Cartilha
de Direitos Humanos
Ricardo Balestreri 3l4t46
Por
que os grupos de Direitos Humanos destinam
tanta ateno aos presdios
e situao dos
criminosos que neles se encontram?
Porque o Brasil tem um dos piores e mais
cruis sistemas prisionais do planeta.
A superpopulao, a promiscuidade
de nveis de periculosidade, a
falta de condies de higiene,
a m alimentao,
o pssimo atendimento de servios
de sade, a falta de atividade
produtiva, o domnio interno do
crime organizado e/ou das gangues, a presena
constante de drogas e armas, a violncia
interna e/ou a tortura como prtica
institucional, so algumas das
mazelas que se banalizaram na maioria
dos presdios brasileiros (com
as ressalvas, de sempre, s honrosas
excees).
E
por que devemos preocupar-nos com isso?
Nessas instituies no
esto os criminosos, grupos e indivduos
que mereceriam tais maus tratos e desprezo
por parte da sociedade que agrediram?
Para
responder a esta questo, em primeiro
lugar, preciso que derrubemos
o mito da penalizao privativa
da liberdade como um caminho de resgate
da paz social e da segurana pblica.
A
maior parte da populao
prisional no representa, efetivamente,
possibilidade de danos permanentes em
termos de convvio com a sociedade.
Os crimes cometidos foram ocasionais,
oportunistas, circunstanciais ou ionais
e seus cometedores no apresentam
continuidade de risco para a integridade
fsica dos membros das comunidades.
Ento
no deveriam ser punidos, no
deveriam estar presos?
Deveriam
ser punidos mas no necessariamente
com a priso. Precisamos evoluir
para um outro sistema, de sanes
por reciprocidade, ao invs das
sanes expiatrias
que hoje oferecemos aos que de alguma
maneira ofenderam a ordem pblica
e os direitos individuais.
As
prises deveriam estar reservadas
apenas aos que representam elevado grau
de periculosidade e aos que comandam o
crime organizado (tambm includos
na primeira categoria). Aos demais, as
penas alternativas srias e monitoradas
seriam as nicas a fazer algum
sentido, especialmente as reparatrias,
onde os sujeitos a elas submetidos submetem-se
a recuperar os danos que causaram ou,
na impossibilidade de faz-lo, a
produzir algum bem social compensatrio.
No
Brasil, ao contrrio, prende-se
como regra. Prende-se e joga-se o preso-
na maior parte das vezes enquadrado na
descrio da maioria, como
acima caracterizada- nas garras das gangues,
do crime organizado e dos psicopatas que
dominam os ambientes prisionais. Por isso,
em nosso pas, hipcrita
falar-se em “recuperao”
e em “educao”
ou “reeducao”
partir das prises. Como
regra, as prises so deformadoras
do carter, centros de tecnologia
de delinqncia, redutos de
socializao da sociopatia,
fbricas de criminosos, “universidades
do crime”- no dizer dos prprios
prisioneiros.
Gente
boazinha no sobrevive s
penitencirias brasileiras, de
forma geral ( exceo,
para ser justo, dos que encontram guarida
em algum grupo religioso). preciso
corromper-se , tornar-se subserviente,
ingressar na lgica perversa da
truculncia interna.
Assim,
as prises tm sido um de
nossos grandes focos de insegurana
pblica.
A
par disso, h uma questo
de ordem moral: se no sabemos
tratar humanamente os que nos trataram
desumanamente; se, em nome da dor que
sentimos e de nosso desejo de vingana,
itimos o submetimento de quem quer
que seja fome, ao frio,
promiscuidade, s doenas,
tortura, morte, em que
nos diferenciamos dos que condenamos?
Se
somos capazes de atos psicopticos,
acobertados na “normalidade”
do sistema, contra os que nos ofenderam
como sociedade e indivduos; se
nos sentimos autorizados perversidade
contra os perversos, como podemos esperar
construir um mundo de justia e
paz?
Se
nossos princpios morais so
negociveis, conforme nossas justificativas
pessoais ou grupais e nossas motivaes
emocionais, qual a diferena entre
os que privamos da liberdade e ns,
aqui fora? Estaremos todos presos pelo
dio e condenados s sombras
da violncia que nos habita.
Ralph
Emerson dizia que “o que somos fala
to alto que no se escuta
o que dizemos”. Se reclamarmos justia
e no a praticarmos, se exercermos
crueldade- mesmo que contra os que nos
ofenderam- no aremos de uma
fraude.
O
que aqui se prope pode no
ser fcil - como no
fcil a manuteno
coerente de qualquer compromisso moral
em circunstncias adversas- mas
absolutamente imprescindvel
se desejamos viver em um mundo verdadeiramente
civilizado.
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