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Violaes
aos Direitos Humanos no Brasil em 1996 e 1997
Baseado
em relatrios da Human Rights Watcth
Beatriz Fernandes
Ao
longo das ltimas dcadas, o Brasil assinou uma srie
de convenes, tratados e declaraes que visam a
garantir os direitos humanos fundamentais em nosso pas.
Apesar disso, diariamente, pessoas sofrem por terem
seus direitos violados. So humilhadas, maltratadas
e, muitas vezes, assassinadas impunemente. Tais fatos
repercutem mundialmente, despertando o interesse de
diversas organizaes no-governamentais, que se
preocupam em garantir os direitos acima mencionados,
como a Human Rights Watch, que, anualmente, publica
uma reportagem sobre a situao dos direitos humanos
em diversos pases do mundo, e cujos relatos sobre o
Brasil, nos anos de 1996 e 1997, serviram de base para
o relato exposto a seguir.
Relatrio
em 1996:
O
ano de 1996, no Brasil, foi marcado por massacres,
violncia rural e urbana, ms condies penitencirias
e impunidade gritante.
No
dia 19 de abril, em Eldorado dos Carajs, Par, a
Polcia Militar, com ordem para evitar que cerca de
duas mil famlias ocuem as margens de uma rodovia
estadual, enfrentou a resistncia de tais ocupantes,
que os atacaram com paus e pedras e receberam tiros de
armas de fogo. O resultado est evidente: dezenove
mortos e dzias de feridos. O massacre relatado
tornou-se smbolo dos abusos cometidos por policiais
e do tenso e constante conflito existente entre
fazendeiros, policiais e ocupantes de terra.
Em
13 de maio, foi liberado o Programa Nacional de
Direitos Humanos, um importante degrau para o
reconhecimento e extino dos abusos. Algumas
das principais medidas do programa so a
codificao do crime de tortura, ainda muito
praticado no pas, e a transferncia das jurisdies
sobre crimes cometidos por policiais uniformizados de
Tribunais Militares para a Justia Comum. Destarte,
faz-se necessrio ressaltarmos que, at a
publicao desse relatrio, nenhuma daquelas
medidas havia ado no Senado, e policiais
envolvidos em massacres como o do Carandiru,
mundialmente conhecido e que abalou a comunidade
internacional, com cento e onze mortos, e o de
Eldorado, tratado anteriormente, continuam a exercer
suas funes.
Outra
grave violao aos direitos humanos no Brasil
situa-se nas pssimas condies de nosso sistema
penitencirio. Segundo o Ministrio da Justia,
cento e quarenta mil pessoas so mantidas em instalaes
destinadas a acomodar metade delas. Os centros de
deteno destinados a menores tambm esto em
condies degradantes; no existe separao por
idade ou infrao cometida, e os jovens com mais
idade abusam e surram os mais novos sob o aparente
consentimento das autoridades de tais
estabelecimentos.
H
graves problemas tambm na rea rural, onde, de
acordo com a Comisso Pastoral da Terra (T), at
meados de setembro do referido ano, quarenta e trs
pessoas morreram em conflitos pela posse da terra.
Outro problema de interesse relevante o trabalho
forado no campo, que ainda existe, apesar de ter
declinado consideravelmente em relao a 1995.
No
Brasil, o governo no impe obstculos formais aos
defensores dos direitos humanos, porm, na prtica,
esses grupos enfrentam constantes ameaas, violncia
fsica e intimidaes. Um exemplo dessa afirmao
pde ser observado aqui mesmo, na Paraba, e mereceu
destaque no relatrio da Human Rights Watch, que
embasa nossa pesquisa. Trata-se do caso do Frei Anastcio,
da T em Joo Pessoa, condenado a quatro anos e dez
meses de cadeia por formao de quadrilha, resistncia
priso, transgresso e no cumprimento de ordem
judicial. Tudo isso resultado da defesa dos direitos
mais elementares dos pobres ocupantes de terra
envolvidos em disputas rurais.
Relatrio
em 1997:
Em
1997, a brutalidade e corrupo da nossa polcia
causaram as principais infraes aos direitos
humanos no Brasil. Tal informao pode nos parecer
duvidosa e at mesmo irnica, por se referir a um rgo
que se destina a proteger os cidados, mas as ilustraes
proferidas a seguir confirmaro o quo corrompida
encontra-se, lamentavelmente, a referida instituio
em nosso pas.
Exemplos
da violncia policial ocorreram em Diadema, So
Paulo, e Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Em ambos
os casos, policiais extorquiram, surraram, torturaram
e humilharam pessoas abordadas, casualmente, em
bloqueios de rotina. Em Diadema, um policial chegou a
atirar e matar um rapaz que havia sido parado, em seu
prprio carro, em um desses bloqueios.
As
condies das prises brasileiras continuaram, em
1997, a violar os padres internacionais. A violncia
dos policiais, a superlotao, as pssimas condies
sanitrias e a falta de o recreao, educao
e outros benefcios fazem crescer o nmero de rebelies,
que so contidas com mais violncia e, em algumas
regies do pas, at com a eliminao dos presos
envolvidos. Foi o que aconteceu, em 29 de julho, aqui
em Joo Pessoa, quando policiais militares entraram
na penitenciria do Rger, a fim de conter uma
rebelio, e mataram oito presos. Dois meses depois,
policiais militares responderam a nova rebelio,
matando mais um preso e, em outubro, dois presos foram
mortos em fuga.
Em
1997, continuaram tambm os conflitos rurais, sendo
que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
intensificou os esforos para pressionar o Governo a
realizar uma grande reforma agrria. Segundo a T,
at outubro, cerca de vinte e cinco pessoas haviam
morrido em conflitos rurais.
Um
ltimo exemplo de exacerbada violncia, agora nas
grandes cidades, o do ndio Patax, Galdino Jesus
dos Santos, assassinado, enquanto dormia, por quatro
jovens em um ponto de nibus em
Braslia. Tal exemplo tambm faz vir tona
a impunidade reinante em nosso pas, visto que a juza
responsvel pelo caso, Sandra de Santis Mello,
reduziu a acusao de homicdio doloso para leso
corporal seguida de morte, alegando que os jovens,
apesar de terem queimado Galdino vivo, no tinham a
inteno de mat-lo. Tal entendimento torna-se
ainda mais absurdo ao analisarmos o depoimento cruel
dos jovens, capaz de despertar indignao na mais
alheia das pessoas, em que
eles afirmam ter queimado o ndio por pensarem
tratar-se ele de um mendigo, como se um mendigo, em
igualdade a qualquer outro ser humano, no possusse
o seu direito mximo vida e, ainda mais, o direito
de ter a sua vida respeitada pela sociedade e
protegida pelas autoridades.
Concluses
finais:
Ao
longo deste breve relato, podemos observar o marcante
desrespeito aos direitos humanos em nosso pas.
Durante o perodo analisado (1996-1997), antigas
violaes continuaram a ocorrer e novas surgiram no
cenrio nacional, apesar de esforos isolados de
particulares e organizaes no-governamentais, e
devido, na grande maioria das vezes, ao descaso das
autoridades - ditas competentes - em nosso pas.
Bibliografia:
Human
Rights Watch 97
Human
Rights Watch 98