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Getlio Vargas
Voz de
Getlio Vargas
0:23' |
A Carta-Testamento
Getlio
Vargas
(24/08/1954)
Na madrugada de 24 de agosto de 1954, o presidente Getlio Vargas
cometeu o suicdio com um tiro no corao, mas antes desse ato,
escreveu uma carta na qual apresentava os motivos dessa atitude. |
" Mais uma vez, as foras
e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se
desencadeiam sobre mim."
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No me acusam, insultam; no
me combatem, caluniam e no me do o direito de defesa. Precisam
sufocar a minha voz e impedir a minha ao, para que eu no
continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente
os humildes. Sigo o destino que me imposto. Depois de decnios
de domnio e espoliao dos grupos econmicos e financeiros
internacionais, fiz-me chefe de uma revoluo e venci. Iniciei o
trabalho de libertao e instaurei o regime de liberdade social.
Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braos do povo. A
campanha subterrnea dos grupos internacionais aliou-se s dos
grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do
trabalho. A lei de lucros extraordinrios foi detida no
Congresso. Contra a Justia da reviso do salrio mnimo se
desencadearam os dios. Quis criar liberdade nacional na
potencializao das nossas riquezas atravs da Petrobrs; mal
comea esta a funcionar, a onda de agitao se avoluma. A
Eletrobrs foi obstaculada at o desespero. No querem que o
trabalhador seja livre. No querem que o povo seja independente. |
Assumi o Governo dentro da
espiral inflacionria que destrua os valores do trabalho. Os
lucros das empresas estrangeiras alcanavam at 500% ao ano. Nas
declaraes de valores do que importvamos existiam fraudes
constatadas de mais de 100 milhes de dlares por ano. Veio a
crise do caf, valorizou-se o nosso produto. Tentamos defender
seu preo e a resposta foi uma violenta presso sobre a nossa
economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
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Tenho lutado ms a ms, dia
a dia, hora a hora, resistindo a uma presso constante,
incessante, tudo ando em silncio, tudo esquecendo,
renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda
desamparado. Nada mais vos posso dar a no ser meu sangue. Se as
aves de rapina querem o sangue de algum, querem continuar
sugando o povo brasileiro, eu ofereo em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre ao vosso lado. Quando a fome
bater vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a
luta por vs e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis
no meu pensamento a fora para a reao. Meu sacrifcio vos
manter unidos e meu nome ser a vossa bandeira de luta. Cada
gota de meu sangue ser uma chama imortal na vossa conscincia e
manter a vibrao sagrada para a resistncia. Ao dio
respondo com o perdo. E aos que pensam que me derrotaram,
respondo com a minha vitria. Era escravo do povo e hoje me
liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo no
mais ser escravo de ningum. Meu sacrifcio ficar para
sempre em sua alma e meu sangue ter o preo do seu resgate. |
Lutei contra a espoliao do
Brasil. Lutei contra a espoliao do povo. Tenho lutado de peito
aberto. O dio, as infmias, a calnia, no abateram meu
nimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereo a minha morte.
Nada receio. Serenamente dou o primeiro o no caminho da
eternidade e saio da vida para entrar na Histria." |
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