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Autos do depoimento de Tiradentes (1789 a1791) Autos de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier. 1b4x23

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos, e oitenta e nove, aos vinte e dois dias do ms de maio, nesta Fortaleza da Ilha das Cobras, cidade do Rio de Janeiro, aonde foi vindo o Desembargador Jos Pedro Machado Coelho Torres comido Mar celino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Coamarca, e Escrivo nomeado para esta devassa, e o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues de Arajo para efeito de assistir a estas perguntas, e sendo a se procedeu a elas na forma seguinte, de que tudo para constar fiz auto: E eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e Escrivo nomeado o escrevi.

E sendo perguntado como se chamava, de quem era filho, donde era natural, se tinha algumas ordens, se era casado ou solteiro, e que ocupao tinha.

Respondeu que se chamava Joaquim Jos da Silva Xavier, filho de Domingos da Silva dos Santos, e de sua mulher Antonia da Encarnao Xavier, natural do Pombal, termo da vila de S. Joo Del-Rei, Capitania de Minas Gerais, que tinha quarenta e um anos de idade, que era solteiro, que no tinha ordens algumas, e com efeito, vendo-lhe eu o alto da cabea, vi que no tinha tonsura alguma, e que era Alferes do Regimento de Cavalaria paga de Minas Gerais.

E sendo-lhe perguntado se sabia a causa da sua priso, ou a suspeitava.

Respondeu que no.

E sendo instado, que dissesse a verdade, porquanto se ele respondente se tinha refugiado, e posto em circunstncias de fugir, era sinal evidente, de que tinha crime, pelo qual receava ser preso, e chegando a s-lo, devia desconfiar, que era por esse crime.

Respondeu, que no tinha crime algum, de que se receasse, nem pelo qual fugisse, como com efeito no fugiu, e s o que fez foi esconder-se em casa de Domingos Fernandes Torneiro assistente na rua dos Latoeiros, o que fez no dia seis de maio do presente ano, e a razo que para isso teve foi por lhe fazerem repetidos avisos, de que o Ilustrssimo e Excelentssimo Vice-Rei o mandava prender, e ter visto, que atrs dele andavam continuadamente dois inferiores, observando-lhe os os.

E sendo instado, que dissesse a verdade: porque no era razo bastante o andarem, como ele presumiu, espias atrs de si, nem os avisos, que diz se lhe fizeram, de que Sua Excelncia o queria prender, ao mesmo tempo que no declara as pessoas que lhos fizeram; pois se ele no tivesse culpa, nem devia esperar priso, nem devia tem-la, de sorte que se preparou com um bacamarte carregado, que lhe foi achado no ato da priso, estando carregado, e demais com cartas que lhe foram achadas de favor paraser auxiliado na sua pretendida fugida; com cujos fatos vinha a fazer-se criminoso o que no era natural, seno para se livrar de algum procedimento, que merecesse por outro crime maior.

Respondeu, que como tem dito, no tinha crime algum, e que dera para ver, o que se ava, em razo das antecedncias; e que era verdade, que fora achado com o bacamarte, e tambm que tinha as cartas de favor para ser auxiliado na sua fugida, as quais lhe deram uma o Capito Manoel Joaquim Fortes, que do Regimento de Voluntrios de So paulo, e se achava nesta cidade para embarcar para a Corte, e assistia nesta cidade nas casas do Mestre de Campo Igncio de Andrade, e outra de Manoel Jos, que tambm assistia nas mesmas casas, e a quem o dito Capito Fortes pediu escrevesse ao Mestre de Campo Igncio de Andrade, recomendado desse agem a ele respondente, porque se via aqui perseguido por dizer as verdades, e com efeito ele respondente recebeu as ditas duas cartas, que sendo-lhe mostradas neste ato reconheceu serem as prprias, que se acham as folhas trinta e sete, e folha trinta e nove da devassa, uma de Manoel Jos que est assinada por ele, e outra do Capito Manoel Joaquim, que est por , do que dou f; porm que tanto o bacamarte, como as cartas foram diligenciadas por ele respondente, depois que viu, que tendo-se ele ocultado, se tinha ido a sua casa, e se tinha prendido um mulato, que nela deixou, ainda que j estava vendido ao Sargento-Mor Manoel Caetano, mas sempre o conservava em casa; porque tinha justo no o entregar seno quatro dias depois da venda, e que s depois que viu o procedimento da priso do mulato que se resolveu fugida para a sua Praa, e para isso se preparou com o bacamarte, para no ir pelos matos sem arma.

E sendo instado, que por isso mesmo, que ele respondente diz, que ver, dera o mulato no dia, que se refugiara, com a condio de o conservar por quatro dias, bem manifestava, a teno que ele tinha de fugir nesse, tempo; porque de outra forma, ou o no venderia, ou a t-lo vendido o entregaria logo, ou alis pondo-lhe a clusula de o entregar da a tantos dias aumentaria mais tempo para se utilizar do seu servio no tempo, que pretendia estar nesta cidade.

Respondeu, que a razo por que pedira os quatro dias para conservar o mulato em sua casa fora para observar, se havia algum procedimento no tempo, que ele estava escondido; porque se neste tempo o no houvesse, fazia ele respondente teno de tornar a aparecer; mas como com efeito o houve, o que ele respondente soube por via do dono da casa onde ele estava escondido, ao qual mandou averiguar, o que se ava.

E sendo mais instado, que tanto fazia conta de fugir, que logo que saiu de casa tirou dela em uma mala os trastes do seu uso, como ele respondente no negaria.

Respondeu, que era verdade ter tirado a mala com os trastes do seu uso na mesma noite em que se tinha retirado de casa, que foi a seis, do presente ms, e que a dita mala a pa na casa do Mestre de Campo Igncio de Andrade, entregue ao Capito Manoel Joaquim Fortes.

E sendo mais perguntado, a que veio a esta cidade, quais so as pessoas mais da sua amizade nela.

Respondeu que viera a esta cidade para a informao de trs requerimentos, um a respeito de umas guas, outro de um Trapiche, e outro sobre o embarque, e desembarque de gados, e que no tinha nesta cidade pessoas de particular amizade, porque se as tivesse no estaria em casas alugadas; porm, que conhecia muita gente em razo da prenda de pr e tirar dentes.

E sendo perguntado se conhecia o Ajudante do Regimento da Artilharia Joo Jos e o Alferes do Regimento de Cavalaria Auxiliar Jeronymo de Castro e Souza; se os tinha procurado nas suas casas, quantas vezes, e se tinha tido com eles conversaes sobre matrias de ponderao; e quais.

Respondeu, que conhecia tanto a um, como a outro, e que ao Ajudante Joo Jos o visitara uma nica vez por ocasio de estar molestado, e que nutra vez o procurara, mas ento lhe no falou, e que dessa vez, que esteve com ele conversaram a respeito de Minas, porm que no lhe lembrava o que; E a respeito do Alferes Jeronymo de Castro e Souza ia vrias vezes a sua casa, para que ele lhe cobrasse do Sargento-mor Jos Corra o dinheiro de uma madeira, que lhe tinha vendido; e quanto a conversaes com ele s lhe lembra ter falado a respeito do pouco, que os povos de Minas estavam satisfeitos com a derrama, que se dizia, se lanava, e que era impossvel eles pag-la, de sorte que ou haviam de fugir, ou ficarem sem nada, entregando tudo o que tivessem.

E sendo instado, que dissesse a verdade, porquanto era afetao o dizer, que se no lembrava da conversao que tinha tido com o Ajudante Joo Jos ao mesmo tempo, que ela foi de tal qualidade, que por si se fazia muito recomendvel memria, assim como igualmente a que tivera na presena do Alferes Jeronymo de Castro e Souza em casa de Valentim Lopes da Cunha, e sua irm Mnica Antnia.

Respondeu com o mesmo, que j tinha dito a este respeito, que se no lembrava de nada a respeito da conversao com o Ajudante Joo Jos, nem a respeito das mais, e nisto insistiu.

E sendo-lhe instado, que no faltasse verdade; porque se sabia muito que ele respondente tinha dito, que os cariocas eram uns patifes, vis, que era bem feito, que levassem com um bacalhau, visto que queriam ar o jugo, que tinham do governo da Europa, do qual se podiam bem livrar, como fizeram os americanos ingleses, e que se todos tivessem o seu nimo j estaria isso executado, pois ele se achava com valor de ir atacar o prprio Vice-Rei no seu palcio, e que nas Minas certamente se levantavam com o governo, e que seria bom, que o Rio de Janeiro e S. Paulo dessem as mos para a mesma empresa.

Respondeu, que era inteiramente faltar verdade, o dizerem, que ele respondente tinha dito semelhantes proposies; pois s se ele estivesse bbado, ou doido poderia tal proferir, e que demais as pessoas indicadas no eram capazes para se lhe comunicarem tais intentos, quando os houvesse, quais no houve.

E sendo-lhe instado, que no faltasse verdade; porque se sabia muito bem, que ele tinha trabalhado sobre este ponto, de forma que em Minas j era sabido pela maior parte das gentes, ainda mesmo sem serem pessoas da escolha, por ter grassado o projeto em razo das persuases, e falatrios dele respondente, e por isso indubitavelmente certo, que ele respondente sabe perfeitamente deste caso, e das pessoas, que nele fazem a principal figura, pelas quais perguntado neste auto para que haja de as nomear, e descobrir.

Respondeu, que tal no h, que tudo uma quimera, que ele no pessoa, que tenha figura, nem vlimento, nem riqueza, para poder persuadir um povo to grande a semelhante asneira. E sendo instado, que dissesse a verdade, porque sem que ele tivesse as qualidades, que julga necessrias para este intento podia entrar nele seguindo o partido de alguns cabeas, que o tivessem intentado.

Respondeu, que nem tinha entrado, em semelhante projeto, nem dele tinha notcia alguma.

E Insistindo nisto, por mais intncias, que se lhe fizeram mandou ele desembargador vir a testemunhado nmero 2. o Ajudante Joo Jos Nunes Carneiro, e lendo ao respondente o depoimento desta testemunha, no tive que lhe responder, mais que uma simples, e fria negao, e s confessou, que lhe tinha dito, que se se lanasse a derrama, os povos no quereriam pagar; porm reconhecidamente se v a falta de verdade, com que ele respondente nega os fatos, que tanto a dita testemunha o Ajudante Joo Jos Nunes Carneiro, como o Coronel Joaquim Silvrio dos Reis, os quais animosamente na sua presena asseveraram, o que tinham dito em seus depoimentos, ao que ele respondente s respondeu, que eram coisas que lhe andavam armando; e quanto ao o de ter dito ao coronel Joaquim Silvrio dos Reis, quando se encontrou com ele no caminho de Minas que fosse, que ele vinha trabalhar para ele, respondeu, que se no lembrava desse dito, e que se o disse foi sem conseqncia, nem fim algum o que mais convence a sua falta de verdade; porque as coisas, se as coisas se no dizem sem conseqncia nem fim algum; e por este modo houve o dito desembargador estas perguntas por findas, e acabadas, dando o juramento ao respondente de haver falado a verdade nelas pelo que respeitava a direito de terceiro, e assinou com o respondente, e testemunhas depois de esse lhes ser lido, e o acharem na verdade, e assinou tambm o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues de Arajo, que a tudo esteve presente: e eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e Escrivo nomeado para esta devassa o escrevi: diz a emenda no princpio destas perguntas, ou entrelinha, filho de Domingos da Silva dos Santos. E eu sobredito o escrevi e assinei.

              Torres
              Marcelino Pereira Cleto
              Joaquim Jos da Silva Xavier
              Joo Jos Nunes Carneiro
              Joaquim Silvrio dos Reis
              Jos dos Santos Roiz.' e Ar.
Auto de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier. Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e oitenta e nove, aos vinte e sete do ms de maio, nesta cidade do Rio de Janeiro nesta Fortaleza da Ilha das Cobras, aonde foi vindo o Desembargador Jos Pedro machado Coelho Torres comigo Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e Escrivo nomeado para esta devassa para o efeito de continuar estas perguntas, e sendo a mandou vir sua presena o Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, ao qual sendo presente continuou as perguntas na forma seguinte: E eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor da Comarca, Escrivo nomeado para esta devassa o escrevi. E, sendo-lhe lidas as perguntas, que se lhe haviam feito, e perguntando-se-lhe se eram s mesmas, e de novo as ratificava. Respondeu, que eram as mesmas, e de novo as ratificava.

E sendo-lhe perguntado, se era verdade ter tido a conversao com o ajudante Joo Jos Nunes Carneiro, conforme ele declara no seu juramento.

Respondeu, que, fazendo reflexo sobre a conversao, que tinha tido com ele lhe lembrava ser verdade ter conversado com o dito ajudante sobre as matrias, que ele diz no seu juramento; porm que no fora com o nimo, nem com o veneno que a dita testemunha se persuade, e se quer imputar a ele respondente; pois o modo porque falou nisso foi, dizendo, que o povo de Minas estava em desesperao, por lhe quererem lanar a derrama, e que era muito m poltica, o vexar os povos porque poderiam fazer, como fizeram os ingleses, muito principalmente se se chegassem a unir as Capitanias do Rio de Janeiro, e S. Paulo, e que se houvessem pessoas animosas poderiam at atacar o Ilustrssimo e Excelentssimo Vice-Rei no seu palcio; mas que nada disto ele respondente disse, convidando a ningum para que o fizesse, nem dizendo, que o queria fazer; mas to-somente em matria de conversao, referindo e considerando o perigo, e as conseqncias, que podiam seguir-se se no houvesse cuidado em contentar o povo, e que se ele acrescentou - se fossem animosas, como ele respondente, - foi por encarecer o seu nimo, e por basfia, mas no porque intentasse tal coisa.

E sendo-lhe mais perguntado, se ele sabia quais eram as pessoas, que estavam dispostas para se levantarem no caso, que se lanasse, a derrama, ou ao menos quais eram as principais.

Respondeu, que geralmente todas as pessoas da maior at a mais pequena diziam, que se se pudesse a derrama, a no pagavam, e que saiam da Capitania; porm que ele respondente no sabia, que se houvessem de levantar com violncia, nem que tivessem cabeas, ou capatazes para isso, a quem se acostassem.

E sendo-lhe instado, que dissesse a verdade, porquanto se sabia, que haviam cabeas no projeto do levante, e que tanto intentavam faz-lo por fora, que destinavam tirar a cabea ao Ilustrssimo e Excelentssimo Visconde, Governador, e Capito General, e mais a outros, que no seguissem o partido.

Respondeu, que ele no sabia de cabeas algumas neste partido, nem de que se intentassem fazer os delitos das mortes que se diz, e s ouviu dizer ao Coronel Joaquim Silvrio dos Reis, quando aqui chegou, falando ambos a respeito de Minas, e como estavam l os negcios a respeito da derrama, referiu o dito coronel, que o povo estava impaciente, e que principalmente os que deviam Fazenda Real, e disse que os que estavam mais levantados eram o Desembargador Thoms Antonio Gonzaga, o Coronel Ignacio Jos de Alvarega, o vigrio de S. Jos, o Padre Carlos, e outros mais de que se no lembra.

E sendo instado, que dissesse a verdade, que bem mostrava faltar a ela; porque nas perguntas, que antecedentemente se lhe tinham feito, no declarou nada disto, antes absolutamente negou, e s disse a respeito de ter dito ao dito coronel - que vinha trabalhar para ele -, que fora expresso, que proferira toa.

Respondeu, que ento no dissera o que agora diz, porque no estava lembrado, e o que agora lhe sucede de se lembrar melhor em razo de estar examinando com mais miudeza as conversaes, que teve a este respeito.

E sendo mais perguntado, que visto ele ter examinado melhor as conversaes, que tinha tido a respeito desta matria, lhe havia de lembrar muito bem, o que disse a respeito de um soldado, que pretendia baixa, e se lastimava de a no ter conseguido, a que ele respondente saiu, dizendo, que era bem feito, visto que os cariocas eram uns vis, patifes, e fracos, que estavam sofrendo o jugo da Europa, podendo viver dela independentes, cujo dito ouviram Valentim Lopes da Cunha, e Jeronymo de Castro e Souza.

Respondeu que tal no dissera, e que somente usara da expresso, de que tivesse pacincia, porque tambm eles em Minas sofriam o mesmo.

E sendo instado, que dissesse a verdade, e persistindo no mesmo, mandou o dito desembargador vir as testemunhas do nmero terceiro a folhas dezessete, Jeronymo de Castro e Souza, e a testemunha referida a folhas dezoito, Valentim Lopes da Cunha, e sendo perguntados na presena dele respondente para que referissem as palavras, que tinham ouvido, eles as referiram constantemente do mesmo modo, que tinham jurado, e sendo ento perguntado ao respondente, que dizia quilo, no se atreveu a negar, mas disse que lhe no lembrava de tal ter dito, que eles testemunhas poderiam estar mais certos disso; porm que ainda caso o dissesse, no era com o mau nimo que se presume: e por este modo houve ele dito desembargador por agora estas perguntas por findas, e acabadas, dando o juramento ao respondente de haver falado verdade nelas pelo que respeitava a direito de terceiro, e assinou com o respondente, e testemunhas depois deste lhe ser lido, e o acharem na verdade, e assinou tambm o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues e Arajo, que a tudo esteve presente, de que dou f. E eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e Escrivo nomeado para esta devassa o escrevi, e assinei.

Torres
Marcelino Perreira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Jeronymo de Castro e Souza
Valentim Lopes da Cunha
Jos dos Santos Roiz.' e Ar.
Auto de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos, e oitenta e nove, aos trinta dias do ms de maio nesta cidade do Rio de Janeiro nesta Fortaleza da Ilha das Cobras, aonde foi vindo o Desembargador Jos Pedro Machado Coelho Torres, comigo Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e Escrivo nomeado para esta devassa para efeito de continuar estas perguntas, e juntamente o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues e Arajo, e sendo a mandou vir sua presena o Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, ao qual sendo presente continuou as perguntas na forma seguinte: e eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e escrivo nomeado o escrevi.

E sendo-lhe lidas as perguntas, que se lhe haviam feito, e perguntando-se-lhe se eram as mesmas, e se de novo as ratificava.

Respondeu, que eram as mesmas, e que de novo as ratificava.

E sendo-lhe instado, que ele respondente no tinha falado com sinceridade, nem nas primeiras perguntas, nem nas segundas; porquanto nas primeiras tinha faltado a dizer o que nas segundas declarou, e nestas se houve ainda com diminuio, no dizendo tudo o que sabia; pois no tem declarado os projetos da sublevao, em que ele tinha entrado, como ele havia declarado a algumas testemunhas, nem igualmente disse aos scios deste projeto, sem os quais ele se no podia fazer, nem do mesmo modo manifestou, que Menoel Joaquim Fortes, e Manoel Jos, e Domingos Fernandes, em casa de quem ele respondente se ocultou, sabiam dos seus projetos; pois que um lhe ocultou a mala, outro lhe chamava patrcio, e lhe deu a carta de favor, e outro lhe consentiu, que se ocultasse em sua casa, cousas estas que bem mostram ser verossmil, que ele respondente lhes tivesse comunicado os seus projetos, e que neles tivessem parte.

Respondeu, que nas segundas perguntas tinha dito tudo quanto era verdade, e que a elas se reportava; pois nem tinha entrado em projetos de sublevao, e as suas falas a este respeito eram sem malcia, nem sabia de scios, que para ela houvesse, nem tampouco aos sobreditos disse cousa alguma, porque no sabia, que a este respeito a houvesse; porque a mala foi ter a casa do Capito Manoel Joaquim por engano; pois que ele respondente a mandava para casa de Domingos Fernandes; e que a Manoel Jos nunca o tinha visto, seno na noite em que lhe deu a carta, e que o tratava de patrcio, porque ele lhe dissera ser tambm filho de Minas, e que enquanto a Domingos Fernandes a este s pediu, que o deixasse ocultar em sua casa, pelo receio, em que ele respondente estava, de que o prendessem.

E sendo-lhe instado, que dissesse a verdade, do que soubesse a respeito da sublevao de Minas, que nesta cidade falou nela a certa pessoa, declarando-lhe, quem eram os cabeas dela.

Respondeu, insistindo que no sabia nada; pelo que mandou ele desembargador vir o Coronel Joaquim Silvrio dos Reis, o qual com efeito vindo, lhe mandou, que repetisse o que tinha ado com o respondente na escada de Antonio de Oliveira Pinto, e com efeito repetiu, dizendo que o respondente lhe perguntara logo que ele dito coronel chegara de Minas, como estavam as coisas, em que lhe falara o Sargento-Mor Luis Vs de Toledo, irmo do vigrio de S. Jos, que vinha a ser a sublevao, que se intentava em Minas, o modo de se fazer, as pessoas que nela entravam, entre as quais era uma ele respondente, o qual dizia estar arrependido de c vir; porque no achava as cousas em figura; porque todos eram uns bananas com muito medo do Ilmo. e Exmo. Vice-Rei, e que voltava logo para Minas para ver se l se efetuava, antes que viessem os quintos, que sempre l serviam para muito, e que desconfiava do Ajudante Joo Jos, de quem ele se tinha fiado, por ser patrcio, mas que era um cachorro, que certamente o tinha vendido, e declarado a Sua Excelncia a prtica, que tinha havido entre eles; e suposto o respondente s confessou, o que tinha dito o Coronel Joaquim Silvrio dos Reis a respeito do Ajudante Joo Jos, negando o mais claramente se conhece a verdade do dito coronel, e a tibieza da negativa do respondente, do que eu, e o dito tabelio dou f: E por este modo houve o dito desembargador estas perguntas por findas, e acabadas, dando juramento ao respondente de haver falado nelas a verdade pelo que respeitava a direito de terceiro, e assinou com o respondente, e o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues e Arajo, e o Coronel Joaquim Silvrio dos Reis, depois de tudo lhes ser lido, e o acharem na verdade. E eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e Escrivo nomeado para esta devassa o escrevi, e assinei.

Torres
Marcelino Pereira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Joaquim Silvrio dos Reis
Jos dos Santos Roiz.' e Ar.
Auto de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e noventa, aos dezoito do ms de janeiro nesta Fortaleza da Ilha das Cobras cidade do Rio de Janeiro, aonde foi vindo o desembargador Jos Pedro Machado Coelho Torres, juiz desta devassa, comigo Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor da Comarca do Rio de Janeiro, e Escrivo nomeado para esta devassa, e o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues e Arajo para efeito de continuar estas perguntas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, que se acha preso em custdia na dita fortaleza, e sendo ai mandou vir sua presena ao dito Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, ao qual sendo presente continuou as perguntas na forma seguinte: e eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor da Comarca do Rio de Janeiro, Escrivo nomeado para esta devassa o escrevi.

E sendo-lhe lidas as perguntas, que se lhe haviam feito, e perguntando-se-lhe se eram as mesmas, e de novo as ratificava.

Respondeu que eram as mesmas, e de novo as ratificava.

E sendo-lhe instado, que dissesse a verdade, qual tinha faltado em todo o sentido; pois negava o levante, que se premeditava fazer na Capitania de Minas Gerais, quando ele era o cabea do motim, que convidava a todos quantos podia to alucinadamente, que nem escolhia pessoas nem ocasio, e por isso deve dizer todas as pessoas que entravam no dito levante, e sedio, ou prestavam para ela o seu consentimento, e que comunicaes havia para as potncias estrangeiras, e por que vias, e tambm quem eram as pessoas do Rio de Janeiro, que, favoreciam, ou premeditavam o mesmo levante, o que tudo ele respondente asseverava s pessoas, que queria persuadir.

Respondeu, que ele at agora negou por querer encobrir a sua culpa, e no querer perder ningum; porm que vista das fortssimas instncias com que se v atacado, e a que v no pode responder diretamente seno faltando clara, e conhecidamente verdade, se resolve a diz-lo, como ela : que verdade, que se premeditava o levante, que ele respondente confessa ter sido, quem ideou tudo, sem que nenhuma outra pessoa o movesse, nem lhe inspirasse coisa alguma, e que tendo projetado o dito levante, o que fizera desesperado, por ter sido preterido quatro vezes, parecendo a ele respondente, que tinha sido muito exato no servio, e que achando-o para as diligncias mais arriscadas, para as promoes, e aumento de postos achavam a outros, que s podiam campar por mais bonitos, ou por terem comadres, que servissem de empenho, porque o seu furriel est feito Tenente Valeriano Manso, que foi soldado da companhia dele respondente perto de seis anos est feito tenente da mesma companhia, Fernando de Vasconcellos, que foi cadete seis anos, sendo ele respondente j alferes, est feito Tenente, Antonio Jos de Arajo, que era furriel, sendo ele respendente alferes est feito capito, e Thoms Joaquim, que foi alferes ao mesmo tempo, que ele respondente, est feito capito da sua mesma companhia, que a primeira pessoa a quem falou, propondo-lhe o intento da sublevao, e motim foi nesta cidade a Jos Alvares MacieI, filho do Capito-Mor de Vila Rica, o qual aprovou o projeto da premeditada sublevao, e motim, e nesta cidade do Rio de Janeiro, aonde nesta ocasio se encontrou com o dito Jos Alvares MacieI no falou a pessoa alguma mais, e o modo por que falou ao dito Jos Alvares Maciel foi; porque tendo ele chegado de Inglaterra, e indo ele respondente visit-lo em razo de ser cunhado do seu tenente coronel falaram sobre os conhecimentos, que o dito Jos Alvares Maciel tinha adquirido a respeito de manufaturas, e mineralogia, dizendo, que os nacionais desta Amrica no sabiam os tesouros, que tinham e que podiam aqui ter tudo se soubessem fabricar, ou depois o respondente a falar dos governos, e como vexavam os povos, e que tambm ele era um dos queixosos, ao que o dito Jos Alvares Maciel disse, que pelas naes estrangeiras por onde tinha andado, ouvira falar com irao de no terem seguido o exemplo da Amrica Inglesa; com este dito entrou o respondente a lembrar-se da independncia, que este pas podia ter, entrou a desej-la, e ultimamente acuidar no modo, por que poderia isso efetuar-se, e como estava para partir para Vila Rica, e de fato partiu; no caminho perguntou ao Coronel Jos Ayres Gomes em casa de quem pousou, o como se davam os povos com o novo General o Ilustrssimo, e Excelentssimo Visconde de Barbacena, e dizendo-lhe o dito coronel, que muito bem, que ele era belssimo, disse o respondente, que no principio todos eram bons, que antes ele fosse um diabo pior, que o antecessor o Ilustrssimo, e Excelentssimo Luis da Cunha e Menezes; porque poderia assim suceder, que esta terra se fizesse uma repblica, e ficasse livre dos governos, que s vm c ensopar-se em riquezas de trs em trs anos, e quando eles so desinteressados sempre tm uns criados, que so uns ladres, e que as potncias estrangeiras se iravam, de que a Amrica Portuguesa se no subtrasse da sujeio de Portugal, e que elas haviam de favorecer este intento, ao que o dito coronel respondeu, que este projeto era uma asneira, e que sempre havia de haver um, que nos governasse, lembrando-se do ditado, quando neste vale estou, outro melhor me parece, e no se avanou mais a conversao com o dito Coronel Jos Ayres Gomes, nem ele respondente pretendia por entrada mais do que fazer lembrar este projeto, e por isso chegando mais adiante fazenda do Registro Velho procurou o mesmo mtodo de conversao com o Padre Manoel Rodrigues da Costa, o qual depois de ouvir lhe disse, que ele respondente no sabia bem o melindre da matria, em que falava, que se deixasse de falar nela, que lhe podia suceder mal.

Chegando depois a Vila Rica, ados trs meses pouco mais, ou menos; porque ele respondente estava doente de um p, e vendo que o Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade se opunha, a que ele respondente cobrasse os seus soldos, lhe meteu por empenho a seu cunhado Jos Alvares Maciel, e juntamente para que o dito Tenente-Coronel no fosse seu inimigo, posteriormente tornando a falar com o dito Jos Alvares Maciel tornaram a renovar o projeto, de que a Amrica podia ser uma repblica, e viver independente de Portugal, e assentaram de fazer a diligncia, a ver se se conseguia, para o que ajustaram, que o dito Jos Alvares Maciel seu cunhado lhe falasse primeiro nesta matria, e o dispusesse, e que depois disso ele respondente lhe falaria, como fez propondo-lhe este negcio em uma ocasio, que o dito Tenente-Coronel estava doente, ao que o dito Tenente-Coronel a principio respondeu, estranhando, e dizendo - Vossa Merc fala-me nisso? - e procurando o respondente persuadi-lo melhor, lhe disse, que o negcio s dependia da sua vontade; porque no Rio de Janeiro estavam dispostos, e s desejavam saber da determinao dele dito Tenente-Coronel, e do partido, que ele tomaria, sobre o que ele mascou, e disse a ele respondente, que j outro sujeito lhe tinha falado na mesma matria, e que no falasse em tal, e perguntando-lhe ele respondente quem era o sujeito, que j lhe tinha falado na mesma matria, est em dvida se ele lhe disse, que era o Padre Carlos Corra de Toledo, Vigrio da Vila de So Jos, ou seu cunhado Jos Alvares Maciel.

Depois ados dias sucedeu ar ele respondente por casa do dito Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, e nela achou o seu Cunhado Jos Alvares Maciel, e ao Vigrio da Vila de S. Jos, Carlos Corra, como tambm o dito Jos Alvares Maciel, e aproveitando-se da ocasio, tornaram a falar no mesmo negcio, e a persuadir ao dito tenente-coronel, que ele podia efetuar-se, e ultimamente todos convieram em que se fizesse a sedio, e levante, fundamentados na derrama, a qual causava um desgosto geral aos povos, e os achava dispostos para entrarem na dita sedio; em outro dia se tornaram, ele respondente, e os sobreditos a ajuntar em casa do dito Tenente-Coronel, assistindo mais o Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim, entre os quais todos se entraram a traar e ajustar o modo por que se havia de fazer a dita sublevao, e motim; e o Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade disse, que visto ele respondente ter assegurado, que no Rio de Janeiro havia um grande partido, que favorecia a sublevao, e motim, e a seguia, viesse ele respondente ao Rio de Janeiro, e conduzisse para Minas aquelas pessoas que o seguiam, e procurasse persuadir a outras; porque indo esta gente para a Capitania de Minas j como em motim, ele dito Tenente-Coronel, como chefe da tropa, havia de vir ao caminho a rebat-los, e opor-se-lhes, e em lugar de o fazer se uniria dita gente, e com ela iria a Vila Rica a dar princpio sublevao, e motim, ao que ele respondente disse que no podia ser assim; por quanto se ele sasse com gente do Rio de Janeiro para favorecerem, e ajudarem o partido da sedio, e levante, antes deste se efetuar na Capitania de Minas, poderia vir maior partido do povo da dita Capitania, e oporem-se gente, que ele respondente levasse, e ficar sem efeito este socorro, com cujo voto concordou o Coronel Igncio Jos de Alvarenga, que suposto no estivesse desde o princpio presente a esta conversa, contudo, foi chamado por um escrito, que lhe escreveu o Vigrio da Vila de S. Jos, Carlos Corra de Toledo, e vindo, foi-lhe recontada toda a conversao, a acrescentou, que primeiro, que tudo se devia fazer o levante em Minas Gerais, e depois procurarem-se os socorros do Rio de Janeiro.

Na conversao cada um dos assistentes disse o que lhe pareceu, lembrando o mtodo, e modo, como se deveria fazer o levante, o que era encontrado pelos outros, conforme as razes de dificuldade que lembravam o que ele respondente no expe com toda a individuao; porque no est totalmente certo dessas miudezas, e s conservou, e conserva na memria as coisas principais, em que se assentou, como foi, o ir ele respondente Cachoeira prender o general, e faz-lo conduzir com sua famlia para fora do distrito de Minas, dizendo que se fosse embora, e dissesse em Portugal, que j c se no carecia de governadores; esta foi a ltima resoluo no obstante haver quem lembrasse, que no havia levante sem cabea fora, que segundo a lembrana dele respondente, foi ou Jos Alvares Maciel, ou o Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim; mas ele respondente no assevera com toda a certeza, que no fossem algum outro fora dos que acima disse, e s est certo que ele respondente no conveio na proposio, e disse que a matar-se algum fosse o cabea de escova, denominado assim ao Ajudante-de-Ordens Antonio Xavier de Rezende, por andar com setecentos negcios logo que chegou. Que tirado o governo ao general se deitaria um bando em nome da Repblica, para que todos concordassem, e seguissem o partido dela, isto era em lugar da fala, que se havia de fazer ao povo; porque tendo-se falado, em que era necessrio haver um cabea, respondeu o Coronel Igncio Jos de Alvarenga, que se no queria naquela ao cabea; mas sim serem todos cabeas, e um corpo unido.

O Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade disse, que falaria ao Tenente-Coronel Domingos de Abreu Vieira para dar a plvora que pudesse; o Padre Jos da Silva Oliveira Rolim tambm disse que mandaria vir alguma pela Bahia, e assentou-se em que seria necessria a plvora; porque o respondente suposto lhes facilitava o partido do Rio de Janeiro, contudo no os enganava, nem lhes assegurava que ele estava certo; porque no sabia se na dita cidade se quereria, ou no seguir este partido.

Assentou-se mais na dita conversao, que Jos Alvares MacieI faria a plvora, e estabeleceria algumas manufaturas pelo tempo adiante, que o vigrio da Vila de S. Jos capacitaria gente para entrar na sedio, e motim, e o mesmo havia de fazer ele respondente por onde pudesse, que o Coronel Igncio Jos de Alvarenga daria gente da companhia, e o Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim do Serro do Frio, no que convieram os sobreditos: e falando ele respondente, em que a nova Repblica que se estabelecesse devia ter bandeira disse que como Portugal tinha nas suas por armas as cinco chagas, deviam as da nova Repblica ter um tringulo, significando as trs pessoas da Santssima Trindade; ao que o Coronel Igncio Jos de Alvarenga disse que no, e que as armas para a bandeira da nova Repblica deviam ser um ndio desatando as correntes com uma letra latina, da qual ele respondente se no lembra, e que tudo ficasse sopito, e em suspenso at se lanar a derrama, se achassem que com ela ficava o povo disposto para seguir sedio, e motim; estando ele respendente, e os sobreditos nesta conversao chegou o Desembargador Thoms Antonio Gonzaga, e com a sua vinda todos se calaram, e se foram embora.

Em conseqncia do ajuste, de que ele respondente capacitasse, e seduzisse as pessoas, que pudesse para entrarem na sublevao, e motim, procurou ele respondente falar a algumas pessoas, usando da arte, que lhe parecia necessria conforme os caracteres delas, e aproveitando as ocasies que se lhe ofereciam para isso: uma das pessoas a quem falou foi ao Capito Vicente Vieira da Motta, no tanto por ele, como para ver se reduzia a Joo Rodrigues de Macedo, de quem caixeiro, por ser este benquisto, e ser devedor de uma grande soma de dinheiro Fazenda Real, o que o poderia fazer convir no intento; mas o dito Capito Vicente Vieira da Motta, nem conveio, nem consentiu que se procurasse os meios de falar a Joo Rodrigues de Macedo: tambm falou a Jos Joaquim da Rocha, que igualmente disse que nem queria saber de semelhante negcio, e a ocasio, que teve de lhe falar, foi ler conversado com ele, por ser muito curioso de mapas, quantas almas teria a Capitania de Minas Gerais, e depois seguiu o discurso, dizendo que se podiam governar melhor, ando a Amrica a ser Repblica: falou a Salvador do Amaral Gurgel na ocasio, que este lhe contou ter ido para cima da Comarca do Rio de Janeiro, por ser perseguido pelo Ouvidor da Comarca Francisco Luis Alvares da Rocha, e dizendo-lhe ele respondente o pensamento, em que andava, lhe pediu algumas cartas para sujeitos do Rio de Janeiro, que visse eram asados para o intento, o qual as prometeu, porm no as deu: tambm falou ao Tenente-Coronel Domingos de Abreu Vieira, em ocasio que ele foi visitar ao respondente; porm logo que lhe falou se benzeu, dizendo meu compadre Vossa Merc est doido, e foi saindo, contudo, depois soube ele respendente, que foi capacitado para entrar no levante pelo Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, e pelo Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim, rnetendo-lhe na cabea que na derrama lhe haviam de tocar seis mil cruzados.

Depois disse a ele respondente o Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim, que o Coronel Igncio Jos de Alvarenga dissera que o Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade mandava dizer a ele respondente, que no falasse mais a pessoa alguma, e que s que tinha falado, se pudesse as desvanecesse; porque podiam no ter efeito a sublevao, e motim, e que s depois de posta a derrama se havia de ver se a dita sublevao se fazia.

ados alguns dias veio o respondente para o Rio de Janeiro, por causa de lhe terem chegado uns requerimentos de Lisboa a respeito de umas guas, e no caminho no deixou de falar, quando se lhe ofereceu ocasio, e se falava em derrama. Uma das pessoas a quem falou, foi ao Capito Joo Dias da Motta, o qual respondeu que o estabelecimento da Repblica no seria mau; porm, que ele nem se metia nisso, nem de tal queria saber. Tambm falou na derrama, e no modo por que a Amrica se podia fazer repblica no stio da Varginha em casa do estalajadeiro Joo da Costa, estando presente um viandante fraca-roupa chamado Antnio de Oliveira Lopes, o qual pareceu abraar o sistema que o respondente seguia; porque disse que em ele respondente tendo onze, que abraassem o seu partido, fizesse conta com ele, que eram doze, e beberam sade dos novos governos; mas no sabe ele respondente se isto era com nimo verdadeiro, ou se seria por convir com ele respondente em razo deste lhe ir pagando os gastos at Vila Rica, e ce?????C?????rto que o dito estalajadeiro ouviu toda a conversao, mas no lhe lembra a ele respondente coisa por onde possa dizer se ele abraou o partido. No sitio das Cebolas falou o mesmo perante o Furriel de Artilharia desta cidade, Manoel Lus Pereira, o qual no deu assenso ao partido que ele respondente propunha.

Chegou a esta cidade, e nela falou ao Ajudante do Regimento de Artilharia Joo Jos Nunes Carneiro, o qual o despersuadiu, dizendo-lhe que no sabia no que se metia, que o que lhe propunha eram coisas em que se no falava. Tambm falou perante Valentim Lopes da Cunha, e sua irm Mnica Maria do Sacramento, e Jernimo de Castro e Souza, por ocasio de se queixar um soldado, que no podia conseguir a sua baixa; mas tambm nenhum aprovou o discurso, e proposio dele respondente, e que isto tudo quanto se ou nesta matria, e que poderia alguma pessoa ouvir falar a ele respondente nesta matria; porm, que dela no se recorda, antes se ira de ter visto, que no tem escapado o mnimo o que o respondente desse, que no tenha sido sabido pelo juiz desta devassa, e por isso se persuadiu, que assim queria Deus que se soubesse; pelo que se resolveu a dizer toda a verdade Ingenuamente.

E sendo instado, que dissesse a verdade; pois ainda que tinha dito algumas coisas, no tinha dito tudo, como devia; porque sabendo ele respondente, que tinha entrado nesta conjurao o Doutor Cludio Manoel da Costa e o Desembargador Thoms Antnio Gonzaga, no o tinha declarado, e tambm tendo dito que o Rio de Janeiro todo, principalmente os homens de negcio, eram deste partido, e que as naes estrangeiras davam auxilio, no declarou nada a este respeito, o que agora ?????C?????deve fazer com todas as circunstncias e individuao.

Respondeu que a respeito do Doutor Cludio Manoel da Costa certo que ele respondente falara; mas ele no itiu o convite, antes disse que ele respondente andava procurando perder algum, e que no sabia no que se metia, e no ter declarado isto na sua antecedente resposta foi por esquecimento; porque agora, como j disse, no oculta a mais leve coisa da verdade, que a faltar a ela seria para se desculpar, o que no faz. E quanto ao Desembargador Thoms Antnio Gonzaga, sobre o qual lhe tm sido feitas tantas instncias, declara que absolutamente no sabe que ele fosse entrado, e nunca ele respondente lhe falou em tal pelo temer, e lhe parece que ele no era entrado em razo de ver, como j disse, que quando ele entrou em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade na ocasio, que se tinha estado a falar nesta matria, todos se calaram, e a ele se no contou coisa alguma, e que ele respondente no tem razo nenhuma de o favorecer; porque sabe que o dito desembargador era seu inimigo por uma queixa que o respondente fez dele ao Ilm. e Exm. General Luis da Cunha, no obstante o que ele respondente confessa, que todos o aclamavam por bom ministro, e ele mesmo respondente assim o diz, e assim o disse vrias vezes at ao seu mesmo sucessor. E que quanto ao Rio de Janeiro, e ao socorro das naes estrangeiras confessa ele respondente t-lo dito a algumas pessoas, mas era idia para melhor persuadir quelas a quem falava; porque na realidade nem tinha nesta cidade partido, nem falou mais que as pessoas, que j disse, e tanto conheceu, que no podia fazer nada pelo respeito que todos tinham ao Ilustrssimo e Excelentssimo Vice Rei, e que qualquer coisa que se falasse, ele o saberia logo, que assim mesmo o disse ao Coronel Joaquim Silvrio dos Reis, desvanecendo-o, quando o dito coronel disse a ele respondente nesta cidade, que lhe vinha ajudar a fazer partido.

E sendo instado, que dissesse as mais pessoas, a quem tinha comunicado o intento, como era a Manoel Joaquim de S Pinto do Rego Fortes, Manoel Jos de Miranda, que lhe tinham dado cartas para ser auxiliado na fugida, que pretendia fazer, pelo Mestre de Campo Igncio de Andrade, e a Domingos Fernandes Cruz, que o ocultou em casa.

Respondeu que nenhum deles sabia nada; porque nem ele respondente j tratava de semelhante negcio, nem cuidava seno em se retirar; e s pediu a carta a Manoel Joaquim de S Pinto do Rego Fortes com o fundamento de ter tido mal do Ilustrssimo e Excelentssimo Vice-Rei, e com o mesmo fundamento pediu outra a Manoel Jos de Miranda o dito Manoel Joaquim de S Pinto do Rego Fortes para ele respondente ser auxiliado na fugida; e Domingos Fernandes Cruz ocultou a ele respondente em sua casa por empenho, que lhe meteu, e que era toda a verdade. E por esta forma houve o dito desembargador por ora estas perguntas por findas, e acabadas, e assinou com o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues e Arajo, e o respondente depois destas lhe serem lidas e as achar na verdade, como tinha respondido, e o dito desembargador deu o juramento ao respondente de haver nestas perguntas falado verdade pelo que respeita a direito de terceiro.

E declaro que o respondente esteve a estas perguntas livre de ferros, e em liberdade. E eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor e Corregedor da comarca do Rio de Janeiro, e escrivo nomeado para esta devassa o escrevi e assinei.

Torres
Marcelino Pereira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Jos dos Santos Roiz'. e Ar.

Auto de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.

Aos quatro dias do ms de fevereiro de mil setecentos e noventa, nesta Fortaleza da Ilha das Cobras, cidade do Rio de Janeiro, onde foi vindo o Desernbargador Jos Pedro Machado Coelho Torres comigo escrivo nomeado Manoel da Costa Couto, nos impedimentos do Ouvidor da Comarca Marcelino Pereira Cleto, escrivo desta devassa, e o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues Arajo para efeito de assistir continuao destas perguntas feitas ao ru o Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier e sendo se procedeu na continuao das mesmas perguntas de que para constar fiz este termo eu Manoel da Costa Couto, escrivo das apelaes e agravos nomeado no impedimento do ouvidor o escrevi.

E sendo-lhe lidas as perguntas retro e perguntado se eram as mesmas e as ratificava.

Respondeu que sim, ratificava o que ultimamente tinha dito no que tinha falado inteiramente a verdade.

E sendo instado que dissesse a verdade mais completamente pois ainda tinha deixado de declarar quem era um clrigo a quem chamavam Doutor e outro sujeito do Rio das Mortes que estavam em casa do estalajadeiro Joo da Costa Rodrigues, morador na Varginha, com quem o respondente conversou conversas sediciosas a respeito do levante, dizendo que tinha pessoa muito grande e de carter que agora deve declarar quem era e quem eram os mais sujeitos, que se achavam na dita conversao tudo com individual clareza.

Respondeu que j tinha dito que a conversao, que tivera naquele sitio da Varginha, fora unicamente com o piloto Antnio de Oliveira Lopes, que era um pobre homem a quem ele respondente favorecia e lhe fazia os gastos na jornada e o estalajadeiro dono da casa, o dito Joo da Costa, sem que ali estivesse mais pessoa alguma e que ele respondente, sim, falou nessa ocasio em um Doutor e outras pessoas do Rio das Mortes contando como um caso, que lhe tinha sucedido de se quererem opor ao que ele respondente dizia sobre a derrama e o levante e que depois ficaram convencidos confessando que ele respondente tinha razo e que eles estavam pelo mesmo, porm tal no tinha sucedido, era s figura e idia armada para persuadir, o que ele respondente fazia pelos modos que lhe pareciam mais prprios conforme as pessoas com quem falava e que, se algumas vezes dizia ele respondente tinha pessoa grande de carter, era na inteligncia dele respondente por ser entrado o seu Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire, que ele reputava por pessoa grande.

E sendo mais instado para que dissesse quem era o cabea, porque a sublevao no havia de ser feita sem isso e quem havia de fazer as leis, que constava tinham sido encarregadas ao Desembargador Thoms Antnio Gonzaga; e tambm quais eram as pessoas que se haviam de matar, e de que modo.

Respondeu que j tinha dito no havia cabea algum, que o ru respondente fora sim o primeiro que falara na matria conversando a respeito da derrama, os mais foram seguindo, e aprovando mas sem nenhum se fazer cabea e na realidade sempre a coisa ficou como meia feita no ar ainda depois no adjunto, que tiveram os scios na casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula, de forma que nem completamente se assentou que pessoas se haviam, ou no, de matar, inda mesmo a respeito do Excelentssimo General Governador, que alguns temiam que no sendo ele morto se unisse o povo ao seu partido e ele respondente disse que estava pronto para a ao mais arriscada, mas que sem o matar se obrigava a pr fora da Capitania e se quisessem, depois de lhe tirarem o Governo, no havia que temer e o podiam conservar indo para uma das sesmarias dele respondente, que lhe daria porque naturalmente ele temeria ir para Portugal tendo c tido to mau sucesso. Que enquanto s leis falou-se que se havia de fazer depois mas no sabe que se encarregasse a pessoa alguma e menos ao Desembargador Gonzaga no qual nunca ouvia falar e se persuade, que de tal no sabia porque quando entrou em casa de Francisco de Paula se interrompeu a conversa em que se estava de levante e se no falou mais nele o que no sucederia se ele fosse sabedor, verdade que Joaquim Silvrio nesta cidade disse a ele respondente que o dito Desembargador Gonzaga era entrado do que ele respondente se irou e ainda hoje mesmo se no capacita e certo, que nem o encobre por amizade porque era seu inimigo, nem pelo respeito porque a ser por isso encobriria ao seu tenente-coronel a quem tributa maior respeito, e o mesmo Joaquim Slvrio dos Reis dir se o respondente alguma vez lhe falou no dito Desembargador Gonzaga, sendo certo que ele respondente lhe falava com franqueza e sinceridade.

E sendo mais instado para que dissesse a verdade que ocultava a respeito do partido que tinha nesta cidade do Rio de Janeiro, e das correspondncias que haviam para as potncias estrangeiras e que socorros se esperavam de l, o que ele havia de saber muito bem, e deve declarar.

Respondeu que como j tinha dito, se a algumas pessoas ele falava em partido que tinha nesta cidade do Rio de Janeiro e em socorros estrangeiros que se esperavam, era idia para persuadir a algumas pessoas e tanto isto assim, que aos mesmos scios ele falou mais desenganado dizendo que no tinha partido, mas que o havia de buscar, ao que houve quem respondesse que ao certo no sabe quem foi (mas se persuade foi o Coronel Alvarenga) que era engano vir a esta cidade buscar o partido porque o Excelentssmo Vice-Rei no era para graas e assim que tem dito tudo quanto sabe como j declarou nem oculta coisa alguma depois de se ter resolvido a dizer a verdade e por mais instncias que lhe foram feitas sempre persistiu no mesmo.

E por esta forma houve ele desembargador estas perguntas por feitas e sendo-lhe lidas as achou estarem conformes depois de deferido o juramento que recebeu pelo que respondeu a respeito de terreiro e de tudo mandou fazer este auto que assinou com ele ministro e o tabelio e eu Manoel da Costa Couto, escrivo nomeado que o escrevi e assinei.

Torres
Manoel da Costa Couto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Jos dos Santos Rodrigues Arajo

Perguntas que mais se continuaram ao sobredito Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e noventa e um aos quatorze dias do ms de abril do dito ano, nesta cidade do Rio de Janeiro, na Fortaleza da Ilha das Cobras, onde foi vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier de Vasconcellos Coutinho, Chanceler da Relao desta cidade, e juiz da Comisso expedida contra os rus da Conjurao de Minas Gerais, comigo Francisco Luis Alvares da Rocha, Desembargador dos Agravos da dita Relao e escrivo da mesma Comisso, e o Ouvidor atual desta comarca, Marcelino Pereira Cleto, Desembargador nomeado da Relao da Baha, e escrivo das dependncias da mesma Comisso, para efeito de continuar as perguntas ao ru da dita conjurao, Joaquim Jos da Silva Xavier, preso na mesma Fortaleza; e mandando vir sua presena o dito ru lhe continuou as perguntas na forma seguinte.

E perguntado se era o prprio Joaquim Jos da Silva Xavier, a quem se tinham feito as perguntas, que constam deste auto.

Respondeu que era o mesmo.

E sendo-lhes lidas as perguntas acima do auto precedente, ou anterior ao termo imediato, e perguntado se eram as mesmas as respostas que a elas tinha dado, e se as ratificava.

Respondeu que so as mesmas, e as ratifica, porm, que tem algumas declaraes que fazer.

E perguntado que declaraes tinha de fazer.

Respondeu que, na parte em que dizia que recolhendo-se desta cidade para Minas, falara ados trs meses a Jos Alvares Maciel, para que reduzisse seu cunhado Francisco de Paula Freire de Andrade para que abraasse o projeto de estabelecimento da Repblica da dita Capitania de Minas, fora equivocao, e perturbao dele respondente: porquanto refletindo depois melhor, no que tinha ado, se lembra que no falara ao dito Jos Alvares s, mas que lhe tinha falado na verdade a primeira vez que se recolheu, digo depois que se recolheu desta cidade a Minas em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, estando este presente, e o vigrio de S. Jos Carlos Corra de Toledo; e nesta ocasio, entre todos os que estavam, foi a primeira vez que em Minas se falou no projeto do estabelecimento da Repblica, e nos meios, que para isso poderia haver e que agora lhe no lembrava mais declarao alguma que fizesse sob re as perguntas e respostas que deu acima ditas, e as ratificava.

E sendo perguntado pelas palavras, e forma da prtica, que teve com as pessoas, a quem diz, que falara a respeito do estabelecimento da Repblica, como foi a Jos Ayres Gomes, ao Padre Manoel Rodrigues da Costa, a Jos Joaquim da Rocha e a Salvador do Amaral Gurgel.

Respondeu que a Jos Ayres Gomes falara recolhendo-se desta cidade para Minas, pouco mais ou menos segundo sua lembrana pelo modo seguinte: que lhe perguntara como se davam com o novo Governador de Minas, o Visconde de Barbacena; e que o dito Jos Ayres lhe dissera que se davam com ele muito bem, e que era muito bom; ao que ele respondente replicou, que antes ele fosse um demnio; porque se disporiam as coisas ao estabelecimento de uma Repblica: e que agora com a nova derrama se desesperariam os povos para fazer algum levante, ou o poderiam fazer; e que nas naes estrangeiras se iravam do sossego desta Amrica, vendo o exemplo desta Amrica, digo exemplo da Amrica Inglesa; referindo o mesmo, que tinha ouvido nesta cidade a Jos Alvares Maciel; e que se fazendo a Repblica, talvez ficaria melhor o Pas de Minas; ao que o dito Jos Ayres Gomes respondeu, o que fica dito nas perguntas antecedentes. E que ao Padre Manoel Rodrigues da Costa falara pouco mais ou menos por esta mesma forma, e com as mesmas palavras; ao que o dito padre lhe respondeu que no falasse em tal, que no sabia em que se metia, nem eram coisas que tivessem caminho; ao que ele respondente replicou, que bem podia ser fazer-se uma Repblica; ao que o dito padre respondeu, que a de muitos era bem comida, e mal mexida, e com o dito padre no teve mais prtica alguma. E que estas conversas, que teve com esses dois sujeitos, foi recolhendo-se desta cidade por dias do ms de agosto. - Que a Jos Joaquim da Rocha falou em dias do ms de maro, estando para vir para esta cidade, e sabendo que ele era muito curioso de mapas, lhe perguntou quantas almas teria a Capitania de Minas; e respondendo-lhe o dito Jos Joaquim da Rocha, que teria trezentas e tantas mil almas; ele respondente lhe replicou que com tanta gente bem se podia fazer uma Repblica, ao que o dito Jos Joaquim lhe respondeu que no falasse em tal, que no eram coisas que se dissessem. Que a Joo Dias da Motta falara vindo j de caminho para esta cidade com a motivo de tratarem a respeito da derrama; e ento ele respondente lhe disse que iam apertando tanto com o povo, que ainda este desesperado havia de fazer algum levante, e estabelecer a Repblica; ao que o dito Joo Dias respondeu, que isso no seria mal; e replicando ele respondente, que se no caso que se fizesse, quereria ele entrar; respondeu, que se no metia em tal, que Deus o Livrasse; e com o dito Joo Dias da Motta no teve mais conversao alguma. E que com Salvador do Amaral Gurgel falou poucos dias, antes de partir para esta cidade; por ocasio de lhe ir pedir um Dicionrio Francs; porque antes disso o no conhecia; e dizendo-lhe o dito Salvador do Amaral que era do Rio, donde tinha ido perseguido pelo Ouvidor desta Comarca; ele respondente ento aproveitando a ocasio, vendo que ele era dos escandalizados, lhe disse que todos faziam o que queriam, e que tanto haviam de apertar com a gente que, desesperados, haviam de fazer algum levante, e estabelecer uma Repblica; e respondendo-lhe o dito Salvador do Amaral, que no seria mal; ele respondente, aproveitando-se da ocasio, e vendo que era do Rio, lhe disse que podia dar-lhe cartas para algumas pessoas, daquelas que julgasse mais asadas para entrar neste negcio; e suposto que o dito Salvador lhe respondeu, que lhe daria as ditas cartas, contudo nem as deu, nem ele respondente lhas pediu nem tornou a v-lo. - E esta a forma das prticas que teve com os sobreditos.

E constando das perguntas antecedentes, que ele respondente tinha dito que se tinha recolhi uma noite em casa de Domingos Fernandes etmendo ser preso, por empenho, que lhe meteu, e no constando da pessoa, que fez esse empenho, foi perguntado para que declarasse quem era a pessoa, que se empenhou com o dito Domingos Fernandes para que o ocultasse, e o motivo, que disse a mesma pessoa, e que tinha para se ocultar.

Respondeu que a pessoa a quem falou para que o escondesse uma noite, foi uma viva chamada Igncia de tal, que morava ao p da Igreja da Me dos Homens, porm, que esta no o recolhera em sua casa, por ser viva; porm, que por sua conta tornou a falar ao dito Domingos Fernandes, que o recolheu; que a razo que teve para se valer da dita Igncia, foi por ter curado uma filha de uma molstia, que teve em um p, por ter alguma inteligncia de curativo, e julgando que ela lhe estaria obrigada por este motivo, foi a razo por quese valeu dela; e a causa que lhe assinou para querer esconder-se, foi por se ter feito uma morte em Minas, na qual entendia que estva culpado, e que por esse motivo o queriam prender; e esta figura, que lenvantou, foi o mesmo que tambm disse ao mesmo Domingos Fernandes.

Foi mais perguntado qual fora a razo por que se escondera; porque se retirara com armas, que pediu emprestadas, e com nimo de se meter pelos matos.

Respondeu que estando nesta terra tambm Joaquim Silvrio dos Reis, que sabia dos ajustes feitos em Minas entre ele respondente e os mais Conjurados, conversava francamente com o dito Joaquim silvrio, e que este lhe dissera que o Vice-Rei deste Estado andava com grande cuidado sobre ele respondente, que tivesse conta em si, que se retirasse, porque mais dia menos dia, se ele respondente se no retirasse, seria preso; pois se persuadia que o Vice-Rei sabia da matria dos ajustes feitos em Minas; e que por esta razo ele respondente se escondera, e tratara de se retirar pelos matos, armado com um bacamarte, que pedira ao Porta-Estandarte Francisco Xavier Machado.

E por ora lhe no fez mais perguntas, e sendo-lhe lidas as acima ditas as achou estarem na verdade, como respondido tinha, e lhe deferiu juramento, pelo que respeita a terceiro, o dito ministro, que as assinou com o ru e o Ouvidor da Comarca, Marcelino Pereira Cleto; e declaro com este que o dito ru esteve a estas perguntas livre de ferros. E eu Francisco Luis lvares da Rocha, escrivo da Comisso, que a escrevi e assinei.

Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Marcelino Pereira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Auto de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.


Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e noventa e um, aos dezenove digo aos vinte dias do ms de juno do dito ano, nesta cidade do Rio de Janeiro, e Fortaleza da Ilha das Cobras, aonde foi vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier de vasconcellos Coutinho do Conselho de Sua Majestade, Chaceler da Relao desta cidade , e Juiz da comisso expedida contra os rus da Conjurao formada em Minas gerais, jnto comigo o Desembargador Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da mesma Comisso, e o Dr. Jos Caetano Cesar Manitti, Intendente nomeado da Comarca de Vila Rica, tambm Escrivo nomeado para efeito de se continuarem perguntas ao ru Joaquim Jos da Silva Xavier, preso na mesma Fortaleza; e logo o mandou vir a sua presena, e lhe continuou as perguntas na maneira seguinte.

E sendo-lhe lidas as perguntas imediatas, e as outras antecedentes, e perguntando se as ratificava.

Respondeu que eram as mesma umas, e outras e que as ratificava do mesmo modo que ento disse e respondeu.

E perguntado se no tempo que esteve oculto em casa de Domingos Fernandes nesta cidade, aonde foi preso, tinha mandado chamar alguma pessoa para que a lhe fosse falar, e se com efeito falou a algum, fora do dito Domingos Fernandes, em casa de quem estava.

Respondeu que no tem lembrana de ter mandado chamar pessoa alguma, nem de ter falado com algum fora dodito Domingos Fernandes.

E sendo instado que dissesse a que parecia ter faltado; porquanto constava por pessoas verdadeiras, que ele respondente tinha mandado chamar pelo dito Domingos Fernandes certo sujeito, que lhe foi falar a casa em que estava oculto, e com efeito pelo mesmo sujeito mandou um recado a Joaquim Silvrio?

Respondeu que, com efeito, recordando-lhe melhor, lhe lembra que, estando escondido em casas de Domingos Fernandes, lhe fora falar um clrigo, parente da mesma viva Igncia, que intercedido com o dito Fernandes, para que recolhece a ele respondente, digo quer tinha intercedido com o dito Fernandes para que recolhesse a ele respondente; porm, que lhe no lembra se mandou pelo dito padre, ou pelo mesmo Domingos Fernandes, informar-se de Joaquim Silvrio, e pela vinzinhana, donde ele respondente assistia, se a seu respeito havia alguma novidade; e que ou o dito Fernanades, ou o dito padre lhe trouxe a resposta de que, tendo falado a Joaquim Silvrio, este lhe mandara dizer que queria fala-lhe,e que no dia seguinte, logo depois que ele respondente se ocultara, tinha ido um soldado de cavalo a sua casa, e que no o achando dera parte ao Vice-Rei, de que resultara mandar prender um escravo que estava na casa dele respondente; porm, que o dito Joaquim Silvrio no lhe falara, porque nem ele respondente lhe procurou, nem ele mandou dizer a sua casa onde estava oculto.

E sendo perguntado se tinha amizade e conhecimento com o dito padre, que diz lhe fora falar na casa do dito Domingos Fernandes; donde lhe viera esse conhecimento, ou amizade, se antes quese ocultasse, ou depois que se ocultou, quando o dito padre lhe foi falar, se lhe comunicou alguma coisa sobre a sublevao de Minas; ou se lhe assinou outra causa por que estava oculto?

Respondeu que conhecia o dito padre de casa da vita viva igncia, por t-lo a visto algumas vezes, quando ia curar sua filha, que julgava ser o dito parente daquela viva; porm, que no tinha com o mesmo padre amizade alguma particular; e que nem antes que ele respondente se escondesse, nem depois de oculto, quando o dito padre foi falar-lhe, lhe contou nada a respeito da Sublevao de Minas, e s lhe parece, segundo sua lembrana, no que no est bem certo, ter dito ao mesmo padre, que a causa de se ocultar era por temer estar culpado de uma morte, que se fizera em Minas, que era aquilo mesmo, que tinha dito a dita viva Igncia, e ao dito domingos Fernandes, em casa de quem estava.

Foi mais perguntado, se entre as pessoas a quem tinha falado sobre o estabelecimento da nova Repblica, que pretendia estabelecer, falou a algum soldado ou oficial, seu camarada do Regimento de Cavalaria de Minas, em que servia, encarecendo-lhe as riquezas do Pas e utilidade do levante, como costumava praticar com as mais pessoas a quem falava?

Respondeu que nunca falou a nenhum soldado, nem oficial do seu regimento convidando-os para que entrassem na sublevao, nem dando-lhes das prticas, que havia entre os conjurados; porque o seu Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade lhe dissera que no falasse a nenhum dos oficiais; e s tem lembrana que, perante alguns, dissera que se lanava a derrama, e que poderia o povo, desgostoso, fazer algum levante; ao que, ou no davam assenso, ou diziam a ele respondente que no falasse em tal.

Foi mais perguntado, se quando o dito seu Tenente-Coronel Francisco de Paula dizia a ele respondente que no falasse a nenhum dos oficiais, era por reservar para si essa diligncia, como pessoa mais autorizada, que podia resolv-los, ou se lhe dava outra razo?

Respondeu que, quando o dito tenente-coronel lhe dizia que no falasse a nenhum dos oficiais do Regimento, a razo, que lhe dava, era porque a sublevao poderia no ter efeito, e que aquelas coisas eram melindrosas para se tratarem.

E sendo instado, que dissesse a verdade, a que parecia ter faltado; porquanto constava por pessoas verdicas que ele rpspondente tinha falado a muitos oficiais do Regimento, expressamente, para que entrassem na sublevao, e que alguns deles estavam firmes em ajudar a mesma sublevao, unindo-se aos conjurados, quando fosse tempo, e que perante um dos mesmos oficiais se tratara entre os conjurados alguma prtica em casa do dito Tenente-Coronel Francisco de Paula, em cuja prtica estavam, quando entrou o dito oficial; e que parando a conversao, depois continuara, por dizer o dito Tenente-Coronel Francisco de Paula - podemos continuar, que este dos nossos - nem parece verossmil, que falando ele respondente a tantas pessoas sobre a nova Repblica, com as quais tinha pouca amizade, e eram pouco hbeis para ajudar o seu projeto da sublevao, deixasse de falar aos seus camaradas, com os quais devia ter amizade particular e eram os mais capazes e hbeis para ajudar a ele respondente na empresa que tinha tomado.

Respondeu, insistindo no mesmo que j disse, que a nenhum dos oficiais do seu Regimento tinha falado na conjurao nem tinha amizade particular com nenhum com quem falasse nessas matrias, porque ordinariamente os militares so inimigos uns dos outros; e que ele respondente antes se fiaria de um paisano do que de um militar seu camarada.

E sendo mais instado, que dissesse a verdade, porquanto constava que ele respondente com alguns oficiais tinha amizade particular, assim como com um, com quem veio de camarada para esta cidade, e com quem assistiu o tempo que aqui esteve, at que se ocultou em casa de Domingos Fernandes, e de uma camaradagem de viver familiarmente na mesma casa se prova infalivelmente a boa, e particular amizade, que ele respondente nega.

Respondeu que era verdade ter vindo para esta cidade de camarada com o Alferes Mathias Sanches Brando, ao qual encontrou no sitio chamado Ribeiro, que com ele viveu na mesma casa nesta cidade todo o tempo que aqui esteve, at que o dito alferes se foi embora, quatro ou cinco dias antes dele respondente se ocultar; porm, sem embargo da dita camaradagem e assistncia, no tinha amizade particular com o dito alferes, nem dele se confiou em semelhante matria.

E por ora lhe no fez o dito ministro mais perguntas, as quais sendo por mim lidas a ele respondente, as achou conformes, como respondido tinha; e deferindo-lhe o juramento pelo que respeitava a terceiro, debaixo dele declarou ter dito a verdade; e declaro que neste ato esteve o respondente livre de ferros, de que dou f com o Escrivo assistente; e de tudo mandou o mesmo ministro fazer este auto em que assinou com o respondente, e dito Escrivo assistente; e eu Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.

Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier

Auto de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e noventa e um, aos vinte e dois dias do ms de junho, nesta cidade de So Sebastio do Rio de Janeiro, na Fortaleza da Ilha das Cobras, aonde foi vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier de Vasconcellos Coutinho, do conselho de Sua Majestade, e do da sua Real Fazenda, Chanceler da Relao desta mesma cidade, e Juiz da Comisso expedida contra os rus da conjurao formada em Minas Gerais, junto comigo o Desembargador Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da mesma Comisso, e o Intendente nomeado da Comarca de Vila Rica, Jos Caetano Cesar Manitti, tambm Escrivo da mesma diligncia para efeito de se continuarem as perguntas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, que se acha preso na mesma Fortaleza, e sendo a mandou vir o dito ru sua presena, e lhe fez as perguntas pela maneira seguinte.

E sendo-lhe lidas as perguntas prximo antecedentes, e perguntado se eram as mesmas, que a ele respondente Joaquim Jos da Silva Xavier tinham sido feitas, e se, as suas respostas eram as mesmas, que ento tinha dado, e se as ratificava.

Respondeu que eram as mesmas respostas que ele respondente tinha dado, e que as ratificava.

E sendo perguntado se depois da prtica, e conversao, que tivera em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula, em que se assentou que se faria o levante na ocasio da derrama, declarando-se a diligncia, e parte, que cada um devia ter naquela ao; como era falar o Vigrio de So Jos gente; o Coronel Alvarenga a homens na Campanha do Rio Verde; o Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim gente no Serro do Frio; assim como ele respondente havia de falar a quem pudesse; se com efeito cada um dos sobreditos fez a diligncia que se tinha assentado; e se deram parte da gente, que tinham pronta; tanto a ele respondente, como aos mais que estiveram na dita conversao.

Respondeu que nenhum daqueles, que se tinham obrigado a falar a gente, deu parte a ele respondente de ter feito diligncia alguma naquela matria, nem lhe consta que com efeito o fizessem nem dessem parte aos que estiveram presentes na dita conversao.

E sendo instado, que dissesse a verdade, pois assim como ele respondente satisfez da sua parte, falando a todas as pessoas, que lhe pareceu na forma, que se tinha assentado na dita conversao, assim os mais, crvei, que falariam na forma, que se tinha tratado.

Respondeu, insistindo no mesmo, que tem dito, que no sabe, nem lhe consta, que nenhum dos sobreditos falassem a pessoa alguma. E sendo instado a que dissesse a verdade, a que parecia ter faltado, porquanto consta com certeza que o Vigrio de So Jos, Carlos Corra de Toledo, avisando ao Tenente-Coronel Francisco de Paula de que tinha cento e tantos cavalos prontos, e gordos, no que se entendia muito bem, que eram outros tantos homens para a ocasio do levante.

Respondeu que do mesmo modo no sabia, que o dito vigrio tivesse feito esse aviso, nem o Tenente-Coronel Francisco de Paula lhe comunicou a ele respondente coisa alguma, se acaso teve aquele aviso.

Foi mais perguntado que declarasse a forma com que determinava prender o general da Capitania de Minas; porque tendo na conversao reservado para ele respondente esta ao, devia ter ideado a forma de execut-la.

Respondeu que ento, quando se tratou aquela matria, no discorreu o modo de prender o general; e que tendo gente do seu partido, era fcil fazer a dita priso, estando o general na Cachoeira.

E sendo Instado que dissesse a verdade, ao que parece ter faltado; porquanto, sendo aquela ao a mais importante, ele respondente no devia arriscar-se nela se no tivesse induzido ao seu partido alguns oficiais, ou soldados, que devessem estar na Cachoeira para ajudar a ele respondente no seu projeto?

Respondeu que no tinha induzido para o levante nenhum soldado, nem oficial do Regimento.

E sendo instado, que dissesse a verdade, porquanto constava que ele respondente tinha falado a muitos oficiais do Regimento, que estavam firmes em seguir o seu partido.

Respondeu Insistindo que no tinha falado no levante a oficial algum, nem na priso do general.

E logo o dito ministro mandou vir sua presena o Coronel Francisco Antnio de Oliveira Lopes, o Coronel Igncio Jos de Alvarenga e o Tenente-Coronel Domingos de Abreu Vieira para serem acareados com o sobredito respondente, e mais ao Vigrio de So Jos, Carlos Corra, estando presentes, primeiramente este dito Vigrio Carlos Corra e Francisco Antnio de Oliveira Lopes, os quais mutuamente se reconheceram pelos prprios, de que dou f, com o outro escrivo assistente; e lendo ao Coronel Francisco Antnio de Oliveira Lopes o seu juramento, que deu na devassa tirada pelo Desembargador Jos Pedro Machado Coelho Torres, na parte em que repetiu que lhe havia dito o dito Vigrio Carlos Corra na casa deste, que se encontrando na rua com o Tenente-Coronel Francisco de Paula, convidando-o para ir sua casa, ali achara, tendo ido, ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, o Doutor Jos Alvares Maciel, o Capito Maximiliano de Oliveira Leite e um doutor pequenino, cujo nome no sabia, das partes do Sabar, e outro doutor de Minas Novas, cujo nome tambm ignorava; e juntos todos entraram a tratar, que se devia fazer um levante, quando se lanasse a derrama, para ficar este Pas feito uma Repblica.

E deferindo-lhe novamente juramento, para que dissesse a verdade, persistiram firmes o Alferes Joaquim Jos da Silva e o Vigrio de So Jos, Carlos Corra, em que naquela ocasio no tiveram presentes conversao, que tiveram em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula, nem o Capito Maximiliano de Oliveira Leite, nem o doutor pequenino do Sabar, nem o doutor das Minas Novas; nem sabem quem sejam estes dois ltimos; porm, o Coronel Francisco Antnio de Oliveira Lopes persistiu firme, e certo, em que o Vigrio Carlos Corra de Toledo lhe dissera, o que deps no seu juramento na parte, que agora lhe foi lida, e o dito Vigrio Carlos Corra de Toledo persistiu tambm firme em que no tinha dito ao tal Francisco Antnio de Oliveira Lopes, que estivessem presentes naquela ocasio prtica, que tiveram sobre o levante em casa de Francisco de Paula Freire de Andrade; e por mais que foram instados para que dissessem a verdade, e tendo conferido, e disputado entre si sobre esta matria, no declararam mais coisa alguma; ainda que pareceu que o dito Francisco Antnio de Oliveira Lopes afirmava a verdade, do que tinha jurado, vacilando algum tanto. E por esta forma houve ele ministro esta acareao por feita, e sendo lida a todos no mesmo ato, acharam escritas as suas respostas, como dito tinham; e de como assim foram perguntados, e responderam assinou o dito ministro com o respondente, e acareados, e o escrivo assistente; e eu, Francisco Lus lvares da Rocha, que o escrevi e tambm assinei.

Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti Joaquim Jos da Silva Xavier
Francisco Antnio de Oliveira Lopes
Carlos Corra de Toledo

E logo imediatamente acabado este ato, apareceu o Coronel Igncio Jos de Alvarenga presente para haver de ser acareado sobre o que respondeu nas perguntas que lhe foram feitas na parte, que lhe foi lida, e em que diz no acreditara o respondente Joaquim Jos da Silva Xavier que dizia haver pessoas dispostas para o levante no Rio de Janeiro, sem que lhe nomeasse algumas delas, tendo-lhe nomeado em Minas alguns sujeitos, a que tinha falado, como eram o Capito Manoel da Silva Brando, o Tenente Antnio Agostinho, o Capito Maximiliano de Oliveira Leite, de quem estava certo ter-lhe dito o respondente Joaquim Jos da Silva, que falando-lhe a primeira vez, prestara o seu consentimento; mas que sendo nomeado posteriormente Comandante do Destacamento da Serra, e tornando a falar-lhe, lhe dissera que no fosse louco, que no tornasse a falar-lhe em semelhante matria, ao que o dito alferes respondente disse respondera ao dito capito que como agora estava feito Gro-Turco da Serra, que por isso no queria entrar na sublevao; e no falara mais com o dito alferes, porque seguira viagem para o Rio de Janeiro.

E depois de conferirem um com outro, disse o Coronel Alvarenga que tinha espcies, mas no certeza, de ouvir dizer ao Alferes Joaquim Jos que tinha falado nas matrias do levante com o Capito Manoel da Silva Brando e o Tenente Antnio Agostinho; e que s tinha certeza de que o dito Alferes Joaquim Jos lhe dissera que tinha falado ao Capito Maximiliano, e que este respondeu que no fosse louco, e que ele alferes lhe disse que, como agora estava feito Gro-Turco da Serra, no queria; e demais, a respeito da resposta, que se declara ter dado o dito Capito Maximiliano ao alferes acareado, da primeira vez que lhe falou, dizendo que lhe prestara o seu consentimento, declara ele acareante, que sem embargo de ter dito, que estava certo, em que o dito alferes lhe dissera a dita resposta, contudo agora pensando no que o dito alferes lhe disse entra na dvida, de que com efeito se explicasse por estes termos.

E o dito Alferes Joaquim Jos da Silva, vista da declarao do acareante Igncio Jos de Alvarenga, persistiu firme em que no tinha dito ao acareante Igncio Jos de Alvarenga que tinha falado ao Capito Brando e ao Tenente Antnio Agostinho; e s concordou e confessou que tinha falado ao Capito Maximiliano, porm discordou do dito acareante Igncio Jos de Alvarenga, enquanto este declara que o dito alferes lhe dissera ter falado ao Capito Maximiliano duas vezes; e ele acareado alferes persistiu em que s falara uma vez ao dito Capito Maximiliano, em matria de estabelecimento de Repblica: e cada um persistiu firme no que havia dito. E por esta forma houve o dito ministro esta acareao por feita, reservando, falta de tempo, para outra vez ao Tenente-Coronel Domingos de Abreu Vieira; e sendo a que fica feita lida ao acareado e acareante, acharam estar as suas respostas escritas bem, e verdadeiramente como respondido tinham, e debaixo do juramento, que se lhes prestou, havia dito a verdade; e de como assim disseram e responderam, mandou fazer este auto, em que assinou com o respondente e acareantes, e Escrivo assistente, e com este dou f, estarem uns e outros neste ato livres de ferros, e eu o Desembargador Francisco Luis lvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.

Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Igncio Jos de Alvarenga
Joaquim Jos da Silva Xavier

E logo que se recolheu sua priso o dito Igncio Jos de Alvarenga, continuou o dito Conselheiro as perguntas ao respondente Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier pela maneira seguinte.

Foi perguntado, visto ter confessado, que tinha falado ao Capito Maximiliano, por ser convencido de Igncio Jos de Alvarenga, com quem foi acareado, devia agora declarar em que ocasio, de que modo e quantas vezes tinha falado ao dito Capito Maximiliano.

Respondeu que lhe no lembra com certeza o tempo em que falou ao Capito Maximiliano, e s lhe lembra, e tem certeza, de que indo uma vez sua casa lhe falara no estabelecimento da Nova Repblica, dizendo-lhe que na ocasio da derrama se podia fazer; e perguntando-lhe o dito Capito Maximiliano como podia ser isso, lhe disse ele respondente que se levantando o povo; e ficando o dito Maximiliano por modo de pensativo, tornou a dizer-lhe que no seria mal; e ento ele respondente lhe disse que sobre esta matria tinha falado com o Tenente-Coronel Francisco de Paula, e que ele se no desagradara da proposta, e no estava fora disso; e duvidando o dito Maximiliano de que ele respondente tivesse falado naquela matria ao dito tenente-coronel, o respondente lhe assegurara que era verdade, e o dito Capito Maximiliano ento lhe disse que no falasse em tal, que no fosse doido, que se soubera que ele respondente falara verdade, que o iria acusar; e ento lhe pediu o respondente que no falasse naquela matria ao Tenente-Coronel Francisco de Paula; e que ele dito capito no queria entrar naquele projeto, porque estava feito Gro-Turco da Serra ou Governador de Marmantil, por estar ento o dito capito nomeado para aquele destacamento; e que nada mais se ara na dita conversa.

E sendo instado que dissesse a verdade, porquanto antes desta ocasio j ele respondente tinha falado ao dito Capito Maximiliano mais alguma vez sobre o estabelecimento da nova Repblica, e o dito capito lhe tinha prestado o seu consentimento, o que se convence at da mesma resposta, que acima deu; pois s podia servir de reparo a ele respondente no querer o dito capito entrar no projeto do estabelecimento da nova Repblica; por estar feito Gro-Turco da Serra, pelo motivo de ter dado antecedente o seu consentimento; pois se isso no fora, no podia servir de reparo a ele respondente, que o dito capito no quisesse entrar no mesmo, nem tinha lugar o dar-lhe ele respondente aquela resposta.

Respondeu que nem antes nem depois falou mais ao dito capito no estabelecimento da nova Repblica; que deu ao dito capito a resposta, de que no queria entrar no estabelecimento da nova Repblica por estar feito Gro-Turco da Serra, porque no principio, em que lhe falou naquela matria, o viu pensativo, e duvidoso, e ao depois o repreendeu a ele respondente; que verdade que a resposta que deu de estar o dito capito Felipe Gro-Turco, por isso no queria, parece significar que se o dito capito no estivesse nomeado para o destacamento, que no havia de ter dvida, e que ele respondente tinha disso alguma certeza, mas sem embargo, de que assim parea, e que ele respondente reconhea a fora da instncia, contudo verdade que no tinha falado em outra ocasio ao dito capito, nem quando deu aquela resposta, foi por fazer semelhante reflexo, mais s sim pelo motivo, que tem dito, de o ver no princpio pensativo, e depois resoluto na repugnncia.

E por esta forma houve o dito Ministro Conselheiro estas perguntas por ora por acabadas, as quais sendo lidas ao respondente as achou conformes com o que respondido tinha, e debaixo do juramento, que recebido tinha, declarou ter dito a verdade pelo que respeita a terceiro; e declaro que sempre esteve livre de ferros; e de tudo mandou o sobredito Ministro Conselheiro fazer este auto, em que assinou com o respondente, e Escrivo assistente, e eu, o Desembargador Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.

Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier
Auto de continuao de perguntas ao dito Alferes.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e noventa e um, aos quatro dias do ms de julho, nesta cidade do Rio de Janeiro e cadeias da relao dela; aonde foi vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier de Vasconcellos Coutinho, do Conselho de Sua Majestade e do da sua Real Fazenda, Chanceler da mesma Relao, e Juiz da Comisso expedida contra os rus da Conjurao formada em Minas Gerais, junto comigo, o Desembargador Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da dita Comisso, e o Intendente nomeado da Comarca de Vila Rica, Jos Caetano Cesar Manitti, tambm Escrivo nomeado; para efeito de se continuarem perguntas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, e ser acareado com o Tenente-Coronel Domingos de Abreu, ambos presos incomunicveis nos segredos das mesmas cadeias; e sendo a mandou vir sua presena os ditos Domingos de Abreu Vieira e Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, e lhe fez as perguntas, e acareaes pela maneira seguinte.

E sendo-lhe lido ao dito Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier e Domingos de Abreu Vieira, ambos presentes, e que mutuamente se reconheceram, do que dou f com o Ministro Escrivo assistente, o juramento do dito Domingos de Abreu, prestado na devassa, tirada pelo Desembargador Jos Pedro a folhas cento e duas verso, na parte em que declara - que o Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim e Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier disseram perante ele que tinham falado para entrar na Sedio, e motim aos Capites da Tropa paga da Capitania de Minas Maximiliano e Manoel da Silva Brando; e o dito Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier dissera que ele da sua parte tinha falado para entrarem na Conjurao, e motim aos oficiais da tropa paga seguintes: o Capito Antnio Jos de Arajo, o Tenente Antnio Agostinho Lobo Pereira, o qual ficara de falar a seu sobrinho ou parente Jos de Vasconcellos Parada e Souza, ao Alferes Mathias Sanches Brando, ao Tenente Jos Antnio de Mello e ao Alferes Antnio Gomes Meirelles - e tendo ambos ouvido e entendido o dito depoimento na parte que fica escrita, disse o acareante Domingos de Abreu com toda a segurana e certeza que em verdade tudo quanto havia deposto; e a acareado Joaquim Jos da Silva Xavier s conveio em que tinha falado ao Capito Maximiliano, e que aos mais oficiais nomeados poderia ter falado, dizendo-lhe sucintamente que estava para se lanar a derrama, e que tanto haviam de apertar com o povo que havia de haver algum levante; porm, que no tem certeza, dos oficiais, a quem por este modo falou; e disputando o acareante e acareado entre si, persistiu firme sem hesitao o acareante Domingos de Abreu ter dito verdade, e que o acareado lhe dissera, sem dvida alguma, o que declarou naquela parte em seu juramento; e este ainda que persistiu, em que no tinha dito ao acareante o que ele deps, contudo no mostrou igual firmeza nas instncias e argumentos, que lhe fez o sobredito Ministro Conselheiro; e no podendo concordar-se o acareante e acareado, ficando cada um no que fica referido; houve o dito Conselheiro esta acareao por feita; e sendo-lhes lida e suas respostas, as acharam conformes com o que respondido tinham; e tendo-lhe o dito Conselheiro deferido juramento dos Santos Evangelhos, pelo que respeitava a terceiro, debaixo dele declararam ter dito a verdade; estando ambos neste ato livres de ferros, do que dou f com o Escrivo assistente; e de tudo mandou fazer este auto, em que assinou com o acareante e acareado, e Ministro Escrivo assistente; e eu, Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.

Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Domingos de Abreu Vieira
Joaquim Jos da Silva Xavier

E tendo mandado o dito Conselheiro recolher sua priso ao Tenente-Coronel Domingos de Abreu Vieira, logo no mesmo dia, ms e ano continuou as perguntas com o Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier pela forma seguinte.

E sendo-lhe lidas as perguntas antecedentes, e suas respostas; e perguntado se estavam conformes, e se as ratificava.

Respondeu que estavam conformes, e que as ratificava.

Foi mais perguntado, quem era o doutor pequenino das partes do Sabar; e o doutor de Minas Novas, que se acharam presentes na prtica, que em certa ocasio houve sobre o levante em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade; o que devia de declarar com toda a verdade, por constar que ele respondente estivera presente, e juntamente nessa ocasio?

Respondeu que falso que estivesse presente em alguma ocasio em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula, nem doutor algum pequenino do Sabar, nem doutor de Minas Novas em ocasio que ele respondente ai se achasse; porque nunca nas ditas conversaes estiveram mais que as pessoas que tem declarado; nem ele respondente conhece nenhum doutor pequenino das partes do Sabar, nem, doutor de Minas Novas.

Foi mais perguntado, quem era a pessoa pela qual mandou convidar para a sedio a Francisco Antnio de Oliveira Lopes?

Respondeu que nunca mandou convidar para entrar na sedio a Francisco Antnio de Oliveira Lopes; nem ele respondente sabia que o dito Francisco Antonio fosse convidado, ou tivesse prestado o seu consentimento para a sedio.

E sendo instado, que dissesse a verdade; porquanto constava, por haver quem dissesse, que ele respondente tinha mandado convidar por certa pessoa a Francisco Antnio de Oliveira Lopes para entrar na sedio?

Respondeu, insistindo no mesmo que tem declarado; e que no pode haver pessoa que com verdade diga que ele respondente convidou para o levante ao dito Francisco Antnio de Oliveira; porque est certo de que nunca tal fez.

E por agora houve o dito Ministro Conselheiro estas perguntas por findas, as quais sendo lidas ao respondente achou conformes com as suas respostas; e deferindo-lhe juramento, pelo que respeitava a terceiro, do que dou f, debaixo dele declarou ter dito a verdade; e declaro com o Escrivo assistente que neste ato esteve o ru livre de ferros; e de tudo mandou o dito Conselheiro fazer este auto, em que assinou com o mesmo respondente, e Ministro Escrivo assistente; e eu, Francisco lvares da Rocha, Escrivo da Comisso que o escrevi e assinei.

Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier

Auto de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e noventa e um, aos sete dias do ms de julho, nesta cidade do Rio de Janeiro e cadeias da relao da mesma cidade; aonde foi vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier de Vasconcellos Coutinho, do Conselho de Sua Majestade e do da sua Real Fazenda, Chanceler da relao da dita cidade e Juiz da Comisso expedida contra os rus da Conjurao formada em Minas Gerais, junto comigo, o Desembargador Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da mesma Comisso, e o Intendente nomeado da Comarca de Vila Rica, Jos Caetano Cesar Manitti, tambm Escrivo da mesma diligncia, para efeito de se continuarem perguntas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier preso em segredo nas mesmas cadeias; e sendo a mandou vir o dito ru sua presena, e lhe continuou as perguntas pela maneira seguinte.

E sendo-lhe lidas as perguntas antecedentes, e perguntado se estavaza conformes, e se as ratificava?

Respondeu que eram as mesmas respostas que tinha dado, que estavam conformes e que as ratificava.

Foi perguntado se sabe quem falou, e induziu Domingos de Abreu Vieira para entrar na sedio e motim?

Respondeu que no sabe com certeza quem falou, e resolveu a Domingos de Abreu Vieira para dar o seu consentimento para entrar na sublevao; que verdade que ele respondente falou ao dito Domingos de Abreu para que quisesse entrar no levante; porm, nessa ocasio, o dito Domingos de Abreu virou as costas, benzendo-se da proposio dele respondente: e que a primeira pessoa, a quem ouviu dizer que o dito Domingos de Abreu entrava no levante, foi ao Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim; porque estando ele respondente em uma ocasio com o Padre Jos da Silva conversando no levante em casa do dito Domingos de Abreu, de quem o dito padre era hspede, sucedeu entrar no quarto em que estavam conversando o dito Domingos de Abreu; e ento disse o dito Padre Jos da Silva a ele respondente, aqui est o velho que tambm est capacitado para entrar na sedio.

Foi mais perguntado, s vezes, que em casa de Domingos de Abreu falou com este, e com o Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim; e as prticas que nessas ocasies houve?

Respondeu que algumas vezes falou no levante em casa de Domingos de Abreu Vieira, conversando com ele e com o Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim sobre a matria; o que seria at duas vezes, segundo sua lembrana; porm, que, como tem ado tanto tempo, desde ento at agora, a ele respondente no lembra as palavras que cada um disse; mas que naturalmente falando-se no levante, cada um diria o que sabia: e que sem estar presente o dito Domingos de Abreu, algumas vezes mais foi ele respondente visitar o Padre Jos da Silva de oliveira Rolim, e falaram na sublevao; mas que a ele respondente no lembra com certeza quantas vezes foi visitar o dito padre casa de Domingos de Abreu, que poderia ser at quatro vezes, e que tambm lhe no lembra com formalidade as prticas, que ento tiveram, respectivas ao levante.

Foi mais perguntado, se com efeito o Capito Maximiliano e mais alguns oficiais da tropa entravam no levante; o que agora devia confessar no persistindo na negativa, em que convencido pelos scios, a quem ele mesmo respondente confessou que o dito Capito Maximiliano e os mais oficiais, que j lhe foram nomeados, estavam firmes para entrar na sublevao?

Respondeu que nesta matria no tinha mais que dizer do que aquilo mesmo, que j tem declarado nas respostas s perguntas que sobre esta matria lhe foram feitas.

Foi instado que dissesse a verdade, que tinha desfigurado em parte, e em outra parte negado; porquanto tendo confessado haver falado para entrar no levante ao Capito Maximiliano, acrescentou que ele, depois de ficar pensativo, lhe respondeu que se soubera que ele respondente falava de verdade, e seriamente, iria denunci-lo; quando, pelo contrrio, consta que o dito Capito Maximiliano prestara o seu consentimento para entrar na sublevao, e motim; tanto assim, que estando ele respondente com os mais scios conversando no levante em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula, e entrando o dito Capito Maximiliano, pararam os scios com a conversao em que estavam, e ento dissera ele respondente que podiam continuar; porque o dito capito era dos nossos; cuja expresso s podia ter lugar por estar ele respondente certo de que o dito capito tinha prestado o seu consentimento para o levante; pois se ele lhe tivesse dito que havia de denunciar a ele respondente, no devia querer que os scios falassem naquela matria na presena do dito capito; nem havia de afirmar que ele era do seu partido.

Respondeu que tudo o que consta da instncia falso; porquanto, nem o Capito Maximiano, ou Maximiliano, entrou nunca em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula em ocasio que ele respondente estivesse com os mais scios, falando no levante, nem era possvel que ele respondente ou outra alguma pessoa dissesse que podia continuar a conversao, por ser o dito capito dos nossos; porque no tendo ele l ido nessa ocasio, no cabia, nem tinha lugar semelhante expresso.

E logo no mesmo ato mandou o dito Conselheiro vir sua presena Francisco de Paula Freire de Andrade e o Vigrio da Vila de So Jos, Carlos Corra, tambm presos nos segredos das mesmas cadeias; os quais ambos, sendo presentes com o acareado dito alferes, se reconheceram mutuamente, do que dou f; e pelo dito Conselheiro lhes foi deferido juramento a uns, e outros, pelo que respeita a terceiro debaixo do qual prometeram dizer a verdade, do que tambm dou f; e lhes fez acareao pela maneira seguinte.

E sendo-lhes lida a acareao feita entre o Vigrio Carlos Corra e o Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire sobre entrar o Capito maximiliano, ou Maximiano, em casa do acareante Francisco de Paula Freire de Andrade na ocasio em que se falava no levante, e que, parando a conversao pela chegada do dito capito, dissera ento o acareado Joaquim Jos da, Silva Xavier que podiam continuar, porque o dito capito era dos nossos; persistiram firmes os acareantes Francisco de Paula Freire e Carlos Corra de Toledo no que cada um disse na dita acareao; e o acareado Alferes Joaquim Jos da Silva, depois de repetir o mesmo que tinha dito na sua resposta, querendo recorrer ao subterfgio, de que havia equivocao nos acareantes; porquanto, quem entrara em certa ocasio em casa do acareante Francisco de Paula, estando se falando nas preciosidades da Amrica, fora ele respondente; e que ento parara a conversao, fazendo o acareante Francisco de Paula sinal para isso a seu cunhado Jos Alvares Maciel; de cujo subterfgio sendo convencido, por ser impossvel que o Comandante da Tropa, dito tenente-coronel acareante se equivocasse, falando em sua casa com o Capito Maximiliano digo por ser impossvel que, entrando em sua casa, o acareado se equivocasse, julgando que era o Capito Maximiliano, aos quais devia conhecer muito bem, e da mesma forma o acareante Carlos Corra; - nem o sinal que o acareado diz que o acareante Francisco de Paula Freire fizera a seu cunhado, para que parasse a conversao pela chegada dele acareado, podia equivocar-se com a voz - de poder continuar a conversao por ser o dito capito dos nossos - vista do que o acareado Joaquim Jos da Silva, ouvindo a firmeza com que os acareantes persistiam no que tinham dito, principiou a vacilar, e por fim ficou em que podia ser verdade tudo quanto os acareantes diziam nesta matria; mas que a ele acareado lhe no lembra de modo algum nada do que os acareantes diziam nesta acareo.

E por esta forma, houve o dito Ministro Conselheiro esta acareao por feita, a qual sendo por mim lida ao acareado e acareantes acharam estar conforme com o que cada um respondido tinha; e declaro que a este ato estiveram, uns e outros, livres de ferros, do que dou f com o Ministro Escrivo assistente; e de tudo mandou o mesmo Conselheiro fazer este auto, em que assinou com os acareantes e acareados e o Escrivo assistente; e eu, Francisco Lus Alvares da Rocha, Escrivo da Comisso, o escrevi e assinei.

Vasconcellos
Francisco Lus Alvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Francisco de Paula Freire de Andrade
Carlos Corra de Toledo
Joaquim Jos da Silva Xavier

Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e noventa e um, aos quinze dias do ms de julho, nesta cidade do Rio de Janeiro e cadeias da relao dela, aonde foi vindo o Desembargador Conselheiro Juiz da Comisso expedida contra os rus da Conjurao formada em Minas Gerais, Sebastio Xavier de Vasconcellos Coutinho, comigo Escrivo da mesma Comisso ao diante nomeado, e o Doutor Jos Caetano Cesar Manitti, Escrivo assistente, para o efeito de se continuarem perguntas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, preso incomunicvel nas mesmas cadeias; e sendo a mandou vir sua presena o dito ru, e lhe continuou as perguntas pelo modo seguinte.

E sendo-lhe lidas as perguntas antecedentes, e perguntado se estavam conformes, e ratificava as suas respostas, com as declaraes que constam da acareao?

Respondeu que estavam conformes, e que as ratificava como tinha respondido com a declarao feita por ele na acareao.

Declara, porm, mais que, refletindo melhor, se lembrava que era verdade ter chegado naquela ocasio o Capito Maximiliano; e que o respondente dissera que podia entrar, por ser familiar da casa, e que por isso podiam continuar na conversao; mas o dizer que era dos nossos, perseverava em dizer que lhe no lembrava, na forma que declarou na acareao.

Foi novamente perguntado pelas mais pessoas, que ele respondente sabe, que entravam no levante, e a quem tinha induzido para o dto fim; porquanto consta que, alm das pessoas que tem declarado, havia outras, a quem ele respondente tinha induzido para o partido do levante; tanto nesta cidade como em Minas Gerais e em Del-Rey, o que agora deve declarar sem reserva alguma, como era obrigado.

Respondeu que nem nesta cidade nem em Minas Gerais, em So Joo Del-Rey, induziu pessoa alguma para entrar no levante, nem sabe que para isso fossem por outros convidados; nem em So Joo Del-Rey tem amizade com algum; e suposto que nesta terra conhea algumas pessoas, por conta da sua habilidade de pr e tirar dentes, com nenhuma tem amizade particular, e a nenhuma falou para o levante, alm do ajudante Joo Jos Nunes Carneiro, como j dito tem.

Foi perguntado, quem eram as pessoas de maior representao que conhecia nesta cidade?

Respondeu que eram Possidnio Carneiro e Antnio Ribeiro de Avellar, por ter ido casa dos mesmos por conta da dita habilidade de pr e tirar dentes.

Foi mais perguntado, se algum deles falou em alguma ocasio sobre a riqueza e preciosidade do Pais de Minas-, que era a forma com que ele respondente principiava a sondar os nimos para falar depois no levante?

Respondeu que nunca falou aos ditos em nada disso.

Foi instado que dssesse a verdade, porquanto constava que ele respondente tinha em Minas Gerais, em So Joo Del-Rey, sessenta pessoas prontas para auxiliarem o levante; e que assim o dissera ele respondente a alguns dos seus scios?

Respondeu que no os tinha, nem disse tal a pessoa alguma.

E logo no mesmo ato mandou o dito Conselheiro vir sua presena o Vigrio Carlos Corra de Toledo para fazer acareao ao respondente, e sendo a se reconheceram mutuamente um e outro, e ambos sendo-lhes deferido o juramento pelo que respeita a terceiro, do que dou f, debaixo dele prometeram dizer a verdade; e lhes fez a acareao pelo modo seguinte.

E sendo-lhes lida a acareao feita com o acareante Carlos Corra de Toledo e Joaquim Silvrio dos Reis, que se acha no apenso das perguntas feitas ao acareante Carlos Corra de Toledo, na qual disse o mesmo acareante que tinha ouvido em casa de Francisco de Paula Freire de Andrade ao acareado Joaquim Jos da Silva Xavier, que na Comarca de So Joo Del-Rey havia mais de sessenta homens que seguiam o partido do levante, aos quais tinha reduzido ele acareado; e que entre eles havia muitos de grandes possibilidades, e que estavam prontos a concorrer para este negcio, e gastarem at o ltimo real; e sendo ouvido por ambos, acareante o acareado. Disse o acareante que lhe parecia ter ouvido dizer ao acareado em casa de Francisco de Paula Freire de Andrade, que tinha na Comarca de So Joo Del-Rey homens, digo Del-Rey mais de sessenta homens, os quais estavam prontos para o levante, e que isto , o de que tem a lembrana que podia ter ouvido ao acareado; e o mais que disse na acareao feita com Joaquim Silvrio dos Reis no sustenta agora; pois que poderia dizer ento o que no tinha dito, pela grande perturbao em que ficou

com o dito Joaquim Silvrio naquele ato, por acrescentar contra ele acareante na sua denncia, o que ele acareante lhe no tinha dito; e que pelo contrrio lhe no sucedera aquela perturbao com Igncio Corra Pamplona, e que se continuasse a viver ficaria sempre seja amigo, porque dito Pamplona no denunciou seno o que ele vigrio acareante com ele tinha ado; e o acareado Joaquim Jos da Silva Xavier negou que se tal pudesse ter dito na presena do dito acareante; e deu em razo, que se tal dissesse na presena do acareante no deixaria tambm de os declarar pelos seus nomes ao acareante, o qual por ser vigrio naquela comarca certamente os havia de conhecer; e no que o acareante e acareado disseram neste ato persistiram firmes. E por esta forma houve o dito Conselheiro esta acareao por feita, a qual sendo-lhe por mim lida acharam estar conforme com o que respondido tinham; e declaro com o Ministro Escrivo assistente que o acarcante e acareado estiveram no mesmo ato livres de ferros, do que damos f; e de tudo mandou o dito Conselheiro fazer este ato, digo este auto, em que assinou com o acareante e acareado e Ministro Escrivo assistente; e eu, o Desembargador Francisco Luis Alvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.

Vasconcelos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Carlos Corra de Toledo
Joaquim Jos da Silva Xavier

E logo no mesmo ato sendo lidas as perguntas ao respondente dito Joaquim Jos da Silva Xavier, as achou estarem conformes com o que respondido tinha; e declaro com o Escrivo assistente, que no mesmo ato esteve tambm o respondente livre de ferros; e mais declaro, que nas ditas perguntas vo cinco ressalvas, trs com emendas e quatro (sic) com entrelinhas; o que a na verdade, e de tudo mandou o dito Conselheiro fazer este auto e declaraes, e assinou o mesmo auto com o respondente, e Ministro Escrivo assistente; e eu, Francisco Lus Alvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei. Vasconcellos
Francisco Lus Alvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier

Inquirio da testemunha, que abaixo se contm

Aos trinta dias do ms de julho de mil setecentos e noventa e um, nesta cidade do Rio de Janeiro e casas da residncia do Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier de Vasconcellos Coutinho, do Conselho de Sua Majestade e do da sua Real Fazenda, Chanceler da Relao desta cidade e Juiz da Comisso expedida contra os rus da Conjurao formada em Minas Gerais, aonde eu, o Desembargador Francisco Lus Alvares da Rocha, Escrivo da mesma Comisso, vim para efeito de ser inquirido Antnio Ribeiro de Avellar, natural e morador, como abaixo se dir sobre o referimento, que nele fez Joaquim Jos da Silva Xavier, de o conhecer e ter ido sua casa; de que para constar fiz este termo; e eu, Francisco Luis Alvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi.

Antnio Ribeiro de Avellar, professor na Ordem de Cristo, de idade de cinqenta e dois anos, casado, natural de Santa Ana da Canota, termo de Alenquer, morador nesta cidade e negociante desta praa, testemunha jurada aos Santos Evangelhos, de que dou f, debaixo do qual juramento prometeu dizer a verdade do que lhe fosse perguntado. E sendo perguntado pelo dito referimento, disse que tinha conhecimento com o Alferes Joaquim Jos da Silva desde o tempo da Guerra do Sul, em que veio a esta cidade a tropa da Capitania de Minas, na qual j o dito Joaquim Jos era Alferes; e desde ento, sempre quando vinha a esta cidade, ia casa dele testemunha com freqncia, exceto esta ltima vez, em que foi preso, que poucas vezes foi sua casa; e nunca ele testemunha lhe ouviu palavra alguma, pela qual mostrasse ter o menor intento, nem lembrana de tratar de sublevar as Minas; nem lhe consta que nesta cidade, ia casa dele testemunha com freqncia, exceto esta ltima vez, gncia de semelhante intento. E mais no disse, nem dos costumes, o assinou com o dito Conselheiro; e eu, Francisco Luis Alvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi.

Vasconcelos
Antnio Ribeiro de Avellar

No mesmo dia, ms e ano, atrs declarado por f do Meirinho da Relao Domingos Rodrigues me constou que Possidnio Carneiro se achava com molstia de So Lzaro, to adiantada que estava intratvel e incapaz de se falar com ele; de que para constar fao este termo; e eu, Francisco Lus Alvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.

Francisco Luis Alvares da Rocha


(Extrado de "Autos de Devassa da Inconfidncia Mineira" - publicao autorizada pelo Doc. n 756-A, de 21 de abril de 1936 - Vol. IV, Rio de Janeiro, 1936, Ministrio da Educao, Biblioteca Nacional, pp. 29 a 101).
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