Autos do depoimento de
Tiradentes (1789 a1791)
Autos de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.
1b4x23
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil setecentos, e oitenta e nove, aos vinte e dois dias do ms
de maio, nesta Fortaleza da Ilha das Cobras, cidade do Rio de Janeiro,
aonde foi vindo o Desembargador Jos Pedro Machado Coelho Torres comido
Mar celino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Coamarca, e Escrivo
nomeado para esta devassa, e o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues de
Arajo para efeito de assistir a estas perguntas, e sendo a se
procedeu a elas na forma seguinte, de que tudo para constar fiz auto: E
eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e
Escrivo nomeado o escrevi.
E sendo perguntado como se chamava, de
quem era filho, donde era natural, se tinha algumas ordens, se era
casado ou solteiro, e que ocupao tinha.
Respondeu que se chamava Joaquim Jos da
Silva Xavier, filho de Domingos da Silva dos Santos,
e de sua mulher Antonia da Encarnao Xavier,
natural do Pombal, termo da vila de S. Joo Del-Rei,
Capitania de Minas Gerais, que tinha quarenta
e um anos de idade, que era solteiro, que no
tinha ordens algumas, e com efeito, vendo-lhe
eu o alto da cabea, vi que no tinha tonsura
alguma, e que era Alferes do Regimento de Cavalaria
paga de Minas Gerais.
E sendo-lhe perguntado se sabia a causa
da sua priso, ou a suspeitava.
Respondeu que no.
E sendo instado, que dissesse a verdade,
porquanto se ele respondente se tinha refugiado, e posto em circunstncias
de fugir, era sinal evidente, de que tinha crime, pelo qual receava ser
preso, e chegando a s-lo, devia desconfiar, que era por esse crime.
Respondeu, que no tinha crime algum, de
que se receasse, nem pelo qual fugisse, como com efeito no fugiu, e s
o que fez foi esconder-se em casa de Domingos Fernandes Torneiro
assistente na rua dos Latoeiros, o que fez no dia seis de maio do
presente ano, e a razo que para isso teve foi por lhe fazerem
repetidos avisos, de que o Ilustrssimo e Excelentssimo Vice-Rei
o mandava prender, e ter visto, que atrs dele andavam continuadamente
dois inferiores, observando-lhe os os.
E sendo instado, que dissesse a verdade:
porque no era razo bastante o andarem, como
ele presumiu, espias atrs de si, nem os avisos,
que diz se lhe fizeram, de que Sua Excelncia
o queria prender, ao mesmo tempo que no declara
as pessoas que lhos fizeram; pois se ele no tivesse
culpa, nem devia esperar priso, nem devia
tem-la, de sorte que se preparou com um bacamarte
carregado, que lhe foi achado no ato da priso,
estando carregado, e demais com cartas que lhe
foram achadas de favor paraser auxiliado na sua
pretendida fugida; com cujos fatos vinha a fazer-se
criminoso o que no era natural, seno para se
livrar de algum procedimento, que merecesse por
outro crime maior.
Respondeu, que como
tem dito, no tinha crime algum, e que dera para
ver, o que se ava, em razo das antecedncias;
e que era verdade, que fora achado com o bacamarte,
e tambm que tinha as cartas de favor para ser
auxiliado na sua fugida, as quais lhe deram uma
o Capito Manoel Joaquim Fortes, que do Regimento
de Voluntrios de So paulo, e se achava nesta
cidade para embarcar para a Corte, e assistia
nesta cidade nas casas do Mestre de Campo Igncio
de Andrade, e outra de Manoel Jos, que tambm
assistia nas mesmas casas, e a quem o dito Capito
Fortes pediu escrevesse ao Mestre de Campo Igncio
de Andrade, recomendado desse agem a ele respondente,
porque se via aqui perseguido por dizer as verdades,
e com efeito ele respondente recebeu as ditas
duas cartas, que sendo-lhe mostradas neste ato
reconheceu serem as prprias, que se acham as
folhas trinta e sete, e folha trinta e nove da
devassa, uma de Manoel Jos que est assinada
por ele, e outra do Capito Manoel Joaquim, que
est por , do que dou f; porm que tanto
o bacamarte, como as cartas foram diligenciadas
por ele respondente, depois que viu, que tendo-se
ele ocultado, se tinha ido a sua casa, e se tinha
prendido um mulato, que nela deixou, ainda que
j estava vendido ao Sargento-Mor Manoel Caetano,
mas sempre o conservava em casa; porque tinha
justo no o entregar seno quatro dias depois
da venda, e que s depois que viu o procedimento
da priso do mulato que se resolveu fugida
para a sua Praa, e para isso se preparou com
o bacamarte, para no ir pelos matos sem arma.
E sendo instado, que por isso mesmo, que
ele respondente diz, que ver, dera o mulato no dia, que se refugiara,
com a condio de o conservar por quatro dias, bem manifestava, a teno
que ele tinha de fugir nesse, tempo; porque de outra forma, ou o no
venderia, ou a t-lo vendido o entregaria logo, ou alis pondo-lhe a
clusula de o entregar da a tantos dias aumentaria mais tempo para se
utilizar do seu servio no tempo, que pretendia estar nesta cidade.
Respondeu, que a razo por que pedira os
quatro dias para conservar o mulato em sua casa fora para observar, se
havia algum procedimento no tempo, que ele estava escondido; porque se
neste tempo o no houvesse, fazia ele respondente teno de tornar a
aparecer; mas como com efeito o houve, o que ele respondente soube por
via do dono da casa onde ele estava escondido, ao qual mandou averiguar,
o que se ava.
E sendo mais instado, que tanto fazia
conta de fugir, que logo que saiu de casa tirou dela em uma mala os
trastes do seu uso, como ele respondente no negaria.
Respondeu, que era verdade ter tirado a
mala com os trastes do seu uso na mesma noite em que se tinha retirado
de casa, que foi a seis, do presente ms, e que a dita mala a pa na
casa do Mestre de Campo Igncio de Andrade, entregue ao Capito Manoel
Joaquim Fortes.
E sendo mais perguntado, a que veio a esta
cidade, quais so as pessoas mais da sua amizade
nela.
Respondeu que viera a esta cidade para a
informao de trs requerimentos, um a respeito de umas guas, outro
de um Trapiche, e outro sobre o embarque, e desembarque de gados, e que
no tinha nesta cidade pessoas de particular amizade, porque se as
tivesse no estaria em casas alugadas; porm, que
conhecia muita gente em razo da prenda de pr e tirar dentes.
E sendo perguntado se conhecia o Ajudante
do Regimento da Artilharia Joo Jos e o Alferes do Regimento de
Cavalaria Auxiliar Jeronymo de Castro e Souza; se os tinha procurado nas
suas casas, quantas vezes, e se tinha tido com eles conversaes sobre
matrias de ponderao; e quais.
Respondeu, que conhecia tanto a um, como
a outro, e que ao Ajudante Joo Jos o visitara uma nica vez por
ocasio de estar molestado, e que nutra vez o procurara, mas ento lhe
no falou, e que dessa vez, que esteve com ele conversaram a respeito
de Minas, porm que no lhe lembrava o que; E a respeito do Alferes
Jeronymo de Castro e Souza ia vrias vezes a sua casa, para que ele lhe
cobrasse do Sargento-mor Jos Corra o dinheiro de uma madeira, que
lhe tinha vendido; e quanto a conversaes com ele s lhe
lembra ter falado a respeito do pouco, que os povos de Minas estavam
satisfeitos com a derrama, que se dizia, se lanava, e que era impossvel
eles pag-la, de sorte que ou haviam de fugir, ou ficarem sem nada,
entregando tudo o que tivessem.
E sendo instado, que dissesse a verdade,
porquanto era afetao o dizer, que se no lembrava
da conversao que tinha tido com o Ajudante Joo
Jos ao mesmo tempo, que ela foi de tal qualidade,
que por si se fazia muito recomendvel memria,
assim como igualmente a que tivera na presena
do Alferes Jeronymo de Castro e Souza em casa
de Valentim Lopes da Cunha, e sua irm Mnica
Antnia.
Respondeu com o mesmo, que j tinha dito
a este respeito, que se no lembrava de nada a respeito da conversao
com o Ajudante Joo Jos, nem a respeito das mais, e nisto insistiu.
E sendo-lhe instado, que no faltasse
verdade; porque se sabia muito que ele respondente tinha dito, que os
cariocas eram uns patifes, vis, que era bem feito, que levassem com um
bacalhau, visto que queriam ar o jugo, que tinham do governo da
Europa, do qual se podiam bem livrar, como fizeram os americanos
ingleses, e que se todos tivessem o seu nimo j estaria isso
executado, pois ele se achava com valor de ir atacar o prprio Vice-Rei
no seu palcio, e que nas Minas certamente se levantavam com o governo,
e que seria bom, que o Rio de Janeiro e S. Paulo dessem as mos para a
mesma empresa.
Respondeu, que era inteiramente faltar
verdade, o dizerem, que ele respondente tinha dito semelhantes proposies;
pois s se ele estivesse bbado, ou doido poderia tal proferir, e que
demais as pessoas indicadas no eram capazes para se lhe comunicarem
tais intentos, quando os houvesse, quais no houve.
E sendo-lhe instado, que no faltasse
verdade; porque se sabia muito bem, que ele tinha
trabalhado sobre este ponto, de forma que em Minas
j era sabido pela maior parte das gentes, ainda
mesmo sem serem pessoas da escolha, por ter grassado
o projeto em razo das persuases, e falatrios
dele respondente, e por isso indubitavelmente
certo, que ele respondente sabe perfeitamente
deste caso, e das pessoas, que nele fazem a principal
figura, pelas quais perguntado neste auto para
que haja de as nomear, e descobrir.
Respondeu, que tal no h, que tudo
uma quimera, que ele no pessoa, que tenha figura, nem vlimento,
nem riqueza, para poder persuadir um povo to grande a semelhante
asneira. E sendo instado, que dissesse a verdade, porque sem que ele
tivesse as qualidades, que julga necessrias para este intento podia
entrar nele seguindo o partido de alguns cabeas, que o tivessem
intentado.
Respondeu, que nem tinha entrado, em
semelhante projeto, nem dele tinha notcia alguma.
E Insistindo nisto, por mais intncias,
que se lhe fizeram mandou ele desembargador vir
a testemunhado nmero 2. o Ajudante Joo Jos
Nunes Carneiro, e lendo ao respondente o depoimento
desta testemunha, no tive que lhe responder,
mais que uma simples, e fria negao, e s confessou,
que lhe tinha dito, que se se lanasse a derrama,
os povos no quereriam pagar; porm reconhecidamente
se v a falta de verdade, com que ele respondente
nega os fatos, que tanto a dita testemunha o Ajudante
Joo Jos Nunes Carneiro, como o Coronel Joaquim
Silvrio dos Reis, os quais animosamente na sua
presena asseveraram, o que tinham dito em seus
depoimentos, ao que ele respondente s respondeu,
que eram coisas que lhe andavam armando; e quanto
ao o de ter dito ao coronel Joaquim Silvrio
dos Reis, quando se encontrou com ele no caminho
de Minas que fosse, que ele vinha trabalhar para
ele, respondeu, que se no lembrava desse dito,
e que se o disse foi sem conseqncia, nem fim
algum o que mais convence a sua falta de verdade;
porque as coisas, se as coisas se no dizem sem
conseqncia nem fim algum; e por este modo houve
o dito desembargador estas perguntas por findas,
e acabadas, dando o juramento ao respondente de
haver falado a verdade nelas pelo que respeitava
a direito de terceiro, e assinou com o respondente,
e testemunhas depois de esse lhes ser lido, e
o acharem na verdade, e assinou tambm o Tabelio
Jos dos Santos Rodrigues de Arajo, que a tudo
esteve presente: e eu Marcelino Pereira Cleto,
Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e Escrivo
nomeado para esta devassa o escrevi: diz a emenda
no princpio destas perguntas, ou entrelinha,
filho de Domingos da Silva dos Santos. E eu sobredito
o escrevi e assinei.
Torres
Marcelino Pereira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Joo Jos Nunes Carneiro
Joaquim Silvrio dos Reis
Jos dos Santos Roiz.' e Ar.
Auto
de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim
Jos da Silva Xavier.
Ano
do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil
setecentos e oitenta e nove, aos vinte e sete do
ms de maio, nesta cidade do Rio de Janeiro nesta
Fortaleza da Ilha das Cobras, aonde foi vindo o
Desembargador Jos Pedro machado Coelho Torres comigo
Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta
Comarca, e Escrivo nomeado para esta devassa para
o efeito de continuar estas perguntas, e sendo a
mandou vir sua presena o Alferes Joaquim Jos
da Silva Xavier, ao qual sendo presente continuou
as perguntas na forma seguinte: E eu Marcelino Pereira
Cleto, Ouvidor, e Corregedor da Comarca, Escrivo
nomeado para esta devassa o escrevi. E, sendo-lhe
lidas as perguntas, que se lhe haviam feito, e perguntando-se-lhe
se eram s mesmas, e de novo as ratificava. Respondeu,
que eram as mesmas, e de novo as ratificava.
E sendo-lhe perguntado, se era verdade
ter tido a conversao com o ajudante Joo Jos Nunes Carneiro,
conforme ele declara no seu juramento.
Respondeu, que, fazendo reflexo sobre
a conversao, que tinha tido com ele lhe lembrava
ser verdade ter conversado com o dito ajudante
sobre as matrias, que ele diz no seu juramento;
porm que no fora com o nimo, nem com o veneno
que a dita testemunha se persuade, e se quer imputar
a ele respondente; pois o modo porque falou nisso
foi, dizendo, que o povo de Minas estava em desesperao,
por lhe quererem lanar a derrama, e que era muito
m poltica, o vexar os povos porque poderiam
fazer, como fizeram os ingleses, muito principalmente
se se chegassem a unir as Capitanias do Rio de
Janeiro, e S. Paulo, e que se houvessem pessoas
animosas poderiam at atacar o Ilustrssimo e
Excelentssimo Vice-Rei no seu palcio; mas que
nada disto ele respondente disse, convidando a
ningum para que o fizesse, nem dizendo, que o
queria fazer; mas to-somente em matria de conversao,
referindo e considerando o perigo, e as conseqncias,
que podiam seguir-se se no houvesse cuidado em
contentar o povo, e que se ele acrescentou - se
fossem animosas, como ele respondente, - foi por
encarecer o seu nimo, e por basfia, mas no
porque intentasse tal coisa.
E sendo-lhe mais perguntado, se ele sabia
quais eram as pessoas, que estavam dispostas para se levantarem no caso,
que se lanasse, a derrama, ou ao menos quais eram as principais.
Respondeu, que geralmente todas as
pessoas da maior at a mais pequena diziam, que se se pudesse a
derrama, a no pagavam, e que saiam da Capitania; porm que ele
respondente no sabia, que se houvessem de levantar com violncia, nem
que tivessem cabeas, ou capatazes para isso, a quem se acostassem.
E sendo-lhe instado, que dissesse a
verdade, porquanto se sabia, que haviam cabeas no projeto do levante,
e que tanto intentavam faz-lo por fora, que destinavam tirar a cabea
ao Ilustrssimo e Excelentssimo Visconde, Governador, e Capito
General, e mais a outros, que no seguissem o partido.
Respondeu, que ele no sabia de cabeas
algumas neste partido, nem de que se intentassem
fazer os delitos das mortes que se diz, e s ouviu
dizer ao Coronel Joaquim Silvrio dos Reis, quando
aqui chegou, falando ambos a respeito de Minas,
e como estavam l os negcios a respeito da derrama,
referiu o dito coronel, que o povo estava impaciente,
e que principalmente os que deviam Fazenda Real,
e disse que os que estavam mais levantados eram
o Desembargador Thoms Antonio Gonzaga, o Coronel
Ignacio Jos de Alvarega, o vigrio de S. Jos,
o Padre Carlos, e outros mais de que se no lembra.
E sendo instado, que dissesse a verdade,
que bem mostrava faltar a ela; porque nas perguntas, que
antecedentemente se lhe tinham feito, no declarou nada disto, antes
absolutamente negou, e s disse a respeito de ter dito ao dito coronel
- que vinha trabalhar para ele -, que fora expresso, que proferira
toa.
Respondeu, que ento no dissera o que
agora diz, porque no estava lembrado, e o que agora lhe sucede de se
lembrar melhor em razo de estar examinando com mais miudeza as
conversaes, que teve a este respeito.
E sendo mais perguntado, que visto ele
ter examinado melhor as conversaes, que tinha tido a respeito desta
matria, lhe havia de lembrar muito bem, o que disse a respeito de um
soldado, que pretendia baixa, e se lastimava de a no ter conseguido, a
que ele respondente saiu, dizendo, que era bem feito, visto que os
cariocas eram uns vis, patifes, e fracos, que estavam sofrendo o jugo da
Europa, podendo viver dela independentes, cujo dito ouviram Valentim
Lopes da Cunha, e Jeronymo de Castro e Souza.
Respondeu que tal no dissera, e que somente
usara da expresso, de que tivesse pacincia,
porque tambm eles em Minas sofriam o mesmo.
E sendo instado, que dissesse a verdade,
e persistindo no mesmo, mandou o dito desembargador vir as testemunhas
do nmero terceiro a folhas dezessete, Jeronymo de Castro e Souza, e a
testemunha referida a folhas dezoito, Valentim Lopes da Cunha, e sendo
perguntados na presena dele respondente para que referissem as
palavras, que tinham ouvido, eles as referiram constantemente do mesmo
modo, que tinham jurado, e sendo ento perguntado ao respondente, que
dizia quilo, no se atreveu a negar, mas disse que lhe no lembrava
de tal ter dito, que eles testemunhas poderiam estar mais certos disso;
porm que ainda caso o dissesse, no era com o mau nimo que se
presume: e por este modo houve ele dito desembargador por agora estas
perguntas por findas, e acabadas, dando o juramento ao respondente de
haver falado verdade nelas pelo que respeitava a direito de terceiro, e
assinou com o respondente, e testemunhas depois deste lhe ser lido, e o
acharem na verdade, e assinou tambm o Tabelio Jos dos Santos
Rodrigues e Arajo, que a tudo esteve presente, de que dou f. E eu
Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e Escrivo
nomeado para esta devassa o escrevi, e assinei.
Torres
Marcelino Perreira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Jeronymo de Castro e Souza
Valentim Lopes da Cunha
Jos dos Santos Roiz.' e Ar.
Auto
de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim
Jos da Silva Xavier.
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil setecentos, e oitenta e nove, aos trinta dias do ms de
maio nesta cidade do Rio de Janeiro nesta Fortaleza da Ilha das Cobras,
aonde foi vindo o Desembargador Jos Pedro Machado Coelho Torres,
comigo Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e
Escrivo nomeado para esta devassa para efeito de continuar estas
perguntas, e juntamente o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues e Arajo,
e sendo a mandou vir sua presena o Alferes Joaquim Jos da Silva
Xavier, ao qual sendo presente continuou as perguntas na forma seguinte:
e eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor desta Comarca, e
escrivo nomeado o escrevi.
E sendo-lhe lidas as perguntas, que se
lhe haviam feito, e perguntando-se-lhe se eram as mesmas, e se de novo
as ratificava.
Respondeu, que eram as mesmas, e que de
novo as ratificava.
E sendo-lhe instado, que ele respondente
no tinha falado com sinceridade, nem nas primeiras
perguntas, nem nas segundas; porquanto nas primeiras
tinha faltado a dizer o que nas segundas declarou,
e nestas se houve ainda com diminuio, no dizendo
tudo o que sabia; pois no tem declarado os projetos
da sublevao, em que ele tinha entrado, como
ele havia declarado a algumas testemunhas, nem
igualmente disse aos scios deste projeto, sem
os quais ele se no podia fazer, nem do mesmo
modo manifestou, que Menoel Joaquim Fortes, e
Manoel Jos, e Domingos Fernandes, em casa de
quem ele respondente se ocultou, sabiam dos seus
projetos; pois que um lhe ocultou a mala, outro
lhe chamava patrcio, e lhe deu a carta de favor,
e outro lhe consentiu, que se ocultasse em sua
casa, cousas estas que bem mostram ser verossmil,
que ele respondente lhes tivesse comunicado os
seus projetos, e que neles tivessem parte.
Respondeu, que nas segundas perguntas
tinha dito tudo quanto era verdade, e que a elas se reportava; pois nem
tinha entrado em projetos de sublevao, e as suas falas a este
respeito eram sem malcia, nem sabia de scios, que para ela houvesse,
nem tampouco aos sobreditos disse cousa alguma, porque no sabia, que a
este respeito a houvesse; porque a mala foi ter a casa do Capito
Manoel Joaquim por engano; pois que ele respondente a mandava para casa
de Domingos Fernandes; e que a Manoel Jos nunca o tinha visto, seno
na noite em que lhe deu a carta, e que o tratava de patrcio, porque
ele lhe dissera ser tambm filho de Minas, e que enquanto a Domingos
Fernandes a este s pediu, que o deixasse ocultar em sua casa, pelo
receio, em que ele respondente estava, de que o prendessem.
E sendo-lhe instado, que dissesse a verdade,
do que soubesse a respeito da sublevao de Minas,
que nesta cidade falou nela a certa pessoa, declarando-lhe,
quem eram os cabeas dela.
Respondeu, insistindo
que no sabia nada; pelo que mandou ele desembargador
vir o Coronel Joaquim Silvrio dos Reis, o qual
com efeito vindo, lhe mandou, que repetisse o
que tinha ado com o respondente na escada
de Antonio de Oliveira Pinto, e com efeito repetiu,
dizendo que o respondente lhe perguntara logo
que ele dito coronel chegara de Minas, como estavam
as coisas, em que lhe falara o Sargento-Mor Luis
Vs de Toledo, irmo do vigrio de S. Jos,
que vinha a ser a sublevao, que se intentava
em Minas, o modo de se fazer, as pessoas que nela
entravam, entre as quais era uma ele respondente,
o qual dizia estar arrependido de c vir; porque
no achava as cousas em figura; porque todos eram
uns bananas com muito medo do Ilmo. e Exmo. Vice-Rei,
e que voltava logo para Minas para ver se l se
efetuava, antes que viessem os quintos, que sempre
l serviam para muito, e que desconfiava do Ajudante
Joo Jos, de quem ele se tinha fiado, por ser
patrcio, mas que era um cachorro, que certamente
o tinha vendido, e declarado a Sua Excelncia
a prtica, que tinha havido entre eles; e suposto
o respondente s confessou, o que tinha dito o
Coronel Joaquim Silvrio dos Reis a respeito do
Ajudante Joo Jos, negando o mais claramente
se conhece a verdade do dito coronel, e a tibieza
da negativa do respondente, do que eu, e o dito
tabelio dou f: E por este modo houve o dito
desembargador estas perguntas por findas, e acabadas,
dando juramento ao respondente de haver falado
nelas a verdade pelo que respeitava a direito
de terceiro, e assinou com o respondente, e o
Tabelio Jos dos Santos Rodrigues e Arajo, e
o Coronel Joaquim Silvrio dos Reis, depois de
tudo lhes ser lido, e o acharem na verdade. E
eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor
desta Comarca, e Escrivo nomeado para esta devassa
o escrevi, e assinei.
Torres
Marcelino Pereira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Joaquim Silvrio dos Reis
Jos dos Santos Roiz.' e Ar.
Auto de continuao de perguntas
feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.
Ano
do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil
setecentos e noventa, aos dezoito do ms de janeiro
nesta Fortaleza da Ilha das Cobras cidade do Rio
de Janeiro, aonde foi vindo o desembargador Jos
Pedro Machado Coelho Torres, juiz desta devassa,
comigo Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor
da Comarca do Rio de Janeiro, e Escrivo nomeado
para esta devassa, e o Tabelio Jos dos Santos
Rodrigues e Arajo para efeito de continuar estas
perguntas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier,
que se acha preso em custdia na dita fortaleza,
e sendo ai mandou vir sua presena ao dito Alferes
Joaquim Jos da Silva Xavier, ao qual sendo presente
continuou as perguntas na forma seguinte: e eu Marcelino
Pereira Cleto, Ouvidor, e Corregedor da Comarca
do Rio de Janeiro, Escrivo nomeado para esta devassa
o escrevi.
E sendo-lhe lidas as perguntas, que se
lhe haviam feito, e perguntando-se-lhe se eram as mesmas, e de novo as
ratificava.
Respondeu que eram as mesmas, e de novo
as ratificava.
E sendo-lhe instado, que dissesse a
verdade, qual tinha faltado em todo o sentido; pois negava o levante,
que se premeditava fazer na Capitania de Minas Gerais, quando ele era o
cabea do motim, que convidava a todos quantos podia to
alucinadamente, que nem escolhia pessoas nem ocasio, e por isso deve
dizer todas as pessoas que entravam no dito levante, e sedio, ou
prestavam para ela o seu consentimento, e que comunicaes havia para
as potncias estrangeiras, e por que vias, e tambm quem eram as
pessoas do Rio de Janeiro, que, favoreciam, ou premeditavam o mesmo
levante, o que tudo ele respondente asseverava s pessoas, que queria
persuadir.
Respondeu, que ele
at agora negou por querer encobrir a sua culpa,
e no querer perder ningum; porm que vista
das fortssimas instncias com que se v atacado,
e a que v no pode responder diretamente seno
faltando clara, e conhecidamente verdade, se
resolve a diz-lo, como ela : que verdade,
que se premeditava o levante, que ele respondente
confessa ter sido, quem ideou tudo, sem que nenhuma
outra pessoa o movesse, nem lhe inspirasse coisa
alguma, e que tendo projetado o dito levante,
o que fizera desesperado, por ter sido preterido
quatro vezes, parecendo a ele respondente, que
tinha sido muito exato no servio, e que achando-o
para as diligncias mais arriscadas, para as promoes,
e aumento de postos achavam a outros, que s podiam
campar por mais bonitos, ou por terem comadres,
que servissem de empenho, porque o seu furriel
est feito Tenente Valeriano Manso, que foi soldado
da companhia dele respondente perto de seis anos
est feito tenente da mesma companhia, Fernando
de Vasconcellos, que foi cadete seis anos, sendo
ele respondente j alferes, est feito Tenente,
Antonio Jos de Arajo, que era furriel, sendo
ele respendente alferes est feito capito, e
Thoms Joaquim, que foi alferes ao mesmo tempo,
que ele respondente, est feito capito da sua
mesma companhia, que a primeira pessoa a quem
falou, propondo-lhe o intento da sublevao, e
motim foi nesta cidade a Jos Alvares MacieI,
filho do Capito-Mor de Vila Rica, o qual aprovou
o projeto da premeditada sublevao, e motim,
e nesta cidade do Rio de Janeiro, aonde nesta
ocasio se encontrou com o dito Jos Alvares MacieI
no falou a pessoa alguma mais, e o modo por que
falou ao dito Jos Alvares Maciel foi; porque
tendo ele chegado de Inglaterra, e indo ele respondente
visit-lo em razo de ser cunhado do seu tenente
coronel falaram sobre os conhecimentos, que o
dito Jos Alvares Maciel tinha adquirido a respeito
de manufaturas, e mineralogia, dizendo, que os
nacionais desta Amrica no sabiam os tesouros,
que tinham e que podiam aqui ter tudo se soubessem
fabricar, ou depois o respondente a falar
dos governos, e como vexavam os povos, e que tambm
ele era um dos queixosos, ao que o dito Jos Alvares
Maciel disse, que pelas naes estrangeiras por
onde tinha andado, ouvira falar com irao
de no terem seguido o exemplo da Amrica Inglesa;
com este dito entrou o respondente a lembrar-se
da independncia, que este pas podia ter, entrou
a desej-la, e ultimamente acuidar no modo, por
que poderia isso efetuar-se, e como estava para
partir para Vila Rica, e de fato partiu; no caminho
perguntou ao Coronel Jos Ayres Gomes em casa
de quem pousou, o como se davam os povos com o
novo General o Ilustrssimo, e Excelentssimo
Visconde de Barbacena, e dizendo-lhe o dito coronel,
que muito bem, que ele era belssimo, disse o
respondente, que no principio todos eram bons,
que antes ele fosse um diabo pior, que o antecessor
o Ilustrssimo, e Excelentssimo Luis da Cunha
e Menezes; porque poderia assim suceder, que esta
terra se fizesse uma repblica, e ficasse livre
dos governos, que s vm c ensopar-se em riquezas
de trs em trs anos, e quando eles so desinteressados
sempre tm uns criados, que so uns ladres, e
que as potncias estrangeiras se iravam, de
que a Amrica Portuguesa se no subtrasse da
sujeio de Portugal, e que elas haviam de favorecer
este intento, ao que o dito coronel respondeu,
que este projeto era uma asneira, e que sempre
havia de haver um, que nos governasse, lembrando-se
do ditado, quando neste vale estou, outro melhor
me parece, e no se avanou mais a conversao
com o dito Coronel Jos Ayres Gomes, nem ele respondente
pretendia por entrada mais do que fazer lembrar
este projeto, e por isso chegando mais adiante
fazenda do Registro Velho procurou o mesmo mtodo
de conversao com o Padre Manoel Rodrigues da
Costa, o qual depois de ouvir lhe disse, que ele
respondente no sabia bem o melindre da matria,
em que falava, que se deixasse de falar nela,
que lhe podia suceder mal.
Chegando depois a
Vila Rica, ados trs meses pouco mais, ou
menos; porque ele respondente estava doente de
um p, e vendo que o Tenente-Coronel Francisco
de Paula Freire de Andrade se opunha, a que ele
respondente cobrasse os seus soldos, lhe meteu
por empenho a seu cunhado Jos Alvares Maciel,
e juntamente para que o dito Tenente-Coronel no
fosse seu inimigo, posteriormente tornando a falar
com o dito Jos Alvares Maciel tornaram a renovar
o projeto, de que a Amrica podia ser uma repblica,
e viver independente de Portugal, e assentaram
de fazer a diligncia, a ver se se conseguia,
para o que ajustaram, que o dito Jos Alvares
Maciel seu cunhado lhe falasse primeiro nesta
matria, e o dispusesse, e que depois disso ele
respondente lhe falaria, como fez propondo-lhe
este negcio em uma ocasio, que o dito Tenente-Coronel
estava doente, ao que o dito Tenente-Coronel a
principio respondeu, estranhando, e dizendo -
Vossa Merc fala-me nisso? - e procurando o respondente
persuadi-lo melhor, lhe disse, que o negcio s
dependia da sua vontade; porque no Rio de Janeiro
estavam dispostos, e s desejavam saber da determinao
dele dito Tenente-Coronel, e do partido, que ele
tomaria, sobre o que ele mascou, e disse a ele
respondente, que j outro sujeito lhe tinha falado
na mesma matria, e que no falasse em tal, e
perguntando-lhe ele respondente quem era o sujeito,
que j lhe tinha falado na mesma matria, est
em dvida se ele lhe disse, que era o Padre Carlos
Corra de Toledo, Vigrio da Vila de So Jos,
ou seu cunhado Jos Alvares Maciel.
Depois ados dias
sucedeu ar ele respondente por casa do dito
Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade,
e nela achou o seu Cunhado Jos Alvares Maciel,
e ao Vigrio da Vila de S. Jos, Carlos Corra,
como tambm o dito Jos Alvares Maciel, e aproveitando-se
da ocasio, tornaram a falar no mesmo negcio,
e a persuadir ao dito tenente-coronel, que ele
podia efetuar-se, e ultimamente todos convieram
em que se fizesse a sedio, e levante, fundamentados
na derrama, a qual causava um desgosto geral aos
povos, e os achava dispostos para entrarem na
dita sedio; em outro dia se tornaram, ele respondente,
e os sobreditos a ajuntar em casa do dito Tenente-Coronel,
assistindo mais o Padre Jos da Silva de Oliveira
Rolim, entre os quais todos se entraram a traar
e ajustar o modo por que se havia de fazer a dita
sublevao, e motim; e o Tenente-Coronel Francisco
de Paula Freire de Andrade disse, que visto ele
respondente ter assegurado, que no Rio de Janeiro
havia um grande partido, que favorecia a sublevao,
e motim, e a seguia, viesse ele respondente ao
Rio de Janeiro, e conduzisse para Minas aquelas
pessoas que o seguiam, e procurasse persuadir
a outras; porque indo esta gente para a Capitania
de Minas j como em motim, ele dito Tenente-Coronel,
como chefe da tropa, havia de vir ao caminho a
rebat-los, e opor-se-lhes, e em lugar de o fazer
se uniria dita gente, e com ela iria a Vila
Rica a dar princpio sublevao, e motim, ao
que ele respondente disse que no podia ser assim;
por quanto se ele sasse com gente do Rio de Janeiro
para favorecerem, e ajudarem o partido da sedio,
e levante, antes deste se efetuar na Capitania
de Minas, poderia vir maior partido do povo da
dita Capitania, e oporem-se gente, que ele respondente
levasse, e ficar sem efeito este socorro, com
cujo voto concordou o Coronel Igncio Jos de
Alvarenga, que suposto no estivesse desde o princpio
presente a esta conversa, contudo, foi chamado
por um escrito, que lhe escreveu o Vigrio da
Vila de S. Jos, Carlos Corra de Toledo, e vindo,
foi-lhe recontada toda a conversao, a acrescentou,
que primeiro, que tudo se devia fazer o levante
em Minas Gerais, e depois procurarem-se os socorros
do Rio de Janeiro.
Na conversao cada
um dos assistentes disse o que lhe pareceu, lembrando
o mtodo, e modo, como se deveria fazer o levante,
o que era encontrado pelos outros, conforme as
razes de dificuldade que lembravam o que ele
respondente no expe com toda a individuao;
porque no est totalmente certo dessas miudezas,
e s conservou, e conserva na memria as coisas
principais, em que se assentou, como foi, o ir
ele respondente Cachoeira prender o general,
e faz-lo conduzir com sua famlia para fora do
distrito de Minas, dizendo que se fosse embora,
e dissesse em Portugal, que j c se no carecia
de governadores; esta foi a ltima resoluo no
obstante haver quem lembrasse, que no havia levante
sem cabea fora, que segundo a lembrana dele
respondente, foi ou Jos Alvares Maciel, ou o
Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim; mas ele
respondente no assevera com toda a certeza, que
no fossem algum outro fora dos que acima disse,
e s est certo que ele respondente no conveio
na proposio, e disse que a matar-se algum fosse
o cabea de escova, denominado assim ao Ajudante-de-Ordens
Antonio Xavier de Rezende, por andar com setecentos
negcios logo que chegou. Que tirado o governo
ao general se deitaria um bando em nome da Repblica,
para que todos concordassem, e seguissem o partido
dela, isto era em lugar da fala, que se havia
de fazer ao povo; porque tendo-se falado, em que
era necessrio haver um cabea, respondeu o Coronel
Igncio Jos de Alvarenga, que se no queria naquela
ao cabea; mas sim serem todos cabeas, e um
corpo unido.
O Tenente-Coronel Francisco de Paula
Freire de Andrade disse, que falaria ao Tenente-Coronel Domingos de
Abreu Vieira para dar a plvora que pudesse; o Padre Jos da Silva
Oliveira Rolim tambm disse que mandaria vir alguma pela Bahia, e
assentou-se em que seria necessria a plvora; porque o respondente
suposto lhes facilitava o partido do Rio de Janeiro, contudo no os
enganava, nem lhes assegurava que ele estava certo; porque no sabia se
na dita cidade se quereria, ou no seguir este partido.
Assentou-se mais na dita conversao, que
Jos Alvares MacieI faria a plvora, e estabeleceria
algumas manufaturas pelo tempo adiante, que o
vigrio da Vila de S. Jos capacitaria gente para
entrar na sedio, e motim, e o mesmo havia de
fazer ele respondente por onde pudesse, que o
Coronel Igncio Jos de Alvarenga daria gente
da companhia, e o Padre Jos da Silva de Oliveira
Rolim do Serro do Frio, no que convieram os sobreditos:
e falando ele respondente, em que a nova Repblica
que se estabelecesse devia ter bandeira disse
que como Portugal tinha nas suas por armas as
cinco chagas, deviam as da nova Repblica ter
um tringulo, significando as trs pessoas da
Santssima Trindade; ao que o Coronel Igncio
Jos de Alvarenga disse que no, e que as armas
para a bandeira da nova Repblica deviam ser um
ndio desatando as correntes com uma letra latina,
da qual ele respondente se no lembra, e que tudo
ficasse sopito, e em suspenso at se lanar a
derrama, se achassem que com ela ficava o povo
disposto para seguir sedio, e motim; estando
ele respendente, e os sobreditos nesta conversao
chegou o Desembargador Thoms Antonio Gonzaga,
e com a sua vinda todos se calaram, e se foram
embora.
Em conseqncia do
ajuste, de que ele respondente capacitasse, e
seduzisse as pessoas, que pudesse para entrarem
na sublevao, e motim, procurou ele respondente
falar a algumas pessoas, usando da arte, que lhe
parecia necessria conforme os caracteres delas,
e aproveitando as ocasies que se lhe ofereciam
para isso: uma das pessoas a quem falou foi ao
Capito Vicente Vieira da Motta, no tanto por
ele, como para ver se reduzia a Joo Rodrigues
de Macedo, de quem caixeiro, por ser este benquisto,
e ser devedor de uma grande soma de dinheiro
Fazenda Real, o que o poderia fazer convir no
intento; mas o dito Capito Vicente Vieira da
Motta, nem conveio, nem consentiu que se procurasse
os meios de falar a Joo Rodrigues de Macedo:
tambm falou a Jos Joaquim da Rocha, que igualmente
disse que nem queria saber de semelhante negcio,
e a ocasio, que teve de lhe falar, foi ler conversado
com ele, por ser muito curioso de mapas, quantas
almas teria a Capitania de Minas Gerais, e depois
seguiu o discurso, dizendo que se podiam governar
melhor, ando a Amrica a ser Repblica: falou
a Salvador do Amaral Gurgel na ocasio, que este
lhe contou ter ido para cima da Comarca do Rio
de Janeiro, por ser perseguido pelo Ouvidor da
Comarca Francisco Luis Alvares da Rocha, e dizendo-lhe
ele respondente o pensamento, em que andava, lhe
pediu algumas cartas para sujeitos do Rio de Janeiro,
que visse eram asados para o intento, o qual as
prometeu, porm no as deu: tambm falou ao Tenente-Coronel
Domingos de Abreu Vieira, em ocasio que ele foi
visitar ao respondente; porm logo que lhe falou
se benzeu, dizendo meu compadre Vossa Merc est
doido, e foi saindo, contudo, depois soube ele
respendente, que foi capacitado para entrar no
levante pelo Tenente-Coronel Francisco de Paula
Freire de Andrade, e pelo Padre Jos da Silva
de Oliveira Rolim, rnetendo-lhe na cabea que
na derrama lhe haviam de tocar seis mil cruzados.
Depois disse a ele respondente o Padre
Jos da Silva de Oliveira Rolim, que o Coronel Igncio Jos de
Alvarenga dissera que o Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de
Andrade mandava dizer a ele respondente, que no falasse mais a pessoa
alguma, e que s que tinha falado, se pudesse as desvanecesse; porque
podiam no ter efeito a sublevao, e motim, e que s depois de
posta a derrama se havia de ver se a dita sublevao se fazia.
ados alguns dias veio o respondente
para o Rio de Janeiro, por causa de lhe terem chegado uns requerimentos
de Lisboa a respeito de umas guas, e no caminho no deixou de falar,
quando se lhe ofereceu ocasio, e se falava em derrama. Uma das pessoas
a quem falou, foi ao Capito Joo Dias da Motta, o qual respondeu que
o estabelecimento da Repblica no seria mau; porm, que ele nem se
metia nisso, nem de tal queria saber. Tambm falou na derrama, e no
modo por que a Amrica se podia fazer repblica no stio da Varginha
em casa do estalajadeiro Joo da Costa, estando presente um viandante
fraca-roupa chamado Antnio de Oliveira Lopes, o qual pareceu abraar
o sistema que o respondente seguia; porque disse que em ele respondente
tendo onze, que abraassem o seu partido, fizesse conta com ele, que
eram doze, e beberam sade dos novos governos; mas no sabe ele
respondente se isto era com nimo verdadeiro, ou se seria por convir
com ele respondente em razo deste lhe ir pagando os gastos at Vila
Rica, e ce?????C?????rto que o dito estalajadeiro ouviu toda a conversao,
mas no lhe lembra a ele respondente coisa por onde possa dizer se ele
abraou o partido. No sitio das Cebolas falou o mesmo perante o Furriel
de Artilharia desta cidade, Manoel Lus Pereira, o qual no deu
assenso ao partido que ele respondente propunha.
Chegou a esta cidade, e nela falou ao
Ajudante do Regimento de Artilharia Joo Jos Nunes Carneiro, o qual o
despersuadiu, dizendo-lhe que no sabia no que se metia, que o que lhe
propunha eram coisas em que se no falava. Tambm falou perante
Valentim Lopes da Cunha, e sua irm Mnica Maria do Sacramento, e Jernimo
de Castro e Souza, por ocasio de se queixar um soldado, que no podia
conseguir a sua baixa; mas tambm nenhum aprovou o discurso, e proposio
dele respondente, e que isto tudo quanto se ou nesta matria, e
que poderia alguma pessoa ouvir falar a ele respondente nesta matria;
porm, que dela no se recorda, antes se ira de ter visto, que no
tem escapado o mnimo o que o respondente desse, que no tenha
sido sabido pelo juiz desta devassa, e por isso se persuadiu, que assim
queria Deus que se soubesse; pelo que se resolveu a dizer toda a verdade
Ingenuamente.
E sendo instado, que dissesse a verdade;
pois ainda que tinha dito algumas coisas, no tinha dito tudo, como
devia; porque sabendo ele respondente, que tinha entrado nesta conjurao
o Doutor Cludio Manoel da Costa e o Desembargador Thoms Antnio
Gonzaga, no o tinha declarado, e tambm tendo dito que o Rio de
Janeiro todo, principalmente os homens de negcio, eram deste partido,
e que as naes estrangeiras davam auxilio, no declarou nada a este
respeito, o que agora ?????C?????deve fazer com todas as circunstncias e
individuao.
Respondeu que a respeito
do Doutor Cludio Manoel da Costa certo que
ele respondente falara; mas ele no itiu o
convite, antes disse que ele respondente andava
procurando perder algum, e que no sabia no que
se metia, e no ter declarado isto na sua antecedente
resposta foi por esquecimento; porque agora, como
j disse, no oculta a mais leve coisa da verdade,
que a faltar a ela seria para se desculpar, o
que no faz. E quanto ao Desembargador Thoms
Antnio Gonzaga, sobre o qual lhe tm sido feitas
tantas instncias, declara que absolutamente no
sabe que ele fosse entrado, e nunca ele respondente
lhe falou em tal pelo temer, e lhe parece que
ele no era entrado em razo de ver, como j disse,
que quando ele entrou em casa do Tenente-Coronel
Francisco de Paula Freire de Andrade na ocasio,
que se tinha estado a falar nesta matria, todos
se calaram, e a ele se no contou coisa alguma,
e que ele respondente no tem razo nenhuma de
o favorecer; porque sabe que o dito desembargador
era seu inimigo por uma queixa que o respondente
fez dele ao Ilm. e Exm. General Luis da Cunha,
no obstante o que ele respondente confessa, que
todos o aclamavam por bom ministro, e ele mesmo
respondente assim o diz, e assim o disse vrias
vezes at ao seu mesmo sucessor. E que quanto
ao Rio de Janeiro, e ao socorro das naes estrangeiras
confessa ele respondente t-lo dito a algumas
pessoas, mas era idia para melhor persuadir quelas
a quem falava; porque na realidade nem tinha nesta
cidade partido, nem falou mais que as pessoas,
que j disse, e tanto conheceu, que no podia
fazer nada pelo respeito que todos tinham ao Ilustrssimo
e Excelentssimo Vice Rei,
e que qualquer coisa que se falasse, ele o saberia
logo, que assim mesmo o disse ao Coronel Joaquim
Silvrio dos Reis, desvanecendo-o, quando o dito
coronel disse a ele respondente nesta cidade,
que lhe vinha ajudar a fazer partido.
E sendo instado, que dissesse as mais
pessoas, a quem tinha comunicado o intento, como era a Manoel Joaquim de
S Pinto do Rego Fortes, Manoel Jos de Miranda, que lhe tinham dado
cartas para ser auxiliado na fugida, que pretendia fazer, pelo Mestre de
Campo Igncio de Andrade, e a Domingos Fernandes Cruz, que o ocultou em
casa.
Respondeu que nenhum deles sabia nada;
porque nem ele respondente j tratava de semelhante negcio, nem
cuidava seno em se retirar; e s pediu a carta a Manoel Joaquim de S
Pinto do Rego Fortes com o fundamento de ter tido mal do Ilustrssimo e
Excelentssimo Vice-Rei, e com o mesmo fundamento pediu outra a Manoel
Jos de Miranda o dito Manoel Joaquim de S Pinto do Rego Fortes para
ele respondente ser auxiliado na fugida; e Domingos Fernandes Cruz
ocultou a ele respondente em sua casa por empenho, que lhe meteu, e que
era toda a verdade. E por esta forma houve o dito desembargador por ora
estas perguntas por findas, e acabadas, e assinou com o Tabelio Jos
dos Santos Rodrigues e Arajo, e o respondente depois destas lhe serem
lidas e as achar na verdade, como tinha respondido, e o dito
desembargador deu o juramento ao respondente de haver nestas perguntas
falado verdade pelo que respeita a direito de terceiro.
E declaro que o respondente
esteve a estas perguntas livre de ferros, e em
liberdade. E eu Marcelino Pereira Cleto, Ouvidor
e Corregedor da comarca do Rio
de Janeiro, e escrivo nomeado para esta
devassa o escrevi e assinei.
Torres
Marcelino Pereira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Jos dos Santos Roiz'. e Ar.
Auto de continuao de perguntas
feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.
Aos quatro dias do ms de fevereiro de mil
setecentos e noventa, nesta Fortaleza da Ilha das Cobras, cidade do Rio
de Janeiro, onde foi vindo o Desernbargador Jos Pedro Machado Coelho
Torres comigo escrivo nomeado Manoel da Costa Couto, nos impedimentos
do Ouvidor da Comarca Marcelino Pereira Cleto, escrivo desta devassa,
e o Tabelio Jos dos Santos Rodrigues Arajo para efeito de assistir
continuao destas perguntas feitas ao ru o Alferes Joaquim Jos
da Silva Xavier e sendo se procedeu na continuao das mesmas
perguntas de que para constar fiz este termo eu Manoel da Costa Couto,
escrivo das apelaes e agravos nomeado no impedimento do ouvidor o
escrevi.
E sendo-lhe lidas as perguntas retro e
perguntado se eram as mesmas e as ratificava.
Respondeu que sim, ratificava o que ultimamente
tinha dito no que tinha falado inteiramente a
verdade.
E sendo instado que dissesse a verdade
mais completamente pois ainda tinha deixado de declarar quem era um clrigo
a quem chamavam Doutor e outro sujeito do Rio das Mortes que estavam em
casa do estalajadeiro Joo da Costa Rodrigues, morador na Varginha, com
quem o respondente conversou conversas sediciosas a respeito do levante,
dizendo que tinha pessoa muito grande e de carter que agora deve
declarar quem era e quem eram os mais sujeitos, que se achavam na dita
conversao tudo com individual clareza.
Respondeu que j tinha dito que a
conversao, que tivera naquele sitio da Varginha, fora unicamente com
o piloto Antnio de Oliveira Lopes, que era um pobre homem a quem ele
respondente favorecia e lhe fazia os gastos na jornada e o estalajadeiro
dono da casa, o dito Joo da Costa, sem que ali estivesse mais pessoa
alguma e que ele respondente, sim, falou nessa ocasio em um Doutor e
outras pessoas do Rio das Mortes contando como um caso, que lhe tinha
sucedido de se quererem opor ao que ele respondente dizia sobre a
derrama e o levante e que depois ficaram convencidos confessando que ele
respondente tinha razo e que eles estavam pelo mesmo, porm tal no
tinha sucedido, era s figura e idia armada para persuadir, o que ele
respondente fazia pelos modos que lhe pareciam mais prprios conforme
as pessoas com quem falava e que, se algumas vezes dizia ele respondente
tinha pessoa grande de carter, era na inteligncia dele respondente
por ser entrado o seu Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire, que ele
reputava por pessoa grande.
E sendo mais instado para que dissesse
quem era o cabea, porque a sublevao no havia
de ser feita sem isso e quem havia de fazer as
leis, que constava tinham sido encarregadas ao
Desembargador Thoms Antnio Gonzaga; e tambm
quais eram as pessoas que se haviam de matar,
e de que modo.
Respondeu que j
tinha dito no havia cabea algum, que o ru respondente
fora sim o primeiro que falara na matria conversando
a respeito da derrama, os mais foram seguindo,
e aprovando mas sem nenhum se fazer cabea e na
realidade sempre a coisa ficou como meia feita
no ar ainda depois no adjunto, que tiveram os
scios na casa do Tenente-Coronel Francisco de
Paula, de forma que nem completamente se assentou
que pessoas se haviam, ou no, de matar, inda
mesmo a respeito do Excelentssimo General Governador,
que alguns temiam que no sendo ele morto se unisse
o povo ao seu partido e ele respondente disse
que estava pronto para a ao mais arriscada,
mas que sem o matar se obrigava a pr fora da
Capitania e se quisessem, depois de lhe tirarem
o Governo, no havia que temer e o podiam conservar
indo para uma das sesmarias dele respondente,
que lhe daria porque naturalmente ele temeria
ir para Portugal tendo c tido to mau sucesso.
Que enquanto s leis falou-se que se havia de
fazer depois mas no sabe que se encarregasse
a pessoa alguma e menos ao Desembargador Gonzaga
no qual nunca ouvia falar e se persuade, que de
tal no sabia porque quando entrou em casa de
Francisco de Paula se interrompeu a conversa em
que se estava de levante e se no falou mais nele
o que no sucederia se ele fosse sabedor, verdade
que Joaquim Silvrio nesta cidade disse a ele
respondente que o dito Desembargador Gonzaga era
entrado do que ele respondente se irou e ainda
hoje mesmo se no capacita e certo, que nem
o encobre por amizade porque era seu inimigo,
nem pelo respeito porque a ser por isso encobriria
ao seu tenente-coronel a quem tributa maior respeito,
e o mesmo Joaquim Slvrio dos Reis dir se o
respondente alguma vez lhe falou no dito Desembargador
Gonzaga, sendo certo que ele respondente lhe falava
com franqueza e sinceridade.
E sendo mais instado para que dissesse a
verdade que ocultava a respeito do partido que tinha nesta cidade do Rio
de Janeiro, e das correspondncias que haviam para as potncias
estrangeiras e que socorros se esperavam de l, o que ele havia de
saber muito bem, e deve declarar.
Respondeu que como j tinha dito, se a
algumas pessoas ele falava em partido que tinha nesta cidade do Rio de
Janeiro e em socorros estrangeiros que se esperavam, era idia para
persuadir a algumas pessoas e tanto isto assim, que aos mesmos scios
ele falou mais desenganado dizendo que no tinha partido, mas que o
havia de buscar, ao que houve quem respondesse que ao certo no sabe
quem foi (mas se persuade foi o Coronel Alvarenga) que era engano vir a
esta cidade buscar o partido porque o Excelentssmo Vice-Rei no era
para graas e assim que tem dito tudo quanto sabe como j declarou nem
oculta coisa alguma depois de se ter resolvido a dizer a verdade e por
mais instncias que lhe foram feitas sempre persistiu no mesmo.
E por esta forma houve ele desembargador
estas perguntas por feitas e sendo-lhe lidas as
achou estarem conformes depois de deferido o juramento
que recebeu pelo que respondeu a respeito de terreiro
e de tudo mandou fazer este auto que assinou com
ele ministro e o tabelio e eu Manoel da Costa
Couto, escrivo nomeado que o escrevi e assinei.
Torres
Manoel da Costa Couto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Jos dos Santos Rodrigues Arajo
Perguntas que mais se continuaram ao
sobredito Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil setecentos e noventa e um aos quatorze
dias do ms de abril do dito ano, nesta cidade do
Rio de Janeiro, na Fortaleza da Ilha das Cobras,
onde foi vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio
Xavier de Vasconcellos Coutinho, Chanceler da Relao
desta cidade, e juiz da Comisso expedida contra
os rus da Conjurao de Minas Gerais, comigo Francisco
Luis Alvares da Rocha, Desembargador dos Agravos
da dita Relao e escrivo da mesma Comisso, e
o Ouvidor atual desta comarca, Marcelino Pereira
Cleto, Desembargador nomeado da Relao da Baha,
e escrivo das dependncias da mesma Comisso, para
efeito de continuar as perguntas ao ru da dita
conjurao, Joaquim Jos da Silva Xavier, preso
na mesma Fortaleza; e mandando vir sua presena
o dito ru lhe continuou as perguntas na forma seguinte.
E perguntado se era o prprio Joaquim
Jos da Silva Xavier, a quem se tinham feito as perguntas, que constam
deste auto.
Respondeu que era o mesmo.
E sendo-lhes lidas as perguntas acima do
auto precedente, ou anterior ao termo imediato, e perguntado se eram as
mesmas as respostas que a elas tinha dado, e se as ratificava.
Respondeu que so as mesmas, e as
ratifica, porm, que tem algumas declaraes que fazer.
E perguntado que declaraes tinha de
fazer.
Respondeu que, na parte em que dizia que
recolhendo-se desta cidade para Minas, falara
ados trs meses a Jos Alvares Maciel, para
que reduzisse seu cunhado Francisco de Paula Freire
de Andrade para que abraasse o projeto de estabelecimento
da Repblica da dita Capitania de Minas, fora
equivocao, e perturbao dele respondente: porquanto
refletindo depois melhor, no que tinha ado,
se lembra que no falara ao dito Jos Alvares
s, mas que lhe tinha falado na verdade a primeira
vez que se recolheu, digo depois que se recolheu
desta cidade a Minas em casa do Tenente-Coronel
Francisco de Paula Freire de Andrade, estando
este presente, e o vigrio de S. Jos Carlos Corra
de Toledo; e nesta ocasio, entre todos os que
estavam, foi a primeira vez que em Minas se falou
no projeto do estabelecimento da Repblica, e
nos meios, que para isso poderia haver e que agora
lhe no lembrava mais declarao alguma que fizesse
sob re as perguntas e respostas que deu acima
ditas, e as ratificava.
E sendo perguntado pelas palavras, e
forma da prtica, que teve com as pessoas, a quem diz, que falara a
respeito do estabelecimento da Repblica, como foi a Jos Ayres
Gomes, ao Padre Manoel Rodrigues da Costa, a Jos Joaquim da Rocha e a
Salvador do Amaral Gurgel.
Respondeu que a Jos
Ayres Gomes falara recolhendo-se desta cidade
para Minas, pouco mais ou menos segundo sua lembrana
pelo modo seguinte: que lhe perguntara como se
davam com o novo Governador de Minas, o Visconde
de Barbacena; e que o dito Jos Ayres lhe dissera
que se davam com ele muito bem, e que era muito
bom; ao que ele respondente replicou, que antes
ele fosse um demnio; porque se disporiam as coisas
ao estabelecimento de uma Repblica: e que agora
com a nova derrama se desesperariam os povos para
fazer algum levante, ou o poderiam fazer; e que
nas naes estrangeiras se iravam do sossego
desta Amrica, vendo o exemplo desta Amrica,
digo exemplo da Amrica Inglesa; referindo o mesmo,
que tinha ouvido nesta cidade a Jos Alvares Maciel;
e que se fazendo a Repblica, talvez ficaria melhor
o Pas de Minas; ao que o dito Jos Ayres Gomes
respondeu, o que fica dito nas perguntas antecedentes.
E que ao Padre Manoel Rodrigues da Costa falara
pouco mais ou menos por esta mesma forma, e com
as mesmas palavras; ao que o dito padre lhe respondeu
que no falasse em tal, que no sabia em que se
metia, nem eram coisas que tivessem caminho; ao
que ele respondente replicou, que bem podia ser
fazer-se uma Repblica; ao que o dito padre respondeu,
que a de muitos era bem comida, e mal mexida,
e com o dito padre no teve mais prtica alguma.
E que estas conversas, que teve com esses dois
sujeitos, foi recolhendo-se desta cidade por dias
do ms de agosto. - Que a Jos Joaquim da Rocha
falou em dias do ms de maro, estando para vir
para esta cidade, e sabendo que ele era muito
curioso de mapas, lhe perguntou quantas almas
teria a Capitania de Minas; e respondendo-lhe
o dito Jos Joaquim da Rocha, que teria trezentas
e tantas mil almas; ele respondente lhe replicou
que com tanta gente bem se podia fazer uma Repblica,
ao que o dito Jos Joaquim lhe respondeu que no
falasse em tal, que no eram coisas que se dissessem.
Que a Joo Dias da Motta falara vindo j de caminho
para esta cidade com a motivo de tratarem a respeito
da derrama; e ento ele respondente lhe disse
que iam apertando tanto com o povo, que ainda
este desesperado havia de fazer algum levante,
e estabelecer a Repblica; ao que o dito Joo
Dias respondeu, que isso no seria mal; e replicando
ele respondente, que se no caso que se fizesse,
quereria ele entrar; respondeu, que se no metia
em tal, que Deus o Livrasse; e com o dito Joo
Dias da Motta no teve mais conversao alguma.
E que com Salvador do Amaral Gurgel falou poucos
dias, antes de partir para esta cidade; por ocasio
de lhe ir pedir um Dicionrio Francs; porque
antes disso o no conhecia; e dizendo-lhe o dito
Salvador do Amaral que era do Rio, donde tinha
ido perseguido pelo Ouvidor desta Comarca; ele
respondente ento aproveitando a ocasio, vendo
que ele era dos escandalizados, lhe disse que
todos faziam o que queriam, e que tanto haviam
de apertar com a gente que, desesperados, haviam
de fazer algum levante, e estabelecer uma Repblica;
e respondendo-lhe o dito Salvador do Amaral, que
no seria mal; ele respondente, aproveitando-se
da ocasio, e vendo que era do Rio, lhe disse
que podia dar-lhe cartas para algumas pessoas,
daquelas que julgasse mais asadas para entrar
neste negcio; e suposto que o dito Salvador lhe
respondeu, que lhe daria as ditas cartas, contudo
nem as deu, nem ele respondente lhas pediu nem
tornou a v-lo. - E esta a forma das prticas
que teve com os sobreditos.
E constando das perguntas antecedentes,
que ele respondente tinha dito que se tinha recolhi uma noite em casa de
Domingos Fernandes etmendo ser preso, por empenho, que lhe meteu, e no
constando da pessoa, que fez esse empenho, foi perguntado para que
declarasse quem era a pessoa, que se empenhou com o dito Domingos
Fernandes para que o ocultasse, e o motivo, que disse a mesma pessoa, e
que tinha para se ocultar.
Respondeu que a pessoa a quem falou para
que o escondesse uma noite, foi uma viva chamada Igncia de tal, que
morava ao p da Igreja da Me dos Homens, porm, que esta no o
recolhera em sua casa, por ser viva; porm, que por sua conta tornou
a falar ao dito Domingos Fernandes, que o recolheu; que a razo que
teve para se valer da dita Igncia, foi por ter curado uma filha de uma
molstia, que teve em um p, por ter alguma inteligncia de curativo,
e julgando que ela lhe estaria obrigada por este motivo, foi a razo
por quese valeu dela; e a causa que lhe assinou para querer esconder-se,
foi por se ter feito uma morte em Minas, na qual entendia que estva
culpado, e que por esse motivo o queriam prender; e esta figura, que
lenvantou, foi o mesmo que tambm disse ao mesmo Domingos Fernandes.
Foi mais perguntado qual fora a razo por
que se escondera; porque se retirara com armas,
que pediu emprestadas, e com nimo de se meter
pelos matos.
Respondeu que estando nesta terra tambm
Joaquim Silvrio dos Reis, que sabia dos ajustes feitos em Minas entre
ele respondente e os mais Conjurados, conversava francamente com o dito
Joaquim silvrio, e que este lhe dissera que o Vice-Rei deste Estado
andava com grande cuidado sobre ele respondente, que tivesse conta em
si, que se retirasse, porque mais dia menos dia, se ele respondente se no
retirasse, seria preso; pois se persuadia que o Vice-Rei sabia da matria
dos ajustes feitos em Minas; e que por esta razo ele respondente se
escondera, e tratara de se retirar pelos matos, armado com um bacamarte,
que pedira ao Porta-Estandarte Francisco Xavier Machado.
E por ora lhe no fez mais perguntas, e
sendo-lhe lidas as acima ditas as achou estarem na verdade, como
respondido tinha, e lhe deferiu juramento, pelo que respeita a terceiro,
o dito ministro, que as assinou com o ru e o Ouvidor da Comarca,
Marcelino Pereira Cleto; e declaro com este que o dito ru esteve a
estas perguntas livre de ferros. E eu Francisco Luis lvares da Rocha,
escrivo da Comisso, que a escrevi e assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Marcelino Pereira Cleto
Joaquim Jos da Silva Xavier
Auto de continuao de perguntas feitas ao Alferes Joaquim Jos da
Silva Xavier.
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil setecentos e noventa e um, aos dezenove digo aos vinte
dias do ms de juno do dito ano, nesta cidade do Rio de Janeiro, e
Fortaleza da Ilha das Cobras, aonde foi vindo o Desembargador
Conselheiro Sebastio Xavier de vasconcellos Coutinho do Conselho de
Sua Majestade, Chaceler da Relao desta cidade , e Juiz da comisso
expedida contra os rus da Conjurao formada em Minas gerais, jnto
comigo o Desembargador Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da
mesma Comisso, e o Dr. Jos Caetano Cesar Manitti, Intendente nomeado
da Comarca de Vila Rica, tambm Escrivo nomeado para efeito de se
continuarem perguntas ao ru Joaquim Jos da Silva Xavier, preso na
mesma Fortaleza; e logo o mandou vir a sua presena, e lhe continuou as
perguntas na maneira seguinte.
E sendo-lhe lidas as perguntas imediatas,
e as outras antecedentes, e perguntando se as ratificava.
Respondeu que eram as mesma umas, e
outras e que as ratificava do mesmo modo que ento disse e respondeu.
E perguntado se no
tempo que esteve oculto em casa de Domingos Fernandes
nesta cidade, aonde foi preso, tinha mandado chamar
alguma pessoa para que a lhe fosse falar, e se
com efeito falou a algum, fora do dito Domingos
Fernandes, em casa de quem estava.
Respondeu que no tem lembrana de ter
mandado chamar pessoa alguma, nem de ter falado com algum fora dodito
Domingos Fernandes.
E sendo instado que dissesse a que
parecia ter faltado; porquanto constava por pessoas verdadeiras, que ele
respondente tinha mandado chamar pelo dito Domingos Fernandes certo
sujeito, que lhe foi falar a casa em que estava oculto, e com efeito
pelo mesmo sujeito mandou um recado a Joaquim Silvrio?
Respondeu que, com efeito, recordando-lhe
melhor, lhe lembra que, estando escondido em casas de Domingos
Fernandes, lhe fora falar um clrigo, parente da mesma viva Igncia,
que intercedido com o dito Fernandes, para que recolhece a ele
respondente, digo quer tinha intercedido com o dito Fernandes para que
recolhesse a ele respondente; porm, que lhe no lembra se mandou pelo
dito padre, ou pelo mesmo Domingos Fernandes, informar-se de Joaquim
Silvrio, e pela vinzinhana, donde ele respondente assistia, se a seu
respeito havia alguma novidade; e que ou o dito Fernanades, ou o dito
padre lhe trouxe a resposta de que, tendo falado a Joaquim Silvrio,
este lhe mandara dizer que queria fala-lhe,e que no dia seguinte, logo
depois que ele respondente se ocultara, tinha ido um soldado de cavalo a
sua casa, e que no o achando dera parte ao Vice-Rei, de que resultara
mandar prender um escravo que estava na casa dele respondente; porm,
que o dito Joaquim Silvrio no lhe falara, porque nem ele respondente
lhe procurou, nem ele mandou dizer a sua casa onde estava oculto.
E sendo perguntado se tinha amizade e conhecimento
com o dito padre, que diz lhe fora falar na casa
do dito Domingos Fernandes; donde lhe viera esse
conhecimento, ou amizade, se antes quese ocultasse,
ou depois que se ocultou, quando o dito padre
lhe foi falar, se lhe comunicou alguma coisa sobre
a sublevao de Minas; ou se lhe assinou outra
causa por que estava oculto?
Respondeu que conhecia o dito padre de
casa da vita viva igncia, por t-lo a visto algumas vezes, quando
ia curar sua filha, que julgava ser o dito parente daquela viva; porm,
que no tinha com o mesmo padre amizade alguma particular; e que nem
antes que ele respondente se escondesse, nem depois de oculto, quando o
dito padre foi falar-lhe, lhe contou nada a respeito da Sublevao de
Minas, e s lhe parece, segundo sua lembrana, no que no est bem
certo, ter dito ao mesmo padre, que a causa de se ocultar era por temer
estar culpado de uma morte, que se fizera em Minas, que era aquilo
mesmo, que tinha dito a dita viva Igncia, e ao dito domingos
Fernandes, em casa de quem estava.
Foi mais perguntado, se entre as pessoas
a quem tinha falado sobre o estabelecimento da nova Repblica, que
pretendia estabelecer, falou a algum soldado ou oficial, seu camarada do
Regimento de Cavalaria de Minas, em que servia, encarecendo-lhe as
riquezas do Pas e utilidade do levante, como costumava praticar com as
mais pessoas a quem falava?
Respondeu que nunca falou a nenhum soldado,
nem oficial do seu regimento convidando-os para
que entrassem na sublevao, nem dando-lhes das
prticas, que havia entre os conjurados; porque
o seu Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire
de Andrade lhe dissera que no falasse a nenhum
dos oficiais; e s tem lembrana que, perante
alguns, dissera que se lanava a derrama, e que
poderia o povo, desgostoso, fazer algum levante;
ao que, ou no davam assenso, ou diziam a ele
respondente que no falasse em tal.
Foi mais perguntado, se quando o dito seu
Tenente-Coronel Francisco de Paula dizia a ele respondente que no
falasse a nenhum dos oficiais, era por reservar para si essa diligncia,
como pessoa mais autorizada, que podia resolv-los, ou se lhe dava
outra razo?
Respondeu que, quando o dito
tenente-coronel lhe dizia que no falasse a nenhum dos oficiais do
Regimento, a razo, que lhe dava, era porque a sublevao poderia no
ter efeito, e que aquelas coisas eram melindrosas para se tratarem.
E sendo instado, que dissesse a verdade,
a que parecia ter faltado; porquanto constava
por pessoas verdicas que ele rpspondente tinha
falado a muitos oficiais do Regimento, expressamente,
para que entrassem na sublevao, e que alguns
deles estavam firmes em ajudar a mesma sublevao,
unindo-se aos conjurados, quando fosse tempo,
e que perante um dos mesmos oficiais se tratara
entre os conjurados alguma prtica em casa do
dito Tenente-Coronel Francisco de Paula, em cuja
prtica estavam, quando entrou o dito oficial;
e que parando a conversao, depois continuara,
por dizer o dito Tenente-Coronel Francisco de
Paula - podemos continuar, que este dos nossos
- nem parece verossmil, que falando ele respondente
a tantas pessoas sobre a nova Repblica, com as
quais tinha pouca amizade, e eram pouco hbeis
para ajudar o seu projeto da sublevao, deixasse
de falar aos seus camaradas, com os quais devia
ter amizade particular e eram os mais capazes
e hbeis para ajudar a ele respondente na empresa
que tinha tomado.
Respondeu, insistindo no mesmo que j
disse, que a nenhum dos oficiais do seu Regimento tinha falado na
conjurao nem tinha amizade particular com nenhum com quem falasse
nessas matrias, porque ordinariamente os militares so inimigos uns
dos outros; e que ele respondente antes se fiaria de um paisano do que
de um militar seu camarada.
E sendo mais instado, que dissesse a
verdade, porquanto constava que ele respondente com alguns oficiais
tinha amizade particular, assim como com um, com quem veio de camarada
para esta cidade, e com quem assistiu o tempo que aqui esteve, at que
se ocultou em casa de Domingos Fernandes, e de uma camaradagem de viver
familiarmente na mesma casa se prova infalivelmente a boa, e particular
amizade, que ele respondente nega.
Respondeu que era verdade ter vindo para
esta cidade de camarada com o Alferes Mathias Sanches Brando, ao qual
encontrou no sitio chamado Ribeiro, que com ele viveu na mesma casa
nesta cidade todo o tempo que aqui esteve, at que o dito alferes se
foi embora, quatro ou cinco dias antes dele respondente se ocultar; porm,
sem embargo da dita camaradagem e assistncia, no tinha amizade
particular com o dito alferes, nem dele se confiou em semelhante matria.
E por ora lhe no fez o dito ministro mais
perguntas, as quais sendo por mim lidas a ele
respondente, as achou conformes, como respondido
tinha; e deferindo-lhe o juramento pelo que respeitava
a terceiro, debaixo dele declarou ter dito a verdade;
e declaro que neste ato esteve o respondente livre
de ferros, de que dou f com o Escrivo assistente;
e de tudo mandou o mesmo ministro fazer este auto
em que assinou com o respondente, e dito Escrivo
assistente; e eu Francisco Lus lvares da Rocha,
Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier
Auto de continuao de perguntas
feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.
Ano
do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil
setecentos e noventa e um, aos vinte e dois dias
do ms de junho, nesta cidade de So Sebastio do
Rio de Janeiro, na Fortaleza da Ilha das Cobras,
aonde foi vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio
Xavier de Vasconcellos Coutinho, do conselho de
Sua Majestade, e do da sua Real Fazenda, Chanceler
da Relao desta mesma cidade, e Juiz da Comisso
expedida contra os rus da conjurao formada em
Minas Gerais, junto comigo o Desembargador Francisco
Lus lvares da Rocha, Escrivo da mesma Comisso,
e o Intendente nomeado da Comarca de Vila Rica,
Jos Caetano Cesar Manitti, tambm Escrivo da mesma
diligncia para efeito de se continuarem as perguntas
ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, que se
acha preso na mesma Fortaleza, e sendo a mandou
vir o dito ru sua presena, e lhe fez as perguntas
pela maneira seguinte.
E sendo-lhe lidas as perguntas prximo
antecedentes, e perguntado se eram as mesmas, que a ele respondente
Joaquim Jos da Silva Xavier tinham sido feitas, e se, as suas
respostas eram as mesmas, que ento tinha dado, e se as ratificava.
Respondeu que eram as mesmas respostas
que ele respondente tinha dado, e que as ratificava.
E sendo perguntado se depois da prtica,
e conversao, que tivera em casa do Tenente-Coronel Francisco de
Paula, em que se assentou que se faria o levante na ocasio da derrama,
declarando-se a diligncia, e parte, que cada um devia ter naquela ao;
como era falar o Vigrio de So Jos gente; o Coronel Alvarenga a
homens na Campanha do Rio Verde; o Padre Jos da Silva de Oliveira
Rolim gente no Serro do Frio; assim como ele respondente havia de
falar a quem pudesse; se com efeito cada um dos sobreditos fez a diligncia
que se tinha assentado; e se deram parte da gente, que tinham pronta;
tanto a ele respondente, como aos mais que estiveram na dita conversao.
Respondeu que nenhum daqueles, que se
tinham obrigado a falar a gente, deu parte a ele respondente de ter
feito diligncia alguma naquela matria, nem lhe consta que com efeito
o fizessem nem dessem parte aos que estiveram presentes na dita conversao.
E sendo instado, que dissesse a verdade,
pois assim como ele respondente satisfez da sua
parte, falando a todas as pessoas, que lhe pareceu
na forma, que se tinha assentado na dita conversao,
assim os mais, crvei, que falariam na forma,
que se tinha tratado.
Respondeu, insistindo no mesmo, que tem
dito, que no sabe, nem lhe consta, que nenhum dos sobreditos falassem
a pessoa alguma. E sendo instado a que dissesse a verdade, a que parecia
ter faltado, porquanto consta com certeza que o Vigrio de So Jos,
Carlos Corra de Toledo, avisando ao Tenente-Coronel Francisco de Paula
de que tinha cento e tantos cavalos prontos, e gordos, no que se
entendia muito bem, que eram outros tantos homens para a ocasio do
levante.
Respondeu que do mesmo modo no sabia,
que o dito vigrio tivesse feito esse aviso, nem o Tenente-Coronel
Francisco de Paula lhe comunicou a ele respondente coisa alguma, se
acaso teve aquele aviso.
Foi mais perguntado que declarasse a
forma com que determinava prender o general da Capitania de Minas;
porque tendo na conversao reservado para ele respondente esta ao,
devia ter ideado a forma de execut-la.
Respondeu que ento, quando se tratou
aquela matria, no discorreu o modo de prender o general; e que tendo
gente do seu partido, era fcil fazer a dita priso, estando o general
na Cachoeira.
E sendo Instado que dissesse a verdade,
ao que parece ter faltado; porquanto, sendo aquela ao a mais
importante, ele respondente no devia arriscar-se nela se no tivesse
induzido ao seu partido alguns oficiais, ou soldados, que devessem estar
na Cachoeira para ajudar a ele respondente no seu projeto?
Respondeu que no tinha induzido para o
levante nenhum soldado, nem oficial do Regimento.
E sendo instado, que dissesse a verdade,
porquanto constava que ele respondente tinha falado a muitos oficiais do
Regimento, que estavam firmes em seguir o seu partido.
Respondeu Insistindo que no tinha
falado no levante a oficial algum, nem na priso do general.
E logo o dito ministro mandou vir sua
presena o Coronel Francisco Antnio de Oliveira Lopes, o Coronel Igncio
Jos de Alvarenga e o Tenente-Coronel Domingos de Abreu Vieira para
serem acareados com o sobredito respondente, e mais ao Vigrio de So
Jos, Carlos Corra, estando presentes, primeiramente este dito Vigrio
Carlos Corra e Francisco Antnio de Oliveira Lopes, os quais
mutuamente se reconheceram pelos prprios, de que dou f, com o outro
escrivo assistente; e lendo ao Coronel Francisco Antnio de Oliveira
Lopes o seu juramento, que deu na devassa tirada pelo Desembargador Jos
Pedro Machado Coelho Torres, na parte em que repetiu que lhe havia dito
o dito Vigrio Carlos Corra na casa deste, que se encontrando na rua
com o Tenente-Coronel Francisco de Paula, convidando-o para ir sua
casa, ali achara, tendo ido, ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, o
Doutor Jos Alvares Maciel, o Capito Maximiliano de Oliveira Leite e
um doutor pequenino, cujo nome no sabia, das partes do Sabar, e
outro doutor de Minas Novas, cujo nome tambm ignorava; e juntos todos
entraram a tratar, que se devia fazer um levante, quando se lanasse a
derrama, para ficar este Pas feito uma Repblica.
E deferindo-lhe novamente juramento, para
que dissesse a verdade, persistiram firmes o Alferes
Joaquim Jos da Silva e o Vigrio de So Jos,
Carlos Corra, em que naquela ocasio no tiveram
presentes conversao, que tiveram em casa do
Tenente-Coronel Francisco de Paula, nem o Capito
Maximiliano de Oliveira Leite, nem o doutor pequenino
do Sabar, nem o doutor das Minas Novas; nem sabem
quem sejam estes dois ltimos; porm, o Coronel
Francisco Antnio de Oliveira Lopes persistiu
firme, e certo, em que o Vigrio Carlos Corra
de Toledo lhe dissera, o que deps no seu juramento
na parte, que agora lhe foi lida, e o dito Vigrio
Carlos Corra de Toledo persistiu tambm firme
em que no tinha dito ao tal Francisco Antnio
de Oliveira Lopes, que estivessem presentes naquela
ocasio prtica, que tiveram sobre o levante
em casa de Francisco de Paula Freire de Andrade;
e por mais que foram instados para que dissessem
a verdade, e tendo conferido, e disputado entre
si sobre esta matria, no declararam mais coisa
alguma; ainda que pareceu que o dito Francisco
Antnio de Oliveira Lopes afirmava a verdade,
do que tinha jurado, vacilando algum tanto. E
por esta forma houve ele ministro esta acareao
por feita, e sendo lida a todos no mesmo ato,
acharam escritas as suas respostas, como dito
tinham; e de como assim foram perguntados, e responderam
assinou o dito ministro com o respondente, e acareados,
e o escrivo assistente; e eu, Francisco Lus
lvares da Rocha, que o escrevi e tambm assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier
Francisco Antnio de Oliveira Lopes
Carlos Corra de Toledo
E logo imediatamente acabado este ato,
apareceu o Coronel Igncio Jos de Alvarenga presente para haver de
ser acareado sobre o que respondeu nas perguntas que lhe foram feitas na
parte, que lhe foi lida, e em que diz no acreditara o respondente
Joaquim Jos da Silva Xavier que dizia haver pessoas dispostas para o
levante no Rio de Janeiro, sem que lhe nomeasse algumas delas, tendo-lhe
nomeado em Minas alguns sujeitos, a que tinha falado, como eram o Capito
Manoel da Silva Brando, o Tenente Antnio Agostinho, o Capito
Maximiliano de Oliveira Leite, de quem estava certo ter-lhe dito o
respondente Joaquim Jos da Silva, que falando-lhe a primeira vez,
prestara o seu consentimento; mas que sendo nomeado posteriormente
Comandante do Destacamento da Serra, e tornando a falar-lhe, lhe dissera
que no fosse louco, que no tornasse a falar-lhe em semelhante matria,
ao que o dito alferes respondente disse respondera ao dito capito que
como agora estava feito Gro-Turco da Serra, que por isso no queria
entrar na sublevao; e no falara mais com o dito alferes, porque
seguira viagem para o Rio de Janeiro.
E depois de conferirem um com outro, disse
o Coronel Alvarenga que tinha espcies, mas no
certeza, de ouvir dizer ao Alferes Joaquim Jos
que tinha falado nas matrias do levante com o
Capito Manoel da Silva Brando e o Tenente Antnio
Agostinho; e que s tinha certeza de que o dito
Alferes Joaquim Jos lhe dissera que tinha falado
ao Capito Maximiliano, e que este respondeu que
no fosse louco, e que ele alferes lhe disse que,
como agora estava feito Gro-Turco da Serra, no
queria; e demais, a respeito da resposta, que
se declara ter dado o dito Capito Maximiliano
ao alferes acareado, da primeira vez que lhe falou,
dizendo que lhe prestara o seu consentimento,
declara ele acareante, que sem embargo de ter
dito, que estava certo, em que o dito alferes
lhe dissera a dita resposta, contudo agora pensando
no que o dito alferes lhe disse entra na dvida,
de que com efeito se explicasse por estes termos.
E o dito Alferes
Joaquim Jos da Silva, vista da declarao do
acareante Igncio Jos de Alvarenga, persistiu
firme em que no tinha dito ao acareante Igncio
Jos de Alvarenga que tinha falado ao Capito
Brando e ao Tenente Antnio Agostinho; e s concordou
e confessou que tinha falado ao Capito Maximiliano,
porm discordou do dito acareante Igncio Jos
de Alvarenga, enquanto este declara que o dito
alferes lhe dissera ter falado ao Capito Maximiliano
duas vezes; e ele acareado alferes persistiu em
que s falara uma vez ao dito Capito Maximiliano,
em matria de estabelecimento de Repblica: e
cada um persistiu firme no que havia dito. E por
esta forma houve o dito ministro esta acareao
por feita, reservando, falta de tempo, para
outra vez ao Tenente-Coronel Domingos de Abreu
Vieira; e sendo a que fica feita lida ao acareado
e acareante, acharam estar as suas respostas escritas
bem, e verdadeiramente como respondido tinham,
e debaixo do juramento, que se lhes prestou, havia
dito a verdade; e de como assim disseram e responderam,
mandou fazer este auto, em que assinou com o respondente
e acareantes, e Escrivo assistente, e com este
dou f, estarem uns e outros neste ato livres
de ferros, e eu o Desembargador Francisco Luis
lvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o
escrevi e assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Igncio Jos de Alvarenga
Joaquim Jos da Silva Xavier
E logo que se recolheu sua priso o dito
Igncio Jos de Alvarenga, continuou o dito Conselheiro as perguntas
ao respondente Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier pela maneira
seguinte.
Foi perguntado, visto ter confessado, que
tinha falado ao Capito Maximiliano, por ser convencido de Igncio Jos
de Alvarenga, com quem foi acareado, devia agora declarar em que ocasio,
de que modo e quantas vezes tinha falado ao dito Capito Maximiliano.
Respondeu que lhe no lembra com certeza
o tempo em que falou ao Capito Maximiliano, e
s lhe lembra, e tem certeza, de que indo
uma vez sua casa lhe falara no estabelecimento
da Nova Repblica, dizendo-lhe que na ocasio
da derrama se podia fazer; e perguntando-lhe o
dito Capito Maximiliano como podia ser isso,
lhe disse ele respondente que se levantando o
povo; e ficando o dito Maximiliano por modo de
pensativo, tornou a dizer-lhe que no seria mal;
e ento ele respondente lhe disse que sobre esta
matria tinha falado com o Tenente-Coronel Francisco
de Paula, e que ele se no desagradara da proposta,
e no estava fora disso; e duvidando o dito Maximiliano
de que ele respondente tivesse falado naquela
matria ao dito tenente-coronel, o respondente
lhe assegurara que era verdade, e o dito Capito
Maximiliano ento lhe disse que no falasse em
tal, que no fosse doido, que se soubera que ele
respondente falara verdade, que o iria acusar;
e ento lhe pediu o respondente que no falasse
naquela matria ao Tenente-Coronel Francisco de
Paula; e que ele dito capito no queria entrar
naquele projeto, porque estava feito Gro-Turco
da Serra ou Governador de Marmantil, por estar
ento o dito capito nomeado para aquele destacamento;
e que nada mais se ara na dita conversa.
E sendo instado que
dissesse a verdade, porquanto antes desta ocasio
j ele respondente tinha falado ao dito Capito
Maximiliano mais alguma vez sobre o estabelecimento
da nova Repblica, e o dito capito lhe tinha
prestado o seu consentimento, o que se convence
at da mesma resposta, que acima deu; pois s
podia servir de reparo a ele respondente no querer
o dito capito entrar no projeto do estabelecimento
da nova Repblica; por estar feito Gro-Turco
da Serra, pelo motivo de ter dado antecedente
o seu consentimento; pois se isso no fora, no
podia servir de reparo a ele respondente, que
o dito capito no quisesse entrar no mesmo, nem
tinha lugar o dar-lhe ele respondente aquela resposta.
Respondeu que nem antes nem depois falou
mais ao dito capito no estabelecimento da nova Repblica; que deu ao
dito capito a resposta, de que no queria entrar no estabelecimento
da nova Repblica por estar feito Gro-Turco da Serra, porque no
principio, em que lhe falou naquela matria, o viu pensativo, e
duvidoso, e ao depois o repreendeu a ele respondente; que verdade que
a resposta que deu de estar o dito capito Felipe Gro-Turco, por isso
no queria, parece significar que se o dito capito no estivesse
nomeado para o destacamento, que no havia de ter dvida, e que ele
respondente tinha disso alguma certeza, mas sem embargo, de que assim
parea, e que ele respondente reconhea a fora da instncia,
contudo verdade que no tinha falado em outra ocasio ao dito capito,
nem quando deu aquela resposta, foi por fazer semelhante reflexo, mais
s sim pelo motivo, que tem dito, de o ver no princpio pensativo, e
depois resoluto na repugnncia.
E por esta forma houve o dito Ministro
Conselheiro estas perguntas por ora por acabadas, as quais sendo lidas
ao respondente as achou conformes com o que respondido tinha, e debaixo
do juramento, que recebido tinha, declarou ter dito a verdade pelo que
respeita a terceiro; e declaro que sempre esteve livre de ferros; e de
tudo mandou o sobredito Ministro Conselheiro fazer este auto, em que
assinou com o respondente, e Escrivo assistente, e eu, o Desembargador
Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi
e assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier
Auto
de continuao de perguntas ao dito Alferes.
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil setecentos e noventa e um, aos quatro dias do ms de
julho, nesta cidade do Rio de Janeiro e cadeias da relao dela; aonde
foi vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier de Vasconcellos
Coutinho, do Conselho de Sua Majestade e do da sua Real Fazenda,
Chanceler da mesma Relao, e Juiz da Comisso expedida contra os rus
da Conjurao formada em Minas Gerais, junto comigo, o Desembargador
Francisco Lus lvares da Rocha, Escrivo da dita Comisso, e o
Intendente nomeado da Comarca de Vila Rica, Jos Caetano Cesar Manitti,
tambm Escrivo nomeado; para efeito de se continuarem perguntas ao
Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, e ser acareado com o
Tenente-Coronel Domingos de Abreu, ambos presos incomunicveis nos
segredos das mesmas cadeias; e sendo a mandou vir sua presena os
ditos Domingos de Abreu Vieira e Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier,
e lhe fez as perguntas, e acareaes pela maneira seguinte.
E sendo-lhe lido
ao dito Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier e
Domingos de Abreu Vieira, ambos presentes, e que
mutuamente se reconheceram, do que dou f com
o Ministro Escrivo assistente, o juramento do
dito Domingos de Abreu, prestado na devassa, tirada
pelo Desembargador Jos Pedro a folhas cento e
duas verso, na parte em que declara - que o Padre
Jos da Silva de Oliveira Rolim e Alferes Joaquim
Jos da Silva Xavier disseram perante ele que
tinham falado para entrar na Sedio, e motim
aos Capites da Tropa paga da Capitania de Minas
Maximiliano e Manoel da Silva Brando; e o dito
Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier dissera que
ele da sua parte tinha falado para entrarem na
Conjurao, e motim aos oficiais da tropa paga
seguintes: o Capito Antnio Jos de Arajo, o
Tenente Antnio Agostinho Lobo Pereira, o qual
ficara de falar a seu sobrinho ou parente Jos
de Vasconcellos Parada e Souza, ao Alferes Mathias
Sanches Brando, ao Tenente Jos Antnio de Mello
e ao Alferes Antnio Gomes Meirelles - e tendo
ambos ouvido e entendido o dito depoimento na
parte que fica escrita, disse o acareante Domingos
de Abreu com toda a segurana e certeza que em
verdade tudo quanto havia deposto; e a acareado
Joaquim Jos da Silva Xavier s conveio em que
tinha falado ao Capito Maximiliano, e que aos
mais oficiais nomeados poderia ter falado, dizendo-lhe
sucintamente que estava para se lanar a derrama,
e que tanto haviam de apertar com o povo que havia
de haver algum levante; porm, que no tem certeza,
dos oficiais, a quem por este modo falou; e disputando
o acareante e acareado entre si, persistiu firme
sem hesitao o acareante Domingos de Abreu ter
dito verdade, e que o acareado lhe dissera, sem
dvida alguma, o que declarou naquela parte em
seu juramento; e este ainda que persistiu, em
que no tinha dito ao acareante o que ele deps,
contudo no mostrou igual firmeza nas instncias
e argumentos, que lhe fez o sobredito Ministro
Conselheiro; e no podendo concordar-se o acareante
e acareado, ficando cada um no que fica referido;
houve o dito Conselheiro esta acareao por feita;
e sendo-lhes lida e suas respostas, as acharam
conformes com o que respondido tinham; e tendo-lhe
o dito Conselheiro deferido juramento dos Santos
Evangelhos, pelo que respeitava a terceiro, debaixo
dele declararam ter dito a verdade; estando ambos
neste ato livres de ferros, do que dou f com
o Escrivo assistente; e de tudo mandou fazer
este auto, em que assinou com o acareante e acareado,
e Ministro Escrivo assistente; e eu, Francisco
Lus lvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que
o escrevi e assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Domingos de Abreu Vieira
Joaquim Jos da Silva Xavier
E tendo mandado o dito Conselheiro recolher
sua priso ao Tenente-Coronel Domingos de Abreu Vieira, logo no
mesmo dia, ms e ano continuou as perguntas com o Alferes Joaquim Jos
da Silva Xavier pela forma seguinte.
E sendo-lhe lidas as perguntas antecedentes,
e suas respostas; e perguntado se estavam conformes,
e se as ratificava.
Respondeu que estavam conformes, e que as
ratificava.
Foi mais perguntado, quem era o doutor
pequenino das partes do Sabar; e o doutor de Minas Novas, que se
acharam presentes na prtica, que em certa ocasio houve sobre o
levante em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula Freire de Andrade;
o que devia de declarar com toda a verdade, por constar que ele
respondente estivera presente, e juntamente nessa ocasio?
Respondeu que falso que estivesse
presente em alguma ocasio em casa do Tenente-Coronel Francisco de
Paula, nem doutor algum pequenino do Sabar, nem doutor de Minas Novas
em ocasio que ele respondente ai se achasse; porque nunca nas ditas
conversaes estiveram mais que as pessoas que tem declarado; nem ele
respondente conhece nenhum doutor pequenino das partes do Sabar, nem,
doutor de Minas Novas.
Foi mais perguntado, quem era a pessoa
pela qual mandou convidar para a sedio a Francisco Antnio de
Oliveira Lopes?
Respondeu que nunca mandou convidar para
entrar na sedio a Francisco Antnio de Oliveira Lopes; nem ele
respondente sabia que o dito Francisco Antonio fosse convidado, ou
tivesse prestado o seu consentimento para a sedio.
E sendo instado, que dissesse a verdade;
porquanto constava, por haver quem dissesse, que ele respondente tinha
mandado convidar por certa pessoa a Francisco Antnio de Oliveira Lopes
para entrar na sedio?
Respondeu, insistindo no mesmo que tem
declarado; e que no pode haver pessoa que com
verdade diga que ele respondente convidou para
o levante ao dito Francisco Antnio de Oliveira;
porque est certo de que nunca tal fez.
E por agora houve o dito Ministro
Conselheiro estas perguntas por findas, as quais sendo lidas ao
respondente achou conformes com as suas respostas; e deferindo-lhe
juramento, pelo que respeitava a terceiro, do que dou f, debaixo dele
declarou ter dito a verdade; e declaro com o Escrivo assistente que
neste ato esteve o ru livre de ferros; e de tudo mandou o dito
Conselheiro fazer este auto, em que assinou com o mesmo respondente, e
Ministro Escrivo assistente; e eu, Francisco lvares da Rocha, Escrivo
da Comisso que o escrevi e assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier
Auto de continuao de perguntas
feitas ao Alferes Joaquim Jos da Silva Xavier.
Ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil setecentos e noventa e um, aos sete
dias do ms de julho, nesta cidade do Rio de Janeiro
e cadeias da relao da mesma cidade; aonde foi
vindo o Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier
de Vasconcellos Coutinho, do Conselho de Sua Majestade
e do da sua Real Fazenda, Chanceler da relao da
dita cidade e Juiz da Comisso expedida contra os
rus da Conjurao formada em Minas Gerais, junto
comigo, o Desembargador Francisco Lus lvares da
Rocha, Escrivo da mesma Comisso, e o Intendente
nomeado da Comarca de Vila Rica, Jos Caetano Cesar
Manitti, tambm Escrivo da mesma diligncia, para
efeito de se continuarem perguntas ao Alferes Joaquim
Jos da Silva Xavier preso em segredo nas mesmas
cadeias; e sendo a mandou vir o dito ru sua
presena, e lhe continuou as perguntas pela maneira
seguinte.
E sendo-lhe lidas as perguntas
antecedentes, e perguntado se estavaza conformes, e se as ratificava?
Respondeu que eram as mesmas respostas
que tinha dado, que estavam conformes e que as ratificava.
Foi perguntado se sabe quem falou, e
induziu Domingos de Abreu Vieira para entrar na sedio e motim?
Respondeu que no sabe com certeza quem
falou, e resolveu a Domingos de Abreu Vieira para
dar o seu consentimento para entrar na sublevao;
que verdade que ele respondente falou ao dito
Domingos de Abreu para que quisesse entrar no
levante; porm, nessa ocasio, o dito Domingos
de Abreu virou as costas, benzendo-se da proposio
dele respondente: e que a primeira pessoa, a quem
ouviu dizer que o dito Domingos de Abreu entrava
no levante, foi ao Padre Jos da Silva de Oliveira
Rolim; porque estando ele respondente em uma ocasio
com o Padre Jos da Silva conversando no levante
em casa do dito Domingos de Abreu, de quem o dito
padre era hspede, sucedeu entrar no quarto em
que estavam conversando o dito Domingos de Abreu;
e ento disse o dito Padre Jos da Silva a ele
respondente, aqui est o velho que tambm est
capacitado para entrar na sedio.
Foi mais perguntado, s vezes, que em
casa de Domingos de Abreu falou com este, e com o Padre Jos da Silva
de Oliveira Rolim; e as prticas que nessas ocasies houve?
Respondeu que algumas vezes falou no
levante em casa de Domingos de Abreu Vieira, conversando com ele e com o
Padre Jos da Silva de Oliveira Rolim sobre a matria; o que seria at
duas vezes, segundo sua lembrana; porm, que, como tem ado tanto
tempo, desde ento at agora, a ele respondente no lembra as
palavras que cada um disse; mas que naturalmente falando-se no levante,
cada um diria o que sabia: e que sem estar presente o dito Domingos de
Abreu, algumas vezes mais foi ele respondente visitar o Padre Jos da
Silva de oliveira Rolim, e falaram na sublevao; mas que a ele
respondente no lembra com certeza quantas vezes foi visitar o dito
padre casa de Domingos de Abreu, que poderia ser at quatro vezes, e
que tambm lhe no lembra com formalidade as prticas, que ento
tiveram, respectivas ao levante.
Foi mais perguntado, se com efeito o
Capito Maximiliano e mais alguns oficiais da tropa entravam no
levante; o que agora devia confessar no persistindo na negativa, em
que convencido pelos scios, a quem ele mesmo respondente confessou
que o dito Capito Maximiliano e os mais oficiais, que j lhe foram
nomeados, estavam firmes para entrar na sublevao?
Respondeu que nesta matria no tinha
mais que dizer do que aquilo mesmo, que j tem declarado nas respostas
s perguntas que sobre esta matria lhe foram feitas.
Foi instado que dissesse a verdade, que
tinha desfigurado em parte, e em outra parte negado; porquanto tendo
confessado haver falado para entrar no levante ao Capito Maximiliano,
acrescentou que ele, depois de ficar pensativo, lhe respondeu que se
soubera que ele respondente falava de verdade, e seriamente, iria
denunci-lo; quando, pelo contrrio, consta que o dito Capito
Maximiliano prestara o seu consentimento para entrar na sublevao, e
motim; tanto assim, que estando ele respondente com os mais scios
conversando no levante em casa do Tenente-Coronel Francisco de Paula, e
entrando o dito Capito Maximiliano, pararam os scios com a conversao
em que estavam, e ento dissera ele respondente que podiam continuar;
porque o dito capito era dos nossos; cuja expresso s podia ter
lugar por estar ele respondente certo de que o dito capito tinha
prestado o seu consentimento para o levante; pois se ele lhe tivesse
dito que havia de denunciar a ele respondente, no devia querer que os
scios falassem naquela matria na presena do dito capito; nem
havia de afirmar que ele era do seu partido.
Respondeu que tudo o que consta da instncia
falso; porquanto, nem o Capito Maximiano, ou
Maximiliano, entrou nunca em casa do Tenente-Coronel
Francisco de Paula em ocasio que ele respondente
estivesse com os mais scios, falando no levante,
nem era possvel que ele respondente ou outra
alguma pessoa dissesse que podia continuar a conversao,
por ser o dito capito dos nossos; porque no
tendo ele l ido nessa ocasio, no cabia, nem
tinha lugar semelhante expresso.
E logo no mesmo ato mandou o dito
Conselheiro vir sua presena Francisco de Paula Freire de Andrade e
o Vigrio da Vila de So Jos, Carlos Corra, tambm presos nos
segredos das mesmas cadeias; os quais ambos, sendo presentes com o
acareado dito alferes, se reconheceram mutuamente, do que dou f; e
pelo dito Conselheiro lhes foi deferido juramento a uns, e outros, pelo
que respeita a terceiro debaixo do qual prometeram dizer a verdade, do
que tambm dou f; e lhes fez acareao pela maneira seguinte.
E sendo-lhes lida a acareao feita entre
o Vigrio Carlos Corra e o Tenente-Coronel Francisco
de Paula Freire sobre entrar o Capito maximiliano,
ou Maximiano, em casa do acareante Francisco de
Paula Freire de Andrade na ocasio em que se falava
no levante, e que, parando a conversao pela
chegada do dito capito, dissera ento o acareado
Joaquim Jos da, Silva Xavier que podiam continuar,
porque o dito capito era dos nossos; persistiram
firmes os acareantes Francisco de Paula Freire
e Carlos Corra de Toledo no que cada um disse
na dita acareao; e o acareado Alferes Joaquim
Jos da Silva, depois de repetir o mesmo que tinha
dito na sua resposta, querendo recorrer ao subterfgio,
de que havia equivocao nos acareantes; porquanto,
quem entrara em certa ocasio em casa do acareante
Francisco de Paula, estando se falando nas preciosidades
da Amrica, fora ele respondente; e que ento
parara a conversao, fazendo o acareante Francisco
de Paula sinal para isso a seu cunhado Jos Alvares
Maciel; de cujo subterfgio sendo convencido,
por ser impossvel que o Comandante da Tropa,
dito tenente-coronel acareante se equivocasse,
falando em sua casa com o Capito Maximiliano
digo por ser impossvel que, entrando em sua casa,
o acareado se equivocasse, julgando que era o
Capito Maximiliano, aos quais devia conhecer
muito bem, e da mesma forma o acareante Carlos
Corra; - nem o sinal que o acareado diz que o
acareante Francisco de Paula Freire fizera a seu
cunhado, para que parasse a conversao pela chegada
dele acareado, podia equivocar-se com a voz -
de poder continuar a conversao por ser o dito
capito dos nossos - vista do que o acareado
Joaquim Jos da Silva, ouvindo a firmeza com que
os acareantes persistiam no que tinham dito, principiou
a vacilar, e por fim ficou em que podia ser verdade
tudo quanto os acareantes diziam nesta matria;
mas que a ele acareado lhe no lembra de modo
algum nada do que os acareantes diziam nesta acareo.
E por esta forma, houve o dito Ministro
Conselheiro esta acareao por feita, a qual sendo por mim lida ao
acareado e acareantes acharam estar conforme com o que cada um
respondido tinha; e declaro que a este ato estiveram, uns e outros,
livres de ferros, do que dou f com o Ministro Escrivo assistente; e
de tudo mandou o mesmo Conselheiro fazer este auto, em que assinou com
os acareantes e acareados e o Escrivo assistente; e eu, Francisco Lus
Alvares da Rocha, Escrivo da Comisso, o escrevi e assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus Alvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Francisco de Paula Freire de Andrade
Carlos Corra de Toledo
Joaquim Jos da Silva Xavier
Ano
do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo
de mil setecentos e noventa e um, aos quinze dias
do ms de julho, nesta cidade do Rio de Janeiro
e cadeias da relao dela, aonde foi vindo o Desembargador
Conselheiro Juiz da Comisso expedida contra os
rus da Conjurao formada em Minas Gerais, Sebastio
Xavier de Vasconcellos Coutinho, comigo Escrivo
da mesma Comisso ao diante nomeado, e o Doutor
Jos Caetano Cesar Manitti, Escrivo assistente,
para o efeito de se continuarem perguntas ao Alferes
Joaquim Jos da Silva Xavier, preso incomunicvel
nas mesmas cadeias; e sendo a mandou vir sua
presena o dito ru, e lhe continuou as perguntas
pelo modo seguinte.
E sendo-lhe lidas as perguntas
antecedentes, e perguntado se estavam conformes, e ratificava as suas
respostas, com as declaraes que constam da acareao?
Respondeu que estavam conformes, e que as
ratificava como tinha respondido com a declarao feita por ele na
acareao.
Declara, porm, mais que, refletindo melhor,
se lembrava que era verdade ter chegado naquela
ocasio o Capito Maximiliano; e que o respondente
dissera que podia entrar, por ser familiar da
casa, e que por isso podiam continuar na conversao;
mas o dizer que era dos nossos, perseverava em
dizer que lhe no lembrava, na forma que declarou
na acareao.
Foi novamente perguntado pelas mais
pessoas, que ele respondente sabe, que entravam no levante, e a quem
tinha induzido para o dto fim; porquanto consta que, alm das pessoas
que tem declarado, havia outras, a quem ele respondente tinha induzido
para o partido do levante; tanto nesta cidade como em Minas Gerais e em
Del-Rey, o que agora deve declarar sem reserva alguma, como era
obrigado.
Respondeu que nem nesta cidade nem em
Minas Gerais, em So Joo Del-Rey, induziu pessoa alguma para entrar
no levante, nem sabe que para isso fossem por outros convidados; nem em
So Joo Del-Rey tem amizade com algum; e suposto que nesta terra
conhea algumas pessoas, por conta da sua habilidade de pr e tirar
dentes, com nenhuma tem amizade particular, e a nenhuma falou para o
levante, alm do ajudante Joo Jos Nunes Carneiro, como j dito
tem.
Foi perguntado, quem eram as pessoas de
maior representao que conhecia nesta cidade?
Respondeu que eram Possidnio Carneiro e
Antnio Ribeiro de Avellar, por ter ido casa dos mesmos por conta da
dita habilidade de pr e tirar dentes.
Foi mais perguntado, se algum deles falou
em alguma ocasio sobre a riqueza e preciosidade do Pais de Minas-, que
era a forma com que ele respondente principiava a sondar os nimos para
falar depois no levante?
Respondeu que nunca falou aos ditos em
nada disso.
Foi instado que dssesse a verdade, porquanto
constava que ele respondente tinha em Minas Gerais,
em So Joo Del-Rey, sessenta pessoas prontas
para auxiliarem o levante; e que assim o dissera
ele respondente a alguns dos seus scios?
Respondeu que no os tinha, nem disse
tal a pessoa alguma.
E logo no mesmo ato mandou o dito
Conselheiro vir sua presena o Vigrio Carlos Corra de Toledo
para fazer acareao ao respondente, e sendo a se reconheceram
mutuamente um e outro, e ambos sendo-lhes deferido o juramento pelo que
respeita a terceiro, do que dou f, debaixo dele prometeram dizer a
verdade; e lhes fez a acareao pelo modo seguinte.
E sendo-lhes lida a acareao feita com
o acareante Carlos Corra de Toledo e Joaquim
Silvrio dos Reis, que se acha no apenso das perguntas
feitas ao acareante Carlos Corra de Toledo, na
qual disse o mesmo acareante que tinha ouvido
em casa de Francisco de Paula Freire de Andrade
ao acareado Joaquim Jos da Silva Xavier, que
na Comarca de So Joo Del-Rey havia mais de sessenta
homens que seguiam o partido do levante, aos quais
tinha reduzido ele acareado; e que entre eles
havia muitos de grandes possibilidades, e que
estavam prontos a concorrer para este negcio,
e gastarem at o ltimo real; e sendo ouvido por
ambos, acareante o acareado. Disse o acareante
que lhe parecia ter ouvido dizer ao acareado em
casa de Francisco de Paula Freire de Andrade,
que tinha na Comarca de So Joo Del-Rey homens,
digo Del-Rey mais de sessenta homens, os quais
estavam prontos para o levante, e que isto ,
o de que tem a lembrana que podia ter ouvido
ao acareado; e o mais que disse na acareao feita
com Joaquim Silvrio dos Reis no sustenta agora;
pois que poderia dizer ento o que no tinha dito,
pela grande perturbao em que ficou
com o dito Joaquim Silvrio naquele ato,
por acrescentar contra ele acareante na sua denncia, o que ele
acareante lhe no tinha dito; e que pelo contrrio lhe no sucedera
aquela perturbao com Igncio Corra Pamplona, e que se continuasse
a viver ficaria sempre seja amigo, porque dito Pamplona no denunciou
seno o que ele vigrio acareante com ele tinha ado; e o acareado
Joaquim Jos da Silva Xavier negou que se tal pudesse ter dito na
presena do dito acareante; e deu em razo, que se tal dissesse na
presena do acareante no deixaria tambm de os declarar pelos seus
nomes ao acareante, o qual por ser vigrio naquela comarca certamente
os havia de conhecer; e no que o acareante e acareado disseram neste ato
persistiram firmes. E por esta forma houve o dito Conselheiro esta
acareao por feita, a qual sendo-lhe por mim lida acharam estar
conforme com o que respondido tinham; e declaro com o Ministro Escrivo
assistente que o acarcante e acareado estiveram no mesmo ato livres de
ferros, do que damos f; e de tudo mandou o dito Conselheiro fazer este
ato, digo este auto, em que assinou com o acareante e acareado e
Ministro Escrivo assistente; e eu, o Desembargador Francisco Luis
Alvares da Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.
Vasconcelos
Francisco Lus lvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Carlos Corra de Toledo
Joaquim Jos da Silva Xavier
E
logo no mesmo ato sendo lidas as perguntas ao respondente
dito Joaquim Jos da Silva Xavier, as achou estarem
conformes com o que respondido tinha; e declaro
com o Escrivo assistente, que no mesmo ato esteve
tambm o respondente livre de ferros; e mais declaro,
que nas ditas perguntas vo cinco ressalvas, trs
com emendas e quatro (sic) com entrelinhas; o que
a na verdade, e de tudo mandou o dito Conselheiro
fazer este auto e declaraes, e assinou o mesmo
auto com o respondente, e Ministro Escrivo assistente;
e eu, Francisco Lus Alvares da Rocha, Escrivo
da Comisso, que o escrevi e assinei.
Vasconcellos
Francisco Lus Alvares da Rocha
Jos Caetano Cesar Manitti
Joaquim Jos da Silva Xavier
Inquirio
da testemunha, que abaixo se contm
Aos trinta dias
do ms de julho de mil setecentos e noventa e um,
nesta cidade do Rio de Janeiro e casas da residncia
do Desembargador Conselheiro Sebastio Xavier de
Vasconcellos Coutinho, do Conselho de Sua Majestade
e do da sua Real Fazenda, Chanceler da Relao desta
cidade e Juiz da Comisso expedida contra os rus
da Conjurao formada em Minas Gerais, aonde eu,
o Desembargador Francisco Lus Alvares da Rocha,
Escrivo da mesma Comisso, vim para efeito de ser
inquirido Antnio Ribeiro de Avellar, natural e
morador, como abaixo se dir sobre o referimento,
que nele fez Joaquim Jos da Silva Xavier, de o
conhecer e ter ido sua casa; de que para constar
fiz este termo; e eu, Francisco Luis Alvares da
Rocha, Escrivo da Comisso, que o escrevi.
Antnio Ribeiro de
Avellar, professor na Ordem de Cristo, de idade
de cinqenta e dois anos, casado, natural de Santa
Ana da Canota, termo de Alenquer, morador nesta
cidade e negociante desta praa, testemunha jurada
aos Santos Evangelhos, de que dou f, debaixo
do qual juramento prometeu dizer a verdade do
que lhe fosse perguntado. E sendo perguntado pelo
dito referimento, disse que tinha conhecimento
com o Alferes Joaquim Jos da Silva desde o tempo
da Guerra do Sul, em que veio a esta cidade a
tropa da Capitania de Minas, na qual j o dito
Joaquim Jos era Alferes; e desde ento, sempre
quando vinha a esta cidade, ia casa dele testemunha
com freqncia, exceto esta ltima vez, em que
foi preso, que poucas vezes foi sua casa; e
nunca ele testemunha lhe ouviu palavra alguma,
pela qual mostrasse ter o menor intento, nem lembrana
de tratar de sublevar as Minas; nem lhe consta
que nesta cidade, ia casa dele testemunha com
freqncia, exceto esta ltima vez, gncia de
semelhante intento. E mais no disse, nem dos
costumes, o assinou com o dito Conselheiro; e
eu, Francisco Luis Alvares da Rocha, Escrivo
da Comisso, que o escrevi.
Vasconcelos
Antnio Ribeiro de Avellar
No mesmo dia, ms e ano, atrs declarado
por f do Meirinho da Relao Domingos Rodrigues me constou que
Possidnio Carneiro se achava com molstia de So Lzaro, to
adiantada que estava intratvel e incapaz de se falar com ele; de que
para constar fao este termo; e eu, Francisco Lus Alvares da Rocha,
Escrivo da Comisso, que o escrevi e assinei.
Francisco Luis Alvares da
Rocha
(Extrado de "Autos
de Devassa da Inconfidncia Mineira" - publicao
autorizada pelo Doc. n 756-A, de 21 de abril de
1936 - Vol. IV, Rio de Janeiro, 1936, Ministrio
da Educao, Biblioteca Nacional, pp. 29 a 101).
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