2k3q71

A Lei
“Cmara Cascudo” e a Perspectiva de Formulao
de Polticas Pblicas na rea de Cultura
No
momento em que se discute o processo de implantao do Programa
Estadual de Incentivo Cultura no Estado do Rio Grande do Norte, a
chamada Lei “Cmara Cascudo”, necessrio tecer algumas
consideraes sobre o papel desse importante mecanismo
institucional.
Com o
advento da Constituio Federal de 1998, a at ento discusso sobre
os Fundos Pblicos Especiais – entre eles o Fundo de Cultura e os
Programas de Incentivos a Projetos Culturais – tiveram toda a sua
definio normatizada e includa no texto constitucional, cabendo a
criao destes, de autorizao legislativa e sendo obrigatria a sua
incluso no oramento fiscal.
No
nosso caso, a Lei “Cmara Cascudo” de Incentivo Cultura, teve em seu primeiro
momento, a iniciativa legislativa da Deputada Estadual Ftima
Bezerra, obtendo o apoio significativo dos parlamentares estaduais,
quando foi aprovada por unanimidade. Esse apoio determinante da
Assemblia Legislativa, veio somar-se juntamente com as
mobilizaes, contribuies e propostas da classe artstica
potiguar, que atravs de encontros, seminrios e reunies,
contribuiu fortemente para o aperfeioamento do texto do Projeto de
Lei, e consequentemente nas articulaes que resultaram na sua
aprovao, tanto na primeira fase, quanto na segunda, quando foi
atravs de mensagem encaminhada pelo Executivo Estadual.
O
Estado do RN h muito
tempo necessitava desse mecanismo de incentivo. Diversos Estados da
federao j desenvolvem este Programa de valorizao cultural com
resultados bastantes animadores.
H uma
percepo, cada vez mais forte na sociedade, de que a Cultura, sob
suas mais variadas formas e expresses, um segmento cada vez mais
presente na promoo do desenvolvimento econmico, assim como tambm
na formao do cidado e no resgate da identidade cultural e
histrica do nosso povo. Nesse sentido, as manifestaes culturais
mobiliza recursos, envolve uma enorme quantidade pessoas
trabalhando, promove a distribuio de bens e produtos, e contribui
assim para a pesquisa da qualidade artstica e a profissionalizao
do fazer cultural.
Vrios
estudos desenvolvidos em regies beneficiadas pelo Programa de
Incentivo Cultura demonstram o impacto positivo e empreendedor da
Cultura no desenvolvimento econmico regional. Recentemente, o
Estado da Bahia, ao avaliar a repercusso do seu Programa Estadual
de Incentivo Cultura, concluiu que no Estado, a Cultura
responsvel pelo pso de 4,4% do PIB baiano. O Cear, outro Estado
pioneiro na implantao de Lei de Incentivo Cultura, tem se
tornado um dos plos mais importante do pas, em relao ao apoio e
difuso do cinema brasileiro. Segue-se tambm as demais experincias
por todo o pas, principalmente quanto aos Programas desenvolvidos
no eixo Rio de Janeiro-So Paulo, regio que movimenta maior volume
de recursos e que concentra grande parte dos projetos aprovados pela
Programa Nacional de Incentivo do Ministrio da Cultura.
Outra
informao importante a da pesquisa realizada pelo Centro de
Estatsticas e Informaes da Fundao Joo Pinheiro, de Minas
Gerais, que analisa o impacto do PIB Cultural na nossa economia.
Segundo os dados da pesquisa, em 1994, o setor cultural empregava um
contingente 90% superior ao da atividade de fabricao de
equipamentos e de material eltrico e eletrnico; 53% superior ao da
indstria de material de transporte; e 2,8 vezes maior que do setor
de comunicaes.
Nota-se
portanto, quanto a implantao do Programa Estadual de Incentivo
Cultura, importante para a retomada dos projetos e atividades
culturais, em Natal, e em todo municpio do Estado. Um dos pontos
forte do Programa a abrangncia geogrfica por toda as regies do
RN, atingindo e mobilizando artistas e produtores vrias cidades
potiguares, especialmente aquelas que no tem leis de incentivo
funcionando.
No caso
de Natal, o Programa aprovado vem preencher um vazio produtivo na
cidade, quando a classe artstica ainda lamenta a extino do
PROFINC, a antiga Lei Municipal de Incentivo Cultura. O PROFINC,
segundo dados e estudos do Vereador Fernando Mineiro, o autor da
Lei, durante seus 3 anos de existncia, criou as condies
favorveis para o o pblico dos recursos municipais em
benefcio da Cultura. E o mais importante: com um custo
oramentrio, relativamente pequeno, conseguiu mobilizar vrios
projetos e alavancar diversas produes que tiveram repercusses
positivas a nvel local e regional. O PROFINC financiou cerca de 70
projetos que custaram aos cofres pblicos aproximadamente R$ 900 mil
reais. Os custos mdios mensais com o Programa foram de R$ 25 mil
reais. Um custo extremamente pequeno, comparado com o derrame e
desperdcio do dinheiro pblico, muitas vezes sem atingir nenhum
benefcio para a populao.
Sendo
assim, dada a extrema importncia o que o mecanismo do Programa
Estadual de Incentivo representa para o nosso Estado, que
acreditamos que ele possa ser o incio, a base, ou o vetor para que
o Executivo Estadual se preocupe com formulaes e iniciativas
pblicas para o setor cultural.
Estas
aes bem que poderiam contemplar a criao de um Plano Estadual de
Cultura; a pesquisa e o levantamento de um Mapeamento Cultural do RN
e a criao de ncleos formadores e fomentadores das artes e do
conhecimento, nos moldes das chamadas Casas de Cultura.
Todas
essas proposies, no entanto, s teriam um xito substancial, se
fossem acompanhadas de um debate pblico, onde envolvessem diversos
segmentos da sociedade, desde os artistas e produtores culturais,
como tambm empresrios, educadores e outros setores da
istrao pblica, e dessa forma, contando com a participao da
sociedade e com o fortalecimento dos canais de o aos bens
pblicos que poderemos vislumbrar uma poltica verdadeiramente
pblica e calcada nos ideais do pleno exerccio de nossa Cidadania
Cultural.
ALUZIO MATIAS DOS SANTOS
ALUZIO MATIAS DOS SANTOS poeta, produtor cultural e
Coordenador do Frum Municipal de Cultura.
|