EDUCAO
PARA A TOLERNCIA:
OU A BUSCA DO HUMANO v5q2p
1y1h6n
Rosa
Emlia Salamanca
Maria
Cristina de Vargas
Wilson
Tolosa
Grman
Nio
Nossa proposta neste artigo apresentar uma discusso sobre a educao
para a tolerncia. Inicialmente, abordaremos brevemente o papel da educao
nos processos de sustentao e transformao das condies sociais, econmicas,
polticas e culturais. Na sequncia, analisaremos as diferentes concepes
que, em termos de desenvolvimento, temos em nossos pases e sua incidncia
na realizao plena de nossa gente. Ainda, localizaremos dentro desta
problemtica o papel do conflito na dinmica pessoal e social. Concluiremos
com nossa apreciao em torno das condies que deveria ter a educao
para a tolerncia, seu marco conceitual e os espaos para seu
desenvolvimento.
-
Educao e Sociedade.
Para
adiantar este trabalho necessrio estabelecer a condio e o papel que a
educao desempenha na dinmica social.
A
educao tem o papel de transmitir as idias, princpios, normas e valores
que constituem a identidade e cultura de uma nao, de uma comunidade, e que
seu desempenho est explicitamente ligado socializao dos indivduos
em seu contexto. Isto implica reconhecer que a educao no se restringe
escola, mas, ao contrrio, vivida em mltiplos espaos de nossas vidas,
em nossas relaes de parceria, de famlia, na escola, nas relaes
comunitrias e nos espaos da vida pblica.
Se
nossa educao est imersa na dinmica que os indivduos tm em seu
contexto particular, ela no est alheia, portanto, a seus problemas e solues,
devendo buscar sua explicao dentre as contradies que a sociedade
manifesta e das quais no se pode escapar. Esta condio lhe confere seu
carter essencialmente humano e poltico.
O
problema da educao um fator determinante na mudana social. Porm,
existe a tendncia de consider-la margem da dinmica do mundo do real,
pelas mesmas circunstncias em que ela tem se desenvolvido historicamente.
Ento,
a educao assume umas caractersticas, fundamentalmente, do tipo ideolgico,
onde o conhecimento separado das bases reais e materiais da existncia dos
indivduos em seu relacionamento social, sua situao de classe, gnero,
etnia, etc. Ela aliena, desta forma, a possibilidade do conhecimento como
construo - desconstruo - construo coletiva, onde o referencial bsico
deve ser a busca de um viver melhor, no marco de uma cultura particular.
Descontextualizar
os processos educativos com o objetivo fundamental de fazer deles espaos de
difuso e adequao tecnolgica (mediante a implementao de mtodos do
tipo autoritrio e vertical funcionam ao aparato produtivo, de
desconhecimento do fator humano inerente a todo processo de comunicao),
vai configurando, de uma maneira lenta e tolerada, referenciais particulares
nos indivduos onde o outro/a assumido/a na interao social, com os
mesmos parmetros sob os quais foi desenvolvido seu processo educativo.
Contudo, no inteno, e , ademais, tampouco suficiente colocar que
os mtodos e prticas educativas ultraadas so as causadoras deste fenmeno,
ainda que realmente elas tenham uma alta cota de responsabilidade nas prticas
intolerantes dos cidados.
Por
esta razo, podemos que a educao tem um importante compromisso a assumir
na construo das idias e das caractersticas de relao que as pessoas
geram em nossas sociedades, assim como na permanncia ou mudana das condies
sociais, econmicas, polticas e culturais. justamente aqui que est sua
responsabilidade e a impossibilidade de deslig-la de seu contorno. Assim,
adentraremos um pouco nos diferentes fatores que incidem no vir a ser de nossa
existncia.
A CONSTRUO DO SOCIAL: A ETERNA BUSCA 3d594y
Indagar sobre desenvolvimento ter um sonho, uma utopia como
resposta. O desenvolvimento resulta da relao entre a vida interior de cada
pessoa e as foras externas que determinam a existncia desta. Aspiraes
individual e social que percorrem a histria, confundem-se com um bem
supremo, com a felicidade a que tendem nossas aes e projetos. Hoje podemos
chamar este sentimento como o Bem-estar, ou seja, a causa final das
atividades dos seres humanos, o fim supremo da vida.
A
idia de bem-estar envolve um processo de desenvolvimento social, em uma relao
de dupla via em que esse bem-estar individual a base do desenvolvimento
social e vice-versa, o modelo de desenvolvimento social influi diretamente na
definio do bem-estar individual.
Este
bem-estar que no resulta de nenhum ato divino; implica na eleio de
objetivos, est arraigado na construo do mundo real, concebendo a vida
como produto da socializao e experincia individual, incluindo dentre
outros: valores, objetivos, formas de vida, diferentes culturas, projetos por
alcanar, fins e meios. Significa dizer: o bem-estar faz parte de nossos
sonhos e esperanas possveis. Seu compromisso a busca e aquisio de
bens satisfatrios s aspiraes e necessidades.
A
extrema valorao em se adquirir esses bens deu margem a questionamentos
sobre crenas tais como a de que o crescimento econmico bom para a
humanidade, o que supostamente certo. O problema surgiu quando o
bom se converteu em sinnimo de mais e mais (...) obsesso esta
que gerou em nosso conceito de justia social, especialmente sob o
capitalismo. A justia social confunfiu-se com o prprio crescimento. (Man
Neef, 1982. Pg.59).
As
mudanas abriram campo para a reorganizao de foras sociais e de poder,
brindando a possibilidade de o a novos cenrios, ainda que os efeitos no
tenham sido equitativos e nem comuns para a populao em geral, dado que as
condies sociais para o desempenho nesses campos no serem as melhores.
Por um lado, como ponte dos principais benefcios, encontram-se os grupos
econmicos que fortaleceram sua posio de poder; por outro, encontram-se
os trabalhadores assalariados (privados ou pblicos) para quem os efeitos tem
sido negativos com a perda de oportunidade no mercado de trabalho (trabalho
formal), produto das novas exigncias do modelo econmico.
Assim,
dia a dia, existe maior concentrao de bens materiais em uns poucos, frente
a insatisfao das necessidades da populao em geral, refletindo em
efeitos negativos como: o avanado crescimento do trabalho informal, o
regresso da exportao de produtos de origem primria (matrias primas) e
o aumento da dvida social, produto do crescimento de pobres na Amrica
Latina.
Do
contexto anterior, surgem novas problemticas sociais, que, de acordo com sua
causalidade, dimenso e composio, restam validez solues postas
(desenvolvimento e neoliberalismo), desde as perspectivas tradicionais
reducionistas, onde se concebe o xito em relao com o aumento da abundncia
econmica. Para o comum da populao, isso no s inalcanvel,
como espiritualmente insatisfatrio (Ikeda e Toynbee, 1992). Isto leva
impossibilidade de impor solues para a dvida social, s em termos de
pobreza e necessidades bsicas insatisfeitas, pois os efeitos dos modelos
econmicos implantados tem
repercutido, entre outros, na estrutura cultural de nossas sociedades. Exemplo
disso, est no caso de narcotrfico e da violncia generalizada. Ademais,
nos encontramos frente a uma crise de modelos econmicos de desenvolvimento,
pois os hoje existentes dificilmente podem se contrapor complexa situao
atual da poltica social.
De
acordo com esta realidade, importante pensar na deciso entre
desenvolvimento e crescimento; identificar os adjetivos do desenvolvimento e
assinalar as diferenas com os mecanismos para alcan-los. E, mais do que
tudo isso, compreender que para alcanar a equidade, necessrio entender
a integridade do ser humano, buscando formas que possibilitem o
desenvolvimento e o bem-estar de seu ser em plenitude desde uma perspectiva de
satisfao e no da maximizao da eficcia.
Falar
em bem-estar e desenvolvimento individual corresponde a criao de condies,
nas quais cada ser humano tenha a oportunidade de construir sua
personalidade, entendida como a relao particular e dinmica de sua
capacidade de pensar, sentir e construir realidades. Este compromisso
individual e, depois coletivo, implica em reconhecer o modo em que
estabelecemos nossa relao com o meio natural e outros seres humanos,
possibilitando a apropriao individual sobre as possveis solues
carncias, bem como, a participao ativa no processo de alcanar os
desenvolvimentos individual e social. Igualmente, esta mudana conceitual
impulsionou a valorizao de outros recursos pessoais, possibilitando o
o ao bem-estar integral por parte de um nmero maior de pessoas de
setores reconhecidos como economicamente inativos, como de crianas, pessoas
da terceira idade e donos de casa.
A
diferena das necessidades prprias condio humana, a satisfao ou
o bem-estar so criados culturalmente. Portanto, a qualidade de vida
proporcionada s pessoas por um modelo de desenvolvimento, depende do tipo de
bem-estar implantado por este. O sucesso do bem-estar individual est sujeito
ao processo social e ao individual. E este um ponto por onde podemos
iniciar um processo de mudana, reeducando na valorizao dos recursos e os
desejos individuais em face destes, permitindo a atualizao das
necessidades humanas.
O
processo de desenvolvimento como todo processo humano originou-se dentre
profundas contradies, obedece confrontos de interesses de diversas ndoles.
No existe uma idia nica a seu respeito. Cada sociedade e cultura tem sua
prpria concepo de desenvolvimento de bem-estar, o que nos leva a
refletir sobre o fato de que o desenvolvimento no tem um carter neutro,
mas sim, uma resposta comum a mltiplos interesses.
Na
idia de desenvolvimento, revela-se claramente o tipo de relaes que temos
e o que aspiramos ter com o meio ambiente que nos rodeia, bem como os que
internamente desenvolvem-se entre os seres humanos; a construo dos
imaginrios que, como sociedade, temos e/ou queremos, a partir de uma
perspectiva integral.
2- A PARTICIPAO: UMA
POSSIBILIDADE DE INTERVENO E OS FATORES QUE INCIDEM NO DESENVOLVIMENTO
Ainda que a possibilidade de bem-estar e de felicidade tem se esquivado
para a grande maioria das populaes mundiais, elas continuam sendo nossos
objetivos ltimos. Isto evidencia a necessidade de nos centrarmos no impulso
da participao, que leva a definir o bem-estar pretendido.
Ignorar
o bem-estar a que todo ser humano tem direito muito diferente do que
defender ou participar do desenvolvimento junto queles que, a partir do
mercado, definem o bem-estar dos outros.
Queremos
chegar a ser iguais na diferena. Queremos que desenvolvimento no seja
igual destruio. Queremos que desenvolvimento, evoluo, felicidade e
sabedoria cheguem a comer juntos na mesma mesa.
Como
nos coloca Consuelo Corredor: Penso que em nossos pases um objetivo
fundamental, segundo nosso ponto de vista, deve ser o propsito explcito e
prioritrio do alcance da igualdade. Creio que a igualdade, se um fim do
desenvolvimento, as demais polticas e estratgias, por consequncia,
deveriam orientar-se claramente consecusso da igualdade. Nesta
perspectiva de busca da igualdade, creio haver muitos esforos, no s a nvel
de Amrica Latina. Porm, gostaria de destacar o aporte de Amargia Senn, e
deve ser, quando ele nos prope que o importante e o fundamental no o
que a gente tem, mas basicamente, a pergunta deve ser:
Que
tipo de vida est tendo e o que est logrando SER e FAZER ?
E
nesta medida fizermo-nos com que o verbo TER perde importncia frente ao
verbo SER e FAZER.
Este
ser e poder fazer define, ento, que os seres humanos so CLIENTES do
desenvolvimento. Somos, ou melhor, devemos ser atores permanentes do mesmo.
Porm, para ele devemos chegar a participar nos 2 nveis de deciso. Ali
onde se define que importante, onde se deve investir, como se deve investir
e em quem se deve investir.
Chegar
fcil, participar o difcil. Por que? Porque estamos falando da
responsabilidade de participar na construo permanente de um modelo ou
modelos de desenvolvimento que tenham um princpio bsico: o ser humano deve
controlar seu desenvolvimento (evoluo, sabedoria), no o
desenvolvimento (Ter, poder) o que deve controlar o ser humano.
O
mercado est se convertendo em amo e senhor do mundo, o capital a nova
religio dos nossos templos.
Porm,
a esta religio s se pode contrapor o ser humano: no, que, decididamente, a
partir dos valores da solidariedade, de respeito, da cooperao, pode chegar
utilizao dos recursos que estejam a nosso alcance para parar este
gigantesco monstro. a luta definitiva por poder SER na discusso que TODOS
e TODOS sonhamos.
Ns,
seres humanos necessitamos de, relativamente, pouco para podermos sobreviver,
mas de muito para podermos nos desenvolver em todas as dimenses e com todas
as capacidades que a natureza nos brindou.
Se
acharmos os indicadores formais nos perguntaramos: Contamos ou no com um
lugar para viver? Contamos com comida para nos alimentarmos? Contamos com
roupa para que no frio nos aqueamos? Se assim, no muito o que nos
diferencia de outros animais. Entretanto, se perguntamos: Quantos moramos na
mesma casa? Que qualidade de habitao temos, se reconhecem e reconhecemos
as necessidades e os direitos das diferentes pessoas que dormem sob o mesmo
teto? A as coisas comeam a mudar. Esta casa conta com gua potvel? Que
tipo de energia utilizamos para cozinhar, de onde sai esta energia? Esta
energia que hoje utilizamos, seria possvel continuar usando no futuro? Quer
dizer, podemos comear a romper este crculo com a pergunta, com a certeza
de que se esteja respeitando em nossa integridade humana; e resistindo a que
se continue nos desrespeitando porque o modelo necessita sacrifcios.
Portanto,
o desenvolvimento deve ser um FATO HUMANO, fruto de uma inter-relao entre
os fatores econmicos, sociais, polticos, culturais e ambientais. Faz parte
do ado, presente e futuro das sociedades e responde as particularidades de
cada lugar. Tem a misso bsica de satisfazer os interesses materiais e
espirituais de cada um, em termos de liberdade, e a igualdade em dignidade e
direitos que temos como seres humanos, promovendo o progresso social para
elevar o nvel de qualidade de vida dentro de um conceito mais amplo de
liberdade.
Em
palavras de Patrcio Portocarrero: concebido como um veculo de mudana
social no econmico, institucional, poltico, social e pessoal, que para ser
vlido deve conter, em si, o princpio de sua prpria continuidade, que
contar com o compromisso e consenso dos que trabalham por ele.
Esta
auto-sustentabilidade do desenvolvimento, baseado no consenso, implica o
reconhecimento do carter democrtico que acompanha esta viso, onde somos
ns os/as que devemos definir o que queremos. Nesta medida, qualquer poltica
ou programa deve remeter-se aos grupos interessados, deixando de ser
receptores ivos e convertendo-se em protagonistas ativos individuais e
coletivos. Trata-se da prtica de ir definindo a organizao social, ir
construindo a sociedade que se quer, de ir tambm conhecendo nossos limites
que, para ampliar-se, deveriam nos impulsionar reflexo sobre as alianas
correspondentes em cada momento, sobre os setores que coincidem conosco. Por
ltimo, o modelo encarregado de nos ligarmos a tendncias macro, ou de
pressionar por determinadas polticas, econmicas e sociais que, fazendo
evidente a necessidade de um compromisso poltico, possa potencializar nossos
objetivos e multiplicar nossos resultados.
Conseguir
que, como grupos beneficirios, se compartilhe seriamente a responsabilidade
no processo referido, no s abre caminhos a propostas sociais como propicia
a transformao dos beneficirios, constituindo, em si e por si, um exemplo
de relao democrtica que se concretiza atravs do processo de identificao
do problema, busca de resposta e eleio de caminhos para o bem-estar.
De
alguma forma, esta via de carter participativo supe, em diversos sentidos,
uma noo educativa diferente do que o desenvolvimento e sua prtica.
Nela h uma proposta de comunicao entre classes, etnias, idades e gneros.
Ainda, ao incidir nas potencialidades integrais dos seres humanos, esta
proposta centraliza-se no s no que os cidados podem Ter ou aceder, como
no que possam SER.
Esta
viso educativa do desenvolvimento exige uma atitude de busca, de inter-relao
entre sujeitos diferentes que olham a realidade com olhos alertas e sensveis,
que recolhem experincia em sua histria e em sua prtica, subjetiva e
objetiva, que lhes permitem modificar qualquer tipo de discriminao ou
desigualdade, que dificulte o pleno desenvolvimento do elemento mais
importante de uma sociedade: O CAPITAL SOCIAL HUMANO.
Entender
o Desenvolvimento em seus mltiplos aspectos, no mais que reivindicar a
complexidade do social e a necessidade de identificar todas aquelas relaes
e suas contradies baseados na desigualdade e no menosprezo ao
outro/outra como sujeito ativo, capaz de controlar e atuar sobre seu
destino.
Proponhamos
trabalhar para transformar condicionantes que limitam o desenvolvimento das
pessoas, priorizando em cada espao, a urgncia de mudana ou de ao
sobre um ou alguns deles. Porm, em qualquer dos casos supe uma vontade poltica
consciente individual e coletiva que promova a mudana e maior comunicao
entre os seres humanos e suas diferenas.
A CONVIVNCIA: O RETO DO FUTURO 102y31
necessrio, inicialmente, estabelecer a estreita relao existente entre
Desenvolvimento, Democracia e Conflito, afirmando que impossvel conceber
alguns deles de maneira independente. Convm considerar as caractersticas
que estes elementos adquirem nas diversas sociedades, dependendo do grau de
satisfao material e espiritual que as pessoas alcanam dentro delas.
Poderamos estabelecer que, na medida em que uma nao limita as
possibilidades de expresso democrtica e o horizonte de um desenvolvimento
humano equitativo e perdurvel, essa nao carrega tendncias manifestao
no construtiva de conflito, ou seja, tendncias violncia e prostrao
dos povos, que outra forma de violncia. Contrariamente, onde a participao
da cidadania propicia os espaos de dilogo, harmonizao e
desenvolvimento um esforo de todos, desde sua conceituao
sua prtica, o conflito tem maiores possibilidades de transformar-se, de
converter-se em conflitos construtivos que beneficiam a populao.
Por
outro lado, claro que as dificuldades apresentadas ao nvel global para a
integrao de interesses dos diversos setores sociais, representam um espao
s manifestaes de intolerncia, tanto em nveis de oportunidades num
sistema de competitividade desigual; isso pe em jogo a sobrevivncia dos
indivduos nas diferentes esferas sociais como: domnio, status,
fora de trabalho, educao, etc..., ocorrncias estas de carter
permanente. Falamos aqui das profundas relaes de desigualdade e iniquidade
que se expressam nas classes sociais, setorizadas nas relaes de gnero e
etnia nos pases do terceiro mundo. Desde o micro ao macro. No possvel
abordar o tema da tolerncia sem partir necessariamente
de sua premissa fundamental: a diferena e o conflito. Onde manifesta
a contradio, manifesta-se o conflito, a vida. Onde ele cessa,
ela morre. O conflito a manifestao da confrontao das diferenas,
fonte de mudana, de progresso, de movimento, do inesperado, do nunca
compreendido, o no aceitado porm sempre presente, onipresente.
Na
cotidianidade, quando o cidado ou a cidad aborda o conflito (ou
abordado por ele) , usualmente o assume como o ime problemtico a
resolver - o negativo. Sempre o conflito despojado da relao dialtica
que implica sua natureza e a qual faz dele um ente vivo que nasce, cresce, se
transforma. Pelo conflito existe a tendncia generalizada como reao
imediata dos seres humanos a unilateralizar de maneira subjetiva o valor da
contradio, e a eliminao desta no como objetivao de sujeitos ou
circunstncias postos em uma relao concreta (com interesses e mediaes).
Seno, contrariamente, subtraindo-se da vitalidade do movimento do real, ou,
pelo menos, pretendendo subtrair-se dele. Podemos afirmar que, culturalmente,
estamos condicionados para buscar eliminar a contradio pretendendo alcanar
o equilbrio. Porm ele, no como resultado de um conhecimento do fenmeno
e sua superao dialtica; mais que isso, como possibilidade de retornar
estabilidade perdida. O retorno ao ovo, ao paraso, seguridade garantida
do conhecido e imutvel, como diria Estanislao Zuleta.
Definitivamente,
o estudo do conflito e o papel que ele joga dentro da dinmica social,
cultural, poltica e econmica est no centro da discusso sobre a tolerncia
e intolerncia, na medida em que esta uma expresso muito concreta, atravs
da qual indivduos ou coletividades do sada situao que consideram
perigosa, a qual causada pelo outro, o outro, o diferente, o que no faz
parte do meu, o externo e inclusive o desconhecido.
No
logramos interpretar o mundo, a vida, o movimento e sua contradio dialtica,
como parte integral do permanente devir. Transmutou-se a qualidade e a
quantidade. Quando pensamos no quantitativo no o assumimos como expresso
de qualidade em magnitude, seno como algo que simplesmente de maneira
independente e autnoma, e nos esquecemos que um em verdade, sensivelmente no
possvel sem o outro.
Esta
lgica, plana, automtica, a que nos orienta eliminao tcita e
explcita do outro/a nos diferentes marcos de referncia no social, mediante
os mesmos procedimentos que nossa estruturao mental operacionaliza as
diversas categorias com as quais
constri o conhecimento positivo.
Esquecemos que os
pares dialticos so inerentes ao desenvolvimento da vida: o masculino e o
feminino, o dia e a noite, o frio e o calor, o um e o outro, e que,
definitivamente, o um no outro, como o outro no um. E que, o resultado
da eliminao de algum deles a eliminao essencial do outro. Para nos
referirmos ao tratamento dos conflitos (e para ele o manejo dos termos de
linguagem muito condizente), falamos de solucionar um conflito ou resoluo
de conflitos. Esta terminologia no casual e reflete de forma clara a
intencionalidade dos contraditores de dar por terminado, cancelar/cessar a
contradio, o objetivo a restaurao da harmonia perdida, a recuperao
do espao ou a posio em disputa.
Temos
desenvolvido uma lgica matemtica que operacionaliza os atos da vida como
se eles fossem matria morta (contvel), suscetvel de ser manipulado com o
simplismo da causalidade e do efeito. No foi possvel gerar um pensamento
que s veja a si mesmo, no como algo esttico e imutvel (verdade
revelada), mas que assuma a dinmica e as leis mesmas do movimento do real
onde o ser humano apenas uma parte de si e na totalidade.
Esta
concepo do conflito em termos de vida dos seres humanos se expressa em mltiplos
espaos e com uma dinmica onde desempenha um papel determinante para a
construo de sua identidade, na pareja
como o primeiro espao onde se manifesta a confrontao das diferenas, na
escola, na vizinhana, na comunidade, ou seja, em toda a gama de encontros
sociais que temos. Ali intervem na gerao dos ideais e aes que
determinam nossa convivncia e a concepo de desenvolvimento que
desejamos.
Quando
Marx coloca a emancipao humana como objetivo ltimo (utopia) do
desenvolvimento das foras produtivas e do dever do social, o faz em termos
de humanizar a natureza e naturalizar o ser humano. No caminho dessa
emancipao o ser humano participante obteve muito, fundamentalmente no que
se refere emancipao poltica, que se deu em termos de uma dominao
sistemtica que est muito longe dos termos em que poderia ser realidade -
um homem natural e uma natureza humana.
Para
as sociedades ocidentais, o desenvolvimento humano utilizou como princpio a
primazia do domnio sobre a natureza, a busco da liberdade. O que se concedeu
em liberdade foi a emancipao poltica no marco da democracia
burguesa. ... Esta democracia compensa a submisso dos homens ao trabalho
com a eleio cada vez mais a puro aparncia - dos dominantes pelos
dominados e com o melhoramento das condies de vida. Em outras palavras: na
histria pode-se medir de fato um progresso quantitativo.
No
entanto, a integrao sistemtica de uma sociedade ou sistema de
sociedades, de maneira alienada garante a seus associados a produo,
reproduo e satisfao de um sistema de necessidades de tipo econmico,
religioso, social, etc.; podemos afirmar que conta com um grande exrcito de
homens e mulheres que combatero o outro/a, o desconhecido, o contraditor,
naqueles momentos em que estes ponham em jogo as vantagens que o sistema
brinda existencialmente.
Os
exemplos do tipo sistemtico e de melhorias comparativas ao longo da histria,
que implicam um mecanismo de coeso em seu interior, e intolerncia, excluso
e segregao em seu exterior, refletem de maneira condizente. A importncia
dos processos estrutural nestes comportamentos de maneira generalizada em
praticamente todas as sociedades existentes.
Esta
pode ser a explicao para o recente fenmeno na Europa do auge dos
movimentos de direita, neofascistas, racistas e xenofbicos, como resposta s
crescentes migraes de africanos, asiticos e latinos e o embate dos polticos
econmicos de corte neoliberal a nvel mundial que, de fato, vem afetando
tanto a nvel de vida dos europeus, como seu prprio sistema de
necessidades. Ou a explicao dos fenmenos de excluso que padecem as
populaes de baixa renda para aceder, para se conformar com os espaos
reais do poder nos pases do sul.
No
se trata de grupos isolados, de desadaptados ou violentos sem causa, seno de
sentimentos de frustrao com tendncia a generalizar-se ao grosso da
populao. O recente triunfo do partido da direita sa nas eleies,
sob a bandeira de impedir que os estrangeiros pudessem trabalhar no solo francs
um dos exemplos mais claros deste fenmeno. Mostramos ao cidado comum,
ao chauvinista temeroso de no poder satisfazer sua necessidade. A temos os
Hooligans e seus espetculos de violncia, querendo saciar sua raiva,
produto da desesperana: tem que acabar, ao contrrio, destruir sua cor,
desenterr-lo do planeta e barrar as ondas de sua existncia, queimar sua
bandeira, que no fique nada dele !
O
sistema de necessidades, a integrao sistemtica a nvel social, as
expectativas no cumpridas que marcam as seguidades, e a aguda luta entre
classes, etnias, gneros, e idades, se constituem em marcas de referncia
estrutural sob os quais possvel espreitar linhas de comportamento e tendncias
da ao social, onde a tolerncia/intolerncia se apresenta em uma imensa
gama de expresses com uns rasgos e acentos particulares que respondem a cada
contexto, a cada realidade social. S estando atentos a estas manifestaes
pode ser possvel definir estratgias e mecanismos de ao coerentes, que
respondam ao que a realidade exige.
Como
pudemos apreciar de forma tangencial, a intolerncia se corresponde a fatores
de diversa ndole, desde as do tipo estrutural, que constituem nos indivduos
referenciais muito slidos que se ativam quase que automaticamente at os
que mediante fatos conjunturais no significativos no sistema geral de
necessidades e valores so criados por interesses particulares imediatos.
O QUE EDUCAO PARA A TOLERNCIA
641b3v
(apenas
alistei os conceitos)
4hy65
colaborar para que o cidado se libere de tudo o que impede desfrutar das
coisas mais elementares da vida, vindas das violncias direta ou da violncia
estrutural. (Lederach)
um processo para conhecer, junto a outros, como mudar as relaes sociais
que criam violncia. Ainda, como adquirir a habilidade moral para eliminar
os obstculos sociais, que impedem a prpria realizao pessoal. (Mario
Boreli)
A paz no se trata, somente, de um conceito a ser
ensinado, mas, a realidade a ser vivida. necessrio experimentar um
processo para a comunicao eficaz de valores, bem como dar a habilitao
necessria construo da paz. O meio a mensagem. A metodologia tem
que estar em conformidade com os valores da paz, da justia, da no violncia,
a redor dos quais guia o contedo. (Mcginnis)
Educar
para a paz no significa aplicar uma frmula mgica, que converta as
pessoas em gente pacfica; educar para a paz bem mais que isso. tratar
de estimular o conflito, aceit-lo como algo substancial 1a natureza humana,
mas a partir de uma perspectiva criadora. Quer dizer: esto implcitos os
mecanismos para regular, ou solucionar o mesmo conflito, satisfatoriamente.
(Fisas Vicent)
Depreende-se desses conceitos, que a educao para a paz ou para a
tolerncia, trazem marcados um reconhecimento do social, onde as pessoas
desempenham um papel ativo e a paz, ou tolerncia, tem um rol de valores que
se relaciona com a realidade, dinamicamente.
Portanto,
desta curta reviso de conceitos, queremos dar a conhecer nosso ponto de
vista a respeito.
A COLHEITA: UMAS IDIAS PARA COMPARTILHAR 1xl5r
Conceber um novo tipo de educao que corresponda s exigncias de
construo de uma sociedade mais justa e tolerante, uma tarefa que
implica vrias consideraes. Em primeiro lugar, esta educao que poderamos
denominar como Educao para a tolerncia, venha a se desenvolver a
partir do restabelecimento e fortalecimento da dinmica existente entre a
teoria e a prtica, entendendo que entre ambos existe uma ligao dialtica,
permitindo aos sujeitos beneficirios utiliz-la como uma ferramenta para a
crtica e transformao da realidade. Assim, adquire-se a condio de ser
uma ferramenta para desentranhar todos os elementos de uma determinada situao,
bem como o compromisso de contribuir para a construo de alternativas
necessrias soluo.
Sua construo d-se mediante um
compromisso entre as pessoas e a sociedade, em que aquelas possam viver em sua
plenitude a capacidade de raciocnio, sentir e transformar sua realidade,
atravs do exerccio de valores como a solidariedade, a cooperao, a
amizade, o respeito na diferena, o dilogo horizontal, a relao entre
iguais, a transformao construtiva dos conflitos, a equidade, a democracia
e a tolerncia, permitindo, assim, gerar mudanas em todos os seus espaos
de vida, desde sua dimenso mais ntima at os espaos mais pblicos.
uma educao que permite reconhecer e promover um carter poltico
estreitamente ligado soluo das contradies da sociedade e das
contradies prprias da educao, aberta mudanas, crtica, como
uma condio inerente de seu quehacer.
Isto implica em que a educao continua o horizonte tico que regulamenta
sua concepo e prtica.
Outra
conduo que pensamos necessria estabelecer, que a educao juega
um rol particular, que no a nica ferramenta para entender e
transformar a realidade, a qual para poder ser interpretada requer uma viso
multidisciplinar, onde os poderes de outras fontes do conhecimento se
relacionam com os da educao, para poder abarcar a complexidade da
realidade. Portanto, ela deve ter um carter de cooperao com outros
conhecimentos, deve buscar seu lugar na dinmica social e contribuir para
conseguir uma viso integral.
Ao
se reconhecer que o conflito inerente condio humana, a Educao
para a Tolerncia deve contar, para que se desenvolva, com elementos
conceituais, metodolgicos e didticos que explicitem o conflito, que
permitam entender seu papel na dinmica das relaes pessoais, econmicas,
polticas, culturais, que nos surgiram uma concepo do manejo construtivo
do conflito e de seu papel na construo bem-estar humano.
A
Educao para Tolerncia est estreitamente relacionada com a dinmica do
desenvolvimento social, que determina o bem-estar individual e coletivo,
contribuindo desde sua condio particular com ferramentas que permitam
transformar os conflitos que se implementam no interior dos indivduos, entre
eles e com a sociedade. Assim a Educao para a Tolerncia deve promover o
reconhecimento das prprias diferenas de cada sociedade entre sociedades,
de onde seja possvel desenvolver o reconhecimento das diferenas, a vivncia
da pluralidade e o respeito que gere a convivncia; para ela contribuir a
explicao dos conflitos fruto destas diferenas e com este reconhecimento
possibilitar a gerao de solues construtivas, que respeitem a
identidade, a cultura, promova a autonomia e sugira espaos de encontro e
cooperao.
Isto
faz com que a Educao para a Tolerncia. centralize para interesses
naquelas formas de desenvolvimento que promovem a satisfao dos interesses
materiais e espirituais de cada um/a em termos de igualdade, em dignidade e
direitos que temos como seres humanos, assim como tambm o progresso social
que eles e a qualidade de vida dentro de um conceito de vida dentro de um
conceito amplo de liberdade.
ESPAOS DE TRABALHO DA EDUCAO PARA A
TOLERNCIA: ALGUNS CAMINHOS PARA A IGUALDADE 2u3p6t
Dentre as frentes de trabalho, que poderamos chamar de Educao
para a tolerncia, em que urgente realizar aes que permeiem as relaes
sociais at a uma maior compreenso - ao de e sobre a realidade
concreta, enumeramos os espaos seguintes de modo esquemtico como os espaos
que na atualidade se podem perfilar como os mais viveis:
Relaes de Gnero:
tem como horizonte a participao plena de homens e mulheres na
tomada de decises referidas a aspectos de condio em sociedade. Aqui, no
estamos referindo exclusivamente s polticas macro do governo, mas tambm
quelas decises que no dia-a-dia constrem slidas as diversas problemticas
que vai implantando nas reas profissional, familiar, escolar, social, etc.
As mulheres, recentemente, irromperam com muita fora nas esferas
profissionais, intelectuais, de participao comunitria e de educao
oficial. Materializar proposta como o planejamento com perspectiva de gnero
nas reas municipais, departamentais e nacionais, implica reconhecer na prtica
a importncia da participao conjunta de homens e mulheres na construo
dos referidos claros que consolidem pronta irrupo. Trata-se de
planejamento para a ao social, para uma prtica poltica, cultural e
econmica. necessrio preencher de contedo de equidade entre gneros,
elaborar, racionalizar e projetar os saldos gigantescos que neste sentido
temos dado, ns, os seres humanos. o momento, e as condies esto
dadas para validar no pensamento estas categorias que j fazem parte do mundo
moderno. Fora de dvida, a responsabilidade compartilhada entre homens e
mulheres, fato este que a cada dia se estende a mais reas do social, as relaes
de equidade de tais nveis de responsabilidade ainda encontram-se bastante
longe do desejvel. Colocar sobre o tapete esta discusso para a ao
acelerar, dar a mo engrenagem da histria, e puxar no sentido positivo a
direcionalidade desta construo cultural. Assim como a histria faz os
homens e mulheres, ns homens e mulheres tambm somos fazedores da histria.
A
perspectiva do Gnero como marco referencial e ao sobre a qual se construrem
relaes de tolerncia, significa, por um lado, a mtua significao e
reconhecimento da possibilidade de ser e fazer desde o distinto, como unidade;
e por outro lado, a destruio da diferena falsa, alienada. Sabemos que no
dentro da contradio do sistema de capital, que chama a mulher
participao como ativa fora de trabalho; brinda espaos de participao
eleitoral como mecanismo de legitimao poltica; qualifica-a
profissionalmente para explorar suas particularidades como fora de trabalho
sem resolver estruturalmente o fenmeno da subordinao, cotidianamente,
coloca-a a competir entre si e com o homem em diversos espaos sociais, antes
vedados a elas. No caso das realidades dos pases do sul, a mulher, e em
especial, a dos setores populares, tem piorado sua qualidade de vida, fazendo
fenmenos endmicos como a sobrecarga laborativa, a feminizao da
pobreza, a violncia intrafamiliar, as mulheres chefes do lar.
A
proposta deve girar em torno da eliminao progressiva das falsas diferenas
que, desde o ideolgico e cultural, no permitem uma real apropriao de
um novo conceito do masculino e do feminino e por uma nova estrutura de papis
onde homens e mulheres assumam de maneira partilhada a responsabilidade da
construo do individual e do social.
RELAES ENTRE ETNIAS E
CULTURAS:
Com o fracionamento poltico e econmico da Europa Oriental saram
luz no somente as enormes diferenas de tipo tnico-religioso e
cultural que se faziam presentes nestes povos, mas, fundamentalmente, as condies
de discriminaes, injustia e segregao a que historicamente foram
submetidos.
Abre-se
uma porta e parece saltar em mil pedaos a exgua sociedade socialista.
Os
relacionamentos de intolerncia entre etnias, fora de qualquer dvida, podem
em muitos casos estar referenciados a elementos de carter fundamentalista.
Em maioria, eles encontram-se sustentados e potencializados por fatores de ndole
territorial, poltico e econmico que so suscetveis de serem negociados
em termos de benefcios que ele representaria a nvel regional para lograr
objetivos mais coletivos. Em muitos casos, as estruturas sociais de cada pas,
as fronteiras que dividem territrios de uma mesma comunidade e a ausncia
de autonomias regionais, so fatores que escondem uma aguda luta poltica e
de classes onde as minorias caracterizam-se, precisamente, por serem as mais
exploradas, e s quais os benefcios de distribuio da riqueza social
nunca chegam.
A
possibilidade de desenvolvimento de uma proposta de educao para a tolerncia
est baseada no relacionamento da diversidade como riqueza, onde a realidade
pode ser interpretada de mil formas como semeador da pluralidade, do respeito
pela diferena, da identidade e o direito que tem cada povo autonomia e
existncia particular. Busca interpretar estas particularidades como marca de
referncia para a real compreenso da conflitividade, com o objetivo de
adequar ou criar os mecanismos mais idneos para o entendimento das
comunidades.
RELAES
DE ECOLGICOS E MEIO-AMBIENTAIS:
A nvel mundial, h uma crescente preocupao, tanto governamental
como de iniciativas da sociedade civil, em torno da defesa de recursos
naturais renovveis e no renovveis. A proteo do meio ambiente abre
espao para a educao de tipo democrtica, dentro de um conceito no
depredador da espcie humana, em face dos demais elementos da vida do
planeta. No se trata de apenas interesse de sobrevivncia do ser humano
como de harmonia entre si e o espao circundante, reconhecer o homem em
sua vulnerabilidade como espcie e seu destino inseparvel do resto do
planeta.
Hoje
que se vem questionando modelos de desenvolvimento, e mesmo o prprio
conceito de desenvolvimento, possvel gerar propostas que assimilem o
sentido de defesa da vida com a defesa do planeta, da diversidade, do equilbrio
ecolgico, e portanto, da tolerncia vital com aquilo que aparentemente no
til dentro dessa concepo homocntrica de racionalidade ocidental.
Ainda
recentemente, vm-se realizando esforos internacionais, como a Conferncia
do rio, agilizando-se propostas, que vem na biodiversidade e sua defesa um
critrio necessrio para entender a sustentabilidade da prpria existncia.
Coloca-se sobre o tapete o desenvolvimento da indstria nuclear de carter
militar, pondo-se barreiras ao uso do terceiro mundo como da indstria de
reativos txicos dos pases desenvolvidos. Em geral, este um espao que
deveremos canalizar politicamente at a superao da ao conjuntal.
Transformando-o e propostas metodolgicas tendentes a integrar o ser humano a
uma compreenso da totalidade, com um carter mais estrutural onde a tolerncia
se converte em um meio para a interao do seu humano com seu meio natural.
RELAES
DO CICLO VITAL:
So as que se realizam entre membros de grupos etrios diferentes,
cada um dos quais com suas particularidades, objetivos, subjetivos, simblicos
e de interesses.
Geralmente
os mecanismos de interao para estes tipos de relaes se apoiam em
termos de autoritarismo em cadeia: os meninos so socializados,
fundamentalmente, com base no sistema de necessidades da famlia ou da
sociedade, desconhecendo em sua totalidade o tipo de interesse do menino/a
como individualidade e como categoria particular.
A
partir da, o critrio relacional utilizado a castrao das
possibilidades criativas, subversivas e construtivas das novas geraes.
Pretende-se medir pelos padres, normas e valores de outra(s) gerao (es)
que pretendem fazer de sua experincia o critrio nico de apropriao da
realidade como tica, esttica, conhecimento, normatividade, valorao,
etc. Aqui o conflito geracional assumido como negao das possibilidades
do outro/a, (por ser muito velho e, portanto, caduco ou por ser muito jovem e
inexperto).
A
intolerncia geracional manifesta-se em diferentes esferas: sociais,
escolares, no o diferenciado dos meios de comunicao, no uso do espao
urbano. Ao fragmentar seus componentes, fragmentam-se as possibilidades de uma
apropriao do novo por parte de toda sociedade, assim como do
reconhecimento do saber acumulado por parte dos maiores, dos mais idosos.
Esse
conflito inerente s vidas humanas, porm, no significa que as contradies
nele expressadas, no se possam pr a servio de uma concepo de ser
humano muito mais integral, onde os mais velhos e a criana, o/a adulto e o/a
jovem possam ser assumidos socialmente como o que so, e no como o que as
outras categorias esperam que no sejam. Portanto, a proposta de Educao
para a Tolerncia se embasa em abrir espaos de dilogo e ao entre os
diferentes grupos de idade, que possibilite reconhecer suas diferenas
atuais, porm de igual modo estabelecer a linha de continuidade da existncia
humana como um todo, na busca de um tecido social fortalecido.
Consideramos,
assim, que a Educao para a Tolerncia uma educao para a vida; que
reconhece a diversidade, os seus protagonistas em todas as suas dimenses;
que assume o Direito Reto do respeito pela diferena, da pluralidade, do dilogo
como sua ferramenta, do concerto como um ponto de encontro entre os/as
diferentes, a relao horizontal como uma condio. uma educao que
reconhece a realidade que lhe deu origem e que entende seu papel na transformao
dela. Quer dizer, que reconhece seus limites, mas tambm seus horizontes. A
Educao para a Tolerncia no vai mais alm do que nos desejamos, ou
seja, que algum dia entendamos a complexidade do ser humano, unindo o ntimo
ao social na aventura maravilhosa de viver sem destruirmos.
La
Piragua 373y62
Revista
Latino Americana de Educao e Poltica
N.
11 2. Semestre de 1995.
Fls.
69/78 Santiago - Chile
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