
EDUCANDO
PARA OS DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS PARA UMA PRTICA TRANSFORMADORA.
Prof.
Joo Ricardo W. Dornelles
PRIMEIRAS
LINHAS
Educar
para os Direitos Humanos se relaciona diretamente com a dimenso da consolidao
de prticas scio-polticas democrticas Por prticas scio-polticas
democrticas entendemos as inmeras relaes sociais que se estabelecem no
seio das sociedades, abrangendo no apenas as formas institucionais, mas
atingindo diretamente as formas organizadas expressas pela sociedade civil. No
se trata, portanto, somente da institucionalidade democrtica, formalizada
nos rituais legislativos e nos momentos de sufrgio. a a ser uma expresso
mais ampla que nasce e penetra o tecido da sociedade em suas diferentes relaes
e pluralidade de interesses.
Dessa
maneira, para falarmos de uma Educao para os Direitos Humanos teremos que
dar sentido ao significado do que so os direitos humanos e do que a educao.
Estaremos tratando, portanto, o que autores como Prez Aguirre, Juan Jos
Mosca, Letcia Olgun,
Alfredo Bosi, entre outros, chamam de duas expresses complexas que aparecem
articuladas. Dessa forma estaramos falando de uma educao especial ?
Sem
dvida a questo s pode ser tratada quando agregamos a ela uma anlise de
situaes concretas, de sociedades e experincias reais. Assim, possvel
vislumbrar o terreno onde estamos entrando.
Portanto,
tratar do tema da educao, dos direitos humanos e, especialmente, de uma
educao voltada para os direitos humanos nos leva ao tratamento das questes
referentes aos procedimentos pedaggicos, escola, aos campos da educao
formal e informal, e s pautas e instrumentos que possibilitem uma ao
pedaggica libertadora. E ao se falar em uma pedagogia libertadora, falamos
em uma educao no campo dos direitos humanos.
Nas
sociedades contemporneas a Escola considerada o principal lugar onde
encontramos as prticas pedaggicas de formao da conscincia social, de
consolidao dos valores, adestrando condutas, formando um tipo de ser
humano que vai atuar no contexto social.
Assim,
a anlise sobre o papel desempenhado pela Escola nas sociedades contemporneas
requer uma avaliao sobre as caractersticas da formao social sobre a
qual se est trabalhando.
Avaliar
a Escola tambm buscar entender o Processo Pedaggico. E por Processo
Pedaggico se deve entender o processo de transmisso da experincia, do
saber, das crenas e valores de uma determinada sociedade.
Quando
falamos de Escola, estamos nos referindo a uma instituio que se
desenvolveu a partir da complexificao das sociedades contemporneas.
Assim, a Escola, enquanto espao especfico e privilegiado de formao,
transmisso de conhecimento, divulgao de valores e constituio da
conscincia social, se consolida em sociedades plurais, diversificadas e
complexas, de corte urbano-industrial.
Como
afirmou Frei Betto, nas sociedades primitivas no existe o momento Escola. A
realidade do cotidiano no compartimentada. Todo o cotidiano se constitui
em um momento pedaggico. No existe um momento especfico para o aprender.
A vida, a natureza, as relaes sociais so a escola. a experincia
vivida de um processo de transmisso do saber, que totalizante.
No
processo de aprendizagem e apropriao da realidade se estabelece uma relao
Ser-Natureza, onde as relaes de vida do cotidiano se revelam como um
processo pedaggico, um processo educativo.
A
Escola, como instituio, aparece, como um momento especial do cotidiano,
com a progressiva diviso social do trabalho. Com a complexidade das
sociedades divididas em classes, com o cotidiano marcado pelas necessidades da
produo, a vida foi compartimentada em diferentes momentos, constituindo
sistemas autnomos, com regras prprias, com uma lgica prpria etc.
Constitui-se uma rede de instituies com tarefas especficas acompanhando
a diviso social do trabalho: Igreja, Famlia, Escola, Sindicatos, Associaes,
Clubes etc. E, dessa maneira, a lgica do momento Escola a de ser o espao
formal de sistematizao do aprendizado funcional-instrumental para uma
sociedade complexa, plural e diversificada. O espao privilegiado da produo,
transmisso, divulgao e reproduo legitimada dos valores, crenas, smbolos
e representaes de uma sociedade. Local de aprendizagem, onde se
sistematiza o conhecimento a ser transmitido, onde se divulga um
"discurso competente", um saber formalmente codificado.
Embora
no seja apenas na Escola que se produz e reproduz um saber determinado,
nela que tais conceitos aparecem sistematizados, codificados. o local onde
se define o espao institucional pedaggico.
a
a existir, portanto, uma diviso positivista-cartesiana da realidade, que
destri a concepo holstica da vida. O processo de fragmentao da
realidade tem como desdobramento a fragmentao do processo pedaggico.
Trabalhar,
portanto, com uma concepo holstica no campo da educao nos leva ao
tema do papel da Escola numa sociedade democrtica. E aqui temos diferentes
dimenses: a) a Escola como instituio; b) a democratizao da sociedade
e o papel da Escola; c) a democratizao da prpria Escola.
Mesmo
que no venhamos a tratar de todos esses pontos no presente trabalho,
fundamental percebermos que essas trs dimenses se articulam na constituio
da cidadania.
Falar
em democratizao e a sua relao com a Escola nos obriga a tratarmos da
conscincia social. E a conscincia humana produto da prxis, da
atividade dos sujeitos sociais. A conscincia social resultado da relao
entre pessoas, e destas com o mundo. A conscincia social democrtica se
diferencia da conscincia autoritria por se basear na diferena, na
pluralidade, na existncia e no reconhecimento do "Outro". Assim, a
conscincia social democrtica exige transparncia.
No
contexto das sociedades capitalistas, principalmente nas de desenvolvimento
capitalista tardio, a educao e a cultura no contribuem para a formao
de uma conscincia social democrtica. Como vimos anteriormente, reproduzem
mecanismos de alienao, manipulando informaes, encobrindo a essncia
da realidade, atravs de mistificaes do real.
Assim,
a Escola ou a ser um espao onde as classes mdias e altas buscam a
"eficincia profissional", desprezando o desenvolvimento tico,
humanista. Para as classes populares, a Escola ou a ser um espao
estranho, pela dificuldade de o e pela produo de um cdigo de
linguagem cifrada, invel para as classes subalternas.
As
classes populares deixam de ir para a Escola pois entram prematuramente no
mercado de trabalho, ou entram na Escola para receberem um adestramento
disciplinar das suas condutas e da formao (ou deformao) de sua conscincia.
Isso, muitas vezes, em troca da merenda escolar. O mais dramtico que no
quadro da ampliao da excluso a Escola deixa de ter a funo original
de socializao para uma sociedade produtivista onde o trabalho tem um papel
central. A sociedade do final do sculo XX deixou de ser a sociedade do
trabalho, o trabalho deixou de ser a referncia para todos. O neoliberalismo
e a globalizao levam a uma realidade de desespero onde as referncias
anteriores deixam de ter sentido. Entre as referncias em crise, a Escola
a por uma crise especfica. Que papel teria a Escola em um mundo novo, da
Revoluo Tecnolgica, onde somente poucos, ou pouqussimos, tero lugar
ao sol? E se esta Escola perde sentido, para que serve para as classes
subalternas? Para mant-las na subalternidade, sem dvida.
Estamos,
portanto, levantando pontos relevantes para o entendimento do papel da Escola
numa sociedade como a nossa, e as experincias de construo alternativa
que possibilitem uma prtica social e poltica democrtica e libertadora.
A ESCOLA E O PAPEL IDEOLGICO
DA EDUCAO: EM BUSCA DE ALTERNATIVAS
O
educador Paulo Freire j afirmou que no existe Educao fora das
sociedades humanas, como tambm no se pode pensar no ser humano isolado.
Nem a Educao se d num espao abstrato, nem o ser humano est no vazio.
Atravs
da histria, a Educao apresentou diferentes formas. Assim, a Educao s
pode ser compreendida dentro de um contexto scio-poltico e econmico,
desempenhando um papel fundamental na rede de instrumentos de controle social
e direo poltica e ideolgica, assegurando uma determinada ordem social
e visando perpetuao de uma dada concepo de mundo.
Dessa
maneira, o sistema educacional reproduz e divulga, atravs da Escola, um
conjunto de idias, de representaes simblicas da realidade, de valores
culturais e de formas de conduta que satisfaro s necessidades de reproduo
do modelo de sociedade.
A partir do sculo
XIX desenvolveu-se, sob a influncia do positivismo, o papel disciplinar,
normativo, adestrador e codificador da Educao. Entende-se, assim, que a
Educao um reflexo da estrutura de poder, dependendo, para a determinao
de seus objetivos, da correlao de foras existentes numa dada conjuntura
poltica. Dessa maneira, existiro limites mais, ou menos, flexveis para
modos de pensar, agir, relacionar-se, que no se coadunem com a ideologia
dominante. Por outro lado, cabe ressaltar que a ideologia dominante nem sempre
se apresenta de maneira uniforme, ou nem sempre aparece para o conjunto da
sociedade como uma clara expresso da vontade das classes que detm o poder.
A
Educao, portanto, um dos principais mecanismos de introduo dos
valores e idias que compem o padro considerado "normal" da
sociedade, visando o consenso em relao ordem vigente. Ou seja, um
privilegiado instrumento formador da conscincia social, que a a pautar
os relacionamentos e o tipo de compreenso que se tem da realidade. E essa
conscincia social formada a a ser divulgada e reproduzida, quando
internaliza contedos previamente definidos, impondo concepes de mundo e
de existncia que am a ser encaradas como verdades absolutas, inquestionveis.
Formam-se indivduos que daro continuidade a esse processo socializador,
atravs de uma contnua reproduo dos valores apreendidos.
E,
se a Educao apresenta algumas dessas caractersticas, o que notamos a
existnci/a de uma grave crise que ganha contornos especiais no contexto de
crise generalizada da sociedade.
"(...) a crise
do programa e da organizao escolar, isto , da orientao geral de uma
poltica de formao dos modernos quadros intelectuais, em grande parte
um aspecto e uma complexificao da crise orgnica mais ampla e
geral.".
Numa
sociedade, como a brasileira, em crise orgnica permanente, onde hoje a
disputa hegemnica acirrada, as contradies peram por completo o
espao social, alcanando todas as instituies, pblicas e privadas (da
sociedade poltica s formas de expresso da sociedade civil). Da Justia
e do Parlamento Famlia, da Igreja aos partidos polticos, das atividades
econmicas Escola. E tais contradies afetam tanto os professores,
quanto os alunos, os es, os funcionrios, os contedos dos
cursos, a estrutura curricular. Enfim, a educao como um todo a por um
questionamento, com reflexos negativos na sociedade.
Por
outro lado, constata-se que num quadro de crise e de intensa luta poltica e
ideolgica, alguns segmentos0 conservadores acreditam na hiptese da
neutralidade. E atravs da chamada "neutralidade educacional"
que se dilui o contedo ideolgico dos modelos educacionais impostos.
Na discusso sobre
o papel ideolgico da Educao, cabe a reflexo sobre o papel do professor
como agente social de transformao, capaz de sensibilizar para a formao
de uma nova conscincia crtica voltada para uma prtica realizadora que se
efetive na realidade social.
O
professor desempenha um papel especial na configurao hegemnica do poder.
Ele o responsvel direto da divulgao da ideologia reprodutora da
sociedade. Em outras palavras, da ideologia que representa os interesses e
necessidades das classes hegemnicas em uma sociedade democrtica. No
entanto, esse papel est condicionado pela correlao de foras existentes
na sociedade, pelo grau de polarizao poltica e pelo nvel de organizao
do movimento popular.
O
professor, em sua prtica acadmica, est condicionado pelas circunstncias
histricas que marcam a sociedade da qual ele faz parte. O educador Paulo
Freire, em seu livro j clssico "Pedagogia do Oprimido", afirma
que a Educao, e a tarefa do professor de educar, esto impregnadas pelos
conflitos de classe, e que durante o processo educativo a contradio antagnica
opressor-oprimido aparece de uma maneira bem particular. Podemos afirmar que no
apenas os conflitos de classe, mas tambm que as diferentes expresses de
manifestao da luta hegemnica am a impregnar a Educao, as prticas
pedaggicas e a ao do professor.
Em
sentido amplo, portanto, podemos afirmar que a prtica educadora no se
restringe Escola, mas se exerce tambm nos sindicatos, nas entidades da
sociedade civil, nas igrejas, na famlia, enfim, na sociedade como um todo.
O
processo educacional, assim, consiste em conhecer a realidade, em busca da
conscincia do real. Consiste na reflexo e na capacidade de interagir sobre
essa realidade. a ao e a reflexo sobre a realidade vinculadas ao
conhecimento, conscincia dessa realidade e possibilidade de transform-la.
Devemos
partir do geral para o particular. Do "macro-social" para os espaos
"micro" do cotidiano. Do papel desempenhado pelas classes sociais na
estrutura produtiva, pela marginalizao de grandes contingentes das classes
subalternas que deixam de ocupar um lugar no processo produtivo, ou da forma
como se organiza poltica, social e economicamente uma sociedade, para
chegarmos ao papel desempenhado pelo professor nas suas inmeras relaes
(como educador, como membro da comunidade escolar,
como cidado, etc.).
Assim
o ensino que temos em nossa realidade aparece, principalmente, como
instrumento de reproduo ideolgica e da reproduo de papis sociais.
A realidade da educao se expressa em relaes autoritrias,
hierarquizadas, verticalizadas, elitistas, aparentemente neutras e objetivas,
onde o educador "aquele que sabe tudo" (detentor de um
discurso competente; detentor de um saber hermtico), e o educando o
eterno ignorante que deve se submeter ao saber alheio, que deve se adaptar a
uma realidade que geralmente lhe adversa. a essncia da concepo
qual Paulo Freire denominou "Educao Bancria", e que permanece
como modelo pedaggico.
Pois
bem, essa "concepo bancria" da educao, predominante nas
nossas Escolas, elitista, autoritria, comprometida com a reproduo de
uma ordem injusta, excludente, desumana, e perpetua a existncia de relaes
de opresso. Os alunos so adestrados para receber acriticamente, sem reflexo,
sem anlise, uma srie de informaes (contedos curriculares) sobre as
quais no emitem opinio, no exercem o poder de escolha, e que no se
adequam ao ambiente vivenciado pelo educando. Recebem, quando muito, a tcnica,
o instrumental a ser utilizado acriticamente. So adestrados apenas para
manipular conceitos predeterminados que expressam um conhecimento parcelado da
realidade.
Dessa
maneira, o aluno a por um processo de reificao, tornado-se objeto a
ser preenchido por um contedo predeterminado. O ensino se constitui
numa transmisso de valores e conhecimentos preconcebidos destinados ao
adestramento comportamental e formao da conscincia, onde o aluno se
tornar funcional ao modelo de sociedade existente. E o modelo de
desenvolvimento neoliberal o da excluso ampliada.
Na verdade, a situao que encontramos na realidade brasileira a
de uma Escola Pblica que foi gradativamente deixando at mesmo de cumprir
essa destinao de reprodutora ideolgica e ou a ser um espao de
desqualificao dos filhos das
classes subalternas. Assim, no Brasil de hoje alm da expulso das crianas
pobres da Escola, a a existir a desqualificao e desvalorizao
social do professor e da professora, cuja remunerao (remunerao ?)
muitas vezes menor do que a de um trabalhador no qualificado.
Dessa
maneira, com a desqualificao do prprio modelo de reproduo ideolgica,
nas Escolas onde ainda existem algum tipo de prtica pedaggica, a
concepo dominante se limita narrao de contedos, o que leva
existncia daquele que narra, que a a ser o sujeito determinante da relao,
e daqueles que so apenas ouvintes ivos, os educandos. Esse tipo de educao
concebe a realidade como algo esttico, onde o ensino a a ser a transmisso
de um saber acrtico e a-histrico.
A
relao de opresso se reproduz continuamente. O saber visto como uma
doao feita pelos que sabem. Aos que no sabem resta o enquadramento, a
aceitao iva da "verdade" revelada, resta o silncio, a
obedincia, a repetio inconsciente. a reproduo da alienao e a
"socializao" da ignorncia que constituir noes
preconceituosas atravs da
mistificao e estigmatizao.
Esse
tipo de educao leva a que professores e alunos se alienem do seu papel
social. No h reflexo nem prxis. Sem prxis e sem reflexo crtica
da realidade no existe transformao. H uma relao de poder similar
relao entre opressores e oprimidos existente na sociedade.
O
modelo de Escola existente elimina a criatividade, o sonho, a alegria, a
capacidade humana de indignar-se, de ser crtico, de duvidar. A Escola
existente elimina a dimenso ldica do ser humano. Afasta o prazer, se torna
"chata", pouco atrativa, a a ser uma atividade mecnica,
repetitiva, maante.
A
educao "bancria" nega o dilogo, nega o saber dos alunos,
divulga um falso saber, desumaniza, nega o ser humano como ser criativo,
pensante, desejante, que reflete a sua prpria vida, e que vive uma realidade
podendo transform-la.
A
alternativa que nos interessa - principalmente quando falamos em educar para
os direitos humanos, ou quando identificamos que a construo de novos
paradigmas de transformao social tem por base esses princpios de
direitos humanos - a da
Educao dialgica, problematizadora, que considera os alunos, que
estabelece o dilogo, que reconhece o outro, que sabe que o verdadeiro
conhecimento forjado na prxis e no debate democrtico, que aceita as
diferentes experincias de vida e concepes de mundo, que faz com que os
educandos se desinibam e possam participar ativamente em todos os nveis da
vida, refletindo sobre a realidade e atuando sobre ela com o objetivo de
transform-la. Enfim, aquela que sabe que a atividade educacional uma
troca criativa de experincias de vida, em que o saber no um monoplio
de alguns "sbios". O conhecimento que ignora a realidade se
transforma numa mistificao, num falso saber, pois se dissocia da vida e
a a ser uma abstrao metafsica.
Dessa
maneira, os seres humanos so educados a partir das circunstncias
existentes na realidade. Do mesmo modo, os seres humanos educam a si mesmos
para transformar essas circunstncias.
Assim,
educandos e educadores se encontram num processo dialtico em que a criao
a a ser central. Portanto, pensarmos numa educao dialgica nos leva a
considerar tambm como fundamental o poder de criao. Por outro lado, no
possvel pensarmos em criao numa sociedade que exclui um enorme
contingente de pessoas dos benefcios sociais, da cidadania, do o s
condies bsicas de existncia. E, assim, excluindo a prpria capacidade
criativa. E aqui que aparece o desafio de uma nova educao que incorpore
em sua prtica uma linha de direitos humanos, como referncia bsica para o
reconhecimento e o exerccio prtico da cidadania.
E
estamos falando de uma sociedade marcada por um quadro de crise, por uma situao
histrica e conjuntural de excluso, por um contexto de afastamento do
Estado da responsabilidade social, com a crise das experincias do "Welfare
State", onde a a vigorar a iluso do mercado como soluo para uma
sociedade marcada pela desigualdade. E onde a Educao, mais do que nunca,
refora uma prtica tcnica, sem compromisso humano e social, refora uma
concepo neo-positivvista do discurso neutro e competente voltado para o
aumento da produtividade, sem consideraes ticas com as populaes
envolvidas. o reinado da tecnologia na vida humana, da razo instrumental,
utilitria, da razo cnica, a substituio dos princpios humanistas
que nortearam os ltimos sculos, com base em noes de liberdade, de
direitos, de solidariedade, que a a ser substituda pela frieza da competncia
tcnica.
E
nesse tenso quadro de uma crise de civilizao vivida neste final de sculo,
que a educao pode vir a desempenhar um papel importante na busca de novos
paradigmas. A construo de uma nova tica, uma nova conscincia social,
solidria, que se traduza em prticas scio-polticas transformadoras,
reforando e ampliando princpios humanistas e posturas democrticas que
consolidem os espaos de liberdade, de tolerncia e levante barreiras s
investidas de uma lgica fria e calculista que imagina que a vida humana e
social tem por base o mercado.
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