Gois i6436
Ascendino Caixeta da Silva
teria sido preso em dezembro de 1999 sob suspeita de roubo
e levado para a delegacia de Valparaiso, Gois, onde,
segundo informaes recebidas pelo Relator Especial, teria
sido espancado por policiais. Ele teria sido transferido
posteriormente para a delegacia de Luzinia onde novamente
teria sido espancado. Visitas teriam visto as leses em
seu corpo compatveis com seus relatos de espancamento.
Ele teria deposto sobre o incidente. No entanto, seu depoimento
teria desaparecido dos arquivos do processo instaurado.
Uma denuncia teria sido aberta pelo Corregedor de Polcia.
O Relator Especial gostaria de ser informado acerca do
resultado desse inqurito.
Jos Roberto Leite da Silva
teria sido detido por policiais a paisana, porm fortemente
armados na cidade de Pendegal, no dia 24 de agosto de 1999. Ele
teria testemunhado troca de tiros na rua. Ele teria sido chutado
no estmago e ameaado de morte. Um garoto de nove anos,
testemunha do incidente, teria sido preso na mesma ocasio. A
cabea do garoto teria sido coberta com uma sacola e ambos teriam
sido levados para um local desconhecido. Depois, eles teriam sido
levados para o quartel da Policia Militar, onde Jos Roberto
Leite da Silva teria sido torturado at a morte. Ele teria
recebido choques eltricos. Fios eltricos teriam sido
conectados as suas algemas. Ele teria morrido na manh seguinte.
O garoto foi solto na mesma manh. O pai da vtima tentou
registrar o incidente por dois meses mas a polcia teria recusado
tomar seu depoimento. O garoto teria reconhecido um dos policiais
supostamente responsvel pela morte de Jos Roberto Leite da
Costa. O corpo de Jos Roberto foi encontrado no dia 26 de
agosto, em Luzinia (a 200 km de Pendegal) e foi enterrado sem
nome e como indigente. Mais tarde, o corpo foi exumado. Uma autpsia
revelou marcas de trs tiros no rosto assim como 30 ferimentos
por todo o corpo, o que confirmava a verso de que ele sofrera
torturas. Sua genitlia teria sido arrancada. Segundo informaes
recebidas pelo Relator Especial, no dia 09 de setembro de 1999, a
Comisso de Direitos Humanos da Cmara dos Deputados gravou o
depoimento do garoto e encaminhou o arquivo do caso ao Ministrio
Pblico. O Governador do estado teria prometido que os responsveis
seriam levados justia e que seria paga uma indenizao ao
pai da vtima. Nove policiais, inclusive o comandante da tropa,
estariam aguardando julgamento sob a acusao de homicdio,
tortura, abuso de autoridade e uso indevido de equipamento
policial. O pai da vtima e o garoto teriam recebido ameaas de
morte. O Relator Especial gostaria de ser informado sobre o
resultado desses julgamentos e as medidas tomadas para proteger as
vtimas, especialmente o garoto que seria um rfo sob proteo
do estado de Gois.
Sandro Pereira, de Padefe
(Minas Gerais), teria sido preso por policiais civis na casa de
seu pai em Lago Azul, no dia 24 de maio de 1999. s 4 horas da
manh, pessoas mais tarde identificadas como policiais bateram
sua porta e chamaram o nome de sua esposa. Quando Sandro abriu a
porta, essas pessoas o teriam jogado ao cho e chutado com fora.
Um mandado de priso teria sido apresentado a ele. Sandro teria
sido levado ento numa viatura 6a. Delegacia de
Parano, no Distrito Federal de Braslia. Sandro Pereira
perguntou porque estava sendo levado preso, mas no teria
recebido nenhuma resposta. Na delegacia, Sandro teria sido
colocado numa cela. Duas ou trs horas depois, ele teria sido
levado a uma pequena sala onde teria sido amarrado e algemado. Um
policial teria espancado Sandro, principalmente nos ouvidos usando
a tortura do "telefone". s 5:30 da tarde, Sandro foi
levado mesma sala, onde encontraria um colcho molhado no cho.
Ele teria sido forado a ajoelhar-se no colcho e tornou a ser
espancado no rosto e nos ouvidos. Os policiais teriam tirado as
algemas dele e forado que ele se despisse. Eles teriam atado com
duas grandes amordaas seu rosto ao seu pescoo e seus dois ps.
Depois disso eles o teriam pendurado de cabea para baixo em um
balde cheio de gua. Cinco policiais o teriam interrogado sobre
algum que ele no conhecia. Em vrias ocasies eles teriam
afrouxado a corda e sua cabea submergia na gua. Quando ele
derrubou o balde, um policial teria dito que eles teriam mais gua.
Quando Sandro Pereira disse que no sabia o que os policiais
queriam, os mesmos comearam a espanc-lo nas costas com um cabo
de madeira. Um policial o teria colocado no colcho molhado com
artefatos em suas coxas e a boca tapada. Ele, ento, teria
recebido choques eltricos e comeado a tremer e sangrar pela
boca. Os policiais teriam aumentado os choques e dito que como ele
era "grande e forte", ele "poderia agentar
bastante". Eles jogaram gua em seu rosto. Devido s
amarras que cobriam seu nariz e boca, ele no podia respirar. No
princpio da noite, ele foi levado de volta cela. No dia
seguinte, entre 5 e 6 da tarde, na troca de turnos, ele teria sido
levado mesma sala e submetido a "tortura do telefone"
por aproximadamente trinta minutos. Ele teria sido forado a
sentar numa cadeira e quatro policiais em p, a suas costas, o
interrogavam e espancavam. Sandro teria comeado a sangrar por um
ouvido. Um dos policiais teria pisado em seu peito enquanto os
outros o chutavam e batiam. A delegada teria ordenado aos seus
colegas que continuassem espancando Sandro at que ele falasse.
Sandro Pereira teria conseguido ar uma nota a outro detento
que deixava a delegacia para informar sua famlia de sua deteno.
Na manh seguinte, sua famlia, acompanhada por um advogado
teria chegado delegacia no momento em que Sandro estaria sendo
transferido para a delegacia de Parano. Ele teria podido falar
com sua famlia sob condio de que no mencionasse as
torturas que sofrera, caso contrrio seria morto. Teria recebido
camisa de mangas compridas, calas compridas e algodo teria
sido colocado no ouvido que sangrava. Ele teria sido instrudo a
dizer que tinha gua no ouvido. Segundo informaes recebidas
pelo Relator Especial, trs policiais estavam presentes na sala
em que ele encontrou a famlia. Seu pedido de ficar a ss com os
familiares teria sido negado. Quando sua famlia partiu, ele
teria sido colocado numa viatura, espancado e perguntado onde
moravam os outros. Depois disso, teria sido levado para uma
estrada de terra e, em um certo momento, ordenado que descesse do
carro e corresse, ainda com as algemas, por causa de um suposto
pneu furado. Pensando que ele poderia ser executado se assim
procedesse, ele recusou e disse aos policias que teriam que atirar
nele dentro da viatura. Ele teria, ento, sido levado de volta
para a delegacia de Parano onde sofreria novo espancamento.
Parentes de outro detento reportaram terem visto Sandro estendido
no cho de uma sala. Logo aps, ele teria sido trancado em uma
cela individual por oito dias. Ele teria sido ameaado de morte.
Como conseqncia das torturas Sandro estaria sofrendo de uma
infeco no ouvido e pus estava escorrendo de seu ouvido. Os
policiais teriam percebido que seu ouvido estava infectado e ele
teria sido levado para o Hospital Sobradinho onde ele foi tratado
por um especialista de otorrino que afirmou que ele no possua
mais tmpanos. Ele teria sido examinado na presena de quarto
policiais que teriam respondido as perguntas do mdico. Um dos
policiais teria dito que Sandro teria gua no ouvido, no entanto,
Sandro indicou com as mos que sofrera a tortura do
"telefone". O mdico teria recusado entregar o laudo mdico
aos policiais. O laudo mdico confirmaria as alegaes de
tortura. Por volta das 5:30 da tarde, Sandro Pereira teria sido
levado de volta mesma sala na delegacia e espancado novamente.
Ele foi, ento, levado de volta a cela individual onde ele tentou
se enforcar com sua camisa. Sandro teria sido retirado da cela por
um policial que tentou evitar que ele cometesse suicdio. Ele
teria sido levado para outra cela com outros detentos. No dia
seguinte, ele teria obtido permisso para ver sua famlia mas na
presena de um policial. Ele, novamente, teria sido instrudo
para no falar do tratamento que estava sofrendo. No entanto,
quando o policial foi chamado e deixou a sala, Sandro Pereira
teria conseguido mostrar a sua famlia os ferimentos e contou a
eles sobre os choques eltricos. Ele teria dito a eles para irem
ao Tribunal para denunciar o que estava acontecendo com ele.
Segundo informaes recebidas pelo Relator Especial, ele foi
examinado por um promotor pblico e transferido para a 2a.
Delegacia, conhecida como Pisa Norte. Ele teria sido despido e
instrudo como deveria explicar as marcas no seu corpo ao mdico
legista que o examinaria no dia seguinte. Ele teria mostrado todas
as marcas ao mdico legista no IML e contado sobre as torturas
que teria sofrido. O laudo mdico expedido nesse dia teria
mencionado que no haviam sido observados sinais de ferimentos.
Depois disso, ele teria sido ameaado de ser transferido para a
pior delegacia de Braslia. Ele teria mostrado todas as marcas na
2a Delegacia e o delegado teria ordenado que ele fosse
mantido incomunicado pelos prximos 30 dias, at que seus
ferimentos sarassem. Depois de vrios pedidos e depois que Sandro
sofrera uma convulso, ele teria sido levado ao hospital pblico
onde pediu um exame de raio X de todo seu corpo. Um cogulo de
sangue teria sido descoberto em seu estmago. Ele pediu para que
o mdico anotasse todos os ferimentos que ele apresentava. Um dia
depois, ele foi levado de volta ao IML onde dois mdicos o
examinaram. Desta vez eles teriam descrito todos os ferimentos em
detalhes no laudo mdico emitido. Logo aps, ele retornou a 2a
Delegacia. Alguns dias depois, ele teria sido ouvido por um juiz
que pediu que ele identificasse os policiais responsveis, coisa
que ele teria feito. Os policiais teriam ameaado de morte a ele
e aos membros de sua famlia se ele os identificasse. Segundo
informaes recebidas pelo Relator Especial, ele teria sido
preso tomando como base o depoimento de uma testemunha que o
acusara de participar de um roubo de quadrilha. O juiz teria
emitido um pedido de priso de cinco dias, prolongveis por
outros cinco dias (priso temporria), mas ele teria sido
mantido em uma delegacia por 76 dias sem sequer ver o juiz uma
vez. Depois dos primeiros dez dias, o juiz teria feito um pedido
de priso preventiva. At aquele ponto, nenhuma evidncia
substancial de seu envolvimento com quadrilhas ou roubo fora
levantada. A acusao teria sido ento reduzida participao
numa quadrilha, que no seria sujeita pena de deteno.
Depois de cinco meses, Sandro teria sido inocentado das acusaes.
Durante o julgamento, teria sido provado que os depoimentos
implicando Sandro Pereira foram obtidos sob tortura. Seus exames mdicos
foram mostrados ao juiz responsvel pelo seu julgamento e o
advogado da acusao a fim de abrir um novo processo sobre as
alegaes de tortura. O advogado da acusao teria dito que no
gostaria de continuar com o caso. No se sabe se alguma medida
foi tomada com respeito s torturas. Por ocasio da entrevista
do Relator Especial, no dia 21 de agosto de 2000, marcas compatveis
com os relatos, como por exemplo, uma cicatriz em seus tornozelos,
ainda eram visveis.
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