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Civilizao
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No
incio dos tempos, o homem vagava pelos campos formando aquilo que
usualmente se chama de hordas caminhantes promscuas, constitudas
por indivduos que no possuam regras sequer de acasalamento.
Importante salientar que tais normas biolgicas so comuns em muitas
espcies de animais, principalmente entre os mamferos.
O
universo intelectual dessas pessoas se restringia coleta de frutas
e outros alimentos, alm da caa de animais, sem qualquer outro tipo
de preocupao que no a prpria sobrevivncia.
Esses
primeiros grupos (sem lei, sem rei e sem alma) expressavam um ambiente
de selvageria e continua violncia que revela os nossos instintos
mais primevos, as nossas origens mais remotas, os nossos sentimentos
mais profundos e arraigados, nossas sensaes mais contidas, nossos
pressupostos de valores mais essenciais.
Pode-se
at mesmo afirmar que estes indivduos seriam o homem em seu estado
bruto, biologicamente original. Aquele que v em si mesmo os limites
do universo possvel. Um ser animal, onde prevalecem os instintos,
uma pessoa individualista, egosta, cuja existncia se resumia na
satisfao de seus prprios desejos mais imediatos.
Muitos
desses valores e caractersticas vm acompanhando o desenvolvimento
do homem atravs de sua histria, se agregando ao seu perfil de
comportamento como se fizesse parte de uma matriz gentica.
Num
segundo momento, pode-se conceituar um perodo denominado barbrico,
que se inicia com a formao das primeiras tribos dotadas de
sistemas de poder relativamente organizado, como sendo uma fase de
transio para a humanizao.
A
propsito, a denominao brbaros uma considerao prpria
dos gregos e significa aquele que balbucia algo incompreensvel.
Sob
essa tica, era a lngua, o idioma, que denunciava a existncia do
outro, ou seja, aquele que no faz parte do nosso grupo, da
nossa comunidade, da nossa gente.
Vale
salientar, que toda linguagem simblica (ex.: mapa, mmica, dana,
expresso corporal, msica, esttica, liturgias, vesturio etc.),
todas prenhes de imagens e representaes expressando diversificados
significados.
Para
os gregos, e mais tarde para os romanos, brbaros eram todos aqueles
que possuam origem diversa da sua, ou seja, o outro, o extico, o
estrangeiro.
Ao
estabelecer esse preconceito atravs de esteretipos culturais, em
contrapartida fizeram emergir a noo de civilizao, enquanto
organizao de sistemas. S aquilo que pertence nossa cultura
seria civilizado, todo o resto considerado barbrico.
Se
a civilizao triunfou sobre a barbrie quando a barbrie dominava
o mundo, demais recear que a barbrie, depois de to facilmente
derrotada, reviva e domine o civilizao. (...) mas eu no penso
que assista a qualquer comunidade o direito de forar outra a ser
civilizada.
(John
Stuart Mill - Sobre a liberdade)
Tanto
a selvageria como a barbrie e a civilizao so construes
culturais, definies que visam delimitar os iguais e os diferentes.
Essa tendncia estabeleceu o local em contraposio ao
regional, e estes em relao ao nacional, e assim por
diante.
Felizmente
a diversidade ainda existe e desta forma os direitos humanos no
devem ser, por tudo que j dissemos at agora, a supremacia de
valores de uma cultura sobre as outras, ou de um modelo de sociedade
sobre os outros. A diversidade sua essncia e o ncleo comum
compartilhado por todas as culturas ser o seu real contedo mutvel.
Desta
maneira os direitos universais sero aqueles que podem ser aceitos
por todos os povos da Terra em todos os Estados Soberanos do
Planeta.
(Jos
Luiz Quadros de Magalhes - Princpios Universais de Direitos
Humanos e o novo Estado Democrtico de Direito)
Nesse
contexto, foroso considerar a permanente tendncia para a
construo social de pessoas extremamente individualistas, egostas,
ou, sob uma denominao mais atual, de indivduos narcsicos, que
somente se dedicam a contemplar a si mesmos como centro de interesses
do universo.
Trata-se
de um indivduo que tem seu olhar voltado exclusivamente para a sua
esfera de interesses pessoais, ou, quando muito, para o de seus
familiares e amigos, o que no o diferencia muito daqueles homens dos
primeiros tempos.
Por
outro lado, aquilo que denominamos como civilizao tem como
pressuposto a construo de um conjunto de culturas sedimentadas,
submetidas a uma moral na esfera privada e a uma tica prpria e
peculiar na esfera pblica, que pretendem, simultaneamente, uma
permanente evoluo em busca de um ideal que lhe possa
conferir uma dinmica capaz de produzir um elevado grau de satisfao
nos indivduos
integrantes
desse processo. Nesse aspecto, no demais lembrar que todas as
civilizaes que destruram o seu espao pblico, entraram em
declnio.
A
tica a ordenao destinada a conduzir o homem de acordo com uma
hierarquia de bens, uma tbua de valores, um sistema axiolgico de
referncia, tornando-o cada vez mais homem, cada vez mais aquele ser
que a natureza dotou de conscincia e espiritualidade.
(Reinaldo
Pereira e Silva - Direitos Humanos como Educao para a Justia)
As
sociedades civilizadas so argumentativas, excluindo a violncia
como meio de soluo para seus conflitos. Em linhas gerais, cultura
um sistema de significados, representaes coletivas realizadas
atravs de smbolos comuns. o resultado de mltiplos
comportamentos analisados sob uma tica compartimentadora. Isto
levando-se em conta que a pluralidade de realidades individuais no
resulta em uma soluo definitiva, terminada, pronta.
Os
direitos humanos universais e os princpios universais de direitos
humanos so aqueles que podem ser aceitos por todas as culturas, no
se chocando com o que tem de essencial a cada principio encontrado em
cada comunidade do Planeta. Isto no quer dizer que os princpios
universais no sero contraditrios a determinados princpios e
regras de culturas e comunidades especificas. Isto ocorrer com freqncia,
e significar a superao destes princpios e regras locais pelo
que existe de essencial em uma cultura planetria. Em outras
palavras, a superao de regras e princpios locais ocorrer atravs
daquele dado que existe de humano ou universal em cada cultura do
Planeta, ou mesmo em cada comunidade, pois no possvel a permanncia
de qualquer comunidade, mesmo por um espao de tempo curto, se esta no
tiver valores de autopreservao, o que implica em vida, ncleo
fundamental de humanidade que poder ser ampliado pelos princpios
universais.
(Jos
Luiz Quadros de Magalhes Princpios Universais de Direitos
Humanos e o novo Estado Democrtico de Direito)
A
sociedade se verifica permanentemente dinmica, no um produto
acabado fruto de solues, principalmente as que pretendam dar
por concludo um processo que , por natureza, permanente.
importante considerar que, se a sociedade no foi sempre assim, tambm
no precisa continuar assim como se encontra agora, at porque o
universo no equilbrio, mas caos e movimento. Relativizar
significa atribuir condicionantes de propor9 a uma determinada
realidade, utilizando-se de pesos especficos para a anlise e c
cotejamento de cada uma das verdades possveis.
Possuir
um olhar relativizador em relao a uma dada realidade significa
deixar o outro falar, ver as coisas a partir da perspectiva do
diferente. Esta capacidade de ouvir sem traduzir mediante
matrizes comportamentais, implica em despir-se de juzos de valor,
buscando ler a realidade evitando rotul-la com premissas, nem
sempre confirmveis.
Uma
das vises clssicas do comportamento plenamente identificado com o
reconhecimento do outro como sujeito dos Direitos Humanos, nos
ofertada pelo filsofo alemo lmmanuel Kant (Kanigsberg 1724- 1804):
S
posso considerar um bem para mim aquilo que puder ser considerado um
bem para os outros.
A
liberdade do arbtrio de um pode subsistir com a liberdade de todos
os outros segundo uma lei universal.