Projeto DHnet
Ponto de Cultura
Podcasts
Direitos Humanos
Desejos Humanos
Educao EDH
Cibercidadania
Memria Histrica
Arte e Cultura
Central de Denncias
Banco de Dados
MNDH Brasil
ONGs Direitos Humanos
ABC Militantes DH
Rede Mercosul
Rede Brasil DH
Redes Estaduais
Rede Estadual RN
Mundo Comisses
Brasil Nunca Mais
Brasil Comisses
Estados Comisses
Comits Verdade BR
Comit Verdade RN
Rede Lusfona
Rede Cabo Verde
Rede Guin-Bissau
Rede Moambique

Livros Direitos Humanos Direitos Humanos e6j36

Direitos Humanos em Moambique
Josu Bila

Parte I – Artigos
Captulo I
II
Jornalismo moambicano: Avanos e Desafios

Mesmice famosa na Imprensa1

“Liberdade de Imprensa no pode significar
monoplio do microfone ou da orelha dos outros...
garantir que exista espao na mdia
para que possamos ouvir e ver opinies
e vises de mundo distintas das nossas”
- Frum Nacional para a Democratizao da Comunicao(Brasil)

“J ouviste o suficiente. Agora a tua vez de imprimires o ritmo e de te fazeres ouvir”
- Seamus Heaney


O debate de idias nos rgos de informao jornalstica moambicana condicionado pela divinizao exclusiva de determinadas pessoas para falarem de vida nacional e internacional, particularmente nos espaos nobres e/ou semi-nobres. A esse comportamento, dirio e semanal, posso chamar de mesmice famosa na Imprensa.

Antes de discorrer sobre o micro debate que pretendo levantar, aqui, permitam-me pensar o que mesmice famosa na Imprensa. Mesmice famosa na Imprensa convidar e entrevistar, fantica e acriticamente, os mesmos cidados, publicamente conhecidos, para falarem, opinarem, descortinarem e debaterem sobre temas e acontecimentos da sociedade. Assim, ignoram-se, propositada ou preconceituosamente, outras vozes humanas e sociais, cuja cidadania ou qualidade intelectual , sem espao para reservas, robusta, sofisticada, visionria e cosmopolita.

Para evitar mal-entendidos, prprios de sociedades provincianas e emergentes na compreenso tico-intelectual de assuntos em debate, deixo claro, desde j, que a minha averso no se acasala excluso e a perseguio odiosa de cidados publicamente conhecidos para os debates na Imprensa; mas, sim, ao privilgio que gozam – minha crtica contra a divinizao opinativa, cidad, intelectual e miditica de um grupo, contvel a dedo, violando-se o direito fala, a opinio e a expresso, pertencente a cerca de 20 milhes de liberdades moambicanas, cujos direitos e liberdades se encontram cravados no direito nacional, regional e internacional de direitos humanos, designadamente Lei de Imprensa e Constituio da Repblica de Moambique, Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, Declarao Universal dos Direitos Humanos, Pacto Internacional dos Direitos Civis e Polticos, Conveno da Criana, Conveno da Mulher e demais instrumentos.

O ambiente de mesmice famosa na Imprensa est a denunciar que a Imprensa, o Estado e as instituies sociais moambicanas se fundam e se organizam (ou se deixam fundar e se organizar) na base de privilgios, alimentando-se e fertilizando-se violaes de direitos humanos da maioria. A condio humana da maioria no est, em sim, a servir de um quilate primordial para se beneficiarem e serem titulares de direitos e liberdades expresso na Imprensa. O contrrio, sim: pertena a uma classe-minoria monopolizadora, exploradora e sanguessugueadora, desprezando-se que os direitos humanos so de todos e no de um grupo-elite ps-colonial, como acontece em Moambique – nossa ptria amada, que, dia-a-dia, juramos que nenhum tirano nos ir escravizar. Ser que ouvir e ver, na Imprensa, apenas um grupo-elite no mediocridade, praticada por tiranos mediticos e seu pessoal serventurio?

Posto isto, a mesmice famosa na Imprensa uma religio professada por e em toda a paisagem de nossos rgos de informao jornalstica, cujas fontes e abordagens so as mesmas, ritualizadas preguiosamente por alguns editores, jornalistas, apresentadores e moderadores sarrafaais e pr-construtores de consenso. Isso d uma larga vaga de azo afirmao do professor Loureno do Rosrio (2004), em entrevista revista Democracia e Direitos Humanos,2 em 2004, segundo o qual o jornalismo moambicano o hino preguia, citando o escritor Mia Couto, em aluso fraqussima investigao e a dbios contedos jornalsticos e informacionais. E, acrescenta-se, fraqussima diversidade de fontes e opinies de qualidade em temas publicados e entrevistados, quer na rdio, quer na televiso, quer nos jornais, quer na internet. Isto tudo exorciza a colocao que permeia todo este texto: as fontes dos rgos de informao jornalstica so, regra geral, as mesmas em quase todos os rgos, particularmente os espaos nobres e/ou semi-nobres, salvo raras e honrosas excepes.

Nos rgos de informao, a mesmice famosa na Imprensa est a criar um culto de personalidade, fechamento mental e pr-construo de consenso nos jornalistas e nos frequentemente entrevistados e convidados ao debate, porque, como so analistas todo-terreno, no tm tido tempo de pausa para (re)vigorar e (re)ler os contedos geopolticos, scio-polticos, econmicos, jurdicos, culturais, filosofia (sociologia e antropologia) de direito, direitos humanos e outros, para melhor peneir-los, problematizando-os com a devida vnia, humildade e tica intelectuais, em obedincia aos decretos de cidadania nacional e cosmopolita. Como alguns faro isso, padecendo do que o professor Carlos Serra (2006) chama de Doutorice?3 Alguma vez a Doutorice negou uma entrevista ou ir ao debate, mesmo no sabendo o que vai falar ou vai discutir? Em casos como estes, o preconceito antecede o conceito. Nalgumas vezes, penso, sem medo de tropear, que a diferena entre analistas todo-terreno e analistas-doutorice igual, porque o que mais anseiam um protagonismo caduco e vaidoso e uma fama estomacal, respondendo, assim, a esta hiptese: se no for desta vez, para nunca. semelhana de reptis em sua vida vegetativa s rvores e ao cho, rastejar-se e acotovelar-se, na luta pela fama estomacal e erguidamente profano-ignbil, nos palcos de rgos de informao jornalstica, um exerccio-indstria de gente provinciana – no pela sua provenincia-nascena; mas, sim, pela autopequenez tica e irresponsabilidade cidad. H que se aprender a observar longe, para desbaratar provincianices e atitudes redondas, que caracterizam Moambique e alguns moambicanos actuais.

As consequncias dessa atitude fantica, preconceituosa e discriminatria da nossa Imprensa, por (super)visibilizar as mesmas figuras, so infelizes e desvirtuam a democracia de opinio, enquanto um bem de cidadania. Os debates comeam a ser apticos, mecnicos, quia cansativos, em meio aos vcios de fragmentao e provincializao temticas, exorcizados pelos rgos de informao jornalstica e os seus familiares directos, digo, analistas todo-terreno ou analistas-doutorice.

Porm, devo ressalvar que tem havido algum esforo, embora contvel e incipiente, de convidar pessoas bem annimas, de fala inteligente e intelectualmente sofisticada, na Imprensa para opinar e debater idias. Devo ainda confessar que figuras sobejamente conhecidas h, cujas idias permanecem sempre frescas e pedaggicas, para o consumo pblico, diferentemente de algumas falas apticas, mecnicas, cansativas e conspiratrias. Abro parnteses: momentos h em que a gravata, fato-de-luxo e a maquilhagem de alguns convidados falam mais que as suas palavras e idias, revelando, talvez, que, temos, entre ns, intelectuais e acadmicos!? que tm mais gravatas e fatos-de-luxo (cultura material) que livros e conhecimentos slidos e sistemticos (cultura espiritual). Na minha pequenez racional, duvido que algum com muito mais gravatas e fatos-de-luxo e quase nenhum livro (que tem lido) possa ser chamado de intelectual e acadmico, pura e simplesmente, por ter ado por uma instituio do ensino superior. Pessoas h, entre ns, que sempre que viajam para o exterior regressam apenas com gravatas, fatos-de-luxo, saias, blusas, coisas e objectos, sem um livro sequer para ler (se, por alguma eventualdade, l, o objectivo atacar pessoas determinadas, revelando seu senso preconceituoso – nisso no h discusso de idias). E enchem a boca, autobajulando-se de intelectuais e acadmicos: so estes que se apresentam, frequentemente, com falas apticas, mecnicas, cansativas e conspiratrias. Este um exemplo do que chamo de analistas todo-terreno e analistas-doutorice. Fecho parnteses, antes de, igualmente, ser aptico, mecnico, cansativo e conspiratrio, o que pode ser contra-producente.

Proposta para erradicao da mesmice famosa na Imprensa

1. Os jornalistas devem ler e diversificar as fontes no seu rgo de informao
Os jornalistas devem (continuar a) ler. E, na leitura, certamente, encontraro vrios horizontes e abordagens de autores diferentes. Por exemplo, o livro Moambique: 10 Anos de Paz (2002), coordenado por prof. Brazo Mazula, tem autores vrios, tal como o Conflito e Transformao Social: Uma paisagem das justias em Moambique (2003), organizado por prof. Boaventura de Sousa Santos (portugus) e Juiz-Conselheiro do Tribunal Supremo, Joo Carlos Trindade (moambicano). Estas duas obras tm co-autores: uns mais conhecidos e outros desconhecidos publicamente. Nisso, encontro duas possibilidades. Primeira: os jornalistas e os seus rgos de informao, ao ler, encontraro vrios autores desconhecidos, cuja pujana tico-intelectual sofistica. E, assim, podem convid-los, para enriquecer as notcias, reportagens, debates e opinies, porque o pas no pode ficar refm de opinies de mesmas figuras pblicas, largamente conhecidas (mesmice famosa na Imprensa). Segunda: os jornalistas podem pedir aos publicamente conhecidos para que lhes dem uma lista de 5 a 10 cidados que (muito) sabem falar sobre um determinado assunto (um conhecedor ou especialista conhece os igualmente profissionais, obviamente), para desmantelar a mesmice famosa na Imprensa. Penso ainda que esta proposta ajudaria a que os jornalistas e rgos de informao jornalstica tenham mais nomes em funo de reas ou temas para debate, diminuindo a unissonncia de abordagens, o que constitui um grave pecado cometido contra a democratizao das vozes e a liberdade de expresso, de imprensa, de pensamento, pertencente a cerca de 20 milhes de liberdades moambicanas. Agora, deso segunda proposta para erradicar a mesmice famosa na Imprensa.

2. Humildade dos convidados
Apresento uma proposta para os religiosos e fanticos da mesmice famosa na Imprensa: J que os jornalistas esto sempre lhe convidando para o debate ou para responder algumas perguntas, antes de aceitar, pensa se est em condies intelectuais e ticas para o fazer. Caso sim, responda. Mas, sempre que possvel, j que a mediatizao de sua fala no novidade, pode dizer ao reprter/jornalista para que convide outras pessoas, de modo a que tambm se expressem sobre assuntos de vida nacional ou internacional, a no ser que tais perguntas devam to-somente ser respondidas e esclarecidas por si, tais como um prmio que ganhou, acusao sobre si ou questes que s o posto que ocupa no Estado, Governo, Universidade, Empresa e Organizao No-Governamental. Por mais gnio e brilhante seja intelectualmente, evite dar opinio sempre, como se Moambique e o Mundo, desde que existem, esperassem somente de suas opinies e vises. Vou terceira proposta.

3. Erradicar o preconceito e a discriminao, elevando a incluso
A mesmice famosa na Imprensa o corolrio do preconceito e da discriminao dos Outros. O preconceito, exorcizado e exacerbado pelos rgos de informao, brota do sentimento e crena de que determinadas pessoas e grupos no tm qualidade e estatuto suficiente para discutirem idias, por mais que sejam coerentes e lcidos. Nestes termos, quando um rgo de informao e/ou jornalista exclui determinadas pessoas e grupos do inegocivel exerccio do direito humano fala e a expresso est, pela lgica das circunstncias, a discrimin-los. E a discriminao visa anular, excluir e restringir a dignidade do Outro.

Assim, a proposta prende-se com a incluso de demais cidados no exerccio de fala e de transmisso de suas idias e vises na Imprensa. Para que se caminhe para a incluso, necessrio que os rgos de informao jornalstica reconheam que tm operacionalizado discriminao dos Outros, favorecendo um grupo contvel a dedo. Do reconhecimento moral, pode ar-se para a fase de operacionalizao de incluso de pessoas e grupos discriminados para colocarem suas vises e opinies, dentro de princpios de (inter)nacionais de direitos humanos, em respeito sua dignidade humana.

^ Subir

Notas:

1 - Moambique – Maputo. Jornal ZAMBEZE, 22 de Maio de 2008, pag 27, nr.296, Ano VI

2 - A revista Democracia e Direitos Humanos pertence Liga Moambicana de Direitos Humanos – a maior e mais corajosa ONG de direitos humanos.

3 - Tomei de emprstimo este termo do catedrtico e socilogo moambicano, Carlos Serra. Na Obra Dirio de um socilogo (2006), editado pela Imprensa Universitria, encontra-se melhor desenvolvido.

< Voltar

Desde 1995 dhnet-br.informativomineiro.com Copyleft - Telefones: 055 84 3211.5428 e 9977.8702 WhatsApp
Skype:direitoshumanos Email: [email protected] Facebook: DHnetDh
Busca DHnet Google
Not
Loja DHnet
DHnet 18 anos - 1995-2013
Linha do Tempo
Sistemas Internacionais de Direitos Humanos
Sistema Nacional de Direitos Humanos
Sistemas Estaduais de Direitos Humanos
Sistemas Municipais de Direitos Humanos
Hist
MNDH
Militantes Brasileiros de Direitos Humanos
Projeto Brasil Nunca Mais
Direito a Mem
Banco de Dados  Base de Dados Direitos Humanos
Tecido Cultural Ponto de Cultura Rio Grande do Norte
1935 Multim