidade, no apenas no que se refere origem das perturbaes, mas tambm no que envolve a represso que provocou a morte de centenas de civis inocentes e a destruio macia de casas no mbito de uma poltica de punies coletivas.

“O que est acontecendo no Tsahal?”, pergunta o jornalista Nahum Barna, vedete do jornal de grande tiragem Yediot Aharonot, aps a morte de duas crianas e de dois adolescentes, no dia 31 de agosto, durante uma “operao de queima de arquivo” que errou o alvo - outro deslize pelo qual o ministro da Defesa, mais uma vez, se desculpou e sem que, mais uma vez, nenhuma sano, nem a mnima crtica, fosse aplicada aos responsveis. O jornalista, que esmia a “morgue” do comando militar, questiona no s a legitimidade moral desse tipo de operao - o exrcito assume deliberadamente o risco de matar parentes da pessoa que est na mira - como tambm sua lgica interna, ainda mais que acontece aps um perodo de relativa calma e pode desencadear um novo ciclo de atentados e represlias8.

No se trata apenas de deslizes ou mancadas, observa o orientalista Avraham Sela, tambm ex-oficial superior do servio secreto militar. “Houve, principalmente no incio da Intifada, uma vontade muito ntida de provocar muitas vtimas, no somente entre os atiradores palestinos, mas entre manifestantes que, de modo geral, s tinham pedras como armas. Assim fazendo, o exrcito efetivamente quebrou a revolta popular, mas ela se transformou em terrorismo e luta armada”. Que no acabar, realmente, sem uma proposta poltica digna de crdito para os palestinos, o que no se v aparecer.

Essa “morgue” do comando militar disfara, segundo ele, “uma ausncia de estratgia real”, o objetivo de quebrar a vontade adversa e no pode ser considerada, politicamente, como um objetivo de guerra. O mais grave, segundo esse pesquisador da universidade hebraica de Jerusalm, que, por trs do discurso sobre a irracionalidade de Arafat e sua vontade de destruir, existe um “conceito estereotipado dos palestinos e dos rabes, nos quais s acreditamos quando dizem que querem destruir Israel, sem levar em conta que, na prtica, as pessoas esto prontas a aceitar um modus vivendi”, conforme comprovam vrias pesquisas de opinio.

Trad.: David Catasiner

1 - Ler, de Moshe Yaalaon, “Les prparatifs des forces un conflit limit”, revista Maarahot (texto em hebraico), Tel-Aviv, n 380-381, dezembro de 2001, pp. 24 a 30.
2 - Entrevista de Yaalon revista militar israelense Mabat le Moreshet Hamodiin sobre a histria da Inteligncia, Tel-Aviv, 28 de janeiro de 2002: “Propus ao primeiro-ministro Yitzhak Rabin que desse um ultimato (a Yasser Arafat), intimando-o a agir contra o terrorismo, seno o processo de paz seria interrompido”, revela o atual chefe do Estado-Maior.
3 - Cf. artigo de Yossi Melman, Haaretz, Tel-Aviv, 16 de agosto de 2002, citando um documento do Departamento de Anlise, do Aman.
4 - Ler, de Gilead Sheer, A porte de la main, (em hebraico), ed. Tamar, Tel-Aviv, 2001, p. 368.
5 - Ler, de Uri Sagi, Orot be Arafel (Luzes na neblina), autobiografia (em hebraico), ed. Yediot Aharonot, Tel-Aviv, 1998, pp. 186-187. Ele destaca que, na poca, era a favor de negociaes diretas com a OLP, uma opinio longe de ser unnime no exrcito.
6 - Principalmente durante o Conselho de Ministros, no dia 15 de junho de 1998. Cf. nota Agncia Presse, 15 de junho de 1998.
7 - Esses acontecimentos no impediriam o governo Netanyahu de, mais tarde, retirar o exrcito de quatro quintos de Hebron. A lio que os militantes palestinos tiraram disso foi de que os israelenses cedem mais facilmente se tiverem que enfrentar a violncia, aponta o jornalista Charles Enderlin, que, a esse respeito, cita o chefe do Fatah, Marwan Barghouti, desde ento preso e “julgado” por Israel. Ler, de Charles Enderlin, Le Rve bris, ed. Fayard, Paris, 2002, p. 74.
8 - Yediot Aharonot, 1 de setembro de 2002. Desde ento, uma I absolveu os militares por essa morte e pela morte de mais oito palestinos durante dois outros incidentes, preconizando que fossem tornadas mais severas as instrues sobre disparos.

L Monde Diplomatique Outubro 2002

^ Subir

Desde 1995 dhnet-br.informativomineiro.com Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: [email protected] Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Not
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
Hist
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Mem
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multim